A contribuição da recreação para a qualidade de vida do idoso

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A contribuição da recreação para a qualidade de vida do idoso
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Science in Health
2011 set-dez; 2(3): 155-62
A CONTRIBUIÇÃO DA RECREAÇÃO PARA A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO
THE CONTRIBUTION OF RECREATION FOR THE QUALITY OF LIFE OF ELDERLY
Marcos Antonio da Eira Frias*
Wana Yeda Paranhos**
Patrícia Fera***
Sandra Vital de Souza****
Luciene de Faria Pintan****
RESUMO
ABSTRACT
A manutenção da autonomia e independência de um indivíduo adulto está atrelada à manutenção das condições
físicas e psíquicas, condições estas que determinam a qualidade de vida. As atividades de recreação estruturadas têm
o potencial de influenciar de maneira significativa esse processo. Este estudo tem como objetivos compreender como
a recreação contribui para a qualidade de vida dos idosos.
A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, compreendendo o período de 1999 a 2009: foram localizados
14 artigos e 04 livros. Para a busca, usamos os descritores:
recreação, lazer, qualidade de vida e idoso. Os resultados
apontam que a recreação preenche o tempo ocioso, transformando-o em processo terapêutico de restauração da
saúde e equilíbrio emocional; proporciona alegria de viver;
favorece o resgate cultural no domínio imaginário; estimula
a buscar novas estratégias para recriar o estilo de viver;
influencia de maneira significativa o meio interno do idoso
com demência, reduz a agitação, a ansiedade, a limitação
física, o uso de drogas antipsicóticas e melhora a socialização. Com este estudo foi possível compreender que a
recreação é suporte essencial para a manutenção da qualidade de vida, permite ao idoso continuar desenvolvendo
seus afazeres e protela o tempo de desenvolvimento da
dependência de um cuidador.
The maintenance of autonomy and independence of an
adult individual is linked to the maintenance of the physical and psychic conditions that determine the quality of
life. Structured recreational activities have the potential to
significantly influence this process. This study aimed to understand how recreation contributes to quality of life for
seniors. The methodology used was literature research,
spanning the period from 1999 to 2009, and were located
14 articles and 04 books. In the search, we used the descriptors: recreation, leisure, quality of life and the elderly.
The results indicate that recreation fills idle time, turning it
into the therapeutic process of restoring health and emotional balance, gives joy of life, promotes the cultural revival
in the field imagery; stimulates the search for new strategies to recreate the style of living; significantly influences the
internal environment of the elderly with dementia, reduces
agitation, anxiety, physical limitation, the use of antipsychotic drugs and improves socialization. This study reveals that
recreation is essential to support the maintenance of quality
of life, allows the elderly to continue developing his work
and puts off the development time of dependence on a
caregiver.
DESCRIPTORS: Recreation • Leisure activities • Elderly, quality
of life • Middle aged.
DESCRITORES: Recreação • Atividades de lazer • Idoso; Qualidade de vida • Meia-idade.
**** Enfermeiro. Mestre em Enfermagem pela EEUSP. Especialista em Gerontologia pela UNIP. Professor da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Tecnologia da Informação nos Processos de Trabalho em Enfermagem – GEPETE - EEUSP.
**** Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento em Enfermagem – PPGEn da EEUSP. Professora
e Diretora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de
Tecnologia da Informação nos Processos de Trabalho em Enfermagem – GEPETE - EEUSP.
**** Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Professor Adjunto da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.
**** Graduandas do 7º Semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.
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INTRODUÇÃO
Apesar do aumento da expectativa de vida ser um
ponto positivo, esse evento está baseado na quantidade de anos a mais e não na qualidade dos anos
vividos a mais. Mesmo com todo o desenvolvimento
tecnológico e da medicina, o acréscimo de anos não
trouxe maior autonomia e qualidade de vida para os
idosos, sendo, portanto, necessário que as pesquisas
busquem evidenciar formas de modificar esse quadro
(Carvalho1, 2006).
Qualidade de vida, segundo a OMS, é a percepção
do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da
cultura e do sistema de valores nos quais ele vive,
considerando seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações, abordando também os diferentes
graus de características qualitativas e quantitativas e
valores de uma pessoa, que podem determinar o seu
bem-estar e sua segurança e que não são estáticos,
quase nunca (Organização Mundial de Saúde2, 2003).
A qualidade de vida e a satisfação que predominam
na velhice estão associadas às conquistas, aos fatores
socioeconômicos e à saúde (Joia et al.3, 2007), além da
manutenção da capacidade de desenvolver atividades
de vida diária (AVD).
Em relação ao idoso, saúde é um evento muito
amplo e não pode ser avaliada simplesmente com
base na presença ou ausência de doença. Afirmar que
um idoso tem saúde implica necessariamente na preservação de sua capacidade funcional no desenvolvimento das atividades de vida diária (Bonardi et al.4,
2007).
A avaliação das atividades de vida diária contempla, dentre outras, a capacidade do indivíduo em relação ao desenvolvimento de atividades de lazer.
O lazer é entendido como recreação, uma vez
que fazem parte dessas atividades os “jogos, danças,
ginástica, esporte, gincanas, passeios, caminhadas, entre outras”, e são desenvolvidas sem compromisso
de regras e de desempenho (Inouye e Pedrazzani5,
2007).
Num estudo realizado por Inouye e Pedrazzani5
(2007) com idosos de 80 anos ou mais, usuários da
rede municipal de saúde em um município do Estado
de São Paulo, foi constatado que essa população refere não desenvolver nenhuma atividade física como
forma de lazer. A “falta de lazer voltada para a faixa
etária” é a principal queixa. Os resultados do estudo
apontam, ainda, para a maior escolaridade e prática de
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atividade física como importantes fatores que influenciam na qualidade de vida. Esses resultados denotam
existir necessidade premente de políticas públicas
que estimulem a criação de espaços planejados que
garantam a segurança do usuário no desenvolvimento
de atividades culturais e físicas, como caminhadas, e
exercícios adaptados a essa população, diminuindo,
assim, a distância cultural com outras gerações, a solidão e o isolamento social.
Sendo assim, consideramos relevante buscar na literatura o que tem sido discutido e apontado como
contribuição da recreação para a manutenção da qualidade de vida dos idosos.
OBJETIVO
Conhecer, através de levantamento bibliográfico,
qual a contribuição da recreação para a qualidade de
vida do idoso.
METODOLOGIA
A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica,
compreendendo o período de 1999 a 2009. Foram
localizados 14 artigos e 04 livros que respondiam ao
nosso questionamento. A busca foi feita nas bases de
dados LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde; MEDLINE - Literatura Internacional em Ciências da Saúde; SciELO - Scientific
Electronic Library Online e na biblioteca da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Para a busca,
usamos os descritores: recreação, lazer, qualidade de
vida e idoso.
Segundo Gil6 (1996), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos e
periódicos que permitem ao pesquisador uma cobertura muito ampla e a análise em profundidade de cada
informação.
Após a seleção do material foi feita uma leitura exploratória para identificar os benefícios da recreação
descritos pelos diversos autores. Identificados os benefícios, os trechos dos textos foram transcritos ipsis
litteris para uma ficha de leitura e parafraseados. À
medida que os textos eram lidos e feito o fichamento,
pudemos perceber que seria possível fazer recortes
e ordenar os benefícios segundo sua semelhança. Assim, os resultados foram divididos em cinco grupos
denominados respectivamente “prevenção de doenças e promoção de saúde”; “redução do estresse,
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da agitação e melhora da autoestima”; “crescimento
pessoal, alegria e prazer de viver”; “desenvolvimento
da criatividade e resgate cultural”; “integração, socialização e sentimento de pertença”.
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o tempo ocioso, transformando-o em processo terapêutico de restauração da saúde. Os fatores que alteram a saúde mental e afetam a qualidade de vida dos
idosos são a demência e a depressão, que certamente prejudicam as atividades diárias das pessoas com
idade avançada, tornando-as incapazes e dependentes, levando-as ao sedentarismo. Daí a necessidade
de incluir tais pessoas em terapias e recreações que
possam resgatar uma força a mais, que está na alegria
de viver. Ao invés de expô-las somente a tratamento
e assistência, promover uma motivação para o lazer e
um envelhecimento saudável.
Autores (Lorda e Sanchez12, 2004) afirmam que a
integração do idoso ao seu meio social, o estímulo à
manutenção de vínculos e convívio social e a saúde
física são benefícios oriundos da atividade de recreação, que tem uma função terapêutica de restabelecimento da qualidade de vida e do prazer de viver.
O equilíbrio emocional proveniente da diminuição do estresse favorece a renovação das energias,
o resgate da força interior, a elevação da autoestima,
e possibilita a superação das inseguranças, diminuição
da agitação, da passividade e do uso de drogas antipsicóticas, tornando-se, assim, uma alternativa não
farmacológica para o tratamento dos idosos. Esses
benefícios descritos na literatura estão apresentados
a seguir no Grupo 2.
GRUPO 2: REDUÇÃO DO ESTRESSE, DA AGITAÇÃO E MELHORA DA AUTOESTIMA.
(…) equilíbrio emocional e a autoestima (…) (19)
(…) diminuição do estresse e a renovação de
energias (20)
(…) resgatar uma força a mais (…) (16)
(…) suplantar sua falta de segurança (…) (21)
(…) é uma forma alternativa não farmacológica
para reduzir a agitação, a ansiedade e a limitação (…) (22)
(…) diminuição do estado de agitação e estado de
passividade (…) (23)
(…) estimula a buscar novas estratégias para melhorar a qualidade de vida (…) (15)
(…) influenciar de maneira significativa o meio interno do idoso com demência (…) (24)
(…) reduz o uso de drogas antipsicóticas (…) (22)
(…) diminuição expressiva dos níveis de agitação e
passividade dos idosos (…) (25)
RESULTADOS
Não existe unanimidade entre os diversos autores em relação ao significado dos termos recreação e
lazer. Os referidos termos aparecem ora como sinônimos, ora como antônimos. No entanto, nos dicionários da língua portuguesa (Holanda Ferreira7, 1995,
Fernandes8, 1999), os termos recreação e lazer são
definidos como sinônimos e correspondem a divertimento, recreio, passatempo (Frias9, 2009).
A prevenção de doenças, promoção de saúde e
melhora da saúde física através de processos educativos possibilitam ao idoso a manutenção da autonomia
e independência. Esses são alguns dos benefícios da
recreação apresentados na literatura que contribuem
para a qualidade de vida do idoso, e podem ser observados abaixo.
GRUPO 1: PREVENÇÃO DE DOENÇAS E PROMOÇÃO DE SAÚDE
(…) prevenção e promoção de saúde (…)(14)
(…) melhora com certeza o estado de saúde (…)
(14)
(…) melhora da saúde física (…)(15)
(…) processo terapêutico de restauração da saúde (…) (16)
(…) desenvolvimento de processos educativos
(…) (17)
(…) maior autonomia e independência (…) (18)
Com o aumento da população idosa no país, a
recreação contribuirá efetivamente para um futuro
com elevada qualidade de vida, sendo necessário que
o profissional de saúde se prepare para orientar atividades recreativas com vistas à prevenção e promoção de saúde. A recreação melhora com certeza o
estado de saúde e a qualidade de vida (Papaléo Netto
et al.10, 2005). Esse benefício, no nosso entender, está
relacionado ao fato de o idoso preencher parte de
seu tempo livre, diminuindo, dessa maneira, a probabilidade de desenvolver depressão.
Nesse sentido Benedetti et al.11 (2008) afirmam
que a recreação para os idosos em geral preencherá
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O lazer deveria ser valorizado na vida diária da
terceira idade, pois favorece o equilíbrio emocional e
a autoestima (Jannuzzi e Cintra13, 2006). O equilíbrio
emocional e autoestima elevada diminuem ou anulam
a possibilidade de um indivíduo desenvolver depressão e favorecem a sensação de bem-estar que culmina
no equilíbrio do corpo, mente e espírito, equilíbrio
este traduzido como renovação da energia vital.
Dessa forma, o lazer tem por finalidade a recreação, a distração, o descanso, a possibilidade de refletir sobre a realidade, a imaginação, o desenvolvimento da criatividade, a diminuição do estresse e a
renovação de energias (Frias e Amorim14, 2002).
O estresse está presente não só nos idosos residentes na comunidade, como pode também ser percebido com frequência em idosos institucionalizados
que apresentem ou não algum grau de demência. O
estresse pode se manifestar de maneiras diversas
como impaciência, hostilidade, raiva, alteração do
padrão de sono, medo, somatização, entre outros.
Essas manifestações interferem na dinâmica da instituição, e se medidas adequadas não forem adotadas
para diminuir o nível de estresse entre os idosos, o
ambiente se torna insalubre para todos os que compartilham o mesmo espaço.
Nesse sentido, Putman e Wang15 (2007) afirmam
em seu estudo que os residentes em instituições de
longa permanência para idosos (ILPIs) com diagnóstico de demência frequentemente vivenciam sintomas
comportamentais de estresse como gritos e agitação.
Esse comportamento afeta não só o doente, como
também outros idosos da instituição, os visitantes e a
equipe de funcionários. Um programa de recreação é
uma forma alternativa não farmacológica para reduzir
a agitação, a ansiedade, a limitação, o uso de drogas
antipsicóticas e melhorar a socialização.
Em um estudo para determinar a eficácia das atividades recreacionais desenvolvidas com idosos com
demência, Kolanowski et al.16 (2005) perceberam que
quanto maior o tempo de execução e participação
nas atividades, mais positiva é a resposta em relação
à diminuição do estado de agitação e estado de passividade.
Sendo assim, vivenciar boas emoções é essencial
para manter a qualidade de vida. As pesquisas sugerem que o déficit cognitivo em indivíduos com demência pode impedir a capacidade de vivenciar mo-
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mentos prazerosos e diminuir sua influência positiva
sobre o doente. Consequentemente, as atividades de
recreação estruturadas podem ter o potencial de influenciar de maneira significativa o meio interno do
idoso com demência (Schreiner et al.17, 2005).
Autores como Fitzsimmons e Buettner18 (2002)
relatam que, após 2 semanas de intervenção com terapia recreacional individualizada, os resultados mostraram diminuição expressiva dos níveis de agitação e
passividade dos idosos.
A recreação também aparece na literatura como
momento de reflexão, crescimento e estímulo que
desperta o prazer, a alegria de viver, a motivação para
desenvolver novos projetos e, como consequência,
dão sentido à vida dos idosos. Esses benefícios da recreação podem ser observados no Grupo 3.
GRUPO 3: CRESCIMENTO PESSOAL, ALEGRIA
E PRAZER DE VIVER.
(…) refletir sobre a realidade (…) (20)
(…) crescimento do indivíduo (…) (17)
(…) desperta a sensação de prazer e bem-estar
(…) (26)
(…) restabelecimento da qualidade de vida e do
prazer de viver (…) (15)
(…) alegria de viver (…) (16)
(…) faz o idoso se sentir feliz, alegre, satisfeito e
motivado para desenvolver outras atividades
(…) (21)
(…) Expressão da felicidade (…) (24)
(…) sentimentos de prazer (…) (18)
(…) dão sentido ao viver e consequentemente interferem na qualidade de vida (…) (18)
O idoso deve ser estimulado a buscar atividades
variadas para ocupar seu tempo livre, pois o entretenimento, efetivado como recreação e divertimento,
desperta a sensação de prazer e bem-estar (Inouye e
Pedrazzani5, 2007).
Autores (Schreiner et al.17, 2005) afirmam ser fundamental que se instale um programa contínuo de
recreação para idosos, pois esta faz o idoso se sentir
feliz, alegre, satisfeito e motivado para desenvolver
outras atividades, além de suplantar sua falta de segurança.
Em estudo com 35 demenciados residentes em
lares para idosos no Japão, Schreiner et al.17 (2005)
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observaram que os idosos submetidos a atividades
de recreação estruturada expressaram felicidade sete
vezes mais que quando estavam sem atividade. Esses
autores concluíram que determinar um tempo para
recreação é fundamental, pois provoca um efeito positivo sobre os idosos, durante o tempo que estão
sem atividade.
Com o avanço da idade ocorrem transformações
físicas e mudanças no padrão socioeconômico. Entretanto a recreação é um meio de adaptação que
estimula a buscar novas estratégias para melhorar
a qualidade de vida do idoso em potencial (Lorda e
Sanchez12, 2004).
As raízes de um indivíduo ou comunidade estão
ligadas às questões culturais que vão se sedimentando
na sua memória e fazem parte de seu mundo imaginário. A recreação pode ser usada para desenvolver
a criatividade, resgatar a cultura e para a descoberta
de novos talentos, além de preencher o tempo livre.
Esses benefícios da recreação são apresentados no
Grupo 4.
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e da capacidade cognitiva é um fator primordial para
prevenir perdas e manter a autonomia e qualidade de
vida do idoso, pois mesmo que este desenvolva alguma dependência física, manterá a capacidade decisória
sobre sua vida. Na nossa vivência, a recreação contribui de maneira muito efetiva para que isso ocorra.
A recreação usada de forma preventiva é significativa para o idoso, pois favorece o resgate cultural no
domínio imaginário, assim como qualquer outra atividade que proporcione bem-estar que priorize a autonomia e as limitações do idoso (Silva e Dias20, 2004).
A recreação também é descrita na literatura como
momento de manutenção da autonomia e independência, estímulo à socialização, à consciência coletiva,
ao relacionamento intergeracional e ao sentimento
de pertença ao grupo: esses benefícios estão apresentados no Grupo 5.
GRUPO 5: INTEGRAÇÃO, SOCIALIZAÇÃO E
SENTIMENTO DE PERTENÇA.
(…) a integração do idoso ao seu meio social (…)
(15)
(…) o estímulo à manutenção de vínculos e convívio social (…) (15)
(…) aumentar e desenvolver a consciência individual e coletiva (…) (17)
(…) estimular a socialização e apoio mútuo de
grupos e pessoas (…) (17)
(…) a aproximação entre gerações (…)(17)
(…) resgate da socialização e da motivação (…)
(15)
(…) melhorar a socialização (…) (22)
(…) sentimentos de pertença (…) (18)
GRUPO 4: DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E RESGATE CULTURAL
(…) resgate cultural no domínio imaginário (…)
(26)
(…) estimula a imaginação, o desenvolvimento da
criatividade (…) (20)
(…) descoberta de talentos (…)(17)
(…) aumentar e desenvolver a sensibilidade cultural e criativa (…) (17)
(…) preenche o tempo ocioso (…) (16)
Mazo et al.19 (2004) citam diversos autores como
Cavallari e Zacharias (1998); Palma et al. (1994); Marcelino (1983, 1992 e 1996); Bruhns (1997) os quais
afirmam que as atividades recreativas ajudam os idosos a alcançar um adequado patamar de saúde física e
mental; integrar-se e participar de atividades diversas;
melhoram a satisfação pessoal e a vontade de continuar vivendo e desfrutando da vida; agregam novas
atitudes e valores que permitem melhor convívio e
possibilitam a aquisição de linguagem mais expressiva através de mecanismos de adaptação que, por sua
vez, melhoram o desempenho cognitivo e a criatividade; além de diminuir o estresse e aumentar a autoconfiança.
O desenvolvimento e manutenção da criatividade
O lazer tem como função aumentar e desenvolver
a consciência individual e coletiva, a sensibilidade cultural e criativa, estimular a socialização e apoio mútuo
de grupos e pessoas. Permite o desenvolvimento de
processos educativos, o crescimento do indivíduo, a
aproximação entre gerações e a descoberta de talentos (Ferrari21, 2007).
Para os idosos que vivem em instituição de longa
permanência, a recreação se apresenta como oportunidade de resgate da socialização e da motivação.
Socialização é a capacidade de se relacionar com outros, sentir prazer com a companhia dos outros e se
beneficiar com as atividades desenvolvidas em grupo.
A motivação é entendida como um impulso ou di-
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recionamento interior que nos leva a agir. Nos idosos institucionalizados, a motivação e a vontade de
manter relações sociais são eventos pouco presentes
devido a uma somatória de fatores, como a condição
física e o fato de viver institucionalizado (15).
Em um estudo com idosos residentes em ILPIs
com grau leve e moderado de demência, Phinney et
al.22 (2007) utilizaram uma variedade de atividades
de lazer, trabalhos domésticos simples e atividades
sociais, e observaram, como resultado, maior autonomia e independência, sentimentos de prazer e de
pertença. O estudo sugere que a familiaridade com o
ambiente social e físico foi importante para a participação nas atividades e que estas dão sentido ao viver
desses indivíduos e, consequentemente, interferem
na qualidade de vida.
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vado como recreação e divertimento desperta a sensação de prazer e bem-estar.
A recreação estimula e favorece a busca de novas
e diversas estratégias para melhorar a qualidade de
vida; no entanto, os profissionais devem se preparar
para esse momento, visto que o idoso não volta a ser
criança, ele é simplesmente um adulto que envelheceu
e, portanto, precisa que as atividades de recreação
sejam adaptadas às suas necessidades e capacidades.
Em relação ao idoso com demência, a recreação
contribui para um melhor desempenho cognitivo,
acalma e diminui períodos de agitação psicomotora.
A recreação já foi momento de preocupação do
enfermeiro, momento este que foi se perdendo ao
longo dos anos à medida que novos e modernos equipamentos foram sendo incorporados à assistência de
enfermagem. Diante disso, entendemos que o enfermeiro deve voltar seu olhar para as necessidades
recreacionais de seu cliente e resgatar a recreação
como momento de cuidado, haja vista o diagnóstico de enfermagem “Atividade de RECREAÇÃO deficiente” (NANDA23, 2008) estabelecido pelo Comitê
Internacional da North American Nursing Association-NANDA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este estudo foi possível perceber que a recreação é suporte essencial para a manutenção da
qualidade de vida, permite ao idoso continuar desenvolvendo seus afazeres e protela o tempo de desenvolvimento da dependência de um cuidador. O idoso
deve ser estimulado a buscar atividades variadas para
ocupar seu tempo livre, pois o entretenimento efeti-
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