Descrição do Filme

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Descrição do Filme
UMA AULA EM GESTÃO DE PESSOAS
Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo, de Peter Weir, se
passa durante as Guerras Napoleônicas e segue um navio inglês, o HMS
Surprise, logo após ter sido subitamente atacado por uma embarcação inimiga francesa maior, mais poderosa e mais rápida, o Acheron.
No navio inglês, Jack Aubrey é o capitão e o naturalista Stephen Maturin, o médico de bordo.
Após o ataque e ter reparado o navio seriamente danificado, Aubrey decide interceptar e capturar o inimigo numa arriscadíssima perseguição que
atravessa dois oceanos.
Da costa do Brasil às águas tempestuosas do Cabo Horn, enfrentando
gelo e neve, o navio chega a um dos pontos mais longínquos do mundo, as
costas das Ilhas Galápagos.
O filme é extremamente rico e detalhado na descrição do relacionamento dos tripulantes entre si e destes com o comandante do HMS Surprise.
Os marinheiros, vindos de todas as partes do Reino Unido, são os trabalhadores braçais e os oficiais - aprendizes, segundos-tenentes, primeirostenentes, o médico e o capitão - os tripulantes graduados. Há referências
constantes ao Almirante Nelson, herói nacional. O confinamento permanente de todos fornece um ambiente de claustro, conflitos e muitos exemplos de comportamento de grupos.
O que permite, para nós profissionais da área de gestão com pessoas, assistirmos a uma verdadeira aula sobre inúmeros temas que fazem parte do
cotidiano das organizações: avaliação de desempenho, coaching, criativi-
dade, desenvolvimento, disciplina, espírito de equipe, estratégias, ética,
exemplos que o comandante dá aos seus comandados, liderança, motivação, perseverança, reconhecimento, tomada de decisões e outros.
A história é baseada no livro de Patrick O'Brian, que escreveu uma extensa obra sobre o Capitão Aubrey e o médico naturalista Maturin. O'Brian
escreveu 20 livros e, quando morreu em 2000, estava escrevendo o 21º.
O filme abrange o primeiro livro - Master and Commander (Mestre dos
Mares), o terceiro - HMS Surprise, e o décimo - The Far Side of the World
(O Lado Mais Distante do Mundo).
Um dado interessante é que no livro o navio que ameaça a frota baleeira
britânica não é francês, mas sim o navio americano Norfolk.
Algumas versões circularam sobre a mudança da nacionalidade do navio pelo diretor Weir. Uma delas é que os americanos não iriam gostar nem
aplaudir um filme em que eles são derrotados. Outra versão para a mudança
é que o filme foi realizado na época da intervenção bélica dos Estados Unidos no Iraque. Como a França ficou contra a política de Bush na guerra, ela
passou a ser o alvo do ataque no filme. Aliás, o Surprise vai além de ser apenas um navio. Como é deixado claro em várias cenas, "ele é a própria Inglaterra".
Por outro lado, o pano de fundo histórico é real. Havia de fato, no princípio do século XIX, um acirramento da rivalidade histórica entre Inglaterra e
França, ambos países colonialistas.
Outro ponto de destaque é que no final do filme o verdadeiro destino do
capitão do Acheron fica dúbio. Também, neste caso, surgiram algumas explicações: uma delas é que a não revelação quanto ao capitão ter morrido ou
apenas ter sido aprisionado pela tripulação do Surprise, seria um gancho
para continuações. A outra é que o final em aberto indicaria que lideranças
podem permanecer vivas.
Os que defenderam essa segunda explicação acrescentam que o cinema,
além de entretenimento, lazer e indústria, é também informação e pode
conter, na comunicação que passa, uma intenção político-ideológica.
Um ponto alto do filme a destacar ainda é a absoluta verossimilhança da
fragata, perfeita nos mínimos detalhes. Weir recria o mundo ligado à marinha inglesa do século XIX e vai ao encontro da proposta de O'Brien. Para
os versados em assuntos de mar, vale observar a profusão de termos náuticos e de piadas de marinheiros.
Temas
Assunção de riscos, coaching, comportamento de grupos, conflitos,
criatividade, decisão, desempenho, disciplina, equipe, estratégia,
ética, liderança, mentoring, motivação, perseverança, raciocínio
lateral, reconhecimento, tomada de decisão, treinamento, visão
compartilhada.
Sugestões para o debate
Considerando a riqueza do filme, achamos que o debate pode ser
livre, de forma a captar as percepções dos participantes sobre os
temas abordados, principalmente os relacionados com:
l. A forma como o Capitão Jack Aubrey liderava o seu grupo.
2. As motivações que levaram o Capitão Aubrey — mesmo com seu
navio seriamente danificado - a tentar capturar o inimigo numa
arriscadíssima perseguição que atravessou dois oceanos.
3. Além da maestria pessoal do Capitão Aubrey, os fatores e
estratégias que contribuíram para que a decisão de interceptar o
navio inimigo se tornasse um objetivo compartilhado por todos.
4. O acerto ou não das decisões tomadas pelo Capitão Aubrey e
quais foram fundamentais para o envolvimento da equipe.
5. Trazendo a tripulação do navio para um contexto empresarial, a
análise do clima organizacional a bordo do HMS Surprise.
6. O relacionamento entre o Capitão Aubrey e o naturalista Stephen
Maturin, o médico de bordo.
7. O poder exercido pelo Capitão Aubrey - e sua colocação em
prática dos ideais que acreditava serem os melhores para sua
tripulação e para a Inglaterra - comparativamente ao exercido pelos
governantes no mundo atual.
8. A decisão do Capitão Aubrey de sacrificar um membro da
tripulação durante a tempestade, evidenciando a preocupação com o
coletivo e não com o individual.
9. O sentido da cena em que o Capitão Aubrey ao violino e o médico
Maturin ao violoncelo executam um dueto musical.
10. A criatividade da decisão de camuflar o HMS Surprise para
enganar o navio inimigo.
11. As possíveis razões de, no final do filme, o verdadeiro destino
do capitão do navio Acheron ficar em aberto.
12. O pensamento de Antônio Damásio - cientista português,
radicado nos Estados Unidos - que liga, de forma objetiva e
científica, a área emocional dos indivíduos com a razão e a
racionalidade e as conseqüentes influências na tomada de decisão.
Fonte: BRANDÃO, Myrna Silveira. Uma aula em gestão
de pessoas. In:____. Luz, câmera, gestão: a arte do
cinema na arte de gerir pessoas. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2006. p. 134-137.

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