Saulo Neiva - celis - Université Blaise Pascal

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Saulo Neiva - celis - Université Blaise Pascal
Saulo Neiva
Avatares da epopéia
na poesia brasileira do final do século XX
trad. Carmen Cacciacarro, prefácio Ivan Teixeira
Recife, Massangana - Fundação Joaquim Nabuco
Este livro analisa o processo de reabilitação da epopéia na
poesia brasileira do século XX (de Cassiano Ricardo a Marcus
Accioly, passando por Jorge de Lima, Gerardo Mello Mourão, Carlos
Nejar, Haroldo de Campos). Para isso, levamos em consideração tanto
a crítica do século XIX (Hegel, Hugo, Alencar, Poe) quanto a
contribuição teórica recente de especialistas do epos (P. Brunel, F. Goyet).
No século XIX, apesar de praticada por vários poetas em diferentes literaturas, a epopéia é
considerada por muitos outros autores como uma forma poética antiquada ou em ponto de ser
ultrapassada – opinião partilhada por personalidades tão importantes quanto Hegel, Edgar Allan Poe
e Victor Hugo. A epopéia parece estar condenada a ser uma forma anacrônica, incompatível com a
estética moderna, ao mesmo tempo em que se assiste a um duplo fenômeno : o declínio da
“ supremacia ” que lhe foi atribuída dentro da hierarquia dos gêneros herdada do Renascimento,
bem como o “ dilaceramento ” e a “ mistura ” de gêneros que se produz na época moderna, na
linhagem do Romantismo.
No entanto, essa impressão de inadequação, apesar de bastante difundida, contraria uma
constatação bem simples : inúmeros são os longos poemas narrativos, compostos em diferentes
línguas durante o século XX, que possuem laços estreitos, explícitos e conscientes com a tradição
épica ocidental, tendo sido apresentados como epopéias pelos seus próprios autores ou por críticos
literários, desenhando os contornos de uma verdadeiro tendência épica contemporânea, em
diferentes literaturas (Gabriele D’Annunzio, Nikos Kazantzaki, Nâzim Hikmet, Ezra Pound,
Édouard Glissant, Pablo Neruda, Derek Walcott), inclusive a literatura brasileira (por exemplo,
Cassiano Ricardo, Jorge de Lima, Gerardo Mello Mourão, Carlos Nejar, Haroldo de Campos,
Marcus Accioly).
Assim, há uma contradição essencial entre uma opinião crítica bastante disseminada –
segundo a qual a epopéia pertence a uma época ultrapassada – e uma parte importante da produção
poética do século XX. Analisamos as características e os meandros desse paradoxo aparente,
examinando mais particularmente aspectos do debate que animou pensadores do século XIX, para
em seguida tentar compreender as tentativas de reablitação da escrita épica efetuada por quatro
obras publicadas por poetas brasileiros (Nejar, Mello Mourão, Accioly, Campos).
Este livro constitui o terceiro volume de uma trilogia, também constituída por duas obras
coletivas organizadas pelo autor, sobre a problemática do declínio e o « reinvestimento » da
epopéia : Déclin & confins de l'épopée au XIXe siècle (Tübingen, posfácio Florence Goyet, Gunter
Narr, 2008) e Désirs & débris d'épopée au XXe siècle (Berna, posfácio Daniel Madelénat, Peter
Lang, 2008).
Natural de Recife, Saulo Neiva é doutor e livre-docente pela Université de Paris 3-Sorbonne Nouvelle,
professor da Université Blaise-Pascal (Clermont II), onde também dirige a equipe de pesquisa Écritures et
Interactions Sociales (que faz parte do Centre de Recherches sur les Littératures et la Sociopoétique, CELIS)
e coordena a Cátedra Sá de Miranda. Já publicou Au nom du loisir et de l’amitié. Rhétorique et morale dans
l’épître en vers en langue portugaise au XVIe siècle (Paris, Calouste Gulbenkian, 1999) e La France et le
monde luso-brésilien : échanges et représentations (XVIe-XVIIIe siècles) (Clermont-Ferrand, PUBP, 2005).
Atualmente co-dirige o Dictionnaire raisonné de la caducité des genres littéraires (Genebra, Droz).

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