argumentação na monografia: uma questão de polifonia

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argumentação na monografia: uma questão de polifonia
MARIA TERESINHA PY ELICHIRIGOITY
ARGUMENTAÇÃO NA MONOGRAFIA:
UMA QUESTÃO DE POLIFONIA
PORTO ALEGRE
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
ÁREA: ESTUDOS DA LINGUAGEM
ESPECIALIDADE: TEORIAS DO TEXTO E DO DISCURSO
LINHA DE PESQUISA: ANÁLISES TEXTUAIS E DISCURSIVAS
ARGUMENTAÇÃO NA MONOGRAFIA:
UMA QUESTÃO DE POLIFONIA
MARIA TERESINHA PY ELICHIRIGOITY
ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª ANA ZANDWAIS
Tese de Doutorado em Teorias do Texto e do
Discurso, apresentada como requisito parcial para
a obtenção do título de Doutor pelo Programa de
Pós-Graduação em Letras da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
PORTO ALEGRE, 2007.
DEDICATÓRIA
Para minhas amadas filhas
– Cíntia, Karina e Fabiana –
sentido essencial na minha busca constante do
sentido.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que me
proporcionou essa oportunidade de realização e crescimento profissional, agradeço, assim
como à Pró- Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Católica de
Pelotas, por seu auxílio durante algum tempo deste trabalho.
À Prof.ª Ana Zandwais, minha profunda gratidão, por ter acreditado nas minhas
possibilidades, por tudo quanto me ensinou, pela incansável e fecunda reflexão, pela
pertinente crítica e acompanhamento que me permitiram concluir este trabalho.
Às professoras Regina Varini Mutti e Maria Marta Furlanetto, por suas leituras, avaliações
e sugestões enriquecedoras durante a banca de qualificação deste trabalho, meu
agradecimento.
À Prof.ª Freda Indursky, meu reconhecimento tanto por sua atuação profissional exemplar,
como pelo acolhimento atento e carinhoso dispensado a seus alunos.
Aos professores Hilário Bohn, Carmen Lúcia Matzenauer, Aracy Ernst que me
incentivaram no início desse processo, quer com uma palavra inspiradora, uma
recomendação ou um aconselhamento, eu agradeço.
À Prof.ª Aline Delias de Souza, Coordenadora dos trabalhos de monografias jurídicas da
Escola de Direito da UCPel, que tão prontamente me proporcionou o acesso ao corpus
dessa pesquisa, e aos demais professores entrevistados, cujos pareceres também muito me
ajudaram, para que eu refletisse sobre a produção desses textos, muito obrigada, pois sem
tal auxílio, esse trabalho não teria sido possível.
À Márcia Cidade, que gentilmente me auxiliou em algumas traduções de textos de leitura
em francês, assim como a meus queridos primos Ruth e Jean Claude Lepine, também
registro meu agradecimento.
Aos colegas com quem convivi durante este período de estudo na UFRGS, agradeço o
carinho, a solidariedade, o auxílio sempre que solicitado e os exemplos de perseverança,
paciência e humildade.
Aos meus familiares que souberam entender e respeitar a necessidade de um relativo
afastamento durante esse período de estudo, mas que estiveram sempre por perto me
incentivando, que partilharam das minhas dificuldades e se alegraram com qualquer
sucesso obtido, todo o meu afeto.
RESUMO
Este estudo representa a aposta na possibilidade de articulação das teorias de Ducrot e
Bakhtin, ao abrir uma nova perspectiva para a Semântica Argumentativa, servindo-se de
um corpus discursivo de monografias realizadas como Trabalhos de Conclusão do Curso de
Direito da UCPel-RS. Pensamos em mostrar a polifonia como recurso de argumentação, na
medida em que se observa a maneira pela qual o produtor do enunciado se posiciona em
relação às perspectivas de outros enunciadores. Assim, ao reconhecer que o enunciado
comporta perspectivas diferentes que se mostram por marcas lingüísticas indicantes da
polifonia e que realizam movimentos com orientação argumentativa antagônica ou
equivalente, demonstramos, também, que se constitui um sujeito descentrado, social e
histórico, e não somente aquele cuja perspectiva domina o texto.
Para a realização dessa proposta, apresentamos, no primeiro capítulo, a importância do
estudo da monografia, devido ao seu largo uso na esfera universitária, e diferentes
orientações dadas para o trabalho monográfico em livros de metodologia, indicados para o
ensino superior, assinalando, inclusive, a tentativa de efeito de “dessubjetivação” na
formulação científica do texto.
No segundo capítulo, nos preocupou primeiramente, o campo epistemológico da
argumentação e buscamos a retórica de Aristóteles cujos princípios são retomados por
Perelman, já no século XX, ao formular a sua Teoria da Argumentação, opondo-se ao
raciocínio formal lógico até então preponderante e que não dava conta da lógica do discurso
ético, político e jurídico. Por outro lado, aponta-se a fissura ética entre a argumentação
dialética e a retórica, uma vez que Perelman prevê posições tomadas pelo orador levando
em conta apenas a tipologia de seu auditório, com a intenção de persuadir ou convencer. A
seguir, trazemos a idéia de dialogia e de polifonia de Bakhtin, materializada na elocução
que se expressa de um ponto de vista cujo grau de consciência é proporcional ao seu grau
de orientação social. Além disso, é abordada a idéia de gênero do discurso como reflexo de
práticas sociais o que nos faz refletir sobre o caráter da monografia na universidade. Por
outro lado, são revistos conceitos básicos sobre a relação entre ideologia e história, entre
consciência social e signo, entre infra-estrutura e superestrutura no discurso, tudo isso com
o objetivo de, finalmente, mostrar como acontece a instauração formal das vozes do
discurso no texto e a subjetividade do sujeito, sob o ponto de vista bakhtiniano, a qual
encontra seu fundamento no materialismo histórico e transforma-se na polifonia. Fechando
essa parte, é apresentada uma visão crítica sobre a obra de Bakhtin, a partir do
posicionamento de estudiosos russos da atualidade. Na seção seguinte, trazemos a trajetória
teórica de outro estudioso da argumentação, o francês Oswald Ducrot. E é com a influência
da formalização de sua Teoria Polifônica da Enunciação, acrescida de conceitos
bakhtinianos que damos consecução ao terceiro capítulo.
Nessa terceira parte do estudo, apresentamos a metodologia do trabalho, as análises das
condições de produção das monografias sob ponto de vista dos professores, além de
reflexões sobre esse ponto de vista dos orientadores das monografias, pois este estudo quer
falar mais diretamente com os próprios professores do ensino superior. A seguir é traçado o
percurso de produção escrita do aluno-escritor acerca de seu conhecimento do tema das
monografias selecionadas o que vai, inclusive, justificar o movimento argumentativo
apresentado na análise da polifonia dos recortes analisados. Assim, realiza-se a análise,
evidenciando-se as marcas lingüísticas sinalizadoras da polifonia, com o objetivo de
localizar os locutores no enunciado, identificar as apropriações de vozes e o lugar social
que ocupam, num primeiro nível, para logo a seguir, aprofundando a observação da
enunciação, formalizar suas perspectivas com os movimentos argumentativos que realizam.
A conclusão nos aponta para a importância do aprofundamento dos estudos da Lingüística
da Enunciação e da Semântica Argumentativa para o aprimoramento da metodologia de
ensino-aprendizagem da leitura/interpretação e escrita tanto no que se refere à formação dos
professores, quanto ao trabalho já em realização na sala de aula. Para tanto, propomos o
trabalho com análises semântico-enunciativas, pois mostramos nesta Tese que, com a
apreensão dos efeitos de sentido dos discursos, com a percepção da polifonia e dos
movimentos argumentativos que realizam os locutores, além das perspectivas dominantes, a
produção do texto torna-se consistente e, somente assim, a interpretação é realmente viável
e justificada.
RESUMÉ
Cette étude mise sur la possibilité d’une articulation entre les théories de Ducrot et de
Bakhtine, en ouvrant une nouvelle perspective pour la sémantique argumentative, par
l’utilisation d’un corpus discursif de monographies rédigées dans des mémoires de fin de
cours de droit de l’UCPel-RS. Nous cherchons à présenter la polyphonie comme un moyen
d’argumenter, dans la mesure où nous observons la manière dont le locuteur se positionne
par rapport aux perspectives d’autres énonciateurs. Ainsi, en reconnaissant que l’énoncé
comporte des perspectives différentes qui se signalent par des marques linguistiques
indicatrices de la polyphonie et qui créent des mouvements d’orientation argumentative
antagonique ou équivalente, nous démontrons aussi que se constitue un sujet décentré,
social et historique, et non seulement un sujet dont la perspective domine le texte.
Pour réaliser cette proposition, nous montrons, dans le premier chapitre, l’importance de
l’étude de la monographie, due à sa large utilisation dans le domaine universitaire, et
présentons les différentes orientations du travail monographique qui sont données dans les
livres de méthodologie recommandés pour l’enseignement supérieur, y compris en
signalant la tentative d’effet de « dé-subjectivation » dans la formulation scientifique du
texte.
Dans le deuxième chapitre, le champ épistémologique de l’argumentation a été notre
première préoccupation. Nous y avons étudié la rhétorique d’Aristote, dont les principes
sont repris au XXe siècle par Perelman dans sa formulation de sa théorie de
l’argumentation, qui s’oppose au raisonnement formel logique, jusqu'alors prépondérant,
mais qui ne rendait pas compte de la logique du discours éthique, politique et juridique.
D’autre part, nous soulignons la fissure éthique entre l’argumentation dialectique et la
rhétorique, puisque Perelman prévoit les positions prises par l’orateur en ne tenant compte
que de la typologie de l’auditoire qu’il a l’intention de persuader ou de convaincre. Ensuite,
nous introduisons l’idée de dialogie et de polyphonie de Bakhtine, matérialisée dans
l’élocution qui s’exprime d’un point de vue dont le degré de conscience est proportionnel à
son statut social. De plus, c’est l’idée d’envisager le type de discours comme reflet de
pratiques sociales qui nous a fait réfléchir sur les caractéristiques de la monographie dans
l’université. Par ailleurs, sont revus les concepts de base sur la relation entre idéologie et
histoire, entre conscience sociale et signe, entre infra-structure et superstructure dans le
discours, le tout avec, finalement, pour objectif, de montrer comment apparaissent
l’instauration formelle des voix du discours dans le texte et la subjectivité du sujet, du point
de vue bakhtinien, cette dernière se fondant sur le matérialisme historique et se
transformant en polyphonie. Pour terminer cette partie, nous présentons une vision critique
de l’oeuvre de Bakhtine à partir de la position de chercheurs russes contemporains. Dans la
section suivante, nous abordons la trajectoire théorique d’un autre spécialiste de
l’argumentation, le Français Oswald Ducrot, dont l’influence de la formalisation de sa
théorie polyphonique de l’énonciation, à laquelle s’ajoutent des concepts bakhtiniens, nous
fournira la transition vers le troisième chapitre.
Dans cette troisième partie, nous présentons la méthodologie de notre travail, le point de
vue des professeurs sur les conditions de production des monographies, ainsi que les
réflexions des directeurs de monographies sur ce point de vue, car cette étude entend
s’adresser plus directement aux professeurs de l’enseignement supérieur eux-mêmes.
Ensuite est détaillé le parcours de la production écrite de l’élève-écrivain dans sa
connaissance du thème des monographies sélectionnées, ce qui va justifier, notamment, le
mouvement argumentatif présenté dans l’analyse de la polyphonie des extraits choisis.
L’analyse permet ainsi de mettre en évidence les marques linguistiques qui sont des indices
de la polyphonie, avec l’objectif de localiser les locuteurs dans l’énoncé, d’identifier les
appropriations de voix et le lieu social qu’elles occupent, en première approche, pour
ensuite, en approfondissant l’observation de l’énonciation, formaliser ses perspectives avec
les mouvements argumentatifs.
La conclusion nous amène à souligner l’importance d’études plus approfondies de la
linguistique de l’énonciation et de la sémantique argumentative, pour perfectionner la
méthodologie de l’enseignement-apprentissage de la lecture/interprétation et de l’écrit,
aussi bien pour la formation des professeurs, que pour améliorer le travail qu’ils effectuent
déjà en classe. Pour cela, nous proposons un travail fondé sur des analyses
sémanticoénonciatives,
car nous montrons dans cette thèse que, avec l’appréhension des effets de
sens du discours, avec la perception de la polyphonie et des mouvements argumentatifs que
créent les locuteurs, au-delà des perspectives dominantes, la production du texte prend de la
consistance et que ce n’est que de cette manière que l’interprétation est réellement viable et
justifiée.

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