Colóquio: Literatura e Ciência, Diálogos Multidisciplinares Colloque
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Colóquio: Literatura e Ciência, Diálogos Multidisciplinares Colloque
Colóquio: Literatura e Ciência, Diálogos Multidisciplinares Colloque: Littérature et Science, Dialogues Multidisciplinaires Livro de Resumos / Livre des résumés O IELT é financiado por Fundos Nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projecto UID/ELT/00657/2013 Alexandra Cheira (ULICES/FL-Universidade de Lisboa) “Fiction informed by Science”: a meeting of “the two cultures” in A. S. Byatt’s A Whistling Woman A. S. Byatt’s lifelong interest in science is embedded in her work and spans both her critical work and fiction. To provide but two examples, in her critical capacity she wrote the article «Fiction informed by Science» for Nature in 2005: on the one hand, she explains the reason some of her fiction is informed by science is that, as a reader, her favourite writers were the ones who were actually interested in the scientific work of their time. On the other hand, she thoroughly explains the way by which such diverse scientific interests like mathematics, the nature of perception, theories of language and learning, evolutionary biology, genetics and neuroscience have shaped her Frederica quartet in the sense they are embodied in these novels’ scientists. In this paper, I will discuss Byatt’s views, as well as Byatt’s literary and scientific critics’ views, by focusing precisely on the quartet and, especially, on its last volume, A Whistling Woman. To quote C. P. Snow’s famous 1959 lecture in which he regrets the chasm between scientists and literary intellectuals (an opposition Byatt is not particularly enthusiastic about), this bridging of the two cultures in her fiction has, however, itself been subject to criticism: if Alistair Brown claims Byatt has united the two cultures of body and mind in the last volume of the quartet by showing that ‘science and literature are two ways of looking at the same natural order, as encapsulated in their common use of metaphor and analogy’, clinical neuroscientist Raymond Tallis warns against what he terms Byatt’s adoption of a neurophysiological approach in the reading of Donne’s poetry as reductionist and critically dangerous. In this paper, I argue that Byatt’s scientific-minded fiction has ultimately transcended the gap between the two cultures: she has proved most effectively that it is possible for literature to meet science to meet literature as two different ways of looking at the same thing. Ana Margarida Chora (IELT/FCSH-Universidade Nova de Lisboa) A medicina como mediadora nos contos das Mil e Uma Noites Os contos das Mil e Uma Noites, transmitidos ao Ocidente a partir da adaptação de Antoine Galland na primeira metade do século XVIII e, mais tarde, pela tradução de Joseph-Charles Mardrus no final do século XIX, não só constituem uma fonte sobre a cultura científica e técnica durante o Califado Abássida, como revelam uma preponderância da medicina sobre as demais ciências (entre as quais a astronomia, à qual muitas vezes surge associada, e a geometria) no imaginário desta vasta e importante tradição literária. Vários são os contos em que a figura do médico, através da manifestação do conhecimento da medicina, assume especial relevo, fracturando-se em várias personagens, mas em especial em duas imagens contrastantes, o médico persa e o médico judeu (em contos como “Histoire de BelHeureux” ou “Histoire du Bossu”), cuja função varia consoante a sua conotação simbólica. Noutros contos, porém (como “Histoire de la docte sympathie”), não são os actantes da medicina que protagonizam a narrativa, mas sim a própria medicina que se complexifica ao nível de parábola do conhecimento. Mas, apesar de muitos dos contos se repetirem estruturalmente, é na tradução do Dr. Mardrus que encontramos as mais detalhadas e hiperbólicas descrições ligadas ao imaginário da medicina, não fosse ele mesmo também médico, para além de profundo conhecedor da língua árabe. Augusto José dos Santos Fitas (Universidade de Évora, IHC-CEHFCi_U.E) Um confronto (imaginário) entre sábios e monstros ou a imaginação de um conflito entre o sonho e a razão… (reflexões avulsas sobre a história da ciência e possíveis implicações literárias) Propõe-se uma excursão histórica sobre a relação imaginária entre sábios e demónios, como se escreve no título, aquilo que literariamente se pode entender como composições ficcionais de confronto entre o sonho e a razão em diversos contextos. Conduzido pelo fio da história da ciência, e sem a pretensão de expor qualquer teoria, tecem-se algumas reflexões, através de vários quadros exemplificativos, sobre as implicações entre ciência e literatura e inversamente. Privilegia-se a intervenção dos cientistas (sábios) no campo literário e a sua cumplicidade com os demónios (ou eles próprios) que os hão-de acompanhar ao franquearem os portais de outros mundos. Começa-se pelo Renascimento um dos mais importantes movimentos de ideias que constituiu o grande caldo da Revolução Científica do século XVII com os casos de Galileu Galilei e Johannes Kepler; dois sábios que fustigaram as fronteiras efémeras do conhecimento e que, pelas ideias defendidas, talvez tenham contribuído para a tragédia prometeica do Fausto transgressor. Foi por se içar sobre os ombros, entre outros, daqueles dois gigantes que Isaac Newton contribui de uma forma decisiva para que as suas ideias abrissem o século XVIII ao iluminismo: uma época onde sábios e duendes se assumiram como importantes personagens de contos filosóficos, plenos de ironia, questionando os valores tradicionais da sociedade e defendendo a importância do conhecimento cientifico. Um século donde, nos seus últimos anos, brotaram as ideias românticas sintetizadas na legenda goyesca de que o sonho da razão produz monstros ― o sábio e a criação da criatura monstruosa (o cúmulo na transgressão do conhecimento) e a obra de Mary Shelley. É já na Europa das feéricas festividades das exposições universais ― exibindo a crença positivista nas novas descobertas ― que Jules Verne escreveu um romance, fora do género da ficção científica, onde os santos vencem os demónios e as virtudes da ciência são enaltecidas. Faltava muito pouco para que o mundo fosse alvo de grandes conflitos bélicos, uma experiência que conduziu o cientista Charles P. Snow em The New Man a exercitar literariamente o problema da intriga e poder na comunidade científica. E finaliza-se esta digressão (à laia de conclusão) com Bertold Brecht. O dramaturgo que só consegue exprimir a relação de Galileu consigo próprio, espécie de ambivalência entre o sábio e o seu demónio, através de três versões diferentes, e sucessivas, da mesma peça, acabando por concluir que para uma ciência livre (sem santos nem demónios) o cientista não pode abdicar da sua responsabilidade social e da sua intervenção política. Baudouin Jurdant (Professeur Émérite Université Paris 7, França) La psychanalyse dans le boudoir où se rencontrent science et literature En obtenant le prix Goethe en 1930, Freud reçoit la consécration littéraire d’une œuvre qu’il considérait lui-même comme essentiellement scientifique. Cette question du statut épistémologique de la psychanalyse a continué à faire penser de nombreux auteurs comme Isabelle Stengers, Michel de Certeau, Michel Foucault, Michel Onfray, et bien d’autres encore. Quels sont les enjeux, peutêtre encore méconnus, que la psychanalyse, si généralement boudée aujourd’hui en tant que symptôme du scientisme, mobilise sur la scène des savoirs au XXe siècle? Comment la littérature s’accommode-t-elle du triomphe de ce scientisme, toujours très actuel malgré ses nombreux camouflages? A quoi s’attache aujourd’hui le désir de scientificité? Telles sont, parmi d’autres, les questions qui sous-tendront cette intervention. Daniela Tomescu (University of Western Ontario, Canadá) Canon postcolonial et imaginaire fictionnel dissident: réécritures de l’histoire subalterne Après quelques décennies de proéminence dans l’académie, l’épistémologie postcoloniale modèle la sensibilité de la critique et la met aux aguets de la «violence discursive» (néo)impérialiste contenue dans la représentation littéraire. Pour devancer les suspicions de la critique, l’écrivain postcolonial se lance souvent dans la lutte contre le «Canon», pratique le «décentrement» de la forme, et s’efforce de gommer de son texte toute « trace » qui pourrait lui attirer des accusations de mauvaise intention politique. Chez Patrice Nganang, par contre, il n’y a pas de souci pour une telle mise en forme littéraire qui soit consonante avec une grille de lecture postcoloniale. Sa fiction exhibe un nombre de soucis postcoloniaux: attention aux rapports entre Histoire/histoires, représentation du savoir subalterne, donner voix au subalterne et, plus encore, le faire agir. Néanmoins, Nganang déconstruit, parallèlement, la rhétorique de la victimisation postcoloniale. Notre objectif est d’analyser la manière dont Patrice Nganang met en relation imaginaire littéraire et imaginaire théorique postcolonial pour se définir et se légitimer en tant qu’écrivain postcolonial dissident. Nous nous proposons de déceler ainsi les rapports ironiques que l’auteur entretient avec la réception et un canon théorique postcolonial, pour mettre en évidence la création des nouvelles typologies subalternes, négligées par les versions autorisées de l’histoire subalterne postcoloniale. Daniel Cruz (Universidade de Coimbra) Narrativas científicas em viagens literárias Uma das dificuldades para tangenciarmos a estrutura genológica dos textos compreendidos como literatura de viagens tem origem na complexa rede de discursos que rege as suas narrativas. Essa pluridiscursividade, entendida também como aproximações de diversas linguagens científicas ao plano literário, evidentemente varia conforme os períodos históricos, a compreensão do saber e a expectativa dos leitores de cada época. Tendo em vista essa problematização, gostaríamos de propor uma discussão sucinta acerca das confluências, ou apropriações, do universo da ciência pelo plano estético-literário da literatura de viagens a partir de três obras de tempos distintos: História TrágicoMarítima (1736), de Bernardo Gomes de Brito; As Praias de Portugal (1876), de Ramalho Ortigão; e Viagem a Portugal (1981), de José Saramago. Em linhas gerais, procuraremos sublinhar os modos de apropriação dos discursos de natureza não-literária, a marinharia, a química e a arquitetura, junto à criação artística. Jean-Marc Lévy-Leblond (Professeur Émérite, Université de Nice, França) Ecrire la science (physique), entre la lettre et le mot. Tout écrit de physique (à la différence des écrits sur la physique) est aujourd’hui un mixte indissociable de passages en langue commune (car il n’y a pas de « langue scientifique ») et de formules en écriture symbolique (les « équations » — qui ne sont pas un « langage mathématique »). Pas de conceptualisation, dirait-on, sans verbalisation et formalisation. Quand et comment la science physique en est-elle arrivée à cette forme canonique? Pourquoi n’a-t-elle pas accompli une formalisation totale? Quelles sont les relations apparemment inhérentes entre les mots (métaphores?) et les signes (sémagrammes?)? Que deviennent les premiers lorsqu’ils sont récupérés par la littérature fictionnelle? On examinera ces questions à partir de quelques exemples majeurs empruntés à la physique quantique. Ji-young Huh (Université Nationale de Séoul, Coreia do Sul) Nouvelles découvertes et littérature: du récit de voyage au dialogue scientifique - Pérégrination et Entretiens sur la pluralité des mondes Les sciences et la littérature, considérées de nos jours comme deux domaines tout à fait différents, exceptionnellement conciliables dans un genre assez spécifique, c’est-à-dire, dans une sous-catégorie littéraire appelée «science-fiction», ne sont pas, au fond, si éloignées et leurs relations sont beaucoup plus étroites que l’on imagine. Dans cette communication, je vais me focaliser sur la Pérégrination (Peregrinação) de Fernão Mendes Pinto, écrivain, aventurier et explorateur portugais, ainsi que sur les Entretiens sur la pluralité des mondes de Bernard Le Bovier de Fontenelle, auteur français et secrétaire perpétuel de l’Académie royale des Sciences de Paris. Au XVIe siècle, le Portugal a connu une expansion maritime sans précédent grâce aux progrès de la navigation au cours du XVe siècle. La Pérégrination, ce récit de voyage est, dans ce sens, le fruit des avancées scientifiques et technologiques de son temps, qui reflète également l’esprit de l’époque, en même temps qu’une création bien personnelle qui garde toute sa particularité. Les expériences et les imaginations suscitées par les découvertes de nouveaux territoires, réels ou métaphoriques, dues au développement scientifique et technologique, dans ces deux œuvres, sont même considérées comme des « extravagances », et c’est là où les lecteurs sont invités au dialogue, à la réflexion, en se mettant dans une situation qu’ils n’avaient jamais imaginée. Cette invitation à la nouvelle pensée s’exprime à travers un dialogue chez Fontenelle, ce qui était insinué de manière indirecte chez l’autre, tout en gardant la même problématique. Une lecture rapprochée de ces oeuvres nous permettrait de mieux éclaircir les relations entre sciences et littérature, ainsi que sa nature dialogique exigée par les «nouvelles découvertes» de l’époque de la «Révolution Scientifique». Julia Pröll (Université d’Innsbruck, Áustria) Aller-retour entre le bistouri et la plume. Les Médecins-écrivains comme Initiateurs d’un polylogue fécond entre littérature et médecine? L’essor des Literature and Science Studies (cf. p. ex. Clarke/Rossini 2011; Borgards/Neumeyer/Pethes/Wübben 2013, Dumasy-Queffélec/Spengler 2014) témoigne non seulement d’un intérêt croissant pour les réseaux 1 qui se tissent entre littérature et science mais aussi de l’ébranlement de l’hypothèse avancée en 1959 par Charles Percy Snow, selon laquelle la littérature (et les sciences humaines) et les sciences de la nature constitueraient «deux cultures» distinctes (cf. Snow 1959). Pour étudier plus à fond la perméabilité des deux sphères un rôle important incombe, à notre avis, aux médecins-écrivains, c’est-à-dire à ces «agents-doubles» entre littérature et médecine qui exercent à la fois le métier de médecin et d’écrivain. Car, déjà le label de «médecin-écrivain» matérialise, par le tiret employé, l’ouverture d’un tiers espace liminal, d’un hyphenated space entre littérature et science. La présente réflexion qui se limite aux médecins-écrivains français et francophones publiant à partir du début du 20e siècle – une restriction temporelle qui s’explique, comme en témoigne la fondation des associations comme le Groupement des Écrivains Médecins en 1949 ou la création du Prix Littré en 1963, par leur visibilité accrue – veut passer outre un simple repérage biobibliographique. Il s’agit plutôt d’explorer les implications éthiques, esthétiques poétologiques et transculturelles de leur va-et-vient entre le bistouri et la plume – un enjeu qui soulève, entre autre, les questions suivantes: Dans quelle mesure pratique littéraire et pratique médicale se féconde-t-elles? 1 Nous préférons le concept de «réseau» à celui d’«influence» pour souligner la réciprocité des rapports. En témoigne, dans le domaine de la médecine qui nous intéresse, le développement d’une narrative medecine (Charon 2008). Quels transferts de savoir ont lieu entre littérature et médecine et dans quel but? Dans quelle mesure la pratique médicale laisse-t-elle son empreinte dans le texte littéraire (emploi d’un vocabulaire technique, personnages au regard ‘clinique, etc.)? Comment la mise en scène de pratiques médicales «traditionnelles» ou non-européennes peut-elle sensibiliser pour les implications culturelles de la médecine? La discussion de ses questions s’inscrit dans le second volet proposé et vise l’élaboration d’outil d’analyse applicable à des corpus semblables1. Luís Carlos Pimenta Gonçalves (Universidade Aberta, IELT/FCSH- Universidade Nova de Lisboa) Representações da ciência em Flaubert, Eco e Kundera Se é frequente opor-se ciência a literatura como dois fenómenos distintos, não são de todo, porém, irreconciliáveis. Assim, poetas encontraram na matemática outra forma de expressão, como é o caso de Raymond Queneau, romancistas especulam sobre hipotéticas viagens ao fundo dos mares ou à Lua, como Júlio Verne, enquanto Aldous Huxley dá-nos uma visão terrífica do futuro dominado pela tecnologia. Gustave Flaubert encontra os caminhos da ciência num texto da adolescência, La Leçon d’histoire naturelle, e propõe em adulto uma crítica do positivismo e da crença inabalável no progresso em Madame Bovary. Mas é sobretudo na sua obra inacabada Bouvard e Pécuchet que se realiza uma panorâmica irónica do conhecimento científico da segunda metade do séc. XIX. As duas personagens principais tentam, durante anos, ter uma perceção totalizadora dos conhecimentos científicos, procedendo sem verdadeiro método. Maupassant, amigo e discípulo de Flaubert, considera assim o romance: «Bouvard e Pécuchet é uma revista de todas as ciências, tal como surgem a dois espíritos bastante lúcidos, medíocres e simples». Apesar do título, em O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco aborda a ciência apenas de forma lateral. Existe inclusive uma relação entre o romance de Flaubert e do escritor italiano: «Com efeito, ao escrever o meu romance, pensava muito naquele livro». Já na Lentidão, Milan Kundera dedica uma parte da sua narrativa a um colóquio de entomologistas, numa visão cáustica de um ritual de comunicação científica. Três olhares sobre a ciências sobre os quais nos propomos falar na nossa intervenção. Limikou Dieu-donné (laboratoire C.R.I.S.E.S. EA-4424, l’Université Paul-Valéry Montpellier, França) Psychanalyse et neurosciences. Doit-on faire de l’étude du rêve une exclusivité de la science? Le rejet du modèle freudien par Michel Jouvet. L’exclusion de la psychanalyse de l’investigation du rêve que recommande Michel Jouvet reçoit de nos jours un accueil favorable dans la communauté des neuroscientifiques. La raison principale en est que la psychanalyse avance une série d’hypothèses cohérentes sur la constitution du rêve, sans en fournir l’ancrage empirique qui pourrait garantir la scientificité de sa démarche. Si, d’un point de vue théorique, les arguments développés par la psychanalyse pour rendre compte de l’activité onirique semblent convaincants, force est d’admettre qu’aucun support neurobiologique ne plaide en faveur de la doctrine de Freud. Cette constatation conduira Michel Jouvet à déclarer ce qui suit : «On peut maintenant établir de façon certaine qu’il n’y a aucun support expérimental, quel qu’il soit, en faveur de la théorie de Freud de la genèse du sommeil paradoxal. (…) La conclusion qui s’impose est que la théorie de Freud doit être abandonnée à cause de l’absence d’activité autonome et de l’absence de régulation et d’énergie endogène du cerveau.» Cependant, une 1 Pour défricher le terrain français et francophone et pour établir un état de lieu nous avons organisé (en collaboration avec Hans-Jürgen Lüsebrink et Henning Madry) également un colloque international et transdisciplinaire à l’Université de la Sarre (Allemagne) qui se déroulait du 28-30 janvier 2016 sous le titre Médecins-écrivains français et francophones: Imaginaires – poétiques – perspectives interculturelles et transdisciplinaires. connaissance des difficultés rencontrées dans l’étude scientifique du rêve tend à relativiser ce rejet de la psychanalyse. Sur cette base, notre intervention aura pour but de montrer comment un dialogue de la psychanalyse avec les neurosciences du rêve peut permettre de mieux appréhender certains problèmes auxquels font face les chercheurs dans les laboratoires. Manuel Esposito (Université Sorbonne-Nouvelle Paris 3, França) Interférences: un bien étrange dialogue. Sciences et littérature dans les récits «cosmicomiques» d'Italo Calvino et dans la Petite cosmogonie portative de Raymond Queneau. Il s'agira pour nous de comprendre dans quelle mesure l’œuvre d'Italo Calvino atteste d'un dialogue interrompu entre sciences et littérature, selon des modalités qui sont propres à l'auteur italien. Ainsi, dans un essai de 1967, «Filosofia et letteratura» («Philosophie et littérature»), Calvino définit ce que nous pourrions nommer la triangulation cognitive qui structure son œuvre: «La science fait face à des problèmes qui ne sont pas différents de ceux de la littérature ; elle construit des modèles du monde qui sont perpétuellement remis en question, elle fait alterner les méthodes inductive et déductive, elle doit sans cesse rester sur ses gardes et ne pas confondre ses conventions linguistiques avec des lois objectives. Nous ne posséderons une culture à la hauteur de [la situation] que lorsque les problématiques de la science, de la [philosophie] et de la [littérature] se remettront en question réciproquement.»1 Pour mieux comprendre comment l’œuvre de Calvino est le lieu d'un dialogue constant entre sciences et littérature nous prendrons pour exemple ses fictions «cosmicomiques» 2, mais nous chercherons aussi à comprendre l'importance de la lecture des œuvres de Raymond Queneau dans la mise en place d'une telle poétique, nous retiendrons en particulier un poème de 1950, la Petite cosmogonie portative. Nous ne manquerons pas de nous attarder sur les rapports intertextuels qui unissent les récits «cosmicomiques» de Calvino et le poème de Queneau. La Petite cosmogonie portative de Raymond Queneau et les fictions «cosmicomiques» de Calvino sont des tentatives de représentation de l'univers; les expérimentations de Queneau et de Calvino illustrent de quelle manière «[d]epuis longtemps, […] la pratique littéraire a puisé dans l'activité scientifique nombre d'images, de métaphores, de modèles, de formes (…) » 3. Avant tout, Calvino espère trouver dans la culture scientifique «de[s] stimulants pour son imagination» 4 et part à la recherche d'une matière qui lui permettra de construire des images: «(…) si la littérature ne suffit pas à m'assurer que je ne poursuis pas de pures chimères, c'est à la science que je demande de nourrir des visions d'où soit exclue toute pesanteur ... » 5. De même, «est-ce d'abord une vision du monde que Queneau demande aux savants» 6 et à la science: «la Terre, son évolution, la superposition des règnes, le grouillement oxyurique des espèces, du premier atome éclaté aux dernières machines»7. Effectivement, c'est un statut particulier que Queneau accorde à la science: «Un jour, il y a deux ans, je me suis mis à écrire un poème en alexandrins, je ne savais pas tout d'abord ce que c'était, ensuite j'ai trouvé le titre: Petite Cosmogonie Portative. […] Ce n'est pas un 1 Italo Calvino, «Philosophie et littérature», Défis aux Labyrinthes, I, traduit de l'italien de Michel Orcel (sauf nos modifications entre crochets), Paris, Le Seuil, 2003, p. 175-176. 2 Le Cosmicomiche, 1965; Ti con zero, 1967; La memoria del mondo, 1968; Cosmicomiche vecchie e nuove, 1984. 3 Jean-Marc Lévy-Leblond, «Le miroir, la cornue et la pierre de touche ou Que peut la littérature pour la science?», La pierre de touche, Gallimard, 1996, p. 184. 4 Italo Calvino, Leçons Américaines, traduction de Yves Hersant, Gallimard, 1989, p. 25-26. 5 Ibidem. 6 Yvon Belaval, «Petite Kenogonie», in Les cahiers de la pléiade, n.º XII, 1951, texte repris in Raymond Queneau, Chêne et chien, suivi de la Petite Cosmogonie Portative, Paris, Gallimard, 1969, p. 13. 7 Ibidem. poème didactique, c'est la science envisagée comme thème poétique»1. Ainsi, s'agira-t-il pour nous de comprendre comment l'ordre même du discours donne forme aux représentations de l'univers entreprises par Queneau et Calvino: par la dimension encyclopédique2 du projet de Queneau (dans la mesure où il tente dans son poème de rassembler l'ensemble du savoir scientifique); et par la dimension gnoséologique du projet de Calvino: «l’œuvre littéraire conçue comme carte du monde et du connaissable, l’écriture mue par un désir de connaissance»3. Calvino cherche désormais «à travers la parole littéraire à construire une image de l'univers»4. La valeur de l'image construite n'est alors plus ornementale mais bien spéculative: en mettant son écriture à l'épreuve de la science, Calvino en tire une poétique: «penser en racontant» (pensare raccontando) devient l'enjeu de chaque récit; cette dimension des fictions «cosmicomiques» illustre l'apport cognitif de la science au sein de l'espace littéraire. Maria de Fátima Nunes (Universidade de Évora, IHC-CEHFCi_U.E) O imaginário científico em diálogo com a literatura… Queremos colocar em território de encontro de fronteiras a cultura científica e as fronteiras de literatura, num campo fértil e interativo – a literatura de viagens que transporta leitores a espaços, tempos, atores, instituições e veículos de disseminação diversificados, ficcionais, ou de semificção, ou realisticamente jornalísticos, como se de uma cobertura informativa se tratasse. As práticas da ciência também se fazem de rituais profissionais, de espaços de sociabilidade, de encontros e de redes de diplomacia científica que permitem transportar a comunidade científica, em tempos de realizações circulares – protagonistas e acompanhantes – a espaços e a instituições diferenciados entre si, moldando disseminações científicas que confluem para memórias futuras de informação científica, cultural, turística de cidades, de Estados Nações, desde o final do século XIX, na Europa das Nações, alargando-se para às fronteiras do mundo da progressiva globalização até aos nossos dia. Falamos da prática dos movimentos ondulatórios dos congressos científicos, qual parlamento itinerantes de comunidades de ciência que se vão deslocando, periodicamente, de cidade em cidade, deixando marcas, mas sobretudo construindo imaginários sobre cada um dos espaços que acolheram o congresso internacional. Neste laboratório de ideias em experimentação propomos cruzar Congressos Científicos Internacionais com possíveis roteiros de viagens ou com potenciais indicadores para a literatura de viagens, ficcionada ou real. Usaremos como focus catalisadores da nossa atenção o IX Congresso internacional de Antropologia e Arqueologia pré-históricas (Lisboa, 1880); o XV congresso Internacional de medicina (Lisboa, 1906); o III Congresso Internacional de História da Ciência (Porto, Coimbra, Lisboa, 1934) e o XII Congresso Internacional de Zoologia (Lisboa, 1935). Realizações científicas profissionais podem alimentar imaginários e realidades informativas para literatura de viagem? Viagem pode combinar com Ciência e Literatura? Acreditamos que é possível … para tal nos esforçaremos por realizar uma certa arqueologia das coisas e das palavras dos congressos internacionais realizados em território português. 1 Raymond Queneau, «Conversation avec Georges Ribemont-Dessaignes», Bâtons, chiffres et lettres (1965), Gallimard, 2000, p. 45-46. 2 On peut rapprocher le poème de Queneau de «(…) la forme du projet encyclopédique, tel qu'il apparaît à la fin du XVIe siècle ou dans les premières années du siècle suivant: non pas refléter ce qu'on sait dans l'élément neutre du langage (…), mais reconstituer par l'enchaînement des mots et par leur disposition dans l'espace l'ordre même du monde » (Michel Foucault, Les mots et les choses (1966), Gallimard, «Tel», 1990, p. 53). 3 Italo Calvino, «Entretiens sur sciences et littérature», in Défis aux Labyrinthes, I, op.cit., traduit de l'italien par Michel Orcel, p. 216. 4 Ibidem. Maria Luísa Leal (Universidad de Extremadura, Espanha) Espaço, ciência e alteridade no Diálogo sobre a missão dos embaixadores japoneses à Cúria Romana, de Duarte de Sande. «Isto me basta para concluir com que facilidade os estrangeiros disparatam naquilo que lhes é alheio» é uma afirmação que se pode ler no 34º e último dos «colóquios» que formam o Diálogo sobre a missão dos embaixadores japoneses à Cúria Romana, de Duarte de Sande. Tal afirmação revela as linhas mestras da investigação de que pretendemos dar conta na nossa comunicação: que, subjacente ao discurso religioso, há uma noção de ciência aplicada a vários domínios com que se deparam os viajantes (geografia, história, arte de navegar, antropologia avant la lettre). Essa noção de ciência, eurocêntrica e humanista, é colocada na boca dos embaixadores japoneses, católicos ferverosos durante a sua visita à Cúria Romana, mas, ao mesmo tempo, identidades complexas com acesso a dois mundos em confronto. Os embaixadores japoneses são figuras-limite, situadas entre a abertura do Japão ao Ocidente e o seu fechamento, até ao século XIX, a tudo o que não fosse a ciência ocidental. Tendo em conta a complexidade sócio-religiosa que constitui o pano de fundo da obra de Duarte de Sande, rastrearemos e daremos conta do discurso sobre a ciência que, ele próprio, é fruto da location dos embaixadores, identidades entre dois mundos, figuras de uma mediação tornada obsoleta pelo poder que, no momento do regresso, recusa a assimilação que eles encarnam e os confronta com a necessidade de escolha entre o martírio e a apostasia. Maria Concetta La Rocca (DISUM de Catane et EHESS de Paris, França) Écriture littéraire et neurosciences, de la page au cerveau Suite à l’essor des sciences cognitives et des neurosciences, le domaine artistique a été envahi par ce nouveau tournant scientifique, qui vise à explorer les mécanismes cérébraux de l’homme qui s’activent durant une expérience artistique. La littérature a été elle aussi concernée par cette tendance, qui a abouti à des résultats particulièrement intéressants, surtout pour ce qui est des effets empathiques de l’écriture littéraire. La science est en effet en train de donner des réponses à la question «Pourquoi l’art nous émeut?». Notre travail a pour objectif celui d’explorer le lien qui s’est instauré entre la littérature et le cerveau, ainsi que de voir quels sont les effets émotionnels d’un certain type d’écriture, au niveau cérébral. En particulier, nous voulons analyser le processus d’empathie qui sous-tend l’écriture de Pascal Quignard et de son texte Lycophron et Zétès. Notre approche sera neurolinguistique et neuro-esthétique. En effet, elle s’appuiera sur les nouvelles découvertes qui concernent les neurones miroirs et qui ont amené les critiques à reconsidérer l’expérience artistique, en tenant en compte du rôle du cerveau dans la lecture et dans la vision. Maria Jesús Fernández García (Universidad de Extremadura, Espanha) Ciência e tecnologia em narrativas utópicas/distópicas portuguesas: Irmânia de Ângelo Jorge e O Último Europeu.2284 de Miguel Real. Objetivamos no nosso trabalho uma análise comparada de duas narrativas de natureza utópica: Irmânia (1912) de Ângelo Jorge e O último europeu de Miguel Real (2015), focalizando a atenção no papel que o desenvolvimento científico e tecnológico possa ter como base para a imaginação das sociedades descritas. Embora afastadas temporalmente, ambas as narrativas aproximam-se ao oferecer modelos melhorados do mundo através da reinvenção especulativa da realidade, seguindo de perto a obra de Tomas Morus Utopia (1516). Podemos, portanto, interrogar estes textos em várias aspetos: acerca da representação e valorização dos avanços científicos e tecnológicos alcançados pelas sociedades imaginadas, oscilando entre o deslumbramento e a desconfiança; acerca da ligação de cada um de estes relatos ao paradigma de conhecimento científico da sua época (ciência moderna e ciência pós-moderna); a respeito da sua contribuição para um imaginário utópico/distópico do futuro da humanidade e de Portugal. No caso da obra de Miguel Real, é possível aliás analisar como são representados literariamente alguns dos questionamentos atuais do pós-humanismo. (Peter Sloterdijk, 2002; Rosi Braidotti, 2015) Mohammed El Fakkoussi (LEREC Faculté des Lettres et des Sciences Humaines Fes-Sais, Marrocos) De la littérature maghrébine postcoloniale vers une psychanalytique appliquée L’éclairage de la littérature par les sciences humaines ou vice-versa doit sa pertinence au principe de fonder «un dialogue des cultures: tout texte se construit comme «mosaïque» de citations; tout texte est«absorption»et «transformation» d’un autre ou d’autres textes 1.» Il importe de signaler, dans ce sens, que le recoupement entre la littérature et les autres domaines de la connaissance est sans doute flexible selon l’approche comparatiste tant que l’idée d’emprunt interpelle le comparatiste à adopter une lecture de «va-et-vient» 2 de la zone de transaction de la thématisation littéraire et de sa prise en charge par le discours scientifique. Dans le contexte littéraire maghrébin, aux dires de Charles Bonn, «Discours psychanalytique et discours romanesque sont donc cousins au Maghreb. Plus: ils se fécondent réciproquement»3 pour rendre compte des pannes et des dysfonctionnements dont pâtit le sujet maghrébin. Il aussi certain selon Abdelkebir Khatibi que «cette littérature (la maghrébine) est un bon terrain d’investigation pour la psychanalyse, dans la mesure où l’écriture est une traduction du corps, de l’inconscient et du désir.»4 Puisque c’est l’écriture de et sur la folie qu’il s’agit dans ce travail, il convient d’opérer, sur le plan dynamique, son mode d’élaboration comme activité fantasmatique, et d’examiner ensuite sa structuration et son fonctionnement au sein du texte littéraire comme déplacement d’un système préconscient à l’autre conscient, tout en éclairant son sa mise en jeu du plaisir sur le plan économique. Natália Albino Pires (Escola Superior de Educação de Coimbra, IELT/FCSH- Universidade Nova de Lisboa) «Do coquo chamado, scilicet, do coquo comum»: Garcia de Orta em diálogo com a ciência O labor científico de Garcia de Orta, patente nos Colóquios dos simples e drogas da Índia, teve reflexo em tratados coevos e ulteriores como o Tractado de las drogas y medicinas de las Indias, de Cristóvão da costa, ou o Hortus Indicus Malabaricus, de Hendrik Van Rheede. Tendo em conta o diálogo científico que se estabelece entre estas e outras obras de materia medica, analisaremos, a partir da descrição do coco comum (cocos nucifera L.), os aspectos intertextuais que denotam o conhecimento científico sobre este alimento ao longo de todo o século XVII. Natália Maria Lopes Nunes (IELT e IEM/FCSH-Universidade Nova de Lisboa) 1 Daniel-Henri Pageaux, La littérature générale et comparée, Editions Armand Colin, Paris, 1994, p. 18. 2 Ibid., p. 16 3 Charles Bonn, Schémas psychanalytiques et roman maghrébin d’expression française, études littéraires maghrébines, Editions l’Harmattan, Paris, 1991, p. 12. 4 Marc Gontard, La violence du texte, Editions l’Harmattan, Paris, 1981, p. 8. Kitāb al-filāha (Tratado de Agricultura) de Ibn Luyūn: o diálogo entre a ciência e a literatura no al-Andalus Na literatura árabe, a figura do poeta teve um papel crucial na sociedade. Essa importância advinha já desde a época pré-islâmica, onde o poeta era uma figura fundamental no desenvolvimento de um imaginário poético ligado ao nomadismo. Os poetas foram transmissores de um saber e, muitos deles, estiveram ao serviço de reis, príncipes, califas e de senhores poderosos, contribuindo para a sua propaganda e prestígio, através do elogio presente nos panegíricos. Por outro lado, muitos foram os homens ligados às ciências que também tiveram dotes poéticos. Médicos, astrónomos, físicos, entre outros, exerciam diversas actividades, sendo uma delas a arte da poesia, estabelecendo, assim, um elo de ligação entre a ciência e a literatura. É neste contexto que, no século XIV, no último período da literatura do al-Andalus, surge o Kitāb al-filāha (Tratado de Agricultura) de Ibn Luyūn, uma excelente obra de agronomia, curiosamente, escrita em verso, composta por 1300 versos. O seu autor, para além dos seus conhecimentos agronómicos, conciliou várias actividades como as de filósofo, jurista, matemático, poeta e asceta. O Tratado de Agricultura de Ibn Luyūn foi um dos primeios poemas árabes sobre a agricultura, contendo um grande valor científico e histórico-cultural para a sua época, e para os séculos posteriores, tendo contribuído para o desenvolvimento da agricultura na Península Ibérica. Teresa Araújo (IELT/FCSH-Universidade Nova de Lisboa) Diálogo: o género literário no ensino do conhecimento O sucesso do modelo retórico e poético da conversação imaginária entre uns quantos (poucos) eruditos ou destes com os seus discípulos sobre filosofia, política, moral, ciência ou temas congéneres refletiu não só a eficácia argumentativa e mediática da forma ficcional de concentração máxima no colóquio intelectual, mas também a centralidade das sociabilidades com atividade culta no âmbito das quais se desenvolveu em boa medida o pensamento e a criação. Deste modo se compreende a prolífera produção de obras como os Dialogos compostos no seio da rede dos Oratorianos, na segunda metade do século XVIII, para uso nas escolas da Congregação. Note-se, por exemplo, que o Dialogo da Esfera Celeste e Terrestre foi publicado pela primeira vez em 1751 e obteve ainda em 1807 uma nova tiragem. Esta comunicação propõe uma abordagem crítica à aplicação didática do diálogo literário de temática científica, tendo como referência particular o folheto oratoriano mencionado. Teresa Nobre de Carvalho (CIUHT-FC, Universidade de Lisboa) As consequências do desaire editorial de Colóquios dos Simples Na segunda metade do século XVI foi publicado nas oficinas goesas de João de Endem um tratado inteiramente dedicado aos recursos naturais do Oriente. Da autoria de Garcia de Orta, Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia (Goa, 1563) trouxe a público importantes novidades sobre os produtos asiáticos. Redigido em português, o tratado descreveu as conversas entre dois médicos peninsulares. Ao longo de 59 capítulos, os físicos esgrimiram os seus argumentos e saberes sobre cada um dos produtos apresentado. A prolongada vivência de Orta por terras asiáticas e o seu vasto conhecimento da literatura médico-botânica em circulação na Europa conferiram imediata notoriedade à obra. No entanto, apesar do inegável valor da novidade difundida, a narrativa em diálogo, a enorme profusão de erros ortográficos e a aparente falta de cuidado no trabalho de composição, justificaram as críticas de alguns eruditos. Por este motivo, na década seguinte, foram publicadas pelos sábios europeus novas versões da obra que, seguindo modelos de exposição considerados mais adequados, contribuíram para a vasta difusão do saber recolhido e validado na Ásia. A presente análise descreve alguns dos problemas gráficos da edição prínceps de Colóquios dos Simples e revela como os constrangimentos técnicos evidenciados nesta edição conduziram a que a ampla circulação da novidade sobre a natureza da Ásia ficasse dependente das soluções editoriais criadas pelos sábios e tipógrafos europeus. Este exemplo permite-nos lançar um novo olhar sobre o impacto que tiveram as limitações de recursos técnicos e humanos verificados nas oficinas gráficas dos espaços imperiais, na produção e difusão de conhecimento. Souad Atoui-Labidi (Université Mohamed Boudiaf de M’Sila, Argélia) Mots et maux… ou le rapport fusionnel entre écriture et médecine chez Malika Mokeddem L’alliance entre la médecine et l’écriture n’est nullement un fait du hasard chez l’auteure Algérienne Malika Mokeddem. En effet, sa formation initiale en néphrologie et sa pratique pendant des années ont donné naissance à une écriture imprégnée jusqu’au bout du dire des corps souffrant. Une écriture qui conduit le lecteur le plus souvent à chercher des corrélations entre deux domaines à apparence opposés mais merveilleusement complémentaires. Le lecteur se trouve donc dans une intersection liant: médecine et écriture, maux et mots, maladies et cures, corps souffrant et corps soulagé…. C’est à travers l’analyse de l’écriture Mokeddemienne que nous essayerons de comprendre le croisement de la médecine comme «science» à part entière et la littérature comme art. Entre maux et mots nous allons tenter, au travers de cette communication, de voir le double pouvoir du médecin et de l’auteure.