um estudo exploratório - Coppead
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um estudo exploratório - Coppead
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO LEONARDO COSTA RANGEL A SOFISTICAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO BRASIL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO RIO DE JANEIRO 2006 i LEONARDO COSTA RANGEL A SOFISTICAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO BRASIL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Dr. Antônio Roberto Ramos Nogueira RIO DE JANEIRO 2006 ii Rangel, Leonardo Costa. A sofisticação da atividade de Inteligência Competitiva no Brasil:um estudo exploratório / Leonardo Costa Rangel. – Rio de Janeiro, 2006. 205 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2006. Orientador: Antônio Roberto Ramos Nogueira. 1. Estratégia Empresarial. 2. Inteligência Competitiva. 3. Administração – Teses. I. Nogueira, Antônio Roberto Ramos (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. iii LEONARDO COSTA RANGEL A SOFISTICAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NO BRASIL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração Aprovada em ____________________________________________________ - Orientador Prof. Dr. Antônio Roberto Ramos Nogueira – COPPEAD/UFRJ ____________________________________________________ Prof. Dr. Agrícola de Souza Bethlem, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ ____________________________________________________ Prof. Dr. José Afonso Mazzon, D.Sc. – USP – FEA/USP iv AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar à minha família, em especial à minha mãe, pelo apoio incondicional que sempre me proporcionou independentemente de quais fossem meus planos, ao meu pai, por todo o seu carinho e companheirismo, e ao meu irmão, que antes de tudo é o meu melhor amigo; À minha noiva, Agnese, pelo seu amor, determinação, paciência e, em especial, pelo seu sorriso, que tantas vezes me ajudou em momentos difíceis; Aos meus colegas da Turma 2004 do Coppead por todas as risadas que me proporcionaram nos momentos de descontração e pelo excepcional ambiente de aprendizado que me ofereceram com suas ricas experiências de vida; Aos meus dois colegas de mestrado e amigos, Fernando Saliba e Claudia Woods, que se doaram por completo por alguns meses de suas vidas para que juntos pudéssemos vencer uma das conquistas mais marcantes da minha; Aos meus sócios, pelo aprendizado, compreensão, apoio e, sobretudo, pela amizade; Às demais pessoas que se fizeram presentes durante esta jornada, pelas suas amizades, pelo seu apoio e pelos votos de sucesso que sempre fizeram por mim; e Ao meu Orientador Prof. Dr. Antônio Roberto Ramos Nogueira, primeiro pelo voto de confiança depositado ao me selecionar para o mestrado em administração da Coppead, me proporcionando assim estes anos de aprendizado e desenvolvimento tão intensos e, especialmente, pela sua dedicação, incentivo e inúmeras críticas que tornaram este trabalho completo e relevante. v RESUMO RANGEL, Leonardo Costa. A sofisticação da atividade de Inteligência Competitiva no Brasil: um estudo exploratório. Orientador: Antônio Roberto Ramos Nogueira. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ; 2006. Dissertação (Mestrado em Administração). Nos últimos anos, a Inteligência Competitiva (IC) vem ganhando importância crescente junto às comunidades de negócios e acadêmica. Este fenômeno pode ser observado pelo aumento expressivo no número de cursos e congressos disponíveis sobre o tema, pelo número cada vez maior de publicações na área e pela quantidade significativa de casos de aplicação prática de processos de inteligência em empresas de atuação no Brasil que vêm surgindo. Contudo, embora o tema venha despertando interesse crescente, sua adoção prática nas empresas do país ainda pode ser considerada incipiente. Do ponto de vista acadêmico, ainda que muito se escreva sobre o assunto, poucos são os trabalhos que conseguem de fato descrever de forma tangível como deve operar um processo de IC e diferenciar assim as práticas mais sofisticadas e maduras de iniciativas ainda iniciantes. Desta forma, esta pesquisa teve por motivação mapear e propor um mecanismo capaz de mensurar o grau de sofisticação do processo de Inteligência Competitiva nas organizações, descrever os fatores organizacionais que influenciam esta postura, primordialmente os associados à estruturação do processo de Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro, e investigar, mesmo que ainda em caráter exploratório, a relação entre a sofisticação do processo de Inteligência Competitiva e a obtenção de performances superiores. Para isso, foram conduzidas inicialmente entrevistas em profundidade com 14 gerentes de inteligência de empresas de referência e, em seguida, aplicou-se um questionário estruturado em empresas de diferentes setores e portes, que foi respondido por uma amostra de 77 organizações de atuação no Brasil, das quais 67 foram consideradas válidas para análise. De uma maneira geral, confirmou-se que de fato ainda são poucas as empresas que possuem processos de Inteligência Competitiva realmente sofisticados e que existem quatro agrupamentos distintos de empresas no que diz respeito às suas atitudes com relação às práticas de gestão avaliadas. Cada um destes grupos possui características distintas e desafios e recomendações específicos com relação aos assuntos tratados. Constatou-se também que a Inteligência Competitiva não atua de forma direta sobre a performance das empresas, mas sim como um importante mecanismo de suporte aos demais processos e atitudes estratégicas das organizações avaliados nesta pesquisa e que, estes sim, contribuem diretamente para a obtenção de performances superiores. vi ABSTRACT RANGEL, Leonardo Costa. A sofisticação da atividade de Inteligência Competitiva no Brasil: um estudo exploratório. Orientador: Antônio Roberto Ramos Nogueira. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ; 2006. Dissertação (Mestrado em Administração). The managerial process called Competitive Intelligence (CI) has been receiving increasing attention over the last years. This phenomenon can be observed by several factors. There has been an impressive increase in the number of courses and congresses specialized in the subject and in the quantity of papers published on this matter. Moreover, the number of companies operating in Brazil which are actually implementing it is becoming significant. Nevertheless, despite all this attention, its practical adoption in the country, in aggregate terms, is yet incipient. From the academic standpoint, few are those who can actually describe exactly how should a CI process function and thus differentiate sophisticated practices from inceptive ones. Therefore, the objective of this research project was to develop and propose a mechanism capable of measuring a Competitive Intelligence process sophistication level, and describe the organizational factors that influence this attitude, mainly those related to the companies’ Planning and Control processes and their Future Orientation. In addition to that, although still in an exploratory level, this research also aimed at investigating the relation between CI sophistication and organizational performance. In order to accomplish that, 14 intelligence managers from benchmark companies in this field were initially interviewed and, subsequently, a structured questionnaire was sent to organizations from different sectors and sizes. This questionnaire has been answered by 77 organizations in Brazil from which 67 were considered valid for data analysis. In general terms, the collected data confirmed there are yet a modest number of companies that actually possess sophisticated intelligence processes in Brazil. Furthermore, the data showed there are four different clusters regarding companies’ attitudes towards the management practices that were evaluated. It was also a key finding that Competitive Intelligence does not act directly over companies’ performances. Yet, this is an important supporting mechanism for other managerial processes addressed by this research, more specifically, planning and control and future orientation, and these, on the other hand, contribute directly to superior performance levels. 1 SUMÁRIO 1. O PROBLEMA .......................................................................................................................... 2 1.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2 1.2. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 5 1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................................ 6 1.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................................................. 7 2. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................... 13 2.1. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA .......................................................................................... 14 2.2. PLANEJAMENTO E CONTROLE ......................................................................................... 68 2.3. DIRECIONAMENTO PARA O FUTURO ................................................................................ 72 3. METODOLOGIA..................................................................................................................... 77 3.1. QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS ................................................................................. 79 3.2. HIPÓTESES ...................................................................................................................... 79 3.3. OS MACROCONSTRUTOS ................................................................................................. 81 3.4. TIPO DA PESQUISA ........................................................................................................... 83 3.5. UNIVERSO E AMOSTRA .................................................................................................... 83 3.6. SELEÇÃO DOS SUJEITOS .................................................................................................. 85 3.7. COLETA DE DADOS .......................................................................................................... 85 3.8. TRATAMENTO DOS DADOS............................................................................................... 88 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................. 91 4.1. ETAPA QUALITATIVA ...................................................................................................... 91 4.2. ETAPA QUANTITATIVA .................................................................................................. 130 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................................... 173 5.1. IMPLICAÇÕES ACADÊMICAS .......................................................................................... 173 5.2. IMPLICAÇÕES GERENCIAIS ............................................................................................ 174 5.3. LIMITAÇÕES DO MÉTODO.............................................................................................. 179 5.4. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS .............................................................. 180 6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 182 7. ANEXOS............................................................................................................................... 188 ANEXO A. QUESTIONÁRIO APLICADO .................................................................................. 188 ANEXO B. E-MAIL CONVITE ................................................................................................. 197 ANEXO C. DIVULGAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................ 198 ANEXO D. FERRAMENTA DE COLETA NA INTERNET ............................................................. 200 2 1. O PROBLEMA 1.1 INTRODUÇÃO A preocupação com o ambiente externo para tomada de decisões estratégicas e táticas não é novidade para executivos e acadêmicos. Desde as primeiras publicações acadêmicas nas quais o termo ‘estratégia’ começou a ser cunhado por pesquisadores nos anos 60, substituindo termos até então utilizados como “política de negócios” (GUEMAWAT, 2000), preconiza-se que o ambiente competitivo das organizações é um dos fatores determinante no processo de formulação estratégica. Em um dos primeiros artigos sobre o assunto, Christensen, Andrews & Bower (1973 da Harvard Business School definem o conceito de estratégia e abordam o que significaria então a atividade de formulação de estratégias. “Estratégia consiste na definição de objetivos de longo prazo da organização, planejamento das ações necessárias e alocação dos recursos relevantes para atendimento dos objetivos definidos.” “A formulação estratégica inclui a busca por alinhar forças internas da organização a oportunidades do ambiente, evitando fraquezas combinadas com ameaças externas.” Neste contexto, pode-se observar que, segundo o entendimento dos autores, não há como “fazer estratégia” sem a devida compreensão das oportunidades e ameaças advindas do cenário competitivo externo. Mesmo para outras escolas de pensamento estratégico, como a escola processual que rejeita a capacidade de planejamento racional deliberado e persegue pacientes estratégias de ajuste e cultivo gradual de competências essenciais da organização (WHITTINGTON, 2002), o ambiente externo aparece como sendo parte integrante do conceito estratégico. Ao questionar as estratégias deliberadas e propor a existência de estratégias emergentes adaptativas, Mintzberg (1985) aborda o conceito de aprendizado estratégico, o que permitiria aos gerentes redefinirem suas direções estratégicas à medida que observam o que de fato funciona. Segundo o autor, abordagens estratégicas altamente deliberadas levariam a uma alta 3 preocupação em realizar as ações como de fato foram planejadas, possivelmente impedindo que sinais relevantes do ambiente externo sejam captados pelos gerentes. Com relação aos meios pelos quais se pode realizar este monitoramento do ambiente externo, identificando oportunidades e ameaças de uma forma eficaz, Gilad (1989) argumenta que no passado tal atividade sempre foi realizada de uma maneira informal e sempre atribuída como uma tarefa individual do executivo em si. De fato, dentre os “serviços empreendedores” propostos por Penrose (1959), que consistiriam nos serviços gerados pelos recursos humanos de nível gerencial da organização, encontra-se a capacidade de identificar as oportunidades do ambiente externo e a habilidade de responder apropriadamente. Contudo, no início da década de 80, em seu livro Competitive Strategy, Michael Porter (1979) alerta para a necessidade de um sistema de análise de competidores mais sofisticado para as organizações modernas – “um mecanismo organizado e sistemático de inteligência sobre os competidores”. O autor argumentava que com o aumento da complexidade dos negócios e crescimento das organizações, se tornava cada vez mais difícil limitar estas atividades aos executivos de topo das empresas. Era necessário algo mais sistematizado. Neste contexto, surge o conceito da Inteligência Competitiva, um processo ético e sistemático de coleta, análise e disseminação de informações acerca do ambiente competitivo, visando suportar o processo estratégico das organizações (KAHANER, 1998). Embora Porter não tenha utilizado de fato o termo Inteligência Competitiva (IC), seu alerta traz duas palavras centrais no conceito do termo: organizado e sistemático. Desde então, a prática vem sendo adotada por um número cada vez maior de empresas (TAYLOR, 1992), e segundo estimativas da empresa de consultoria norte-americana Fuld & Company, uma das referências mundiais na área de IC, cerca de 90% das empresas pertencentes ao ranking Fortune’s 500 já possuem processos bem estruturados de Inteligência Competitiva (FULD, 2002). No Brasil, a atividade ainda é recente com um número reduzido de iniciativas de Inteligência Competitiva formalizada em organizações do país. Uma parte significativa dos decisores brasileiros ainda desconhece tal prática como apoio a decisão estratégica e esta ainda é muitas vezes associada de forma indevida a atividades de espionagem ilícita. Contudo, o interesse pelo assunto vem crescendo, o que pode ser atestado pelo aumento significativo na demanda e na oferta de cursos relacionados ao tema no Brasil inteiro, pelo aumento do número de casos 4 de implantação em empresas de referência nacional divulgados em congressos da área e pela própria criação da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), em abril de 2000, que vem apresentando um crescimento significativo em quantidade de membros. (GOMES & BRAGA, 2001) Do ponto de vista acadêmico, como sendo uma área de estudo ainda em estágio inicial de formação no Brasil e no mundo, a Inteligência Competitiva encontra alguns desafios que precisam ser endereçados. Dentre estes, cabe citar três que foram mencionados por alguns dos principais autores que têm abordado o tema Inteligência Competitiva ao longo dos últimos anos. Primeiro, se faz necessário alinhar definições sobre o que de fato vem a ser Inteligência Competitiva, visto que não muito raro encontram-se definições difusas advindas principalmente do meio não acadêmico (KAHANER, 1998). Em segundo lugar, precisa-se compreender mais a fundo o processo de IC em si para que seja possível diferenciar as práticas mais sofisticadas e maduras de IC de iniciativas ainda incipientes (Fleisher, 1991). Terceiro, visto que a existência de qualquer atividade empresarial só se justifica se esta contribui para uma melhoria na performance da empresa e consequentemente para o aumento de seu valor econômico, seja no curto ou no longo prazo (COPELAND, KOLLER & MURRIN, 2004), se faz necessário também compreender melhor como a prática da Inteligência Competitiva nas organizações contribui com resultados tangíveis que impactem a performance e o valor das empresas (HERRING, 1996). Desta forma, esta pesquisa tem por motivação mapear e propor um mecanismo capaz de mensurar o grau de sofisticação do processo de Inteligência Competitiva nas organizações, descrever os fatores organizacionais que influenciam esta postura, primordialmente os associados à estruturação do processo de planejamento e controle destas empresas e o grau de importância que a atenção ao futuro recebe por estas, e investigar, mesmo que ainda em caráter exploratório, a relação entre a sofisticação do processo de Inteligência Competitiva e a geração de resultados econômicos para as empresas por meio de um questionário estruturado. 5 1.2. OBJETIVOS Esta pesquisa possui então quatro objetivos gerais e alinhados entre si, conforme abordado a seguir. 1. Desenvolver Macroconstruto Sofisticação da Inteligência Competitiva. Toda empresa que comercialize produtos tangíveis possuirá um processo de Gestão de Estoques. Naturalmente, algumas o farão de forma mais sofisticada empregando uma abordagem formalizada, métodos estatísticos e ferramentas de Tecnologia da Informação (TI), enquanto outras realizarão a gestão dos seus estoques de maneira mais informal e menos sistematizada. No entanto, não faz sentido argumentar que certa empresa “faz” gestão de estoques e outra “não faz”. Ambas possuem tal processo, porém com diferentes graus de sofisticação. Da mesma forma acontece com o processo de Inteligência Competitiva (IC). Toda empresa de alguma maneira considera informações sobre o ambiente externo em suas decisões de negócios. Portanto, não cabe a discussão “faz” ou “não faz” IC, mas sim “com que sofisticação faz”. Este ponto é abordado por Kahaner (1996): “Qualquer empresa já faz inteligência competitiva de alguma maneira. As empresas já coletam informações sobre o ambiente, já analisam de alguma forma e as transformam em inteligência. Provavelmente, contudo, não o fazem de forma sistemática e eficiente, e também não o chamam de inteligência competitiva.” Neste sentido, a partir de idéias presentes na literatura sobre o tema, o primeiro objetivo desta pesquisa consiste em mapear as recomendações dos principais autores e de algumas das empresas consideradas referência em IC sobre o que de fato torna um processo de IC mais ou menos sofisticado, desenvolvendo assim o macroconstruto Sofisticação da Inteligência Competitiva. 2. Descrever o Estágio Atual da Adoção da Inteligência Competitiva nas Empresas Pesquisadas. Utilizando o construto descrito no item anterior, esta pesquisa buscará descrever o estado atual da utilização do processo de Inteligência Competitiva na amostra de empresas pesquisadas, identificando também seus planos para o futuro com relação ao tema. 6 3. Investigar a Relação entre Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro. Como parte desta análise, buscaremos classificar os participantes da pesquisa de acordo com a Sofisticação da Inteligência Competitiva, o processo de Planejamento e Controle e o Direcionamento para o Futuro – estes últimos macroconstrutos operacionalizados inicialmente por Nogueira (1999) e largamente utilizados em pesquisas posteriores –, além de verificar como estes macroconstrutos estão relacionados entre si. 4. Investigar a Relação entre Inteligência Competitiva e Performance Organizacional nas Empresas Pesquisadas. Segundo a literatura pesquisada, um processo formalizado e bem estruturado de Inteligência Competitiva provê às empresas adotantes uma melhor capacidade de antecipação e resposta às mudanças provenientes do ambiente externo, além de uma maior eficácia na sua formulação estratégica. Desta forma, espera-se de uma forma geral que empresas que possuam processos mais sofisticados de IC apresentem uma melhor performance em relação àquelas que possuem práticas de monitoramento do ambiente menos estruturadas. Assim, esta pesquisa buscará também avaliar de forma exploratória o relacionamento entre o macroconstruto Sofisticação de Inteligência Competitiva e performance organizacional, sendo esta mensurada pela percepção qualitativa das empresas pesquisadas. 1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO A pesquisa em questão não pretende desenvolver um novo modelo de implantação de projetos de Inteligência Competitiva. Este trabalho tem como intuito principal apenas operacionalizar um instrumento de pesquisa com base nas idéias propostas pelos principais autores da área e nas melhores práticas observadas em estudos de caso com empresas de referência. Com relação à generalização das conclusões da pesquisa, cabe resultar que os resultados obtidos por meio das análises dos dados coletados não podem ser extrapolados para além das empresas pesquisadas devido ao método de amostragem utilizado. Mesmo considerando que o universo de empresas que tenha tomado conhecimento desta pesquisa seja de fato representativo das organizações atuantes no país, a amostra de questionários obtida pode ter 7 sofrido alguns tipos de vieses. Por exemplo, pode ter ocorrido o viés de amostra autoselecionada (AAKER, KUMAR, DAY, 1983), visto que aquelas empresas que tinham menor familiaridade com o assunto e, portanto, provavelmente um menor nível de sofisticação de Inteligência Competitiva, podem ter se sentido menos atraídas ao tema da pesquisa e, desta forma, participaram do estudo em menor peso. Além disso, o número de questionários obtido pode não permitir a obtenção de resultados práticos com a aplicação de métodos de inferência estatística com níveis de significância aceitáveis. Por fim, cabe ressaltar que os métodos estatísticos empregados não permitem estabelecer relação causal direta entre Inteligência Competitiva e Performance Organizacional, visto que há uma série de outros fatores que também podem estar simultaneamente contribuindo para um resultado superior ou inferior das empresas pesquisadas. Neste sentido, esta pesquisa tem como uma de suas propostas finais apenas averiguar, ainda de maneira exploratória, se as empresas que apresentam uma maior sofisticação em seus processos de Inteligência Competitiva também têm apresentado performances superiores às demais empresas de seus setores, o que consistiria apenas em um bom indício de que a IC é uma atividade que traz valor tangível às empresas. 1.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO Kahaner (1996) destaca alguns fatores que têm afetado o ambiente de negócios nas últimas décadas: (i) A velocidade dos negócios tem aumentado rapidamente; (ii) Com a evolução tecnológica, há uma quantidade cada vez maior de informação disponível, mas somente uma pequena parte desta se transforma em inteligência acionável; (iii) A globalização trouxe novos competidores internacionais em diversos mercados e um conseqüente aumento na rivalidade das indústrias; (iv) Com o amadurecimento dos mercados, a competição entre as empresas existentes se tornou mais agressiva; (v) Mudanças políticas têm afetado os negócios de uma forma cada vez mais veloz e intensa; e (vi) Rápidas mudanças tecnológicas têm alterado significativamente as regras do jogo para diversos mercados. De fato, um ambiente de incertezas, instabilidade, de acirrada concorrência, de freqüentes guerras de preço, são algumas das características encontradas pelas empresas no mercado atualmente. Regras de negócios mudam com rapidez, estratégias e posicionamentos que hoje 8 conduzem a conquista das metas organizacionais amanhã podem não fazer mais qualquer sentido. Inovações tecnológicas mudam bruscamente a estrutura de indústrias, alterando de uma hora para outra suas regras de competição. Entramos em um período de turbulência onde não há sinais de estabilidade futura, ou como colocam Nonaka & Takeuchi (1995), onde “a única certeza é a incerteza”. Neste contexto, cada vez mais o constante monitoramento do mercado, da concorrência, do ambiente competitivo das organizações se faz necessário. A importância e necessidade de um processo sistemático de Inteligência Competitiva é evidente. (FULD, 1995) Cavalcanti (2004) sugere que a inteligência na perspectiva organizacional pode ser subdividida pelo menos em três grandes grupos: militar, governamental e empresarial. Prescott e Miller (2001) atribuem a Sun Tzu o título de pai da inteligência militar, que na verdade foi originária das suas demais aplicações nos campos governamental e empresarial. Segundo Gilad (1989), a pesquisa sobre as atividades de monitoramento do ambiente externo das empresas teve início na década de 60 e mostrou que, na época, estas ainda eram atividades endereçadas inicialmente como parte das tarefas pessoais dos executivos. Desta forma, tais atividades eram altamente informais e não coordenadas. Além disso, os executivos empreendiam esforços de monitoramento somente quando suas estratégias dependiam de uma informação específica e quando esta era familiar e facilmente acessível. Nas décadas de 70 e 80, com o aumento da complexidade e dinamicidade do ambiente, unidades de monitoramento do ambiente começaram a ser implantadas visando dar maior sistematização ao processo. Em 1983, estudos revelaram que 73% das empresas pertencentes ao ranking Fortune 500 já utilizavam processos formais de monitoramento do ambiente (LENZ & ENGLEDOW, 1986). Ao longo da década de 80, estas atividades passaram a assumir um foco maior sobre um dos diversos atores presentes no ambiente externo das organizações: os competidores. Neste ponto, o conceito Inteligência Competitiva começa a ser utilizado na literatura de negócios com mais intensidade. Em 1986, nos Estados Unidos, um novo fórum de executivos, chamado Society of Competitive Intelligence Professionals (SCIP), organizou seu primeiro evento e, em 1988, seu evento anual já reunia representantes de mais de 200 grandes empresas e 40 firmas de consultoria de diversos países (GOSHAL & ELEANOR, 1991). Hoje, a SCIP, já possui mais de 50 filiais, com mais de 6 mil membros espalhados por mais de 50 países, provendo 9 educação e oportunidades de relacionamento para profissionais que atuam na área de inteligência competitiva (TYSON, 1998). Segundo Gomes & Braga (2001), o início da atividade de inteligência competitiva da forma sistematizada e formal como vemos hoje surgiu com o fim da Guerra Fria, quando os espiões norte-americanos se viram “desempregados” e perceberam que utilizar suas habilidades de coletar e tratar informações, agora de forma ética e legal, poderia trazer às organizações fontes de vantagem competitiva. Nesta época, a imagem da inteligência competitiva, por ser normalmente conduzida dentro das organizações por ex-funcionários do serviço de inteligência governamental ou militar, estava relacionada com espionagem industrial em vez de uma atividade ética e legítima. Com o passar do tempo, as organizações passaram a desenvolver maior interesse pelo assunto e começaram a ser formados profissionais específicos para esta atividade. Muitos vieram de consultorias estratégicas para integrar o quadro de analistas de grandes corporações. Gradativamente, a imagem de “espionagem” foi sendo esquecida. No Brasil, um marco importante para a inteligência competitiva, assim como para várias outras práticas de gestão empresarial, foi a abertura do mercado à concorrência internacional na década de 90. As empresas nacionais perceberam a importância da competitividade à medida que organizações nacionais, que até então eram tidas como referência, foram sendo minadas por concorrentes de países mais desenvolvidos. Ainda existem poucas iniciativas de Inteligência Competitiva formalizada em organizações no Brasil. Segundo as autoras, algumas empresas de atuação no mercado brasileiro pioneiras no assunto são: IBM, Unisys, Microsoft, Telemar, CTBC Telecom, Shell Brasil, Renault, Xerox, Embraer e Petrobras. Contudo, o interesse pelo assunto vem crescendo, o que pode ser atestado pelo aumento significativo na demanda e na oferta de cursos relacionados ao tema no Brasil inteiro. A Universidade Católica de Brasília, Universidade Estácio de Sá, UFRJ e FGV/RJ são exemplos de instituições que já integraram a disciplina Inteligência Competitiva em seus currículos de alguns programas de pós-graduação. Além disso, outro indicador do crescimento do interesse pelo assunto foi a criação da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), em abril de 2000. Sediada em Brasília, a ABRAIC promove o desenvolvimento da prática no Brasil. Cabe destaque aqui à criação do Prêmio de Inovação em Inteligência 10 Competitiva pela ABRAIC em 2004, que avaliou projetos inovadores na área, incluindo novas metodologias, sistemas de informação, dentre outros estudos sobre o tema. A figura 1.4.1 apresenta um levantamento realizado pela ABRAIC publicado em sua página na Internet em 2004 que apresentava alguns dos principais marcos da área de Inteligência Competitiva no Brasil. Pode-se constatar o recente amadurecimento do tema no país e o crescente interesse pelas organizações de atuação nacional. 11 Figura 1.4.1 Evolução histórica da Inteligência Competitiva no Brasil. Fonte: ABRAIC. Década de 90 9 Início dos primeiros investimentos em IC no Brasil. 1997 - Primeiro curso de IC no Brasil, Curso de Especialização em Inteligência Competitiva (CEIC, Rio de 9 Janeiro), parceria UFRJ/INT/CRRM-Universidade de Marseille França. 1999 - 1o. Workshop Brasileiro de Inteligência Competitiva e GC (Gestão do Conhecimento) no Rio de 9 Janeiro, promovido pela FINEP (primeiro evento de IC no Brasil). 9 1999 - Inauguração do Capítulo da SCIPa no Brasil, coordenação em São Paulo. Ano 2000 9 Criação da ABRAIC – Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva. 1º seminário sobre Inteligência Competitiva promovido pelo IBCb, em São Paulo (primeira iniciativa privada de capacitação em IC). Ano 2001 9 2º Seminário de IC promovido pelo IBC em São Paulo, com o apoio da ABRAIC. 9 2º Workshop Brasileiro de Inteligência Competitiva, com o apoio da ABRAIC, em Santa Catarina (mais de 500 participantes). Ano 2002 Crescimento significativo da discussão de IC no Brasil. Realização de diversos eventos sobre IC: IBC (3o. seminário), 3o Workshop Brasileiro de IC e GC, IIR, ADPO e surgimento de treinamentos em nível de pós9 graduação. Cabe destacar o início da apresentação dos primeros cases de implantação da IC em empresas brasileiras. 9 Início do surgimento de empresas prestadoras de serviços e consultoria no âmbito da IC. Ano 2003 9 9 Aparecimento da IC com disciplina optativa em cursos de graduação – Administração e Comunicação. Aceleração do crescimento de IC no país, evidenciado pela realização de eventos e crescimento significativo do número de cursos de pós-graduação em Inteligência Competitiva. Destaque para dois 9 eventos: 4o. Workshop de IC e GC e o 4o. Seminário sobre IC realizado pelo IBC, ambos em São Paulo. Cabe destacar o crescimento no número de cases brasileiros e da discussão acirrada sobre o tema. 9 Lançamento do Prêmio Inovação em Inteligência Competitiva pela FINEP (a) SCIP - Society of Competitive Intelligence Professionals: Organização sem fins lucrativos que objetiva a promoção da IC a nível mundial (b) IBC - International Business Communications: Empresa especializada na organização e promoção de conferências, seminários e workshops para executivos em diversos países do mundo. Com relação à produção acadêmica sobre o tema, Coelho (2002) apresenta um interessante estudo. Analisando as publicações acadêmicas sobre o assunto “Inteligência Competitiva”, a autora identificou que em 1959, nos Estados Unidos, um grupo de alunos da Graduate School of Business Administration da Universidade de Harvard foi responsável por um trabalho de pesquisa sobre quais eram as práticas das empresas americanas para coleta e uso da informação sobre a concorrência, intitulado “Competitive Intelligence: information, espionage and decision making”, de Burton H. Alden e outros. Trata-se da referência mais antiga encontrada pela autora sobre o termo “Inteligência Competitiva”. 12 Estendendo sua análise sobre a ocorrência do termo “Inteligência Competitiva” em trabalhos publicados em bases de dados internacionais, Coelho constatou que as primeiras referências em bases de dados com algum grau mínimo de constância datam de 1975 e que a área só começa efetivamente a crescer a partir do início da década de 90, explodindo a partir de 9597. O gráfico a seguir ilustra a presença de trabalhos relacionados ao tema em algumas bases internacionais, mais especificamente: ABI e GALE, mais relacionadas a mercado e gestão, e PASCAL, INSPEC e LISA, esta últimas mais voltadas para aspectos científicos e tecnológicos. Figura 1.4.2. Evolução da Produção Acadêmica sobre Inteligência Competitiva em Bases Internacionais. Nº de publicações 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1975 1980 1985 1990 1995 2000 Bases de Dados Internacionais : ABI GALE PASCAL INSPEC LISA Na revisão de literatura realizada não foi identificado qualquer estudo que buscasse medir o grau de sofisticação do processo de Inteligência Competitiva de uma forma abrangente como abordado por esta pesquisa. As pesquisas avaliadas na maioria das vezes utilizavam questões objetivas como, por exemplo, se as empresas entrevistadas possuíam uma unidade de Inteligência Competitiva, a qual departamento da organização tal estrutura se reportava e quantos recursos em tempo integral se dedicavam à atividade de Inteligência Competitiva, como pode ser visto em Lackman, Saban & Lanasa (2000). Além disso, a própria elaboração de um macroconstruto que busque medir Sofisticação de Inteligência Competitiva contribui também para um entendimento mais prático sobre o que de fato vem a ser Inteligência Competitiva. Pode-se perceber na literatura pesquisada que grande parte do material publicado até o momento ainda aborda o assunto de maneira pouco tangível, tornando difícil o entendimento prático da questão. 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO A presente pesquisa envolve as áreas de conhecimento de Estratégia Empresarial e Inteligência Competitiva. A seção 2.1 apresenta os conceitos e fundamentos sobre Inteligência Competitiva utilizados na elaboração do macroconstruto Sofisticação da Inteligência Competitiva. Mais especificamente, a seção 2.1.A aborda a conceituação básica necessária para o aprofundamento do estudo no tema e a seção 2.1.B aborda em maior profundidade as sugestões e recomendações dos diversos autores para um processo de IC mais sofisticado e apresenta o macroconstruto em questão. As seções 2.2 e 2.3 apresentam os conceitos que fundamentam os macroconstrutos Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro, que, conforme comentado anteriormente, já foram largamente aplicados e validados em pesquisas passadas por Nogueira (1999), Soares (2000), Augusto (2001), Taublib (2001), Augustinis (2002), Bahiense (2002), Terra (2003), Deccax (2004), Fontes (2004) e Melleti (2005). 14 2.1. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA 2.1.A. CONCEITUAÇÃO INICIAL Mas o que é Inteligência Competitiva e qual seu papel para a firma? Gilad (1989) define inteligência competitiva como sendo a atividade coordenada ao longo de toda a organização de manter sob vigilância qualquer parte do ambiente externo que a empresa decida monitorar. Para Ettorre (1995), Inteligência Competitiva é o processo pelo qual as organizações coletam informações acionáveis sobre competidores e, idealmente, aplicam-nas em seus planos estratégicos de curto, médio e longo prazo. A IC é a busca por pistas ou evidências que indiquem o que os competidores estão planejando ou, em alguns casos, o que simplesmente estão fazendo. Para a SCIP (Society of Competitive Intelligence Professionals), Inteligência Competitiva consiste em uma “atividade ética e legal de coleta e análise de informações sobre as capacidades, vulnerabilidades, e intenções dos competidores”. Cavalcanti (2004) define inteligência competitiva como sendo um processo sistemático e contínuo que envolve todos os esforços desenvolvidos para alimentar as necessidades de inteligência da organização ligadas a todos os agentes ambientais, a nível micro, assim como os clientes, concorrentes, distribuidores, e a nível macro, assim como as forças tecnológicas, econômicas, sociais. Para o autor, a IC compreende atividades tais como: selecionar, identificar as necessidades de inteligência, identificar os alvos, identificar as fontes, coletar, interpretar, organizar, analisar, compilar, classificar, armazenar, filtrar, recuperar, avaliar e disseminar informações, conhecimento e inteligência. Gomes & Braga (2001) apresentam também sua definição para IC como sendo um processo ético de identificação, coleta, tratamento, análise e disseminação da informação estratégica para a organização, viabilizando seu uso no processo decisório. Para Sammon, Kurland e Spitalnic (1984), um sistema organizado de inteligência competitiva funciona como um radar, que monitora constantemente as atividades dos competidores, filtra as informações brutas coletadas tanto por fontes externas quanto internas, as processa visando 15 dar significado estratégico às informações coletadas, e eficientemente comunica inteligência acionável para aqueles que precisam dentro da empresa. Coutinho e Costa (2001) definem Inteligência Competitiva (IC) como sendo um processo informacional proativo para auxiliar na tomada de decisão, seja ela estratégica, tática ou operacional. Trata-se de processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado. Cabe notar que os autores incluem na própria definição de IC a preocupação em se proteger também os conhecimentos internos da organização, prática conhecida como Contra-Inteligência. Kahaner (1996) argumenta que inteligência competitiva não é uma função, mas sim um processo. Portanto, esta deve estar presente em todos os aspectos do negócio como uma atividade contínua, não estando relegada apenas a uma área, ou unidade específica. Coelho (2002) apresenta também sua definição para a IC como sendo um processo sistemático, e ressalta dois aspectos sobre este: (i) Sobre as etapas deste processo, que consistem em coleta, tratamento, análise e disseminação; e (ii) Sobre os aspectos a monitorar, que incluem tanto atores-chave do ambiente, como concorrentes, clientes, parceiros, fornecedores, quanto aspectos tecnológicos e tendências gerais de negócios, como, por exemplo, política, economia, mercado e regulamentação. Pode ser constatado que enquanto alguns autores limitam o escopo de atuação da IC sobre aspectos dos concorrentes, outros estendem a atuação do processo para o ambiente competitivo como um todo. Tyson (1998), por exemplo, afirma que o processo de IC lida com uma ampla gama de informações sobre o ambiente externo: informações sobre a posição competitiva da empresa assim como planos futuros dos competidores; informações sobre as forças dos mercados de atuação da empresa; informações sobre produtos específicos ou sobre tecnologias emergentes; e informações sobre o macro ambiente econômico, político, legal e social. Gomes & Braga (2001) revêem uma série de definições para Inteligência Competitiva apresentadas por diferentes autores e ressaltam as características da IC que julgam serem mais relevantes: (i) sistemática, (ii) ética, (iii) formalizada, (iv) ininterruptamente avaliada e (iv) útil para os decisores. 16 Contudo, embora nas publicações acadêmicas sobre o assunto haja razoável consenso com relação à definição de IC sob um enfoque sistemático e organizado, que pode abranger todo o ambiente externo das empresas, alguns autores optam por definições mais abrangentes, e, consequentemente de difícil tangibilização. Gilad (2002), por exemplo, questiona a definição, segundo o autor, “burocrática” de IC, como sendo um processo sistemático de coleta e disseminação de informação competitiva. Para ele, isso seria apenas “paper shuffling”. O autor define “inteligência” como sendo a habilidade de compreender e lidar com novas situações, e, por extensão, IC seria a habilidade da organização compreender e lidar com mudanças nos cenários competitivos. Em suma, seria a habilidade de competir. Herring (1988) reconhece a dificuldade de definição do conceito: “A inteligência competitiva possui difícil definição, pois pode ser entendida tanto como um produto quanto como um processo. O produto consiste em informação acionável, o processo é o meio sistemático de obter, avaliar, e produzir esta informação acionável.” Kahaner (1996) sugere que muitas vezes é a própria discussão conceitual exagerada que impede o desenvolvimento da prática nas empresas. Segundo o autor, uma das razões pelas quais algumas empresas não prosseguem com a inteligência competitiva é por que muitas vezes estas insistem em permanecer discutindo conceitos. “É um processo? Uma função? Uma habilidade organizacional?” Embora o autor proponha inteligência competitiva como sendo um processo, ele argumenta que diferentes empresas poderão conceituar IC de maneiras distintas e ainda assim estarem praticando os mesmos princípios básicos. Para o autor, independente da definição taxonômica que se queira utilizar, a prática de atividades de coleta, análise e disseminação interna de informações sobre o ambiente externo é um imperativo no cenário competitivo atual. Uma vez endereçada a definição básica de IC, cabe abordar os benefícios que, segundo os autores, as empresas que adotam um processo formal de monitoramento do ambiente podem esperar. Tyson (1998) endereça a questão sobre benefícios de uma forma bastante direta: “Para evitar surpresas”. Para o autor, a IC pode melhorar a capacidade das organizações em identificarem antecipadamente oportunidades e ameaças presentes no mercado, podendo assim trazer às empresas uma fonte de vantagem competitiva por meio de um tempo de resposta menor. Um 17 subproduto do processo de IC seria a melhoria também na eficácia dos esforços de planejamento da empresa, tanto de curto como de longo prazo. Para Kahaner (1996), um programa formalizado de inteligência competitiva pode trazer diversos benefícios. Mais especificamente, segundo o autor, a IC pode capacitar a empresa a: (i) Antecipar mudanças no ambiente competitivo; (ii) Antecipar ações dos competidores; (iii) Descobrir antecipadamente novos competidores; (iv) Aprender com os sucessos e fracassos de outras empresas; (v) Aumentar a amplitude e qualidade de empresas alvo para aquisição; (vi) Aprender sobre novas tecnologias, produtos e processos que afetem o negócio; (vii) Aprender sobre mudanças políticas, legais ou regulatórias que afetem o negócio; (viii) Entrar em novos negócios com maior chance de sucesso; (ix) Olhar para as próprias práticas de negócio com uma mentalidade mais aberta, mais questionadora; e (x) Identificar e melhor implementar práticas de negócio de sucesso no mercado. Gilad (1989) afirma que as organizações que adotam abordagens formais para o processo têm indicado benefícios nas seguintes áreas: (i) Identificação de oportunidades de negócio; (ii) Compartilhamento de idéias sobre estratégias competitivas; (iii) Habilidade de antecipação de surpresas; (iv) Melhora da habilidade analítica dos gerentes; (v) Integração de diferentes idéias. Gomes & Braga (2001) sugerem que um sistema de inteligência competitiva possui, dentre outros, os seguintes propósitos: antecipar mudanças no ambiente de negócios; antecipar ações dos concorrentes; descobrir novos ou potenciais concorrentes; e aprender sobre mudanças políticas, regulatórias ou legislativas que possam afetar o negócio. Adicionalmente, a inteligência competitiva também pode auxiliar na definição de novos negócios e nas 18 atividades de fusões, aquisições e parcerias, pois permite obter informações mais precisas sobre as empresas envolvidas. Cavalcanti (2004) aborda a importância da inteligência competitiva sugerindo três razões centrais. Primeiro, pois, segundo o autor, a proatividade da organização com relação às mudanças do ambiente externo constitui um dos pilares para a longevidade empresarial. Segundo, pois naturalmente o ambiente interno da empresa é mais passível de intervenção estratégica e, portanto, é de certa forma controlável pela alta direção. Por sua vez, os problemas advindos do ambiente externo são de mais difícil solução. Terceiro, pois é do ambiente externo que surgem as grandes mudanças, boas oportunidades e os desafios mais significativos. Para Herring (1999), a inteligência competitiva deve atender a quatro principais propósitos: suportar o processo de tomada de decisões estratégicas; prover alertas antecipados sobre oportunidades e ameaças do ambiente externo; prover avaliação e monitoramento sistemático dos competidores; e suportar o processo de planejamento estratégico da empresa. Neste sentido, segundo o autor, as empresas que possuem processos de IC estruturados devem esperar benefícios como: (i) Um processo de tomada de decisão mais rápido e perceptivo às nuances e mudanças do ambiente externo; (ii) Planejamento de longo prazo mais efetivo baseado em um conhecimento mais profundo do ambiente externo; (iii) Maior capacidade da organização em se adaptar e responder às mudanças do ambiente externo; e (iv) Fonte de vantagem competitiva sustentável baseada na capacidade da organização de se antecipar aos concorrentes. Goshal e Eleanor (1991) conduziram uma extensa pesquisa com mais de 150 analistas, coordenadores e usuários (decisores) das áreas de análise de competidores de duas grandes empresas, mais especificamente, a General Motors e British Petroleum, visando estudar aspectos práticos do desenvolvimento do sistema nas organizações. Como um dos resultados desta pesquisa, os autores identificaram que o processo de inteligência possui também outros papéis relevantes para as empresas do que somente auxiliar na tomada de decisões. Aplicando a pergunta “cite um exemplo no qual a análise de competidores desempenhou um papel 19 importante para sua organização?”, os autores obtiveram as seis categorias de papéis listadas a seguir. (i) Sensibilização: Para algumas empresas, a própria existência da área de inteligência faz com que os demais funcionários da organização se conscientizem de que os competidores são perigosos e devem ser considerados nas decisões do dia-a-dia. Muitas empresas líderes em seus mercados por longos períodos desenvolvem certa arrogância na maneira de pensar sobre a concorrência e passam a não dar a devida importância aos concorrentes nas suas decisões estratégicas. (ii) Benchmarking: A área de inteligência em algumas empresas pode assumir a responsabilidade por realizar atividades de benchmarking, comparando a empresa com seus concorrentes de acordo com algumas medidas específicas. (iii) Legitimação: Em alguns casos, a área de inteligência pode auxiliar a justificar certas propostas e persuadir membros internos da organização sobre a viabilidade e lucratividade de certos cursos de ação com exemplos concretos de competidores que já seguiram o mesmo caminho. Ou seja, busca responder à pergunta: “Quem já fez isso antes?”. (iv) Inspiração: A atuação da área de inteligência também pode trazer luz aos gestores sobre novas formas de resolver problemas que parecem ser insolúveis a priori. Ou seja, visa endereçar a questão: “Como outros resolveram este tipo de problema antes?”. (v) Planejamento: A contribuição das atividades de análise de competidores aos processos formais de planejamento consiste em um dos usos mais frequentemente citados na literatura. Podem ser citados como exemplos: estimativas de tamanho de certo mercado e a participação potencial da empresa; avaliações de oportunidades de aquisição de empresas, tecnologias, ativos, ou, seus respectivos, desinvestimentos. (vi) Tomada de Decisões: Também muito citado na literatura, um sistema de inteligência pode auxiliar as organizações na tomada de decisões táticas e operacionais, como, por exemplo, definir se a empresa deve patrocinar um determinado evento ou ajustar a magnitude de certo aumento de preços vis a vis às prováveis respostas dos competidores. 20 Dado, informação, conhecimento e inteligência: alinhando conceitos Os termos “Dado”, “Informação”, “Conhecimento” e “Inteligência” usualmente aparecem segundo diferentes significados e contextos tanto na mídia de negócios quanto na literatura acadêmica. Não há significados absolutos para estes termos, mas cabe defini-los adequadamente de modo a facilitar o entendimento do leitor (GOMES & BRAGA, 2001) Neste sentido, Jéquier & Dedijer (1987) apresentam um modelo hierárquico que se inicia com o dado – considerado como matéria-prima bruta, dispersa -, passa pela informação – para a qual se supõe haver uma estrutura organizada –, pelo conhecimento – incorporando a análise da informação –, para chegar à inteligência – onde o analista fornece elementos para a passagem à ação do decisor. A figura 2.1.1 ilustra este conceito. Figura 2.1.1. Relação hierárquica: Dado – Informação – Conhecimento – Inteligência (Jéquier & Dedier, 1987). Inteligência Predominantemente Qualitativo Agir Conhecimento Analisar Informação Organizar Dado Predominantemente Quantitativo Dados constituem parte da informação e são por natureza dispersos e não relacionados. Normalmente possuem natureza quantitativa, como, por exemplo, taxas de inflação, vendas de um produto, números de carros em um estacionamento, nome de um executivo, dentre outros. A informação consiste em um conjunto de dados que foram coletados, tratados e organizados. A informação possui valor, mas usualmente não é elemento suficiente para a tomada de decisão. O conhecimento por sua vez pode ser considerado como o estoque de informação que foi tratada, analisada, avaliada e testada pelos funcionários da organização, e que é 21 continuamente enriquecida pela confrontação permanente com novas informações. Estes conhecimentos constituem a memória da organização, que pode ser humana, eletrônica ou a experiência organizacional. A inteligência, por fim, consiste o último nível de complexidade da estrutura proposta por Jéquier & Dedijer. No sentido psicológico do termo, consiste na habilidade do indivíduo – e, por extensão, uma organização social, como uma empresa ou um país – a adquirir novas informações e conhecimentos, emitir julgamentos, adaptar-se ao meio e desenvolver estratégias de ação. A diferença entre Inteligência Competitiva (IC), Gestão do Conhecimento (GC), e Business Intelligence (BI) O papel do conhecimento na criação e sustentação de vantagens competitivas emergiu muito recentemente como tema de interesse da gestão organizacional. Drucker (1993) argumenta que “os fatores tradicionais de produção – recursos naturais, trabalho e capital – não desapareceram, mas tornaram-se secundários. Eles podem ser obtidos, e facilmente empregados se houver conhecimento”. Neste contexto, em que o conhecimento passa a contribuir parte importante do capital da empresa, muitas vezes o mais relevante, a capacidade que a organização tem de gerenciar seu capital intelectual, o seu conhecimento, os seus ativos intangíveis é fator determinante para o seu sucesso. Segundo O’Dell & Grayson Jr. (1998), os estudos sobre o conhecimento são antigos, mas seu novo enfoque foi dado por pensadores como Daniel Bell, Peter Drucker, Alvin Toffler e pelo filósofo Michael Polany, cujas idéias serviram de base para as teorias de gestão do conhecimento desenvolvidas por Ikujiro Nonaka. Nonaka (1991) distingue dois tipos de conhecimento: tácito e explícito, também conhecidos como informal/não codificado e formal/codificado. O conhecimento explícito pode ser articulado através da linguagem e transmitido aos indivíduos, está registrado em um suporte físico: este vem sob a forma de artigos, papers, patentes, normas, bases de dados, procedimentos, softwares, filmes, vídeos, etc. O conhecimento tácito por sua vez representa o 22 conhecimento pessoal enraizado na experiência individual e envolve competências, perspectivas, crenças e valores pessoais. Pode ser encontrado na cabeça dos empregados, na experiência dos clientes, nas memórias dos vendedores. O conhecimento tácito é baseado na experiência, é difícil de ser documentado em detalhes, é efêmero, transitório e, no entanto, é tão importante para a organização quanto o conhecimento explícito. Para Nonaka e Takeuchi (1995), o conhecimento tácito consiste nos modelos mentais, crenças e percepções que tomamos como certos que refletem nossa imagem da realidade e nossa visão do futuro. Estes modelos implícitos moldam a forma com que percebemos o mundo à nossa volta. Davenport & Pruzac (1998) dão uma dimensão ampla à gestão do conhecimento, envolvendo experiências, valores, informação contextual, opiniões de especialistas: “Experiências, valores, informação contextual e opiniões de especialistas que permitem a avaliação e incorporação de novas experiências e informação. Nas organizações, muitas vezes está contido não apenas nos documentos e repositórios, mas também nas rotinas organizacionais, processos, práticas e normas.” Para Coelho (2001), o termo Knowledge Management ou, em português, gestão do conhecimento, por ser ainda novo, ainda é objeto de diferentes definições, interpretações e visões. Algumas vezes se confunde com a Inteligência Competitiva. Para a autora, trata-se de uma área afim, complementar, e da qual os sistemas de inteligência competitiva podem e devem se utilizar. Coelho (2002) argumenta ainda que o fato de estarmos lidando com áreas de formação relativamente recentes – inteligência competitiva e gestão do conhecimento – faz com que ainda haja muitas dúvidas com relação às fronteiras, sobreposições e relações entre ambas. Muitas vezes há definições das duas áreas praticamente idênticas. Segundo a autora, alguns teóricos são de opinião que acabará por haver uma fusão. A autora distingue os dois conceitos da seguinte forma: Na realidade, é o que hoje se convenciona chamar de “Inteligência Competitiva” que dá à informação a sua dimensão estratégica, o seu uso como elemento redutor de incerteza, a sua eficácia como instrumento de apoio à decisão. No momento, ainda vemos a gestão do conhecimento mais como um importante instrumento de organização – e capitalização – do patrimônio intelectual da empresa. 23 Portanto, segundo o entendimento da autora, Inteligência Competitiva possui escopo mais específico e este por sua vez faz uso de uma estrutura mais ampla de Gestão do Conhecimento presente na organização. Gomes & Braga (2001) corroboram com esta idéia de que a Inteligência Competitiva é na verdade parte integrante de algo mais abrangente, a Gestão do Conhecimento. As autoras definem Gestão do Conhecimento como sendo a criação de um novo modelo de gestão para as organizações no qual o conhecimento é o fator mais importante. Por sua vez, para as autoras, a Inteligência Competitiva seria então uma metodologia utilizada para gerenciar um dos tipos de ativo de conhecimento existentes nas empresa: o conhecimento sobre o ambiente externo. Cavalcanti et al (2004) propõem um modelo no qual apresentam quatro tipos de capitais do conhecimento que devem ser gerenciados para uma efetiva Gestão do Conhecimento: (i) capital estrutural, (ii) capital intelectual, (iii) capital de relacionamento e (iv) capital ambiental. Segundo o autor, os três primeiros tratam das informações que tramitam dentro da empresa, enquanto o último trata de monitorar o ambiente de negócios usando o processo de Inteligência Competitiva. Com relação ao conceito de Business Intelligence (BI), ou em português Inteligência Empresarial, pode-se considerar que a superposição de conceitos é menor, mas, no entanto, os termos são empregados com significados opostos com uma maior freqüência. O termo BI acabou por ganhar maior notoriedade há alguns anos em decorrência da indústria de software que tomou para si a nomenclatura (MORRIS, 2003). Segundo o Institute of Data Consuting (IDC), que publica estudos sobre o setor de tecnologia da informação, o termo BI se refere a uma integração de tecnologias para captar, armazenar, analisar e prover acesso a dados corporativos de uma organização. Consiste em um ambiente onde estão integradas ferramentas de datawharehouse, datamining, dentre outras. Segundo o instituto, o termo Business Intelligence (BI), algumas vezes também chamado de “Business Analytics”, possui foco na melhoria incremental de processos, guiando seus usuários através de uma série de passos para a tomada de decisões táticas e operacionais específicas. Gomes & Braga (2001) sugerem que o termo BI ficou mais conhecido entre os executivos como uma tecnologia, mas especificamente uma categoria de software que vem sendoo comercializada, do que de fato um processo estratégico de negócios. 24 Rangel et al. (2004) sugerem que foram os softwares de BI (Business Intelligence) lançados no mercado há alguns anos que popularizaram as técnicas de Data Mining. Tais métodos trabalham sobre dados quantitativos, normalmente extraídos dos próprios sistemas transacionais das empresas, como, por exemplo, ERPs (Enterprise Resource Planning), CRMs (Customer Relationship Management), SCMs (Supply Chain Management), dentre outros. A Inteligência Competitiva por sua vez, por tratar de informações referentes ao ambiente competitivo externo à empresa, dificilmente pode contar somente com dados quantitativos padronizados e estruturados para serem analisados por ferramentas como estas. As informações utilizadas predominantemente pela área de inteligência competitiva são de natureza qualitativa. Fuld (2002) compartilha desta linha de raciocínio e não considera que tais softwares de BI possuam grande utilidade para o processo de IC. Portanto, pode-se perceber certa convergência nas principais definições apresentadas pelos autores abordados. Em suma, enquanto a Inteligência Competitiva é um processo de negócio que se preocupa principalmente com informações advindas do ambiente externo da empresa, em sua maioria qualitativa, o Business Intelligence (BI) foca no tratamento de informações internas e predominantemente quantitativas, oriundas principalmente dos sistemas transacionais da empresa. Por outro lado, quando se fala de Gestão do Conhecimento (GC) a distinção é um pouco mais tênue pois estes não seriam conceitos mutuamente exclusivos. O processo de Inteligência Competitiva seria então parte integrante de um modelo de gestão mais amplo orientado ao conhecimento que permearia toda a organização. Na verdade, seguindo esta definição abrangente que os autores oferecem para Gestão do Conhecimento, esta seria na verdade um grande “guarda-chuva”, que abrangeria não somente a prática de IC, mas também de BI das empresas. 25 O ciclo de Inteligência Competitiva: as etapas do processo. Kahaner (1996) propõe que a unidade básica de um programa de inteligência competitiva consiste no ciclo de inteligência - um processo por meio do qual informação bruta é transformada em inteligência acionável. O ciclo proposto por Kahaner envolve quatro etapas seqüenciais: (i) Planejamento e Direção; (ii) Coleta; (iii) Análise; e (iv) Disseminação, conforme ilustrado na figura 2.1.2. Figura 2.1.2. Ciclo de Inteligência Competitiva (Kahaner, 1996). 1 1 Identificação dos usuários do processo de IC e mapeamento das suas necessidades de informação Entrega da inteligência gerada a seus usuários para a tomada de decisão Planejamento Planejamento eeDireção Direção Identificação e coleta contínua de informações primárias e secundárias, públicas e não-públicas 2 2 Coleta Coletade de Informações Informações Ciclo de Inteligência Competitiva Disseminação Disseminação 4 4 Análise Análise 3 3 Transformação da informação coletada em inteligência acionável Para o autor, a etapa de Planejamento e Direção do processo de inteligência envolve três passos: (i) Entender claramente com que propósito a inteligência será utilizada, como, e por quem dentro da empresa; (ii) Estabelecer um plano de coleta e análise de informações; e (iii) Retornar aos usuários para garantir o alinhamento do plano de inteligência com as suas necessidades. Ainda neste contexto de planejamento do processo de IC, Prescott e Miller (2001) afirmam que programas de inteligência competitiva precisam de um papel bem formulado decorrente da identificação das necessidades dos seus usuários, ou seja, os tomadores de decisão das empresas. Kahaner (1996) define a etapa de Coleta de Informações como sendo a parte do processo de inteligência que realizará a obtenção da matéria prima que será transformada em inteligência, ou seja, as informações. A coleta de informações junto às fontes identificadas deve se dar de forma sistemática e contínua. 26 O autor propõe a classificação das informações em dois tipos distintos: primária e secundária. (i) Informações primárias são aquelas que não sofreram qualquer seleção ou alteração por terceiros, e estão no mesmo estado no qual foram disponibilizadas pelas suas fontes. Segundo o autor, exemplos de informações primárias são: relatos de clientes, constatações de vendedores da empresa, relatórios anuais de concorrentes, dados publicados pelo governo, discursos gravados na íntegra, dentre outros. (ii) Informações secundárias, por sua vez, sofreram algum tipo de alteração a partir das suas fontes. Exemplos são: notícias de jornal, revistas, programas de televisão, teses e artigos acadêmicos, dentre outros. O autor oferece ainda mais uma estrutura de classificação de informações: públicas e nãopúblicas. (i) Informações públicas são aquelas que podem ser obtidas por qualquer um que as procure, como, por exemplo, notícias de jornal, dados disponibilizados pelo governo, informações produzidas por associações comerciais, dados disponíveis na Internet, etc. (ii) As informações não-públicas não necessariamente implicam em procedimentos antiéticos para serem coletadas. Segundo o autor, simplesmente por que algumas informações não estão publicamente disponíveis, isso não significa que seu conteúdo é confidencial. Isso só significa que é preciso ser um pouco mais persistente e criativo para localizá-las. As melhores fontes de informações nãopúblicas são as pessoas que possuem contato com a organização e com o ambiente no qual esta se encontra. Esta deve ser a rede de inteligência da empresa, que incluirá não somente os próprios funcionários da organização, como vendedores, compradores e pesquisadores, mas também pessoas externas à empresa, como clientes, fornecedores, consultores, dentre outros. A etapa de Análise é a fase do processo na qual a informação ou dado coletado, que normalmente aparenta ser desconectada, é transformada em inteligência. Para Gomes & Braga (2001), a etapa de análise poderia ser chamada na verdade de “gerador de inteligência”, pois é nesse ponto do processo que as informações coletadas são 27 transformadas em insumo para a tomada de decisão. A análise é a parte do processo na qual são apresentadas conclusões sobre o assunto que está sendo pesquisado. Fleisher e Bensoussan (2002) afirmam que a etapa de análise é a mais importante do processo de IC, visto que será neste momento no qual as implicações estratégicas serão identificadas e os possíveis cursos de ação serão propostos. Sem uma análise efetiva das informações coletadas a Inteligência Competitiva assume um papel sem relevância estratégica, que simplesmente entrega aos decisores um serviço de notícias e dados brutos. Com relação à análise, Tyson (1998) resume a questão à identificação de: (i) Whats: O que está acontecendo no ambiente competitivo? Que novos dados ou informações foram disponibilizados? (ii) So Whats: Que impactos estratégicos tais fatos podem trazer para a organização? (iii) Now What: Que ações devem ser implementadas em decorrência da análise apresentada? A equipe de IC é claramente responsável pelos Whats e deve ter também papel determinante na identificação dos So whats. Mas os decisores são os responsáveis pelos Now Whats. Para Kahaner (19996), a fase de Disseminação consiste no momento da verdade. É nesta etapa que a área de inteligência deverá responder às perguntas dos decisores da empresa. “O que o concorrente X provavelmente fará nos próximos meses? Como o concorrente Y responderá aos aumentos de preços que estamos planejando? Quando o concorrente Z deverá introduzir no mercado seu novo produto?” Segundo o autor, este é o momento no qual grande parte dos projetos de inteligência competitiva falha. Segundo o autor, a inteligência competitiva não deve ser encarada como uma atividade com início, meio e fim. Na verdade, a IC seria um processo contínuo retro alimentado, no qual seus resultados servem de insumo para o redirecionamento do próprio processo. Ou seja, à medida que a área apresenta seus resultados à alta direção, novas estratégias serão formuladas e, com isso, novas necessidades de informação surgirão e a IC deve estar preparada para se adaptar rapidamente. Segundo Gomes & Braga (2001), a etapa de disseminação consiste na entrega da informação analisada, ou seja, a inteligência, em formato coerente e convincente, aos decisores da empresa. Tais formatos são os produtos do processo de inteligência competitiva, que podem 28 assumir a forma de relatórios, apresentações, reuniões de trabalho, workshops periódicos, dentre outros. Na verdade, a idéia de que o processo de inteligência pode ser modelado por um ciclo não é nova e vem originalmente das metodologias utilizadas pela inteligência militar e governamental. Herring (1988), por exemplo, já argumentava que a inteligência competitiva poderia ser melhor compreendida através de um ciclo fechado de atividades contínuas. O ciclo de inteligência proposto por Herring possui cinco etapas: (i) Identificação dos usuários-chave do processo de IC e das suas necessidades de informação; (ii) Coleta das informações necessárias, tanto internamente quanto externamente à empresa, e tanto em fontes publicadas quanto junto a fontes humanas; (iii) Processamento das informações, que significa o armazenamento e organização da informação coletada para uso posterior; (iv) Análise das informações coletadas, quando de fato as informações são transformadas em inteligência; e (v) Disseminação, quando o produto de inteligência deve chegar aos seus usuários. De fato, o conceito de ciclo de inteligência pode ser considerado uma das idéias mais aceitas na área e vem sendo utilizada por diversos autores. Naturalmente, cada autor propõe suas sugestões particulares ao modelo, incluindo ou retirando etapas específicas, mas o conceito central permanece inalterado. O quadro 2.1.1 ilustra propostas de ciclos de inteligência de diferentes autores. 29 Quadro 2.1.1. Modelos de Ciclo de Inteligência Competitiva (Fonte: Bouthillier e Shearer, 2003) Fontes Originais CIA (2001) Fuld & Co. (2002) Kahaner (1998) Miller (2000) Pirttila (1998) Information Management Cycle (Choo, 2002) Identificação dos decisores chave e suas necessidades de informação (1) Definição de competidores e necessidades de informação (1) Identificação das necessidades de informação (1) Coleta (2) Coleta sistemática de informação competitiva (2) Aquisição de informações (2) Planejamento e direção (1) Planejamento e direção (1) Planejamento e direção (1) Coleta (2) Coleta de informações secundárias/ publicadas (2) Coleta de informações (2) Coleta de informações primárias (3) Processamento (3) Análise e Produção (4) Disseminação (5) Análise e Produção (4) Reporte e informe (5) Análise (3) Análise (3) Filtragem e análise das informações coletadas (3) Organização e armazenamento (3) Produtos e serviços de informação (4) Disseminação (4) Disseminação (4) Distribuição para grupos de usuários relevantes (4) Distribuição da informação (5) Uso da Informação (6) Além dos autores acima, Gomes & Braga (2001), por exemplo, sugerem uma quinta etapa: a avaliação. Segundo as autoras o programa de inteligência deve ser avaliado com relação a dois aspectos: (i) o funcionamento geral do processo em si e (ii) a satisfação dos seus usuários com relação aos produtos entregues. A autora ressalta que o processo de IC só se consolidará na empresa caso a inteligência resultante seja utilizada para tomada de decisões. As recomendações específicas que a literatura pesquisada faz com relação a cada uma das etapas do ciclo de inteligência para que o processo de IC possua um maior grau de sofisticação serão abordadas na seção 2.1.B. 30 Modelos de organização da Inteligência Competitiva nas empresas O processo de Inteligência Competitiva pressupõe a participação de diferentes atores, que terão diferentes papéis na execução do processo (TYSON, 1998). Para Coelho (2002), a escolha do modelo organizacional a ser adotado pelo processo de IC deve privilegiar a simplicidade. A autora propõe: “Uma equipe ‘enxuta’, com procedimentos não burocratizados, que valorize mais os resultados do que a criação da infra-estrutura, e que tenha capacidade de trabalho em rede seria o ideal.” Jakobiak (1991) traz atenção para a importância da rede de inteligência, que deve envolver os seguintes atores: (i) Observadores (ou rede de inteligência): São essencialmente funcionários da própria empresa que possuem acesso a informações relevantes sobre o ambiente competitivo e as repassam à área de IC. Por exemplo, vendedores, funcionários de assistência técnica, compradores, funcionários da engenharia e P&D, dentre outros. Contudo, a rede de observadores também inclui os contatos externos dos funcionários que possuam informações relevantes para a IC, como especialistas, analistas de mercado, consultores externos, funcionários de empresas clientes, fornecedoras, ou, até mesmo, colegas que trabalhem em empresas concorrentes. Dentre todos estes potenciais integrantes da rede de observadores da empresa, Etorre (1995) estima que aproximadamente 80% das informações necessárias sobre um competidor podem ser obtidas junto aos seus próprios empregados. (ii) Especialistas, ou Analistas: A equipe de analistas pode ser formada tanto por recursos em tempo integral, que farão parte de uma unidade específica de Inteligência Competitiva, quanto por recursos em tempo parcial advindos das diversas áreas funcionais da empresa e que dedicarão parte do seu tempo para a geração de análises de IC relacionadas às suas áreas originais de conhecimento. (iii) Decisores, que são os executivos da empresa cujas necessidades de informações estratégicas serão atendidas pela IC. Todo o processo deve ser orientado para a satisfação dos decisores. 31 Para a implantação de um processo de inteligência competitiva estruturado, Kahaner (1996) recomenda escolher um coordenador para a IC. Um programa de inteligência competitiva requer um ponto focal e por isso se torna importante criar uma unidade de inteligência competitiva que será comandada pelo coordenador de IC. Laackman, Saban e Lanasa (2000) argumentam com base em uma pesquisa de campo realizada com 16 empresas consideradas referência em IC nos EUA que a localização do programa de inteligência dentro da estrutura organizacional é relevante, pois influenciará nas relações hierárquicas, nos orçamentos e nos tipos de demanda que a IC atenderá. Em tese, a unidade deve estar organizacionalmente próxima às suas principais áreas usuárias e, quanto maior o nível hierárquico, melhor, pois mais estratégico tende a ser o escopo do processo. Segundo constatado pelos autores, a maioria das unidades de IC está localizada nos departamentos de Planejamento/Estratégia ou de Marketing. Contudo, Gilad (1989) argumenta que não é toda empresa que de fato precisa de uma unidade organizada para a Inteligência Competitiva. Naturalmente, com o aumento da competição visto nas décadas de 80 e 90, um número cada vez maior de empresas tem recorrido à implantação de processos mais sistematizados e unidades específicas para a Inteligência Competitiva. Contudo, inteligência informal é coletada regularmente por todos executivos de uma empresa e tal processo de coleta e análise, mesmo sendo informal, pode ser bastante eficiente em algumas organizações. Cada empresa precisa se perguntar se de fato necessita de uma unidade formal para esta questão. Naturalmente, algumas variáveis que influenciam na necessidade de uma unidade de IC são: tamanho da empresa, diversidade de mercados atendidos, intensidade competitiva, complexidade da estrutura organizacional, dentre outras. 32 A figura 2.1.3 ilustra de forma consolidada as idéias de Jakobiak, com relação aos diferentes atores de um sistema de inteligência competitiva, de Kahaner, no que tange a existência de uma unidade formal para a IC, e de Laackman, Saban e Lanasa que identificaram a localização mais freqüente das unidades de IC. Recomendações mais específicas de outros autores sobre estrutura organizacional e a equipe de inteligência competitiva serão abordadas na seção 2.1.C. Figura 2.1.3. Modelo conceitual de formalização de uma unidade de IC. (Adaptado de Jakobiak, 1991; Kahaner, 1996 e Laackman, Saban e Lanasa, 2000) 33 2.1.B. SOFISTICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA A literatura pesquisada apresenta um rico repertório de observações e recomendações que trazem implícita a idéia de aumentar a sofisticação do processo de IC. Na verdade, o próprio conceito de que o processo de inteligência leva tempo para amadurecer e precisa ir sendo aos poucos “incrementado” já é compartilhado por alguns autores. Tyson (1998) argumenta que para que um processo de IC atinja sua maturidade são necessários aproximadamente dois anos e propõe a existência de quatro fases distintas para o processo de evolução da Inteligência Competitiva dentro de uma organização. (i) Na fase 1, as empresas não possuem nenhuma atividade formal de Inteligência Competitiva. Se uma informação relevante por ventura chegar às mãos de alguém da organização, é bastante provável que esta nem sequer seja direcionada ao executivo que a necessita. A inteligência competitiva desta empresa reside unicamente nas mentes dos funcionários da empresa, e que eventualmente poderão deixar a organização. (ii) As empresas da fase 2 já possuem algum recurso alocado para coletar e analisar informações. Podem ser uma ou duas pessoas em tempo parcial ou até mesmo em tempo integral. Contudo, normalmente a atividade neste caso assume a forma de uma unidade de biblioteca interna ou uma unidade de pesquisa. Embora as empresas aqui já comecem a experimentar atividades de planejamento estratégico, ainda há pouca ligação entre estes dois processos. (iii) Na fase 3, as empresas já possuem de fato um processo de Inteligência Competitiva estruturado. Há recursos coletando, analisando e disseminando informações estratégicas de forma sistemática e contínua, e a inteligência gerada abastece o processo de planejamento estratégico da empresa. No entanto, este relacionamento entre IC e estratégia ainda é uma via de mão única, sem interação significativa. (iv) Empresas da fase 4 seriam aquelas que possuem tanto um processo de Inteligência Competitiva quanto um processo de planejamento estratégico em funcionamento, que interagem entre si de forma eficaz. O conceito de sofisticação do processo de inteligência competitiva pode ser observado também nas idéias propostas por Rouach & Santi (2001) que identificaram cinco atitudes 34 distintas dos analistas de inteligência. Embora os autores não abordem o conceito de sofisticação da inteligência competitiva abrangendo o processo como um todo, a tipologia oferecida transmite o direcionamento de que quanto mais profissional, sistemático e proativo for o trabalho empregado pelos analistas de inteligência maior será o grau de desenvolvimento da atividade de IC na organização. As diferentes recomendações encontradas na literatura abordam alguns temas comuns e, portanto, puderam ser classificadas de acodo com dez dimensões distintas. Cada uma destas dimensões abrange uma série de idéias e recomendações e, segundo os autores pesquisados, são áreas nas quais as empresas devem buscar desenvolver seus processos de IC. A figura 2.1.4 a seguir apresenta este conceito. Figura 2.1.4. As 10 dimensões identificadas no macroconstruto sofisticação da IC (Proposto pelo autor com base na revisão bibliográfica realizada) Estrutura Interna 6 6 7 7 Adequação da Cultura Organizacional 10 10 Coleta de Informações Secundárias Planejamento da Inteligência Relatórios e Disseminação 1 1 2 2 Sofisticação do Processo 3 de IC 5 3 5 Avaliação e Controle do Processo Coleta com a Rede de Inteligência 4 4 Análise da Informação Suporte da Tecnologia da Informação 9 9 8 8 Integração com o Processo Decisório 35 O quadro a seguir, apresenta a descrição destas dez dimensões com as principais propostas identificadas na literatura pesquisada. As recomendações específicas encontradas na literatura sobre cada uma destas dimensões serão abordadas em seguida. Quadro 2.1.2. Descrição das Dimensões de Sofisticação da Inteligência Competitiva Identificadas > DIMENSÃO 1 PLANEJAMENTO DE INTELIGÊNCIA Descreve como a organização direciona o escopo das atividades de Inteligência Competitiva. Trata-se do “quê” a IC se propõe a fazer. O ponto central desta dimensão recai sobre as necessidades de informação que serão atendidas. Empresas com IC sofisticadas possuem um entendimento claro destas necessidades, de quem são seus respectivos usuários, e empregam abordagens sistemáticas que garantem a atualidade e relevância destas. > DIMENSÃO 2 COLETA DE INFORMAÇÕES SECUNDÁRIAS Descreve como a Inteligência Competitiva direciona e conduz a coleta das informações secundárias necessárias às suas atividades, incluindo notícias, relatórios de mercado, bases de dados, dentre outros. Processos de IC sofisticados sabem quais fontes são necessárias e as coletam sistematicamente. > DIMENSÃO 3 COLETA COM A REDE DE INTELIGÊNCIA Define as atividades empregadas pela organização para estruturação, fomento e coleta de informações primárias com a rede de inteligência. A sofisticação neste aspecto passa pelo mapeamento dos membros da rede e pela criação de uma série de mecanismos que estimulem o fornecimento de informações por estes. > DIMENSÃO 4 ANÁLISE DA INFORMAÇÃO Descreve quão profundo é o trabalho de análise realizado pela Inteligência Competitiva e quão sofisticadas são as técnicas empregadas para tal. Processos de IC ainda pouco desenvolvidos se limitam a filtrar as informações obtidas antes de passá-las aos decisores. No extremo oposto, processos maduros articulam implicações, recomendações de ações e aplicam diversas técnicas e modelos que ajudam a sistematizar e melhor embasar a análise realizada. > DIMENSÃO 5 RELATÓRIOS E DISSEMINAÇÃO Descreve como a Inteligência Competitiva “embala” e entrega suas análises e conclusões para os respectivos interessados. Processos sofisticados definem conteúdo e formato do seu portfólio de “produtos” de acordo com as necessidades de cada público e utilizam intensamente reuniões presenciais com seus usuários-chave para melhor comunicar suas conclusões. > DIMENSÃO 6 ESTRUTURA INTERNA Caracteriza quão desenvolvida está a Inteligência Competitiva em termos de sua estrutura organizacional, definição de papéis e disponibilidade de recursos humanos e financeiros. Empresas que possuem processos de IC maduros tendem a possuir uma unidade interna montada, com um coordenador bem definido, pessoal em quantidade e qualidade adequados, orçamento para 36 desenvolvimento da área e o compromisso da alta direção de manter esta estrutura pelos próximos anos até que a IC comece a mostrar resultados. > DIMENSÃO 7 AVALIAÇÃO E CONTROLE DO PROCESSO Descreve os mecanismos utilizados pela Inteligência Competitiva para avaliar seu funcionamento. Como qualquer processo, a IC precisa medir seu desempenho visando a busca da melhoria contínua. Além de medir o grau de satisfação de seus usuários e acompanhar indicadores internos de desempenho, processos de inteligência sofisticados buscam identificar de que maneira a IC foi útil em decisões passadas e tentam mensurar os ganhos econômicos trazidos para a organização. > DIMENSÃO 8 INTEGRAÇÃO COM O PROCESSO DECISÓRIO Descreve as medidas utilizadas para garantir que o esforço empregado pela Inteligência Competitiva seja de fato convertido em decisões de negócio relevantes. Processos sofisticados conseguem embutir o trabalho da IC dentro de processos formais de tomada de decisão como reuniões e ciclos de planejamento. > DIMENSÃO 9 SUPORTE DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A atividade de Inteligência Competitiva requer o tratamento ágil e eficaz de uma grande quantidade de informações de fontes e contexto distintos. Esta dimensão descreve o quanto a Inteligência Competitiva utiliza sistemas informatizados para auxiliá-la a executar e organizar seu trabalho com eficiência. Empresas sofisticadas em IC possuem sistemas específicos para a atividade e utilizam tecnologias inteligentes para automatizar as tarefas operacionais do processo. > DIMENSÃO 10 ADEQUAÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Descreve o quão propícia é a cultura organizacional ao desenvolvimento das atividades de Inteligência Competitiva e que mecanismos têm sido utilizados para tal. Processos de IC maduros buscam influenciar os aspectos específicos da cultura da empresa que lhe serão úteis, tentando criar um ambiente favorável à livre troca de informações, no qual a IC está perfeitamente integrada às atividades diárias da empresa. Estas dez dimensões podem ser segmentadas em duas categorias distintas: Atividades Primárias (cinco dimensões em azul, na parte interna da figura) e Fatores de Sustentação (cinco dimensões em cores variadas, na parte externa da figura), conforme detalhado a seguir: (i) A categoria Atividades Primárias representa os aspectos mais básicos que devem existir em uma organização para que esta possa se beneficiar da Inteligência Competitiva. São as atividades básicas que devem ser desempenhadas para que informações do ambiente externo sejam coletadas, analisadas e reportadas aos decisores de acordo com as suas necessidades. Ou seja, é a Inteligência Competitiva em funcionamento de fato. Para isso, foi utilizado o próprio conceito do ciclo de inteligência proposto por diversos autores, cuja simples execução já 37 consiste em um primeiro nível de sofisticação para o processo de IC. Cabe ressaltar, que a execução destas atividades não exige a princípio uma unidade organizacional específica de IC, podendo ser assimilada dentre as demais atividades de outras áreas funcionais, como, por exemplo, a área de Marketing, Vendas, P&D, dentre outras. (ii) Por sua vez, a categoria Fatores de Sustentação abrange uma série de aspectos recomendados pela literatura, periféricos às atividades primárias da IC, que maximizariam os resultados proporcionados pela inteligência competitiva. Por conseqüência natural, tais aspectos contribuiriam para a sustentação e perpetuação da prática sistemática da Inteligência Competitiva na empresa. Consiste em um segundo nível de sofisticação do processo de inteligência que envolve um maior comprometimento da organização com a prática. Dentre estes aspectos, podem ser citados: a própria formalização da atividade dentro da empresa e a criação de uma unidade na estrutura organizacional; o estabelecimento de um processo sistemático para avaliação da IC e dos resultados proporcionados por ela; a criação de mecanismos que maximizem a integração da Inteligência Competitiva com as atividades de gestão estratégica da empresa; dentre outros. Cabe ressaltar que nenhum tipo de ordem cronológica ou de importância para estas diferentes dimensões está sendo sugerido. Embora alguns destes aspectos recebam uma maior atenção pelos autores, nenhuma das idéias e propostas encontradas na literatura suporta este tipo de análise. As dimensões identificadas serão abordadas individualmente a seguir e, para cada uma destas, serão apresentadas as idéias e conceitos originais dos diferentes autores e suas implicações finais para a elaboração do instrumento de pesquisa utilizado em campo. Inicialmente, serão discutidas as dimensões 1 a 5, que fazem parte da categoria “Atividades Primárias da Inteligência Competitiva”. Em seguida, serão abordadas as dimensões 6 a 10, integrantes da categoria “Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva”. 38 Atividades Primárias da Inteligência Competitiva Dimensão 1: Planejamento de Inteligência Prescott e Miller (2001) afirmam que um programa de inteligência competitiva precisa de um papel bem formulado decorrente da identificação das necessidades dos seus usuários, ou seja, os tomadores de decisão das empresas. Os autores argumentam que a determinação do foco do programa de IC constitui um dos problemas mais freqüentemente encontrados, e que caso a organização não consiga defini-lo com clareza corre grande risco de que o programa de inteligência se torne um grande centro de pedidos ad hoc de informações, reativo e pouco envolvido com os tomadores de decisão. Normalmente, as operações de inteligência competitiva começam nas empresas em decorrência de negócios de baixo desempenho. Segundo os autores, é raro observar executivos agindo proativamente na implantação de processos de IC quando todos os negócios da empresa vêm apresentando resultados satisfatórios. A área de inteligência deve, portanto, entender com clareza qual foi este catalisador, ou seja, por que foi criada, e orientar seus esforços nesta direção para provar seu valor. Para que a IC não se perca ao longo do seu processo de amadurecimento os autores recomendam desenvolver um plano que oriente o desenvolvimento da área de inteligência ao longo do tempo, incluindo o estabelecimento de uma visão de futuro e metas para alcançar a visão desenhada. Complementarmente, devido às constantes mudanças dos cenários competitivos e das prioridades gerenciais, o programa de inteligência deve periodicamente rever as necessidades de informação dos decisores a fim de ajustar seu foco de forma continua. À medida que o programa de IC amadurece, o autor sugere a realização de auditorias periódicas junto aos decisores. Gomes & Braga (2001) ressaltam a importância de que o processo de inteligência competitiva possua uma definição clara dos seus objetivos de curto médio e longo prazo, dos usuários da empresa aos quais se destina o processo e da equipe que estará envolvida e dos seus respectivos papéis. As autoras sugerem que a etapa de identificação das necessidades de informação seja realizada por meio de entrevistas com os executivos-chave da empresa, por pelo menos dois 39 dos profissionais que estarão envolvidos com a IC quando esta estiver em operação. Durante todo este processo, a equipe encarregada por este mapeamento deve manter um relacionamento estreito e constante com os futuros usuários da IC para garantir um correto mapeamento das questões-chave que a inteligência competitiva deverá responder. Kahaner (1996) recomenda definir claramente quem serão os usuários chave do processo de IC, quais são suas necessidades de informação e para que finalidade a inteligência será utilizada. Laackman, Saban e Lanasa (2000) argumentam que a avaliação das necessidades de inteligência é chave para o sucesso ou fracasso da função de inteligência competitiva e que as empresas deveriam estabelecer mecanismos de avaliação contínua das necessidades dos decisores da organização. Para os autores, o processo de inteligência competitiva deveria começar e terminar com os usuários. Há duas categorias de usuários para a inteligência competitiva: estratégicos e táticos. Os autores sugerem que a ênfase inicial do processo de IC deve recair sobre os usuários estratégicos. Tão logo o programa de inteligência consiga mostrar seu valor para a alta direção e se torne institucionalizado, os usuários táticos deverão ser incorporados ao processo. Com relação aos métodos disponíveis para identificação das necessidades de informação dos decisores, podem ser citadas duas metodologias predominantes na literatura: os Tópicos Chave de Inteligência (Key Intelligence Topics – KIT) de Jan P. Herring (1999) e os Fatores Críticos de Sucesso de John F. Rockart (1979). Baseado em conceitos de inteligência nacional, Jan P. Herring (1999) propõe um processo para identificação e priorização das necessidades de inteligência dos tomadores de decisão, denominado Key Intelligence Topics (KIT). A metodologia envolve uma série de entrevistas com os executivos-chave da organização e conduz às unidades de inteligência competitiva a agirem de forma mais proativa junto aos seus usuários. O autor argumenta que o processo KIT deve resultar não somente na identificação das necessidades de informação, mas também na criação de um importante canal de comunicação entre a equipe de inteligência e os tomadores de decisão, necessário para gerar inteligência dotada de credibilidade e voltada para a ação. 40 Para o autor, qualquer área de inteligência que seja estruturada sem um direcionamento vindo direto das áreas usuárias, estará fadada, na melhor das hipóteses, a ser uma unidade reativa, que atenderá pedidos esporádicos de alguns executivos da empresa. O autor utiliza a expressão “na melhor das hipóteses”, pois acredita que nenhuma área de inteligência garantirá sua existência por muito tempo caso não esteja alinhada aos interesses mais relevantes dos tomadores de decisão. O autor acredita que entendidas as necessidades de informação dos decisores, pode-se compreender claramente qual será o papel a ser desempenhado pela área de inteligência. O autor ressalta também a importância de que a equipe encarregada da Inteligência Competitiva proponha pro ativamente novos temas a serem analisados antes que os usuários-chave os demandem. Laackman, Saban e Lanasa (2000) corroboram com este ponto acrescentando que, por estarem acompanhando ativamente os últimos desdobramentos do setor de atuação da empresa, a equipe de inteligência estará em boa posição para identificar novos assuntos a serem analisados que muitas vezes passariam despercebidos pelos decisores. O autor propõe que as necessidades de informação, mapeadas através de KITs, podem normalmente ser classificadas em três categorias funcionais: (i) Decisões e ações estratégicas, incluindo o desenvolvimento de planos estratégicos e estratégias; (ii) Tópicos de alerta antecipado, incluindo iniciativas de concorrentes, surpresas tecnológicas e ações do governo; e (iii) Descrição dos principais atores encontrados no mercado específico, incluindo concorrentes, clientes, fornecedores, órgãos reguladores e parceiros potenciais. Cabe ressaltar que as categorias em questão não são mutuamente exclusivas. Por exemplo, um KIT focado na estratégia pode também exigir o perfil de um concorrente ou alguma forma de alerta antecipado para advertir os usuários de uma possível mudança nas atividades do concorrente, o que por sinal sinalizaria a necessidade de modificar a nova estratégia competitiva. Por sua vez, Rockard (1979) também propõe um método para identificação das necessidades de informação dos decisores: os Fatores Críticos de Sucesso (FCS). Os FCS são, para qualquer empresa, algumas poucas áreas, ou recursos e habilidades, nas quais a organização deve apresentar um bom desempenho para ter sucesso no ambiente competitivo que atua. São áreas que deveriam receber constante atenção dos gerentes. 41 O autor distingue cinco fontes de fatores críticos de sucesso: (i) A estrutura da indústria, pois as forças competitivas de cada indústria definem algumas das áreas críticas nas quais as empresas devem superar seus concorrentes; (ii) A estratégia competitiva e o posicionamento específico da empresa, pois diferentes posicionamentos escolhidos dentro de uma mesma indústria levarão a diferentes requerimentos de competências organizacionais; (iii) Fatores ambientais, que consistem na influência indireta de variáveis exógenas do macro-ambiente, como, por exemplo, aspectos sociais, econômicos, legais, políticos, dentre outros; (iv) Fatores temporais, que são áreas específicas da empresa que precisarão de uma atenção maior devido a um período específico pelo qual a empresa está passando; e (v) Posição funcional, ou seja, como o método dos FCS foca na necessidade individual de cada decisor, diferentes áreas funcionais e níveis hierárquicos apresentarão diferentes áreas de atenção redobrada. Embora o autor não cite de forma específica o termo, naturalmente o método de Fatores Críticos de Sucesso pode ser utilizado para identificação de necessidades de informação do processo de inteligência competitiva. Este ponto é enfatizado por Bisp, Sorensen e Grunet (1998), que propõem o método de FCS como um instrumento adequado para o mapeamento das necessidades de informação do processo de IC. Em suma, a proposta de Rockard preconiza que as necessidades de informação dos executivos de topo sejam direcionadas para aquelas áreas nas quais a performance da empresa é mais crítica. Dimensão 2: Coleta de Informações Secundárias Kahaner (1996) considera como informação secundária toda aquela que sofreu algum tipo de tratamento a partir do seu formato original, ou seja, da forma como se encontrava quando foi extraída da fonte inicial. Utilizando este conceito, são exemplos de informações secundárias: notícias relatadas por jornais e revistas, relatórios e publicações especializadas do setor, bases de dados específicas, e, até mesmo, pesquisas de mercado, visto que os dados coletados junto aos entrevistados foram consolidados e tratados antes da sua utilização pela IC. O autor cita que o tipo de informação secundárias mais comumente utilizado pelos analistas de inteligência são as notícias. Segundo o autor, não há dúvidas de que as notícias relacionadas ao negócio da empresa devem ser monitoradas diariamente, mas ele lembra que há uma série de outros tipos de informações secundárias que podem trazer valor à equipe de IC, como as citadas anteriormente. Para ele, quanto mais amplo o leque de fontes utilizado maior será a 42 chance de encontrar informações que tragam valor à organização. Fuld (2005) afirma que as fontes de informação constituem o insumo básico para o processo de inteligência e cita a importância de se trabalhar com uma ampla gama de fontes de informações secundárias. Abordando a etapa de coleta de informações secundárias sob um ótica prática, Gomes & Braga (2001) sugerem que sejam identificadas que fontes de informação secundárias serão necessárias para atender às necessidades de informação já mapeadas, e recomenda que estas sejam classificadas quanto à sua confiabilidade. Kahaner (1996) reconhece que muitas das vezes a única informação disponível será a informação vinda de fontes secundárias. Desta forma, a área de inteligência deve buscar sempre verificar as informações secundárias mais relevantes obtidas contra fontes primárias de confiança da empresa. Ao trabalhar com fontes secundárias, as unidades de inteligência devem compreender a credibilidade e o viés inerente a cada de fonte de informação secundária, e considerar estes aspectos em suas análises, visando evitar cometer distorções nos resultados finais apresentados aos decisores. Tyson (1998) recomenda que uma vez compreendido claramente quais são as necessidades de informação dos decisores e que tipo de inteligência deve ser entregue, a unidade de IC deve desenvolver um claro plano sistemático de coleta de informações que inclua: (i) Que fontes de informação, publicadas ou não, devem ser consultadas (jornais, revistas, websites, relatórios externos, estatísticas, documentos do governo, publicações acadêmicas, bases de dados, funcionários da empresa, especialistas externos, dentre outros); (ii) Que informações específicas devem ser localizadas nestas fontes, ou seja, saber a priori exatamente o que se está procurando; (iii) Com que periodicidade estas fontes devem ser acionadas; e (iv) Quem (ou qual tecnologia) será responsável por fazê-lo. Walle (1999) cita especificamente a pesquisa de mercado como sendo um importante insumo de informações para o processo de IC. Para o autor, a atividade de IC foi originalmente desenvolvida como uma extensão das atividades de pesquisa de mercado. Decisores teriam partido em busca de informações de fluxo contínuo e de caráter mais qualitativo que os auxiliassem a complementar os dados mais estanques e quantitativos obtidos com as 43 pesquisas de mercado. O autor propõe que as equipes de IC de hoje utilizem pesquisas de forma sistemática para buscar responder a questões de negócios relevantes que eventualmente surgirão e necessitarão de uma abordagem de levantamento mais estruturada, como a trazida pelas pesquisas de mercado. Dimensão 3: Coleta com a Rede de Inteligência Gomes e Braga (2001) argumentam que uma grande parte das informações necessárias não se encontra publicada, mas pode ser obtida junto à rede de inteligência, ou seja, as pessoas externas da empresa pertencentes à rede de contatos da área de IC e os próprios colaboradores internos da empresa. Para isso, é de extrema importância que os integrantes da área de inteligência busquem expandir sua rede de contatos com disciplina e pro atividade participando de congressos, encontros, etc. Quanto aos colaboradores internos, estes devem ser sensibilizados a participarem do processo de IC. As autoras sugerem criar mecanismos que facilitem o fornecimento de informações pelos funcionários, como linhas telefônicas diretas ou e-mails da área de IC, disponibilizar feedback constante sobre suas contribuições à área de inteligência, mesmo quando estas não sejam utilizadas em nenhum produto de IC, e fornecer incentivos àqueles que contribuem com informações, como livros, cursos, dentre outros. É de extrema relevância que os profissionais da unidade de inteligência competitiva exerçam suas atividades de forma legal e ética, especialmente no que se refere à coleta de informações. Enquanto os deslizes legais podem trazer conseqüências judiciais óbvias para as organizações, os deslizes éticos comprometem um dos ativos mais valiosos das empresas atualmente: sua imagem perante o mercado. Embora os limites legais possam ser compreendidos estudando a legislação vigente nas regiões de atuação das empresas, os limites éticos diferem de acordo com a opinião individual de cada pessoa. Para isso, a autora sugere a adoção de um código de ética e de conduta para os profissionais envolvidos com a inteligência competitiva nas organizações, que transmita de forma clara e objetiva o que pode e o que não pode ser feito para obtenção de informações sobre o ambiente competitivo da empresa. Moss (1979) argumenta que a força de vendas das empresas constitui uma rica fonte de informações estratégicas sobre o mercado, que pode ser utilizada pelos tomadores de decisão a custos marginais praticamente nulos. Segundo o autor, os tipos mais comuns de informações 44 que a equipe de vendas pode contribuir são: (i) Problemas com os produtos da empresa; (ii) Idéias para novos produtos; (iii) Atividades dos competidores junto aos clientes; e (iv) Os planos de futuro dos clientes. Contudo, o autor alerta que as informações trazidas do campo pelos vendedores possuem duas limitações básicas: (i) Seu escopo é naturalmente mais limitado do que estudos e pesquisas de mercado, pois os vendedores estão restritos aos atuais clientes e, no máximo, podem trazer informações sobre os clientes em prospecção; e (ii) Devido ao interesse óbvio do vendedor em fechar vendas e à sua personalidade naturalmente otimista, suas informações podem ser tendenciosas. Mas o autor argumenta que as empresas podem desenvolver mecanismos que inibam este tipo de problema, e lembra que o vendedor é um recurso caro e que, portanto, qualquer iniciativa que traga algum valor adicional sobre este deve ser empreendida. Prescott e Miller (2001) também abordam a importância da rede humana de inteligência no fornecimento de informações estratégicas. Os autores sugerem construir redes de inteligência por meio de contatos pessoais, construindo confiança junto àquelas pessoas que podem contribuir com informações necessárias á área de inteligência. Outra sugestão é capacitar praticamente todos os funcionários da empresa a proporcionar informações à área de inteligência, especialmente no que tange habilidades de observação. Laackman, Saban, Lanasa (2000) ressaltam a importância de se estabelecer programas de treinamento, motivação e outros incentivos para estimular os funcionários da empresa a contribuírem com informações relevantes. Os autores citam casos de empresas de referência em inteligência competitiva, nas quais antes de sairem para congressos e feiras, os funcionários recebem da área de inteligência, metas específicas de coleta de informações, e ao voltarem prestam contas à equipe de IC. Ressaltam também o caso de diversas empresas que conseguiram aumentar consideravelmente o fluxo de informações para a área de IC ao estabelecerem algum tipo de “linha direta” 0800 para que os funcionários repassem informações. Kahaner (1996) também sugere implementar e gerenciar uma rede de inteligência com aquelas pessoas de dentro e fora da organização que podem contribuir com informações úteis. Para que a coleta de informações seja efetiva, a empresa deve desenvolver mecanismos que tornem o envio de informações por funcionários para a área de inteligência o mais simples possível. Algumas organizações têm criado e divulgado internamente números telefônicos e 45 contas de e-mail para contato direto com a área de IC por qualquer funcionário. Além disso, a empresa também deve fornecer feedback útil àqueles que contribuem com informações. As pessoas precisam compreender como as informações fornecidas foram úteis e de que forma a área de inteligência pode beneficiá-las também. Na construção da rede de inteligência, Tyson (1998) recomenda que a equipe de IC faça um mapeamento adequado dos funcionários que parecem poder contribuir com informações relevantes, identificando quais são suas áreas de conhecimento, em que outras organizações estes possuem relacionamentos pessoais, com que informações eles já contribuíram com a área de IC no passado, etc. Ou seja, a gestão da rede de inteligência deve ser o mais profissional possível. Dimensão 4: Análise da Informação Fleisher e Bensoussan (2002) argumentam que desde o princípio da abordagem científica para a gestão no início dos anos 1900, poucos acadêmicos ou executivos de negócios têm recomendado a tomada de decisões de forma arbitrária e não estruturada. Na verdade, estudos da área de psicologia cognitiva têm mostrado que as pessoas tendem a cometer uma série de vieses no julgamento não estruturado de problemas, como, por exemplo, serem influenciadas de forma desproporcional por eventos recentes ou muito marcantes, consistentemente subestimar probabilidades de ocorrência de certos eventos e a serem demasiadamente otimistas. Neste sentido, a aplicação de técnicas formais de análise consiste em uma forma eficaz de se buscar minimizar a ocorrência de tais problemas. Contudo, os autores lembram também que o bom analista deve reconhecer o momento adequado de encerrar suas análises e buscar endereçara as questões apresentadas pelos tomadores de decisão, ou seja, evitar o que o autor chama de “paralisia pela análise”. Os diversos modelos de análise estratégica preconizados na literatura de negócios podem ser extremamente úteis ao analista de inteligência, mas devem ser utilizados com cautela. As organizações não devem utilizar tais modelos como “atalhos” para a tomada de decisão, evitando assim o pensamente estratégico mais profundo, que, segundo o autor, é fundamental para a perpetuação das empresas. Podem ser citados como exemplos de modelos de análise: (i) Matrizes de análise de portfólio (BCG, GE McKinsey), (ii) Modelos de análise de 46 atratividade de indústrias, como o modelo de cinco forças de Porter, (iii) Modelo SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), (iv) Análise da Cadeia de Valor, (v) Análise de segmentação de clientes, dentre uma série de outros modelos. O autor recomenda também que tais modelos de análise estratégica “mais qualitativa”, sejam complementados por técnica de tratamento e análise de dados quantitativos para melhor embasar as conclusões da equipe de inteligência. O autor propõe um método para auxiliar os analistas de inteligência na escolha adequada dos modelos de análise que trarão melhores resultados para as situações específicas que estes encontrarão no dia-a-dia. O método em questão, intitulado pelo autor de “FAROUT”, parte da premissa de que para que o resultado de certa análise traga valor à organização, este deve possuir algumas características comuns. São elas: (i) Orientação ao Futuro (Future Orientation): Significa a utilização de modelos que ajudem na compreensão do futuro, em oposição a um foco excessivo no comportamento passado do negócio da empresa; (ii) Precisão (Accuracy): Propõe que o modelo utilizado possua um mínimo aceitável de precisão. Contudo, o autor lembra que em análise estratégica, mais importante do que uma alta precisão da análise é a sua capacidade de trazer ao decisor uma perspectiva mais ampla do negócio; (iii) Eficiência (Resource Efficiency): A aplicação do modelo escolhido não deve envolver um custo maior do que o valor que será trazido pela análise gerada; (iv) Objetividade (Objectivity): Bons modelos de análise devem buscar evitar os diversos vieses inerentes a cada analista. Para tal, a análise deve envolver uma abordagem racional, sistemática e objetiva; (v) Utilidade (Usefulness): Qualquer análise conduzida deve partir única e exclusivamente das necessidades de inteligência do decisor das organizações. O analista deve se ater ao “é preciso saber” e não ao “é interessante saber”; (vi) Pontualidade (Timeliness): O tempo necessário para a geração das análises também deve ser curto suficiente para que seus resultados ainda tenham utilidade prática. Gib & Margulies (1991) afirmam que a análise não deve se limitar a uma transcrição e reporte dos fatos recentes aos executivos, mas sempre que possível, a inteligência competitiva deve articular implicações e recomendar alternativas estratégicas para ação. Prescott e Miller (2001) afirmam que a área de inteligência deve apresentar aos usuários análises de qualidade, com implicações acionáveis e ser merecedor de credibilidade e confiança como uma fonte de auxílio no processo decisório. Para isso, o autor sugere que as recomendações apresentadas pela área de inteligência devem ser suportadas por modelos de 47 análise objetivos, confiáveis, que englobem tanto o tratamento de informações qualitativas quanto quantitativas e que, preferencialmente, sejam de conhecimento dos decisores. Kahaner (1996) sugere que para se fazer uma boa análise é importante que o analista coloque de lado todos seus vieses pessoais de opinião e busque olhar para as informações disponíveis com uma mente aberta. Gilad (1989) sugere que o analista de inteligência deve utilizar uma abordagem analítica sistematizada, incluindo opções de ação disponíveis, extrapolando possíveis cenários e identificando os riscos. Fuld (2003) cita uma pesquisa realizada pelo Fuld-Gilad-Herring Academy of Competitive Intelligence em 2002, conduzida junto a estrategistas de 140 empresas de diferentes países. Segundo a pesquisa, cerca de dois terços dos respondentes admitiu que suas organizações foram surpreendidas por pelo menos três eventos de alto impacto para seus negócios nos últimos cinco anos. Não coincidentemente, 97% dos entrevistados informaram que suas empresas não possuíam sistemas de alerta antecipado para mudanças repentinas no ambiente de negócios. Neste sentido, o autor argumenta que é de extrema importância que as empresas que desejam competir no século XXI possuam sistemas estruturados de alerta antecipado que empreguem métodos de análise de cenários, e faz algumas recomendações para a estruturação. (i) Antecipação de possíveis futuros: Consiste na identificação dos potenciais cenários de futuro para o ambiente de negócios no qual a empresa está inserida, e mapeamento de que sinais devem ser monitorados para se avaliar que cenários estão se tornando mais plausíveis. (ii) Definição de sentinelas para monitorar os sinais: Significa criar mecanismos pelos quais os tomadores de decisão serão alertados por mudanças nas probabilidades de ocorrência de cada cenário. Em sua pesquisa com mais de 150 analistas, coordenadores e usuários (decisores) das áreas de análise de competidores de três empresas de referência, Goshal e Eleanor (1991) também constatam a importância de uma análise orientada para o futuro. Para os autores, os produtos de inteligência devem conter ‘menos descrição’ e ‘mais previsões e sugestões’. 48 Além disso, a pesquisa dos autores constatou uma baixa credibilidade dos decisores pelas análises geradas pela área de inteligência. Os autores destacam os seguintes motivos: (i) Pouca experiência dos analistas nas atividades fim da empresa; (ii) Alta rotação na área de inteligência, inibindo o desenvolvimento de uma relação de confiança entre decisores e analistas; e (iii) Falta de confiança nas metodologias de análise utilizadas. Coutinho e Costa (2001) abordam mais afundo a metodologia de cenários. As técnicas de análise de cenários são utilizadas pelas empresas com o objetivo de minimizar incertezas ligadas ao futuro e propiciar ferramenta que facilite a definição de estratégias em um mundo cada vez mais incerto. Para os autores, a elaboração de cenários prospectivos pode ser entendida como um dos instrumentos de análise que compõem o processo de produção de inteligência competitiva nas organizações. Neste sentido, a técnica de cenários seria uma ferramenta de análise de grande valor agregado, pois esta faz uso de uma série de outros produtos da inteligência competitiva, como perfis de concorrentes, relatórios analíticos sobre segmentos de mercado, dentre outros. Por outro lado, o resultado final da elaboração dos cenários constitui também um insumo para a IC, pois indica os atores e variáveis que devem ser monitorados, quais sinais fracos devem ser acompanhados e quais os fatores que podem levar a rupturas de tendências. Ou seja, seu resultado realimenta o processo de inteligência alterando definições da fase inicial de planejamento da inteligência competitiva. Fazendo relação com os conceitos propostos por Herring (1999), a análise de cenários proveria insumos para a modelagem dos Key Intelligence Topics (KIT) do tipo “alerta antecipado”. O uso de cenários prospectivos como parte integrante do processo de inteligência constitui um forte sinal de sofisticação da prática de inteligência competitiva da empresa. A atividade de análise de cenários nas organizações normalmente envolve periodicamente a alta direção da empresa para geração de uma série de futuros consistentes e plausíveis, os quais são utilizados na elaboração de estratégias. Godet (1987) define cenário como “o conjunto formado pela descrição, de forma coerente, de uma situação futura e do encaminhamento dos acontecimentos que permitem passar da situação de origem à situação futura.” Godet (1997) complementa sua definição afirmando que um cenário não é a realidade futura, mas um meio de representá-la, com o objetivo de nortear a ação presente à luz dos futuros possíveis e desejáveis. 49 A finalidade dos cenários exploratórios era “ampliar a compreensão sobre o sistema, identificar os elementos predeterminados e descobrir as conexões entre as várias forças e eventos que conduziam esse sistema”, o que levaria, conseqüentemente, à melhor tomada de decisão. Para Godet (1993), “a técnica prospectiva não está associada ao determinismo da futurologia e da bola de cristal”, como também não é previsão marcada pela quantificação e extrapolação de tendências. Como o futuro ainda não foi escrito, a prospectiva não trabalha com projeções, e nem é uma previsão. Segundo o autor, para a prospectiva “o futuro é a razão de ser do presente” e este futuro é múltiplo e incerto. As variáveis abordadas no estudo são qualitativas. A prospectiva conduz a organização a desenvolver atitudes proativas em relação ao futuro, buscando a formulação do futuro desejado. É recomendável que os cenários não tenham horizonte temporal menor que cinco anos. Essa limitação relaciona-se ao objetivo principal dos cenários que é auxiliar na definição das estratégias da empresa, o que exige abordagem de longo prazo. Porter (1992) lembra que a definição desse período de tempo deve refletir o horizonte de tempo das decisões de investimentos mais importantes da organização. Porter (1992) define as seguintes opções estratégicas para a empresa em resposta a um conjunto de cenários mapeados: (i) Apostar no cenário mais provável: a estratégia será baseada no cenário de maior probabilidade de ocorrência - estratégia adotada pela maioria das empresas; (ii) Apostar no melhor cenário: definir a estratégia baseada naquele cenário que a organização acredita ser o melhor para o seu posicionamento competitivo futuro; (iii) Buscar robustez: ou seja, definir a estratégia que produza resultados satisfatórios em todos os cenários; (iv) Buscar flexibilidade: neste caso, adota-se uma estratégia flexível até que o cenário mais provável se torne aparente para a empresa; (v) Influenciar a ocorrência do melhor cenário: estratégia pela qual a organização busca aumentar a probabilidade de ocorrência do melhor cenário; ou então, (vi) Combinar algumas das alternativas anteriores. 50 Dimensão 5: Relatórios e Disseminação Gomes & Braga (2001) ressaltam que o processo de IC deve gerar produtos de informação, que assumam a forma de relatórios, boletins, apresentações, dentre outros. Estes devem apoiar tanto decisões estratégicas, que dizem respeito ao direcionamento de médio e longo prazo da companhia, como decisões táticas de curto prazo, que dizem respeito à execução das atividades cotidianas da empresa, como por exemplo, subsidiar o processo de compras na negociação com fornecedores, ou o processo comercial na identificação de oportunidades de negócio. Os produtos de inteligência devem ser definidos em conjunto com seus respectivos usuários, adequando seu formato, linguagem e freqüência, às necessidades do seu públicoalvo. Prescott e Miller (2001) sugerem que a equipe responsável pela inteligência competitiva possua uma clara relação dos produtos que devem ser entregues e seus respectivos usuários dentro da empresa, os prazos envolvidos e a documentação dos modelos analíticos a serem utilizados. Para a entrega dos produtos em si, Prescott e Miller (2001) sugerem utilizar uma comunicação direta e eficaz para transmitir os resultados das análises, incluindo não somente relatórios e boletins, mas também reuniões presenciais “face a face” com os decisores para apresentação das opiniões da área de IC. Kahaner (1996) apresenta algumas sugestões para que a apresentação dos resultados obtidos pela inteligência competitiva seja bem sucedida: (i) Os produtos de inteligência precisam responder de forma clara e objetiva aos questionamentos apresentados pelos decisores; (ii) A entrega dos produtos de IC deve atender aos requisitos de tempo dos decisores; (iii) A IC deve construir um alto grau de confiança junto aos decisores, deixando-os confortáveis com os métodos e técnicas utilizadas; (iv) Os resultados devem ser apresentados no formato mais adequado de acordo com as características de cada público interno. Diferentes formatos podem ser utilizados, como, por exemplo, relatórios, apresentações, reuniões de trabalho, workshops periódicos, dentre outros. Kahaner (1996) sugere que a inteligência gerada pela área de IC deve estar disponível para todos aqueles da organização que a necessitarem. Trancar as informações obtidas e os relatórios de inteligência competitiva a “sete chaves” é o meio mais rápido de ver a contribuição da rede de inteligência para o processo de IC despencar. Naturalmente, ao 51 mesmo tempo em que esta inteligência se torna mais acessível, cresce também o risco que vazamento de informações internas da empresa para o a meio externo. Para isso, o autor recomenda a adoção de práticas de contra-inteligência, comentada na seção inicial da revisão bibliográfica. Gilad (1989) sugere ainda que a área de IC deve buscar sempre inovar no formato dos seus produtos. Diferentes formatos devem ser desenvolvidos para diferentes públicos dentro da organização. O autor sugere que os produtos não se limitem a relatórios escritos, mas incluam também reuniões e apresentações pessoais para uma melhor comunicação das análises realizadas. Gilad também corrobora com Kahaner (1996) sugerindo que os produtos gerados pela equipe de IC estejam disponíveis para pronto consumo por todos aqueles na organização que possuam autorização para tal. Com isso, poupa-se tempo precioso da equipe atendendo a solicitações de informações que já estão prontas. Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva Dimensão 6: Estrutura Interna Prescott e Miller (2001) sugerem que uma vez definido o papel da inteligência competitiva na empresa, deve-se desenvolver uma completa estrutura administrativa que permita entregar a inteligência necessária, incluindo uma área formalizada (independente do status na estrutura organizacional), alocação de recursos humanos (em tempo integral ou parcial) e processos de trabalho bem definidos. Em uma empresa diversificada, pode ser necessária mais de uma unidade de inteligência. As unidades de negócio que possuem os mesmos clientes e concorrentes e compartilham recursos podem centralizar seus programas de inteligência competitiva. No entanto, se há poucos pontos em comum entre os negócios, as unidades de inteligência devem compartilhar apenas melhores práticas, mas não centralizar seus programas. Segundo Kahaner (1996), para que a inteligência competitiva traga resultados, a organização precisa alocar recursos em tempo integral para isso, humanos e financeiros, por um período mínimo de tempo até que seus resultados apareçam. Segundo o autor, é inútil adotar abordagens paliativas e esperar resultados, como simplesmente comprar um serviço de 52 notícias e solicitar à bibliotecária da empresa para selecionar aquelas notícias mais importantes. Com relação à localização da estrutura, o autor constata que em grande parte das empresas que adotam a prática, a unidade de inteligência competitiva se encontra acoplada à área de planejamento estratégico da corporação. Em outras corporações, cada Unidade de Negócios (UN) pode ter sua própria área de IC, diretamente ligada ao executivo responsável pela UN. Em alguns casos, a unidade de IC está localizada dentro de alguma área funcional, como, por exemplo, o departamento de marketing. Para o autor, a localização exata da unidade de IC não é tão relevante, contanto que esta esteja localizada próxima aos seus principais usuários e possua uma livre comunicação com estes. Para Gomes & Braga, a área de inteligência competitiva deve estar localizada na estrutura organizacional da empresa de forma clara e visível para todos, para que não haja dúvidas quanto à ética e legalidade das suas atividades. Adicionalmente, a área de IC deve estar o mais próxima possível do tomador de decisão para quem o programa foi desenhado, para que o fluxo de informações seja livre e não burocrático. Com relação ao compromisso da organização com a perpetuação da estrutura de IC, Herring (1988) destaca a importância de um financiamento adequado para a área de IC. Caso não se aloque uma quantidade adequada de recursos por um período mínimo de tempo, algo como um período de dois a três anos, a inteligência competitiva tende a esmorecer dentro da empresa. No que diz respeito aos recursos humanos necessários ao processo de IC, Gomes & Braga (2001) destacam que existem três papéis básicos para o processo de inteligência: (i) o gerente de IC, que coordenará as atividades do processo e deverá ter acesso livre aos decisores da empresa; (ii) o analista de informações, que será quem de fato gerará os produtos de inteligência; e (iii) o coletor/pesquisador, que conduzirá a coleta de informações secundárias e primárias necessárias ao processo. As autoras argumentam que as atividades de inteligência podem ser desempenhadas por profissionais dedicados em tempo parcial, com exceção do gerente que deve, preferencialmente, ser alocado em tempo integral à inteligência competitiva. Algumas atividades do processo podem inclusive ser terceirizadas. Segundo a autora, a quantidade de pessoas alocadas à área de inteligência dependerá de diversos aspectos, tais como: a 53 volatilidade do setor, a quantidade de tomadores de decisão que serão atendidos pelo processo e, obviamente, o orçamento disponível para tal. As autoras destacam a importância do analista no processo e ressalta o perfil necessário a este papel. Um analista de inteligência deve possuir: facilidade de relacionamento interpessoal, comportamento ético, criatividade, determinação, aptidão para entrevistar, aptidão para redação, vasto conhecimento geral e bom raciocínio analítico. Laackman, Saban e Lanasa (2000) constatam a importância de se atrair profissionais para a área de inteligência com alto nível de escolaridade (em seus estudos cerca de 80% das empresas exigiam nível de mestrado), e destacam a importância de que o coordenador da unidade de inteligência seja um profissional experiente com boas conexões no ramo de atividade da empresa. Já para Kahaner (1996), bons analistas de inteligência competitiva não têm necessariamente um MBA (Master in Business Administration), mas possuem uma ampla gama de experiências e conhecimentos. Segundo o autor, o traço mais importante de um analista é ser capaz de dizer: “Dadas as informações que possuo, isso é o que acho que vai acontecer, e esse é o significado para a empresa.” Ou seja, um bom analista precisa não somente ser capaz de enxergar possíveis futuros, como também possuir atitude para comunicar suas opiniões para a alta direção da empresa. Para Herring (1988), analistas treinados e experientes constituem fator determinante para o sucesso do processo de inteligência. Para o autor, deve haver analistas dedicados à atividade em tempo integral cuja única responsabilidade é monitorar e avaliar os desenvolvimentos do ambiente externo que afetam a corporação identificando os impactos prováveis e recomendando cursos de ação. Prescott e Miller (2001) falam da importância de se realizar uma avaliação formal dos analistas da área de inteligência e citam quatro dimensões para isso: (i) Desenvolvimento de suas redes de inteligência humana; (ii) Qualidade dos seus relatórios; (iii) Capacidade de identificar e relacionar de que forma suas análises impactam o desempenho da organização; e (iv) Qualidade das interações pessoais. Na pesquisa conduzida por Goshal e Eleanor (1991), os autores constatam que as empresas têm sofrido pressões cada vez maiores por reduções de custos e diminuição de suas equipes. 54 Neste cenário, os autores propõem algumas formas pelas quais a área de inteligência pode endereçar o desafio de aumentar sua capacidade de atender às necessidades de decisores, que estão em constante mudança, em um contexto de recursos cada vez mais escassos. (i) Manter máxima interação com os clientes: A área de inteligência deve ficar o mais próxima possível do seu cliente direto e esta deve buscar feedback contínuo sobre a relevância do que está sendo entregue. (ii) Formando a equipe de inteligência: Os autores sugerem duas abordagens distintas para formar a equipe interna da área de inteligência. A primeira abordagem, intitulada ‘Analysts’, consiste em recrutar especialistas em análise estratégica, muitas vezes vindos de consultorias da área. A segunda, chamada pelos autores de ‘Fast Trackers’, consiste em recrutar para a área de inteligência profissionais da empresa de alto potencial, ainda em fase inicial de carreira. Para a área de inteligência em si, a primeira abordagem seria mais interessante visto que a área teria um índice de rotatividade de funcionários menor e, portanto, seria possível desenvolver melhor a curva de aprendizado da área. No entanto, pensando do ponto de vista das demais áreas da empresa, a segunda abordagem constitui uma excelente oportunidade de aprendizado para os profissionais de alto potencial, que poderão desenvolver uma excelente visão estratégica da empresa ainda em fases iniciais ou intermediárias de carreira. (iii) Terceirizando atividades não cruciais: Além disso, os autores sugerem que certas atividades de menor valor agregado, como coleta de informações e construção de perfis básicos de concorrentes, podem ser facilmente terceirizadas por firmas especializadas, que possuirão maior economia de escala. Tarefas mais estratégicas, como análise de informações e relacionamento com as áreas usuárias, deveriam ser mantidas dentro de casa. Dimensão 7: Avaliação e Controle do Processo Gomes & Braga (2001) sugerem que o processo de IC deve ser avaliado constantemente pelo coordenador da área. Para tal avaliação, as autoras recomendam algumas ferramentas: (i) Pesquisa de satisfação junto aos usuários do processo; (ii) Avaliações econômicas dos 55 resultados obtidos com decisões tomadas com base na inteligência gerada; e (iii) Discussões internas da equipe de inteligência visando a melhoria contínua do programa. Para Kahaner (1996), a única medida verdadeira de sucesso do processo de inteligência competitiva é se o seu usuário de fato utilizou a inteligência entregue. A inteligência competitiva o auxiliou a tomar uma melhor decisão? Fleisher (1991) aborda o desafio inerente a qualquer coordenador de uma área de inteligência competitiva de justificar para a alta direção da empresa que os benefícios trazidos pela área compensam seus custos. Para tal, o autor propõe a adoção de conceitos tradicionais da gestão da qualidade para coordenação do processo de inteligência competitiva, como se este fosse um processo corporativo como outro qualquer. Neste sentido, algumas práticas são recomendadas, entre elas: (i) Avaliação contínua da satisfação dos usuários do departamento de IC (os decisores da empresa) com base em critérios como conteúdo dos produtos de IC, atendimento aos prazos, formato, dentre outros; (ii) Identificação do portfólio de produtos da área (como relatórios, boletins e apresentações) e avaliação do seu custo de produção; e (iii) Mapeamento das atividades internas envolvidas no processo de inteligência e medição sistemática através de métricas de desempenho. Para Sawka (2000), a melhor maneira de se mensurar o valor da IC é avaliar a contribuição que a IC trouxe para decisões ou ações específicas da empresa e então mensurar os benefícios gerados por esta decisão ou ação para a organização. A unidade de IC deve buscar comunicar intensamente os resultados de negócio obtidos em decorrência da sua contribuição para todos na organização, visando a sua manutenção no longo prazo. Tyson (1996) propõe que o processo de Inteligência Competitiva deve ser repensado constantemente visando sua melhoria contínua. Podem ser utilizados também princípios da gestão da qualidade aplicados ao processo de IC incluindo o uso de indicadores de performance para o processo de inteligência. À medida que o ambiente evolui, as necessidades de inteligência mudam, o papel da IC na empresa se altera, e com isso o processo deve se adequar também. 56 Dimensão 8: Integração com o Processo Decisório Herring (1988) entende que a Inteligência Competitiva é uma extensão natural das atividades de formulação estratégica da corporação. Por esse motivo, Gib & Margulies (1991) sugerem que os esforços de inteligência devem, desde o início, ser orientados à ação. Tyson (1998) sugere que, no passado, as organizações empreendiam esforços pontuais de planejamento estratégico uma vez ao ano, normalmente quando os principais executivos da empresa se recolhiam a algum tipo de retiro do ambiente normal de trabalho e ali refletiam sobre forças e fraquezas da empresa, oportunidades e ameaças do ambiente, definiam metas e ações a serem executadas. O produto disto? Um espesso documento com o plano da empresa para o ano e, naturalmente, paredes das salas de reunião utilizadas repletas de papéis. Como preparação para estes eventos, os executivos ordenavam às suas equipes que realizassem coleta e análise de informações sobre competidores, clientes, fornecedores, dentre outros. Com o aumento da dinamicidade dos negócios, decisões atualmente precisam ser tomadas de forma contínua. A própria estratégia deve ser repensada a todo o momento, se aproximando mais do conceito de gestão estratégica contínua do que do antigo planejamento estratégico. E, naturalmente, para uma tomada de decisões contínua se faz necessário um fluxo contínuo de informações estratégicas analisadas. Para Tyson (1998), a ponte que faz esta ligação é o processo de Inteligência Competitiva. No entanto, o autor argumenta que os profissionais de inteligência competitiva têm encontrado dificuldades em formar e consolidar o elo que liga o processo de IC com o processo de tomada de decisão. Os coordenadores de IC normalmente assumem que uma vez entregue um bom relatório em resposta às solicitações da alta direção, os decisores saberão o que fazer com a inteligência gerada e tomarão as devidas decisões. Segundo o autor, não é assim que acontece na prática. O problema é ilustrado com o caso histórico da Xerox, que foi a inventora de uma série de tecnologias inovadoras que se tornaram absolutamente presentes na vida das pessoas e empresas anos depois, mas, no entanto, a empresa não se tornou atuante expressiva em nenhum desses mercados. Podem ser citados como exemplos: o primeiro PC, o primeiro mouse, a primeira interface gráfica, a primeira impressora a laser e a primeira rede local. O trabalho de inteligência na Xerox sempre foi considerado referência e, de fato, sua equipe de 57 Pesquisa e Desenvolvimento foi capaz de vislumbrar mercados futuros para todos estes dispositivos citados. Da mesma forma, a Xerox também sempre foi reconhecida por possuir um bom processo de tomada de decisão e planejamento estratégico. Segundo o autor, a raiz do problema em questão se encontra no elo entre o processo de inteligência e o processo de planejamento e tomada de decisão. O profissional de inteligência deve buscar estabelecer uma relação de parceria com os tomadores de decisão da organização. Este deve assumir um papel mais ativo do que alguém que apenas coleta, analisa e reporta informações aos decisores. Este profissional de inteligência deve se tornar um agente de mudança que estimulará a criação e manutenção de um processo de gestão estratégica contínua. Tyson atribui a este profissional o nome “Estrategista Perpétuo”. Para o autor, a melhor forma de estabelecer o elo entre a inteligência competitiva e o processo estratégico é através da sistematização do processo decisório da empresa. Para isso, são sugeridas algumas recomendações gerais para a área de inteligência: (i) Assumir papel proativo na geração de inteligência evitando que a área de IC se limite a responder a solicitações dos decisores de uma maneira ad-hoc. A IC não deve somente identificar as necessidades de informação dos decisores, mas também compreender por que motivo estas informações são necessárias e como serão utilizadas na tomada de decisão. (ii) Em negócios, a precisão das informações não é tão relevante quanto em outras áreas das ciências exatas. Realmente relevante para tomada de decisão é a perspectiva, ou seja, possuir uma visão holística dos problemas enfrentados. Normalmente, é irrelevante se um competidor possui 32.2%, 31.7% ou 33.1% de participação de mercado. O importante é que ele possui cerca de um terço do mercado e alguma decisão precisa ser tomada. O profissional de inteligência competitiva deve manter sempre isso em mente para entregar inteligência que de fato influencie as decisões da organização. (iii) Compreender o modo como os principais executivos da empresa tomam suas decisões, como se dá o seu processo de raciocínio, que outras pessoas eles consultam e a que tipo de informação dão mais importância. 58 (iv) Acompanhar a implantação das ações decorrentes da inteligência gerada pela área de IC e se manter informado dos impactos gerados por estas para a empresa. (v) O profissional de inteligência deve trabalhar mais frequentemente junto ao decisor, sentando-se à mesa em reuniões estratégicas e fazendo recomendações de forma ativa. Prescott e Miller (2001) ressaltam que um dos objetivos de uma área de inteligência deve ser reduzir o tempo e recursos destinados a responder solicitações ad hoc, aumentando seu nível de participação em equipes de tomada de decisão. Se a equipe de inteligência não tem o prestígio para sentar-se a mesa para discutir decisões, será mais difícil vender internamente as implicações de suas análises. Também visando estabelecer um mecanismo de integração entre IC e estratégia, os autores propõem que o processo de inteligência competitiva seja embutido dentro do processo de planejamento estratégico para que a inteligência gerada seja de fato utilizada e se transforme em ações. Fuld (2003) também aborda este ponto propondo que a IC deve buscar promover a tomada de decisão de uma forma mais sistemática. O autor argumenta que a inteligência competitiva só consiste em um ativo, quando é utilizada na tomada de decisão. Segundo a pesquisa citada anteriormente realizada pela Fuld-Gilad-Herring Academy of Competitive Intelligence, somente 7% dos entrevistados disseram que seus executivos agiram logo em seguida que receberam um alerta antecipado. Assim, o autor propõe que sejam criados mecanismos que estimulem e sistematizem a tomada de decisão. A equipe de inteligência pode assumir como regra, por exemplo, que após toda apresentação ou entrega de seus produtos os usuários-chave precisarão discutir e tomar decisões práticas em relação às questões mais importantes trazidas pela IC. Um outro exemplo é a utilização da técnica de Jogos de Guerra (War Games). Enquanto a técnica de cenários pode ajudar os executivos a antecipar o que pode acontecer, os Jogos de Guerra podem auxiliá-los a decidir o que fazer quando as oportunidades e ameaças de fato acontecem. Etorre (1995) argumenta que empresas de menor porte têm melhores condições de utilizar eficazmente a inteligência competitiva por estarem “mais próximas do chão”. Seus executivos estão mais envolvidos nas tarefas de inteligência, pois estas fazem parte do seu dia-a-dia. Grandes organizações, normalmente devido à sua grande estrutura, processos mais rígidos e 59 trâmites burocráticos, têm maior dificuldade em obterem as informações relevantes e fazê-las circular dentro da empresa. Etorre (1995) sugere também que o maior condicionante para implantação de um processo de IC que interaja ativamente com o processo estratégico da empresa é que a iniciativa venha de cima para baixo. Ou seja, o primeiro a “comprar a idéia e vestir a camisa” do processo de inteligência competitiva deve ser o mais alto executivo da área da empresa que está implantando o processo. Se o programa é corporativo, o presidente deve ser esta pessoa. Laackman, Saban, Lanasa (2000) sugerem que a liderança deve acreditar nos valores fundamentais da IC e oferecer apoio durante seus anos de formação para que a IC possa perdurar na empresa e para que o elo entre IC e estratégia possa se formar. Kahaner (1996) também sugere que a unidade de inteligência precisa ter algum executivo de prestígio na empresa que a defenda internamente, ou seja, a IC necessita de um “patrocinador interno”. Na verdade, a inteligência competitiva deve ser “direcionada ao CEO”, ou seja, deve ser um interesse de longo prazo do CEO da empresa. Mais do que isso, a unidade de inteligência competitiva deve “receber seu mandato” diretamente do CEO. Além disso, é importante que este reconhecimento seja traduzido em uma maior participação do coordenador do processo de inteligência. Este deve ter, preferencialmente, um assento formal nas reuniões mais estratégicas de tomada de decisão da empresa. Para Gilad (1998), a IC traz valor significativo somente quando o próprio CEO faz o papel de comandante da IC. O fluxo de informação estratégica de alto valor para o CEO deve ser livre, sem burocracia e sem filtros. E ele deve estimular isso e estar aberto para receber tais insumos de informação. Dimensão 9: Suporte da Tecnologia da Informação Para Fuld (2002), um sistema de informação não pode substituir a existência de um processo de IC sistematizado e bem estruturado. O sucesso de qualquer ferramenta tecnológica depende em primeiro lugar do grau de sofisticação do próprio processo de inteligência competitiva. No entanto, a Tecnologia da Informação (TI) pode auxiliar as organizações a alcançarem os objetivos da IC de forma mais eficiente e eficaz. São três as principais maneiras através das quais a tecnologia pode suportar o processo de IC: (i) Automatizando a coleta de informações 60 publicadas e primárias; (ii) Facilitando o trabalho de disseminação da inteligência gerada para os diferentes interessados dentro da empresa; e (iii) Com ferramentas de workflow e colaboração que podem auxiliar no dia-a-dia o trabalho dos analistas de inteligência. Há uma série de softwares no mercado internacional que se posicionam para o segmento de inteligência competitiva. Contudo, segundo o autor, não há uma solução de TI única que atenda a todas as empresas. Cada organização terá particularidades em seu processo de inteligência competitiva, o que resultará em diferentes necessidades de TI. Os softwares de inteligência competitiva podem auxiliar cada uma das etapas do ciclo de inteligência de diferentes formas. O autor utiliza um critério para avaliação de ferramentas de IC que considera o grau com que cada software suporta cada uma das etapas do ciclo de inteligência. Sistemas que obtêm os maiores índices em seu ranking conseguem combinar um alto grau de abrangência ao longo do ciclo de IC com uma grande profundidade em cada uma das etapas do ciclo. Contudo, ressalta o autor, é importante que as diversas soluções tecnológicas utilizadas pela IC estejam integradas entre si e, quando necessário, com os sistemas corporativos necessários à IC. O autor oferece alguns exemplos de funcionalidades disponíveis nestes softwares para cada etapa do ciclo de inteligência: (i) Planejamento e direção: Prover estrutura para definição de KITs e KIQs; e Oferecer controle da execução do processo de IC como um todo com funcionalidades de workflow. (ii) Coleta de informações publicadas: Realizar a coleta contínua e automática de notícias e matérias na Internet; Monitorar alterações em websites relevantes; Classificar automaticamente a informação coletada de acordo com os contextos de interesse do usuário; e Realizar sumarização automática das notícias. (iii) Coleta de informações primárias: Disponibilizar mecanismos que facilitem a solicitação e recebimento de informações junto à rede de inteligência da empresa, como, integração com e-mails e fóruns internos; Realizar monitoramento de fóruns externos e listas de discussão na Internet sobre assuntos de interesse da empresa. (iv) Análise e produção de inteligência: Disponibilizar modelos de análise estratégica no software; Extrair automaticamente relacionamentos entre entidades de interesse da empresa (pessoas, empresas, tecnologias, etc) a partir de bases de informações 61 textuais não estruturadas; Empregar técnicas de text-mining (mineração de textos) para realizar buscas avançadas; e Permitir o relacionamento automático entre informações qualitativas e dados quantitativos. Para Gomes & Braga (2001), provavelmente as empresas já contam com uma série de ferramentas de tecnologia da informação que podem auxiliar no processo de inteligência competitiva, como: Groupware, Gestão Eletrônica de Documentos (GED), Internet, intranet, extranet, dentre outros. Uma vez que o processo de inteligência é formalizado e obtém o comprometimento da alta direção com a sua continuidade, a organização pode partir para a seleção de sistemas específicos de suporte à inteligência competitiva que hoje se encontram disponíveis no mercado. As autoras ressaltam que um sistema de informação automatizado e completo pode oferecer diversas vantagens para a organização, como: aumentar a produtividade da equipe de IC, diminuindo o esforço gasto na localização de informações e liberando assim tempo precioso para a etapa de análise, e disseminando os produtos de inteligência rapidamente para um vasto público dentro da empresa. Rangel et al. (2004) falam sobre a necessidade de ferramentas de TI que abordem de forma integrada todas as etapas do ciclo de inteligência. Para isso, cunham o termo Sistemas Integrados de Inteligência Competitiva. Estas seriam verdadeiras soluções de TI para suporte à Inteligência Competitiva, desenhadas e desenvolvidas especificamente para tal propósito. Estas soluções tecnológicas ofereceriam à equipe de IC um ambiente único e completo através do qual todas as necessidades tecnológicas da equipe seriam supridas. Por essência, Sistemas Integrados de Inteligência Competitiva empregariam sofisticados métodos de inteligência computacional nas etapas do ciclo de IC que mais necessitam, automatizando tarefas operacionais como coleta e classificação de informações. Com isso, a equipe de inteligência competitiva pode alocar a maior parte do seu tempo para realização de tarefas de maior valor agregado, como, por exemplo, a análise das informações. Bouthillier & Shearer (2003) fazem uso do conceito de agregação de valor à informação e argumentam que o propósito final de qualquer processo de inteligência competitiva é aumentar o valor da informação ao longo das suas etapas. Diferentes critérios podem ser utilizados para compreender e medir o valor das informações, como, por exemplo: (i) a abordagem normativa, que utiliza métodos estatísticos para determinar a utilidade da informação para os decisores; (ii) a abordagem realista, que tenta medir o impacto real que a 62 informação traz para a tomada de decisão; e (iii) a abordagem do valor percebido, através da qual o valor da informação é medido com base na percepção qualitativa de seus usuários. Neste sentido, os autores identificaram 32 tarefas envolvidas na agregação de valor à informação pela inteligência competitiva e propõe que os softwares de IC sejam avaliados de acordo com tais critérios. Estes critérios foram segmentados de acordo com os processos de agregação de valor aos quais fazem parte, mais especificamente: (i) identificação das necessidades de inteligência competitiva; (ii) aquisição de informação competitiva; (iii) organização, armazenamento e recuperação; (iv) análise de informação; (v) desenvolvimento de produtos de inteligência; (vi) distribuição dos produtos de inteligência; e (vii) outros critérios gerais que envolvem aspectos como facilidade de uso, compatibilidade com outros softwares, dentre outros. Nota-se que a proposta de Bouthillier & Shearer também envolve certa avaliação do grau com que cada sistema de informação auxilia a equipe de IC nas diferentes etapas do processo de inteligência. Novamente, a abrangência da ferramenta escolhida às diversas etapas do processo é um ponto relevante na seleção da tecnologia mais adequada. Dimensão 10: Adequação da Cultura Organizacional Prescott e Miller (2001) afirmam que a Inteligência Competitiva depende fortemente da cultura organizacional. A criação e o uso da inteligência é um processo social. Segundo os autores, esse aspecto é um dos grandes desafios a serem endereçados pela área de inteligência competitiva. Seu objetivo final deve ser buscar integrar as atividades de IC às tarefas diárias de todos na empresa. Para isso, o autor propõe algumas abordagens: (i) Desenvolver um plano promocional para a IC que aumente a consciência dos funcionários sobre a função da inteligência competitiva e comunique os resultados que ela já trouxe para a organização; e (ii) Buscar analisar e compreender que motivos estão por trás da qualidade do fluxo de informações na empresa. Gilad (1989) sugere que a equipe de inteligência deve trabalhar para construção de uma cultura tanto de compartilhamento de informações com a IC, quanto de utilização constante dos produtos da unidade de IC. As sugestões do autor são: (i) Criar uma cultura onde toda decisão e apresentação devam estar calcadas em informações da área de inteligência 63 competitiva; e (ii) Assegurar-se que a utilização do programa de inteligência se torne hábito junto aos executivos do topo. Gilad (1989) sugere ainda que a alta direção e um conjunto de funcionários críticos para a empresa, como engenheiros, cientista e profissionais de marketing sejam orientados e treinados a ajudarem na construção de uma cultura de fluxo livre de informação estratégica. Na pesquisa conduzida por Goshal e Eleanor (1991) um dos problemas mais citados pelos entrevistados foi relacionado à cultura da organização. Da parte dos decisores havia uma propensão a não utilizar as análises geradas pela área de inteligência, ora por um excesso de autoconfiança dos decisores que desconsideravam seus competidores como ameaças, ora por um estilo natural de alguns decisores de se guiarem quase que exclusivamente por instinto. Além disso, os funcionários também não se mostravam propensos a compartilhar informações, normalmente por acreditarem que retendo as informações sobre os competidores eles possuiriam uma maior importância dentro da organização. Para Kahaner (1996), parte do trabalho do coordenador de inteligência consiste em educar os funcionários da empresa sobre a importância da inteligência competitiva. Contudo, este trabalho de divulgação falhará se o CEO da empresa não deixar claro que apóia a iniciativa e que esta é importante para a organização. Formalização do macroconstruto ‘Sofisticação da Inteligência Competitiva’ Com base na revisão bibliográfica realizada, o quadro 2.1.3 a seguir apresenta as principais recomendações apresentadas pelos autores para que um processo de inteligência seja considerado sofisticado. Foram identificados também quais os autores que mais influenciaram a inclusão de cada afirmativa no macroconstruto. Quadro 2.1.3. Questões que compõem o macroconstruto e a influência dos principais autores. ATIVIDADES PRIMÁRIAS DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Dimensão 1 > Planejamento de Inteligência VARIÁVEL Usuários-Chave DESCRIÇÃO Deve haver um mapeamento claro de quem são os usuárioschave da Inteligência Competitiva dentro da empresa. Os usuários-chave são os executivos cujas necessidades de INFLUÊNCIA DOS AUTORES KAHANER (1996); HERRING (1999); PRESCOTT E MILLER ; 64 Dimensão 1 > Planejamento de Inteligência informação a IC se propõe a atender Necessidades de Informação As necessidades de informação de cada usuário-chave devem ser regularmente mapeadas e documentadas pela IC. Ou seja, a IC deve ter registrado por escrito quais usuários precisam de quais informações. GOMES E BRAGA (2001) KAHANER (1996); HERRING (1999); LAACKMAN, SABAN E LANASA (2000); PRESCOTT E MILLER ; GOMES E BRAGA (2001) Os esforços de mapeamento destas necessidades de informação devem ser empregados utilizando alguma metodologia préestabelecida para tal.. Esta pode ser tanto interna, desenvolvida pela própria empresa, quanto externa, disseminada por outros autores no mercado. ROCKART (1979); Pro atividade A equipe de inteligência deve ser pro ativa na identificação de novas necessidades de informação. Antes mesmo que algum usuário-chave solicite, a equipe de IC deve propor antecipadamente novos temas a serem monitorados e analisados, baseando-se no seu acompanhando dos acontecimentos do setor. HERRING (1999); LAACKMAN, SABAN E LANASA (2000) Relevância Sempre que demandada por novas informações, a equipe de IC deve questionar os usuários-chave solicitantes quanto à real importância das informações requisitadas. Deve estar claro para ambas as partes; decisores e analistas de IC, o porquê a informação demandada é relevante para a organização. KAHANER (1996); TYSON (1998); HERRING (1999), PRESCOTT E MILLER (2001); ROCKARD (1979) Utilização de Metodologias HERRING (1999); BISP, SORENSEN E GRUNET (1998) Dimensão 2 > Coleta de Informações Secundárias VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Monitoramento de Notícias Como ponto de partida, os membros da equipe de IC devem examinar diariamente de forma detalhada todas as notícias que possam impactar o negócio no qual a empresa está inserida. KAHANER(1996); TYSON (1998) Amplitude de Fontes A equipe de IC deve fazer uso intensivo de todos os relatórios de mercado, revistas especializadas e bases de dados pagas disponíveis sobre o setor no qual a empresa está inserida. KAHANER(1996); TYSON (1998); FULD (2005) Pesquisa de Mercado Pesquisas de mercado quantitativas e qualitativas constituem poderosos mecanismos de complemento às demais informações secundárias disponíveis e devem ser utilizadas pela IC consistentemente para responder a questões relevantes ao negócio. WALLE (1999) Dimensão 3 > Coleta com a Rede de Inteligência VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Formalização da Rede Interna A equipe de IC deve possuir mapeada de maneira formal a relação de todas as pessoas que, por estarem em contato sistemático com o ambiente externo, podem trazer informações úteis a IC. KAHANER (1996); TYSON (1998) Rede Ativa Um forte sinal de sofisticação da IC consiste no grau de atividade da rede de inteligência. Sempre que tiverem acesso a informações de mercado, os membros da rede devem espontaneamente informa-las à equipe de IC. KAHANER (1996); PRESCOOT E MILLER (2OO1); GOMES E BRAGA (2001) Mecanismos de A equipe de IC deve empregar diversos mecanismos para que a KAHANER (1996); LAACKMAN, SABAN E 65 Dimensão 1 > Planejamento de Inteligência coleta de informações junto à rede de inteligência aconteça de Coleta forma simples e organizada. (Por exemplo: E-mail dedicado da IC, Fórum da IC, Formulários eletrônicos da IC, dentre outros.) LANASA (2000); GOMES E BRAGA (2001) Capacitação da Rede Devem ser realizados com freqüência programas de orientação com a rede de inteligência para capacitar os funcionários a capturar informações relevantes e repassa-las à IC. PRESCOOT E MILLER (2OO1); LAACKMAN, SABAN E LANASA (2000) Reconhecimento e Recompensa A equipe de IC precisa prestar reconhecimento formal àqueles que se destacam na contribuição com informações. Tais reconhecimentos podem incluir: agradecimentos formais da alta direção, prêmios de incentivo, ou recompensa financeira. KAHANER (1996); GOMES E BRAGA (2001) Dimensão 4 > Análise da Informação VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Identificação de Implicações A IC não deve se limitar a filtrar e repassar informações. Esta deve incluir sempre em suas análises implicações de curto, médio e longo prazo para a empresa. GIB E MARGULIES (1991); PRESCOTT E MILLER (2001); GOSHAL E ELEANOR (1991) Recomendações Práticas Em seus relatórios, a IC deve fazer sistematicamente recomendações práticas de ações a serem tomadas pela empresa, indicando responsáveis e prazos. GIB E MARGULIES (1991); PRESCOTT E MILLER (2001) Modelos de Análise Qualitativa Modelos pré-definidos de análise qualitativa auxiliam na sistematização dos esforços de análise e, portanto, devem ser largamente utilizados. (Por ex: Matriz BCG, SWOT, Cinco Forças, Matrizes de posicionamento, Ciclo de vida, ou modelos adaptados pela empresa) GILAD (1989); PRESCOTT E MILLER (2001); FLEISHER E BENSOUSSAN (2002) Modelos de Análise Quantitativa Técnicas de análise quantitativa (Por ex: Estatística, Análise de risco, Séries temporais e projeções, Análise multivariada, dentre outras) ajudam a embasar as conclusões da IC e, portanto, devem ser utilizadas sistematicamente. PRESCOTT E MILLER (2001); FLEISHER E BENSOUSSAN (2002) Cenários de Futuro A metodologia de Construção de Cenários deve ser utilizada consistentemente. Um dos papéis centrais da IC é ajudar a empresa a obter uma melhor orientação para o futuro e, portanto, a equipe de IC deve sempre identificar possíveis configurações para o futuro do ambiente e mapear os sinais que devem ser monitorados. GOSHAL E ELEANOR (1991); PORTER (1992); GODET (1993); ALFREDO E COSTA (2001); FULD (2003) Dimensão 5 > Relatórios e Disseminação VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Portfólio de Produtos A Inteligência Competitiva (IC) deve possuir formalmente mapeado um portfólio de produtos a serem gerados sistematicamente, cada um com conteúdo definido, periodicidade, e responsáveis. PRESCOTT E MILLER (2001); GOMES E BRAGA (2001); Inteligência Competitiva Self-Service Os relatórios preparados pela IC devem poder ser facilmente consultados por todos aqueles da organização que precisarem e possuírem autorização para tal, sem que a equipe de IC precise ser acionada. GILAD (1989); KAHANER (1996) Reuniões Presenciais A equipe de IC deve fazer uso intensivo de reuniões presenciais com seus usuários-chave para apresentar seus relatórios de maior complexidade e relevância estratégica. GILAD (1989); PRESCOTT E MILLER (2001) 66 FATORES DE SUSTENTAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Dimensão 6 > Estrutura Interna VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Definição de um Coordenador Deve estar claramente definido na empresa quem exerce o papel de “coordenador” do processo de Inteligência Competitiva (IC). Empresas com processos mais sofisticados requerem inclusive que esta pessoa esteja alocada em tempo integral a tal atividade. LAACKMAN, SABAN E LANASA (2000); PRESCOTT E MILLER (2001); GOMES E BRAGA (2001) Quantidade de Recursos Humanos Deve haver uma equipe de analistas de inteligência alocados para as atividades de IC na quantidade adequada para que esta possa desempenhar seu papel e trazer valor para a organização. HERRING (1988); KAHANER (1996); PRESCOTT E MILLER (2001) Qualificação dos Recursos Humanos A equipe de IC deve ser composta por profissionais de qualificação diferenciada, combinando características como: excelente raciocínio analítico, excelentes habilidades de comunicação, vasto conhecimento geral e experiência no setor. KAHANER (1996); HERRING (1988); LAACKMAN, SABAN E LANASA (2000); GOMES E BRAGA (2001); PRESCOTT E MILLER (2001) Unidade Interna Recomenda-se que haja na empresa uma “Unidade de IC”, ou seja, uma área ou departamento em sua estrutura organizacional responsável única e exclusivamente pelas atividades de IC. KAHANER (1996); PRESCOTT E MILLER (2001) Localização no Organograma A Unidade de IC deve estar localizada na estrutura organizacional reportando-se diretamente aos seus principais usuários, possuindo assim uma livre comunicação com estes. KAHANER (1996); GOMES E BRAGA (2001) Dimensão 7 > Avaliação e Controle do Processo VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Satisfação do Usuário Devem ser frequentemente realizadas avaliações formais do grau de satisfação dos usuários-chave com relação à IC, identificando seus pontos fortes e pontos de melhoria. FLEISHER (1991); GOMES E BRAGA (2001) Indicadores de Desempenho O próprio processo de IC deve possuir indicadores de desempenho bem definidos a serem acompanhados regularmente. FLEISHER (1991); TYSON (1996) Decisões Influenciadas A IC deve identificar e registrar as decisões de negócio que foram tomadas em decorrência das suas análises e recomendações. KAHANER (1996); SAWKA (2000) Impactos Econômicos A equipe de IC deve realizar avaliações econômicas dos resultados obtidos pela empresa em função das suas recomendações. SAWKA (2000); GOMES E BRAGA (2001) Dimensão 8 > Integração com o Processo Decisório VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Relatórios da IC em Processos Decisórios A maior parte dos relatórios da IC deve ser formalmente utilizada em processos sistemáticos de planejamento. Com isso, garante-se que o esforço da IC será de fato convertido em decisões de negócio. PRESCOOT E MILLER (2001); FULD (2003) Influência do Coordenador O Coordenador da IC deve possuir assento formal nas reuniões periódicas de planejamento e tomada de decisão mais importantes da empresa. KAHANER (1996); TYSON (1998); PRESCOTT E MILLER (2001) Cobrança por A equipe de IC deve atuar insistentemente junto aos seus KAHANER (1996); TYSON (1998); FULD (2003) 67 Dimensão 6 > Estrutura Interna usuários-chave para que suas análises se transformem em Ações Práticas decisões e ações práticas.. Exercícios Decisórios Exercícios do tipo War Game, realizados com a alta direção da empresa, estimulam a tomada de decisões a partir das análises propiciadas pela IC e, portanto, recomenda-se que sejam utilizados periodicamente. FULD (2003) Dimensão 9 > Suporte da Tecnologia da Informação VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Armazenamento e Recuperação de Informações Dentre as soluções tecnológicas recomendadas, a IC deve possuir tecnologia que permita armazenar informações de diversos formatos, disponibilizando mecanismos para classificação automática e rápida pesquisa nos textos dos documentos. BOUTHILLIER E SHEARER (2003); RANGEL (2004); FULD (2002) Automatização da Coleta de Informações Dentre as soluções tecnológicas recomendadas, a IC deve possuir tecnologia que realize coleta e monitoramento automático de notícias, newsletters, websites e dados de mercado. BOUTHILLIER E SHEARER (2003); RANGEL (2004); FULD (2002) Interação com a Rede de Inteligência Dentre as soluções tecnológicas recomendadas, a IC deve possuir tecnologia que disponibilize mecanismos de interação com a rede de inteligência, através de fóruns de discussão e formulários eletrônicos para coleta de informações. BOUTHILLIER E SHEARER (2003); RANGEL (2004); FULD (2002) Portal da Inteligência Competitiva Dentre as soluções tecnológicas recomendadas, a IC deve possuir tecnologia que disponibilize interativamente na Intranet da empresa seus principais relatórios e análises realizadas. BOUTHILLIER E SHEARER (2003); RANGEL (2004); FULD (2002) Dimensão 10 > Adequação da Cultura Organizacional VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Cultura de Compartilhamento Para que a IC se desenvolva mais efetivamente na empresa, o livre compartilhamento interno de informações deve faz parte do dia-a-dia de trabalho de todos na empresa. Não deve haver a crença de que “quem detém informação, detém o poder”. GILAD (1989); GOSHAL E ELEANOR (1991) Compreensão do Papel da IC Os funcionários da empresa em geral devem compreender com clareza qual o papel da IC. Em empresas que detém processos de inteligência sofisticados, os funcionários estão cientes deste papel e julgam a IC como sendo algo de grande importância para a organização. KAHANER (1996); PRESCOTT E MILLER (2001) Integração da IC com a Empresa Os membros da equipe da IC devem estar completamente integrados aos demais funcionários da empresa. GILAD (1989); PRESCOTT E MILLER (2001) 68 2.2. PLANEJAMENTO E CONTROLE Este macroconstruto assume como base o trabalho realizado anteriormente por uma série de autores, seguindo a linha de pesquisa iniciada por Nogueira (1999). Dentre os autores que operacionalizaram anteriormente o macroconstruto “Formalização do Planejamento e Controle” encontram-se: Soares (2000), Augusto (2001), Taublib (2001), Augustinis (2002), Bahiense (2002), Terra (2003), Deccax (2004), Fontes (2004), Melleti (2005) e Rezende (2006). Segundo Nogueira (1999), a idéia central presente na “Formalização do Planejamento e Controle” reside na forma como as organizações buscam lidar com as variações do ambiente. Mais especificamente, este macroconstruto aborda os mecanismos que são empregados para definição dos objetivos da organização e como as ações necessárias para o alcance destes objetivos são articuladas e controladas. São abordados aspectos como definição da missão e objetivos estratégicos da empresa, comunicação destes objetivos, formalização de projetos de investimento e controle destas iniciativas. Conforme proposto pelos autores supracitados, maiores níveis de sofisticação nestes mecanismos levariam a uma melhor capacidade de adequação ao ambiente e atuação no mercado por parte da empresa. Os conceitos abordados pela linha de pesquisa de Nogueira estão vinculados e derivam diretamente das proposições realizadas pelos autores descritos a seguir: • Ackoff (1983) sugere que as empresas não deveriam focar seus esforços na busca pela previsão exata do cenário de negócios futuro para, assim, desenvolverem as preparações necessárias. Segundo ao autor, a simples preparação da organização para uma situação futura pode alterar o próprio ambiente externo e, conseqüentemente, o cenário futuro previsto. A abordagem proposta consiste na busca pelo controle das variáveis que podem afetar os cenários de negócios futuros ou, quando este não for possível, na capacitação da organização para responder em diversos cenários através de planos de contingência. Esta visão tem como base o foco no controle das ações da empresa, através de um ciclo de aprendizado e adaptação ao invés de previsão e preparação. • Barney (1986) propõe que a vantagem competitiva reside em alguns dos recursos existentes na empresa, caracterizados por seu capital humano, físico e organizacional, e que permitem explorar oportunidades e anular ameaças. Segundo o autor, a função da alta gerência é a de identificar oportunidades e ameaças e explorar os recursos 69 disponíveis, analisando quatro de seus atributos que são o seu valor, a sua raridade, a capacidade de sua imitação ou de substituição pelos competidores. • Ansoff & McDonnel (1990) sugerem que a formulação explícita de uma estratégia pode melhorar a performance da organização. O processo de formulação da estratégia define o direcionamento pelo qual a posição competitiva da empresa se desenvolverá, com base nos objetivos perseguidos pela empresa. Os objetivos são regras de decisão de nível mais alto que a estratégia. Após a formulação, o direcionamento resultante deve ser utilizado para gerar projetos estratégicos, através de um processo de busca, focando, inicialmente, em áreas definidas pela estratégia e depois, eliminando e identificando possibilidades que são inconsistentes com ela. Como principais dificuldades para a implantação de um processo sistematizado de planejamento estratégico o autor destaca: a natureza política das relações internas da empresa; a falta de sistemas motivacionais para pensar e agir estrategicamente; a falta de informação sobre a organização e sobre o ambiente; e a falta de talentos gerenciais capazes de formular e implementar estratégias. • Quinn apud Mintzberg & Quinn (1991) buscam apresentar definições padronizadas para os termos estratégia, objetivos, metas, políticas e programas, que normalmente possuem significados distintos para diferentes indivíduos e culturas organizacionais. Complementarmente, os autores apresentam uma perspectiva histórica para a discussão de estratégia e listam os fatores críticos para o sucesso de estratégias eficazes. Estes seriam: metas claramente definidas, decisivas e atingíveis como um todo; liberdade de ação; exercício do poder no lugar e tempo apropriado; flexibilidade e capacidade de manobra; liderança comprometida para cada uma das principais metas; surpresa através do uso de velocidade, segredo e inteligência para atacar oponentes expostos; e garantia de bases de recursos e de todos os pontos vitais da operação para a empresa. • Andrews apud Mintzberg & Quinn (1991) discutem o conceito de estratégia corporativa, separando os processos de formulação e de implementação. A estratégia corporativa é definida como um processo organizacional, em muitos casos inseparáveis da estrutura, do comportamento, e da cultura da empresa em que ocorre. Nesse processo podem ser identificados dois importantes aspectos, inter-relacionados, mas separáveis para efeito de análise, que são a formulação, ou decisão do que fazer, e 70 a implementação, que significa a busca pelos resultados de acordo com a estratégia formulada. Os autores propõem as seguintes etapas para o processo de formulação estratégica: (i) identificação de oportunidades e riscos; (ii) determinação dos recursos materiais, técnicos, financeiros e gerenciais; (iii) identificação dos valores pessoais e aspirações da gerência sênior; e (iv) reconhecimento das responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, o processo de implementação estratégica deve envolver os seguintes itens: (i) estrutura organizacional e seus relacionamentos; (ii) processos e comportamento organizacionais; e (iii) liderança de topo, estratégica, organizacional e pessoal. • Rumelt apud Mintzberg & Quinn (1991) propõem que a estratégia não pode ser formulada ou ajustada às circunstâncias em mutação, sem um processo de avaliação, que se constitui em um passo essencial para o adequado direcionamento da empresa. Esta avaliação, contudo, deve consistir em uma tentativa de se olhar além de fatos óbvios relacionados à saúde de curto prazo da empresa.Deve-se buscar responder se os objetivos são apropriados, se os planos e políticas são adequados e se os resultados obtidos confirmam as premissas sobre as quais a estratégia está baseada. Como critérios propostos para avaliar estratégias e responder a tais perguntas os autores citam: (i) consistência; (ii) consonância; (iii) vantagem; e (iv) viabilidade. • Kaplan & Norton (1992) sugerem que as métricas tradicionais de cunho predominantemente financeiro podem indicar sinais incorretos para a melhoria contínua e a inovação, exigidas pelo ambiente competitivo nos dias atuais. Com base nestas necessidades, desenvolveram o balanced scorecard, nome dado ao conjunto de medidas que proporcionam aos executivos uma visão rápida, porém abrangente de seu negócio, que integra de forma equilibrada medidas de performance não somente financeiras, mas também relacionadas aos clientes, aos processos internos, e às atividades de inovação e melhoria da organização. Estas últimas seriam na verdade os direcionadores da performance financeira futura. • Doyle (1994) afirma que é necessário estar atento a todos os grupos de interesse na definição dos objetivos estratégicos da empresa. Estes devem apresentar um equilíbrio com relação aos interesses dos diversos stakeholders da empresa, como gerentes, acionistas, empregados, sociedade, governo, entre outros grupos. 71 • Kaplan & Norton (1996) sugerem a adoção do balanced scorecard como um novo sistema de gestão estratégica para que as organizações evitem as deficiências dos sistemas de gestão tradicionais, caracterizados pela falta de habilidade para associar a estratégia de longo prazo com as ações de curto prazo. Os autores propõem a adoção de quatro processos de gestão baseados no balanced scorecard que contribuem para o alinhamento entre os objetivos estratégicos com ações de curto prazo. São estes: (i) Traduzindo a visão, que consiste tradução da visão da empresa em um conjunto de objetivos e medidas, acordados entre toda a alta gerência, e que descrevem os fatores de sucesso de longo prazo; (ii) Comunicando e associando, que permite aos gestores uma maneira de garantir que todos os níveis da organização entendam a estratégia de longo prazo; (iii) Planejando o negócio, que permite à empresa integrar o plano de negócio com o planejamento financeiro, utilizando o conjunto de metas definidas para as medidas do balanced scorecard como a base para a alocação de recursos; e (iv) obtendo feedback e aprendendo, que permite que a empresa possa obter aprendizado estratégico e seja capaz de acompanhar a evolução dos resultados de curto prazo do ponto de vista da satisfação dos clientes, dos processos internos e do aprendizado. Com base na revisão bibliográfica realizada, o quadro 2.2.1 a seguir apresenta as principais recomendações propostas que integram o macroconstruto Formalização do Planejamento e Controle, assim como identifica que autores exerceram maior influência sobre cada uma das suas variáveis. Quadro 2.2.1. Questões que compõem o macroconstruto e a influência dos principais autores. FORMALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO E CONTROLE VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Missão e objetivos A missão e os objetivos da empresa devem estar claramente formulados. QUINN, ANDREWS, RUMELT, KAPLAN & NORTON Stakeholders Os objetivos da empresa refletem os interesses de todos os grupos impactados direta ou indiretamente pela empresa. ANSOFF & McDONELL, DOYLE, ANDREWS, KAPLAN & NORTON Comunicação da Estratégia Os objetivos e a estratégia devem ser claramente comunicados a toda a organização. QUINN, DOYLE, ANDREWS, RUMELT, MINTZBERG Plano de Ação As ações a serem executadas para que a empresa alcance os objetivos formulados devem estar detalhadas para implementação. ACKOFF, ANSOFF & McDONELL, QUINN, MINTZBERG, ANDREWS, KAPLAN & NORTON Projetos de Investimento Os projetos de investimento devem ser comparáveis, facilitando assim o processo de priorização e escolha. QUINN, ANDREWS, RUMELT, KAPLAN & NORTON 72 Comparáveis Responsável pelos Projetos Os projetos de investimento devem possuir responsáveis claros que defendem e lideram as suas realizações. QUINN, KAPLAN & NORTON Avaliação Periódica Devem ser realizadas avaliações formais do andamento de todos os projetos de investimento ACKOFF, ANDREWS, QUINN, RUMELT, KAPLAN & NORTON, MINTZBERG Avaliação do Retorno Econômico Os projetos de investimento devem ser avaliados de acordo com o seu retorno econômico levando em consideração o custo de oportunidade do capital empregado KAPLAN & NORTON Avaliação Segundo os Benefícios ao Cliente Os projetos de investimento devem ser avaliados de acordo com o aumento dos benefícios percebidos pelos clientes. KAPLAN & NORTON Avaliação Segundo o Grau de Aprendizado Os projetos de investimento devem ser avaliados de acordo com o grau de aprendizado e inovação que geram para a organização. ACKOFF, MINTZBERG, KAPLAN & NORTON 2.3. DIRECIONAMENTO PARA O FUTURO Este macroconstruto por sua vez trata do nível de sofisticação encontrado nas empresas no que tange a capacidade destas identificarem tendências futuras no ambiente de negócios, escolherem uma posição inovadora neste cenário futuro, definirem a forma como competirão nos mercados escolhidos, e nutrirem as competência essenciais necessárias para serem bem sucedidas no caminho definido. Em suma, empresas mais sofisticadas nestes aspecto possuiriam uma melhor capacidade de construir o futuro desejado, ou seja, de capacitar-se intencionalmente para tal. Organizações com menores níveis de sofisticação tenderiam a a se adaptar ao futuro criado por outras empresas de caráter mais inovador. Assim como no construto anterior, Formalização do Planejamento e Controle, o Direcionamento para o Futuro foi estruturado inicialmente por Nogueira (1999) e vem sendo refinado ao longo de toda sua linha de pesquisa através dos trabalhos dos autores citados na seção anterior. O presente trabalho, toma por base a construção realizada por estes pesquisadores e o operacionaliza em termos bastante semelhantes com os já realizados anteriormente. O trabalho de Nogueira envolve recomendações de uma série de autores de renome que discutem o assunto. Os principais conceitos e idéias trazidos por estes autores são apresentados a seguir. 73 • Abell & Hammond (1979) sugerem que a definição do negócio da empresa deve ser considerada o ponto de partida do planejamento estratégico. Para os autores, em geral, um negócio pode ser definido de duas maneiras: em termos do mercado atendido ou em termos dos produtos ou serviços oferecidos. Freqüentemente é necessário combinar estas duas dimensões para melhor definir o negócio no qual a empresa deseja competir. Trata-se da estratégia “produto-mercado” da empresa. Indo um passo além, os autores sugerem que a definição do negócio considere as três dimensões a seguir: (i) os grupos de clientes atendidos; (ii) as funcionalidades para os clientes, ou seja, a oferta que atenderá às necessidades dos clientes, e (iii) a tecnologia, ou seja, como as funcionalidades serão disponibilizadas. A partir destas três dimensões, as estratégias da empresa de escopo (onde atuar) e segmentação e diferenciação (como competir no escopo definido) poderiam então ser melhor definidas. • Prahalad & Hamel (1990) formalizam o conceito de competência central, que consolidaria as tecnologias e habilidades de produção espalhadas pela corporação e dominadas com maestria. A empresa pode atuar em diversas unidades de negócios oferecendo produtos diferentes que, entretanto, devem compartilhar desta competência central. A inovação viria então da identificação de oportunidades de aplicação da competência central em novos mercados, novos produtos ou para suprir novas necessidades ainda latentes. Esta envolve a definição de produtos centrais que podem ser componentes básicos de diversos produtos finais diferentes, mas que identificam a competência central da empresa de forma coerente. • Posteriormente, Prahalad & Hamel (1994) sugerem que as empresas não devem abandonar a construção de competências centrais, que serão fundamentais para a construção do futuro da empresa, em detrimento da eficiência operacional e de ganhos de curto prazo. Para os autores, a dificuldade de muitas empresas em acompanhar o ritmo acelerado de mudanças se encontra na sua tendência de concentrar esforços em iniciativas que refletem uma extrapolação do passado, como iniciativas de reengenharia, downsizing, redesenho de processos, racionalização de portfólio, entre outras. Apesar de importantes e legítimas, elas são atividades de apoio ao negócio e não de construção das indústrias do futuro. Para os autores, os executivos têm dedicado pouco tempo para observar o ambiente externo, para buscar entender como o mundo será em cinco ou dez anos, e para 74 construir uma perspectiva de futuro compartilhada e testada com seus colegas em detrimento de uma visão pessoal e idiossincrática. Para identificar o grau de preparação das empresas para construir o futuro e liderar, ao invés de se ver forçada a reagir violentamente seguindo competidores, os autores sugerem que os executivos respondam à uma série de perguntas. Dentre elas, pode-se destacar: (i) O ponto de vista dos executivos sobre o futuro é convencional e reativo ou é distintivo e de longo prazo? (ii) A empresa é vista como criadora ou seguidora de regras? (iii) São os competidores que definem a agenda de transformação da empresa ou os próprios executivos com uma visão inovadora criadora de um futuro distinto? • Em artigo posterior, Hamel (1996) afirma que estratégia é na verdade revolução dos paradigmas vigentes nos mercados existentes e enuncia uma série de princípios para que as empresas formulem estratégias realmente revolucionárias. Assim, as empresas são classificadas em três tipos distintos: (i) as que ditam as regras (rules makers); (ii) as que aceitam as regras (rules takers); e (iii) as que quebram as regras (rules breakers), ou seja, estas são as empresas revolucionárias que buscam subverter a ordem industrial vigente. • Davis & Meyer (1999) afirmam que a conectividade, a velocidade e os intangíveis (derivados do tempo, espaço e massa) estão tornando as regras menos claras e redefinindo os negócios e a forma de viver. Neste contexto, os autores sugerem o “embaçamento” (do inglês, blurring) das antigas premissas tradicionalmente assumidas nos negócios pelos executivos. • Hax & Wilde II (1999) sugerem que o modelo de estratégias genéricas de Porter (1986), diferenciando apenas posturas de liderança em custo e de diferenciação, não descreve todas as maneiras pelas quais as empresas podem competir no ambiente atual. Os autores apresentam o Modelo Delta onde incluem também, além das estratégias propostas por Porter, que seriam classificadas como “Melhor Produto”, as estratégias de “Soluções para os Clientes” e estratégias de Lock-In. As três estratégias não são mutuamente exclusivas, podendo ser mescladas, embora representem diferentes formas de se competir. • Shapiro & Varian (1999) destacam o caráter sistêmico da nova economia e afirmam que as empresas não são capazes de fornecer todos os componentes necessários neste 75 contexto. Além de dar atenção aos competidores, as empresas devem também se focar em colaboradores, através de alianças e parcerias. Com base nesses preceitos, apresentam os conceitos de lock-in decorrente de custos de mudança, e de efeito de rede, que é o aumento de valor de um produto ou serviço, proporcional à sua base de usuários. • Hagel III & Singer (1999) propõem a idéia de “desempacotamento” (do inglês, unbundling). Objetivando minimizar os custos de transação, as empresas devem atentar para as novas tecnologias que podem levar indústrias à reconfiguração, como, por exemplo, as redes eletrônicas como a Internet. Neste novo cenário, atividades consideradas anteriormente partes essenciais do negócio da empresa podem ser realizadas por terceiros, o que leva as organizações a se questionarem: Em que negócio estamos realmente? Os autores sugerem que na maioria das empresas existem três tipos distintos de negócio convivendo simultaneamente: (i) relacionamento com clientes, (ii) inovação de produtos, e (iii) infra-estrutura. Apesar de entrelaçados organizacionalmente, cada um desempenha papéis exclusivos, emprega diferentes tipos de pessoas, e tem diferentes orientações econômicas, competitivas e até mesmo culturais. Enquanto empresas tradicionais ainda se esforçam para manter os seus processos centrais juntos, competidores altamente especializados estão surgindo, com a capacidade de otimizar a atividade em que se concentram, e conseqüentemente com grandes vantagens sobre as empresas integradas. Com as pressões da desregulamentação, da competição global, e dos avanços tecnológicos, várias empresas estariam separando os seus negócios. • Christensen et al. (2002) sugerem um modelo que objetiva orientar a criação de novos mercados e modelos de negócio através de inovações disruptivas. Este tipo de inovação deve ser diferenciado das inovações de manutenção, que por sua vez resultariam apenas em melhorias incrementais nos produtos, serviços e modelos de negócios existentes. Inovações disruptivas seriam baseadas na mudança completa do modelo de negócios atual. Segundo os autores, as inovações disruptivas podem levar à criação de novas formas de crescimento sustentável para as empresas enquanto o negócio central ainda está fortalecido. 76 • Day & Schoemaker (2004) ressaltam a importância dos executivos manterem uma visão periférica . Segundo os autores, a parte do ambiente que não está no foco central das empresas está constantemente em mutação. Atenção pró-ativa à periferia pode permitir a solução de pequenos problemas antes que se tornem crises de grandes proporções. Contudo, a limitação de recursos traz uma situação de difícil escolha entre a especialização e a realização de esforços para aumentar o escopo da visão periférica. Neste sentido, os autores sugerem um modelo de cinco estágios para que as organizações realizem “vôos de reconhecimento” em áreas específicas da periferia. As etapas propostas são: (i) definição do escopo: quando é definida a abrangência do campo de visão; (ii) busca: quando acontece a coleta das informações, seja esta especializada em contextos específicos, ou ainda exploratória; (iii) interpretação: quando as informações coletadas ganharão sentido estratégico para os decisores; (iv) ação: quando atitudes relacionadas às informações obtidas serão tomadas; e (v) aprendizado e ajuste: que consiste em um processo iterativo para ajustar de forma contínua o campo de visão periférica da organização para as áreas mais importantes. Com base na revisão bibliográfica realizada, o quadro 2.3.1 a seguir apresenta as principais recomendações propostas que integram o macroconstruto Direcionamento para o Futuro, assim como identifica que autores exerceram maior influência sobre cada uma das suas variáveis. Quadro 2.3.1. Questões que compõem o macroconstruto e a influência dos principais autores. DIRECIONAMENTO PARA O FUTURO VARIÁVEL DESCRIÇÃO INFLUÊNCIA DOS AUTORES Percepção do Cenário de Negócios Futuro Os principais executivos da empresa devem ter uma clara compreensão de que o ambiente de negócios futuro será radicalmente diferente do presente. PRAHALAD & HAMEL, HAMEL, DAVIS & MEYER, CHRISTENSEN, DAY & SCHOEMAKER Visão de Futuro para a Empresa Os principais executivos da empresa devem possuir uma clara visão de como deve ser o negócio no horizonte de 5 a 10 anos. PRAHALAD & HAMEL, HAMEL, DAVIS & MEYER Visão Inovadora A visão de futuro para a empresa deve ser inovadora e única em seu setor de atuação. PRAHALAD & HAMEL, DAY & SCHOEMAKER Reflexão da Visão no Curto Prazo Esta visão está claramente refletida nas ações de curto prazo da empresa. PRAHALAD & HAMEL, DAY & SCHOEMAKER Reputação em Inovação A reputação em inovação é determinante para o sucesso da empresa. PRAHALAD & HAMEL, DAVIS & MEYER, CHRISTENSEN Exploração de A empresa está frequentemente criando novos mercados ABELL & HAMOND, PRAHALAD, HAMEL, DAVIS & 77 Novos Mercados (novos tipos de clientes para seus produtos e serviços). MEYER, HAX & WILDE II, CHRISTENSEN Novos Produtos A empresa conhece exatamente em que categorias de produtos e serviços precisa ser pioneira. PRAHALAD & HAMEL, HAMEL Ameaças ao Modelo Atual A empresa sabe claramente quais são as ameaças ao seu modelo de negócios atual. PRAHALAD & HAMEL, DAY & SCHOEMAKER Parcerias Estratégicas A empresa conhece claramente que parcerias estratégicas devem ser realizadas nos próximos 5 anos. SHAPIRO & VARIAN, HAGEL III & SINGER, PRAHALAD & HAMEL, DAY & SCHOEMAKER Competências Essenciais A organização deve saber claramente quais são as suas competências essenciais. PRAHALAD, HAGEL III & SINGER, DAY & SCHOEMAKER, HAMEL, DAVIS & MEYER, HAX & WILDE II 3. METODOLOGIA Conforme foi abordado na seção “1.2. Objetivos”, este trabalho teve por objetivos centrais os seguintes pontos: • 1. Desenvolver o macroconstruto “Sofisticação da Inteligência Competitiva”; • 2. Descrever o estágio atual da adoção da Inteligência Competitiva nas empresas pesquisadas; • 3. Investigar a relação entre Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro; • 4. Investigar a relação entre Inteligência Competitiva e a Performance Organizacional nas empresas pesquisadas. Naturalmente, pode-se verificar que o primeiro item acima destacado é pré-condição para que os demais sejam endereçados. Sem um instrumento que permita obter uma “medida” coerente acerca da sofisticação do processo de Inteligência Competitiva se torna difícil a quantificação do estágio de adoção da IC nas empresas pesquisadas. Da mesma forma, sem tal instrumento se torna inviável investigar a relação da Inteligência Competitiva com os demais aspectos delineados nos objetivos 3 e 4. 78 Durante o esforço de revisão bibliográfica realizado foram encontrados diversos trabalhos sobre o tema Inteligência Competitiva. Contudo, embora a literatura pesquisada apresente uma série de recomendações que serviram como base para a elaboração do macroconstruto, observou-se que ainda há poucos trabalhos de campo sobre o tema que permitam um entendimento prático sobre o que de fato as equipes envolvidas com Inteligência Competitiva fazem nas suas empresas. Ou seja, muito tem se falado sobre o assunto mas poucos são capazes de dizer de fato como este tema; Inteligência Competitiva, tem sido utilizado em termos pragmáticos pelas organizações. Neste sentido, visando obter um melhor entendimento de como o assunto vem sendo tratado “no mundo real”, optou-se pela condução de uma fase inicial de caráter qualitativo, que auxiliasse inclusive na formatação final do macroconstruto “Sofisticação da Inteligência Competitiva” com um maior nível de refinamento. Nesta primeira fase, foram realizadas entrevistas pessoais em profundidade com os gerentes de inteligência competitiva de 14 empresas de atuação no país, sendo que a maioria destas é considerada por especialistas como sendo referência neste tema no Brasil. Algumas das entrevistas foram realizadas na cidade do Rio de Janeiro (2 entrevistas), enquanto a maioria foi conduzida em São Paulo (12 entrevistas). Foi elaborado um roteiro de entrevistas que tinha por objetivo único guiar a conversa com os gerentes de inteligência apresentando os tópicos que deveriam ser abordados. A estrutura lógica deste roteiro acompanhou a forma como o construto Sofisticação da Inteligência Competitiva foi elaborado, seguindo as 10 dimensões-chave anteriormente identificadas na literatura. A metodologia utilizada no restante deste trabalho tomou por base a linha de pesquisa de Nogueira (1999). Da linha de Nogueira, foram utilizados os macroconstrutos Formalização do Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro. Nesta segunda parte do trabalho, o método quantitativo foi escolhido dado o sucesso obtido anteriormente pela linha de pesquisa em questão, ao alcançar os objetivos traçados, tanto do ponto de vista metodológico, como descritivo. Dessa maneira, a continuação da pesquisa adotou as diretrizes sugeridas por Hair et al. (1998), com o objetivo de responder às perguntas descritas na próxima seção. As seções seguintes desta descrição metodológica detalham a segunda etapa da pesquisa, a parte quantitativa. A realização da fase qualitativa inicial teve por objetivo único propiciar um maior nível de entendimento prático sobre o assunto e auxiliar na construção do macroconstruto Sofisticação da Inteligência Competitiva. 79 3.1. QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS Detalhando os objetivos gerais da pesquisa apresentados anteriormente sob a forma de perguntas, pode-se listar os seguintes itens: • É possível segmentar os participantes da pesquisa de acordo com suas práticas de Inteligência Competitiva, de Planejamento e Controle Gerencial e de Direcionamento para o Futuro? • Qual a relação existente entre a sofisticação do processo de Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e o Direcionamento para o Futuro nas empresas pesquisadas? • Em que extensão Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro interagem entre si na criação de desempenhos superiores, tendo por base a percepção dos executivos entrevistados sobre performance organizacional? 3.2 HIPÓTESES Com o objetivo de responder à primeira pergunta da pesquisa, formularam-se duas hipóteses, apresentadas a seguir sob a forma de hipóteses nulas: • H0,1 – Não existem segmentos estatisticamente diferenciados quanto aos escores fatoriais do Processo de Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro; • H0,2 – Não existem funções de classificação estatisticamente significantes que discriminem as empresas entrevistadas em categorias, de acordo com os fatores definidos; No intuito de responder à segunda e a terceira pergunta, foi necessário formular treze hipóteses adicionais, também apresentadas sob a forma de hipóteses nulas: • H0,3 – O Planejamento e Controle não está relacionado com o Direcionamento para o Futuro nas empresas pesquisadas; 80 • H0,4 – O Planejamento e Controle não está relacionado com as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva; • H0,5 – O Planejamento e Controle não está relacionado com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva; • H0,6 – O Planejamento e Controle não está relacionado com a Performance Organizacional; • H0,7 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva; • H0,8 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva; • H0,9 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com a Performance Organizacional; • H0,10 – As Atividades Primárias da Inteligência Competitiva não estão relacionadas com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva; • H0,11 – As Atividades Primárias da Inteligência Competitiva não estão relacionadas com a Performance Organizacional; • H0,12 – Os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva não estão relacionados com a Performance Organizacional; • H0,13 – O Planejamento e Controle não está relacionado com a Inteligência Competitiva (como um construto único); • H0,14 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com a Inteligência Competitiva (como um construto único); • H0,15 – A Inteligência Competitiva (como um construto único) não está relacionada com Performance Organizacional. 81 A figura a seguir apresenta de forma visual as diferentes hipóteses formuladas que serão testadas nesta pesquisa. Figura 3.2.1. Hipóteses formuladas para a pesquisa. Planejamento Planejamento ee Controle Controle H3 Direcionamento Direcionamento para para oo Futuro Futuro H7 H4 H 14 H8 Atividades Atividades Primárias Primárias da da Inteligência Inteligência Competitiva Competitiva (IC1) (IC1) H 13 H 10 H5 H6 Inteligência Competitiva H 11 Fatores Fatores de de Sustentação Sustentação da da Inteligência Inteligência Competitiva Competitiva (IC2) (IC2) H 12 H9 Performance Performance Organizacional Organizacional H 15 3.3 OS MACROCONSTRUTOS Com o objetivo de validar as hipóteses apresentadas, foram operacionalizados quatro macroconstrutos, estruturados com base no referencial teórico selecionado. Como já foi abordado anteriormente, o construto sobre Inteligência Competitiva foi elaborado a partir das proposições encontradas na literatura específica do tema e aprimorado com base nas constatações obtidas durante a fase qualitativa desta pesquisa. Com base neste trabalho, foram então definidas 41 variáveis, distribuídas ao longo das 10 dimensões identificadas na literatura, que caracterizariam o grau de sofisticação das organizações nas diferentes perspectivas do processo de Inteligência Competitiva. Devido ao grande número de variáveis formulado, o construto de Inteligência Competitiva foi dividido para fins de análise de dados em dois segmentos distintos. O primeiro, chamado de “Atividades Primárias da Inteligência Competitiva”, conforme abordado no início da revisão bibliográfica, compreende as cinco primeiras dimensões identificadas na literatura e consiste nas atividades básicas que devem ser desempenhadas para que informações do ambiente 82 externo sejam coletadas, analisadas e reportadas aos decisores de acordo com as suas necessidades. O segundo, “Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva”, abrange as cinco dimensões seguintes e compreende uma série de aspectos recomendados pela literatura, periféricos às atividades de IC, que maximizariam os resultados proporcionados pela inteligência competitiva. Por conseqüência natural, tais aspectos contribuiriam para a sustentação e perpetuação da prática sistemática da Inteligência Competitiva na empresa. Para que as hipóteses formuladas anteriormente pudessem ser testadas, o construto Inteligência Competitiva foi então reconstruído pela combinação linear dos dois blocos acima citados aplicando-se pesos iguais. Os macroconstrutos Formalização do Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro são evoluções das variáveis presentes nos estudos realizados por Nogueira (1999) e seguido em sua linha de pesquisa por Soares (2000), Augusto (2001), Taublib (2001), Augustinis (2002), Bahiense (2002), Terra (2003), Deccax (2004), Fontes (2004), Melleti (2005) e Rezende (2006). O primeiro foi operacionalizado com maior influência do trabalho realizado por Rezende (2006), e o segundo por Fontes (2004). Estes construtos sofreram pouca alteração dada a atualidade dos trabalhos em questão. Para representar o conceito de Performance Organizacional optou-se pela utilização de um quarto macroconstruto baseado na percepção dos executivos entrevistados ao invés do uso de dados reais de performance das organizações, haja vista a natural dificuldade de se obter este tipo de informação junto aos respondentes. Este macroconstruto traz o conceito de performance balanceada proposto por Kaplan & Norton (1992) e foi utilizado de forma semelhante à operacionalizada por Rezende (2006). Após a construção do instrumento com base nos quatro macroconstrutos apresentados, este foi inicialmente validado com alunos de mestrado e doutorado do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, posteriormente, com dois executivos de empresas que fazem parte do universo estudado. Mais especificamente, o questionário foi testado com duas das empresas que participaram da etapa qualitativa deste estudo. 83 3.4 TIPO DA PESQUISA A pesquisa em questão foi classificada quanto a seus fins e a seus meios, segundo a taxonomia proposta por Vergara (1997). Baseando-se nesta taxonomia, esta pesquisa é exploratória e descritiva quanto aos fins. É exploratória pois apesar do crescente interesse por pesquisas em Inteligência Competitiva, ainda não foram encontrados estudos utilizando técnicas quantitativas multivariadas que busquem avaliar as relações entre a Inteligência Competitiva e os diversos aspectos de gestão e performance em empresas de atuação no Brasil. É descritiva pois apresenta a situação de uso da Inteligência Competitiva na amostra de empresas pesquisada. Quanto aos meios, a pesquisa é bibliográfica e de campo. Bibliográfica, pois faz uso de material publicado e acessível ao público em geral com o intuito de dar base ao método e ao instrumento utilizado. É também uma pesquisa de campo, uma vez que se constitui em uma investigação empírica de dados primários coletados tanto através de entrevistas em profundidade com executivos da área de interesse quanto via um questionário estruturado disponibilizado na Internet. Utilizando ainda o referencial de Bento e Ferreira (1982), a pesquisa pode ser considerada também como preditiva. Isto se dá pois a partir de hipóteses iniciais específicas pode-se utilizar os dados coletados para formação de um quadro geral de como um determinado fenômeno se apresenta dependendo das circunstâncias consideradas. Cabe ressaltar que, neste caso, a pesquisa detecta que certas variáveis estão associadas, não permitindo afirmar que alguma delas consiste na causa da outra. 3.5 UNIVERSO E AMOSTRA Este estudo não tem como universo amostral um grupo específico de empresas que compartilhem de características semelhantes. Por ser um dos primeiros estudos de natureza quantitativa sobre este tema realizado no Brasil, buscou-se direcionar a pesquisa para empresas que possuam atuação no país, independente do seu porte, setor de atuação, ou formato societário. 84 Conforme será detalhado na seção “3.7. Coleta de Dados”, a divulgação da pesquisa foi feita para o maior número de empresas possível utilizando listas de e-mail – como, por exemplo, a lista [email protected], que congrega grande parte dos ex-alunos da Coppead dos seus diferentes cursos –, newsletters de profissionais cadastrados junto a entidades que apóiam estudos em Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento e organizam eventos sobre o tema, além dos contatos pessoais do pesquisador com profissionais responsáveis por processos de inteligência em empresas de diferentes portes e setores. De acordo com a taxonomia proposta por Vergara (1997), esta caracterizou-se como sendo uma amostra não probabilística por acessibilidade, visto que os 77 questionários obtidos no prazo, dos quais 67 puderam ser considerados válidos, não foram selecionados de forma puramente aleatória e foram convidadas a participar todas aquelas empresas que possuíam algum grau de conexão com o assunto ou com a rede de relacionamentos pessoais do pesquisador. Desta forma, os resultados obtidos com os dados coletados não podem ser extrapolados para o universo de empresas de atuação no país. Com relação aos 10 questionários considerados não-válidos para a etapa de análise, pode-se identifica-los da seguinte maneira: • 5 questionários foram descartados pois tratavam de organizações demasiadamente pequenas para que a forma como a Inteligência Competitiva foi operacionalizada no questionário pudesse ser aplicada. Adotamos como critério desconsiderar organizações que possuíssem 3 funcionários ou menos. • 2 questionários foram descartados pois outros respondentes da mesma organização já haviam respondido. Considerou-se então o respondente que pertencia à área dentro da organização que melhor se adequava ao público-alvo desejado. • 3 questionários foram descartados pois fazia pouco sentido aplicar às organizações retratadas por estes os conceitos de Inteligência Competitiva e Performance, pelo menos da forma como estes foram operacionalizados no questionário. Pode-se citar como exemplo as organizações “Justiça Federal de 1ª Instância no Rio de Janeiro” e “Universidade do Estado do Rio de Janeiro”. • Nenhum questionário foi invalidado por falta de respostas. Este tipo de problema era identificado logo após o recebimento dos questionários e o trabalho de 85 acompanhamento junto aos respondentes incluiu contatos posteriores para que estes completassem eventuais questões deixadas em branco inicialmente. 3.6 SELEÇÃO DOS SUJEITOS A unidade de observação (sujeito) desta pesquisa foi o executivo responsável pela área da empresa que faz regularmente o monitoramento e análise do ambiente competitivo das empresas direta ou indiretamente convidadas a participar do estudo (competidores, mercados, etc). Nas empresas que já possuíam em suas estruturas organizacionais uma unidade especificamente destinada às atividades de Inteligência Competitiva o executivo convidado a responder foi o gerente responsável por esta área. Em outras empresas, que ainda não possuíam tal estrutura, o respondente podia ter cargos como Gerente de Planejamento Estratégico, Gerente de Marketing, dentre outros, dependendo da área que assumia tal responsabilidade. 3.7 COLETA DE DADOS A coleta dos dados da pesquisa foi realizada utilizando um questionário disponibilizado na Internet. O esforço de coleta de dados contou com uma ferramenta específica para realização de pesquisas via Internet; o QuestMail (www.questmail.com.br). A ferramenta em questão permite a configuração de questionários na Internet em alto nível, sem necessidade de programação, e disponibiliza recursos lógicos para que os respondentes sejam conduzidos a seções específicas do questionário em função de respostas fornecidas a perguntas qualificadoras anteriores. Esta empresa possui política de não cobrar pelo uso da ferramenta em projetos acadêmicos e concordou em fornecer o sistema sem custo para esta pesquisa. No tocante à divulgação da pesquisa, foram utilizados os seguintes mecanismos: • Um e-mail convite, preparado em formato HTML com recursos visuais, que passava todas as instruções necessárias para o preenchimento do questionário, foi enviado à diversas listas de discussão, incluindo a [email protected], que inclui boa parte dos ex-alunos dos diversos cursos da Coppead. 86 • O e-mail convite foi disparado como newsletter aos associados de duas importantes instituições que realizam congressos na área e apóiam pesquisas sobre o tema. As instituições que apoiaram este estudo foram, mais especificamente, a ABRAIC (Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva) e a SBGC (Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento). Além da divulgação para suas listas de e-mail, estas instituições aprovaram a utilização de suas marcas e identidades visuais no e-mail convite como apoiadoras desta iniciativa. • A equipe de assessoria de imprensa da ABRAIC realizou uma entrevista com o pesquisador com foco no estudo em questão e a disponibilizou na home-page de sua página da Internet. A entrevista divulgava a relevância da pesquisa e convocava os leitores à participarem do levantamento. A SBGC colocou na home-page de seu portal uma chamada para o e-mail convite. • A rede de contatos pessoais do pesquisador junto a gerentes de inteligência de empresas de destaque também foi utilizado para divulgar a pesquisa. Estes executivos foram diretamente convidados por meio de contatos telefônicos a participarem do estudo. Com o objetivo de aumentar o número de respondentes da pesquisa, um relatório em formato gerencial com os resultados da etapa qualitativa desta pesquisa foi prometido como incentivo àqueles que respondessem ao questionário. Frisava-se no e-mail convite que este relatório seria enviado imediatamente após a finalização do questionário. Foram realizados contatos de acompanhamento através de telefonemas e mensagens de e-mail durante o período de coleta de dados. Um número reduzido de páginas do relatório gerencial supracitado era enviado aos respondentes visando despertar o interesse destes e, assim, estimular sua participação. Segundo outros pesquisadores do próprio Instituto Coppead de Administração confidenciaram anteriormente à realização deste estudo, conseguir respostas de empresas sobre o tema “Inteligência Competitiva” é de grande dificuldade dada a preocupação excessiva deste tipo de profissional com o sigilo de suas informações. Esta percepção foi de fato confirmada durante o período de acompanhamento. O questionário foi estruturado com a maior parte das respostas em escala ordinal do tipo Likert de seis pontos. Nessas perguntas foram feitas afirmações e as respostas correspondem ao nível de concordância com cada afirmação como descrito a seguir: 87 Figura 3.7.1. Escala Likert utilizada na pesquisa Kerlinger (1964) destaca as escalas de Likert como um tipo específico de escala ordinal, de pontos assumidos como intervalares. Abelson e Tuckey (1970) argumentam que a atribuição de valores numéricos às categorias de uma escala métrica ordinal permite o seu tratamento como se fosse medida como intervalar. Nesta pesquisa, trabalhamos com escala Likert tratada como escala intervalar. A utilização desta escala contendo seis pontos em detrimento de outros valores como cinco ou sete pontos se deve à intenção de garantir o efetivo posicionamento dos respondentes. O questionário foi estruturado em quatro blocos. O primeiro pedia dados gerais do respondente. O segundo apresentava o construto Inteligência Competitiva. O terceiro foi intitulado “Processo Estratégico” para facilitar a compreensão dos respondentes e apresentava os construtos Formalização do Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro. O quarto bloco, “Performance da Organização”, apresentava o construto Performance Organizacional descrito anteriormente. 88 3.8 TRATAMENTO DOS DADOS A análise dos dados obtidos seguiu uma seqüência de procedimentos coerentes, utilizados anteriormente na linha de pesquisa de Nogueira, que permitiram testar as hipóteses formuladas anteriormente. Inicialmente foram realizadas Análises Descritivas dos dados, apresentando suas médias e desvios padrão, através dos procedimentos FREQUENCIES e BASIC TABLES do software SPSS, versão 11. Em seguida, foram realizadas Análises Fatoriais (factor analysis), com o objetivo de condensar as informações contidas nos itens do questionário de cada Macroconstruto em um pequeno grupo de dimensões, denominados fatores. Com a análise fatorial desejou-se obter a natureza e as dimensões latentes das respostas, priorizando a redução da quantidade de variáveis de modo a simplificar as análises multivariadas subseqüentes, exigindo menor esforço computacional. O procedimento utilizado foi o FACTOR do SPSS. Afim de verificar a viabilidade e adequação do emprego da técnica de análise fatorial foram utilizados dois tipos de teste. O primeiro, o teste de esfericidade de Bartlett, fornece a probabilidade estatística da presença de correlações significativas na matriz fatorial. O segundo é a medida de adequação da amostragem (Measure of Sampling Adequacy - MSA) para cada item do questionário e a medida de adequação da amostragem de KMO (KaiserMeyer-Olkin) dos Macroconstrutos, que quantifica o grau de intercorrelações entre os itens, com o objetivo de verificar em que medida um item pode ser previsto sem erro pelo conjunto dos demais. Para Hair et al. (1998), o KMO pode ser interpretado como ótimo para valores superiores a 0,8, boa para valores entre 0,7 e 0,8, razoável para valores entre 0,6 e 0,7, aceitável para valores entre 0,5 e 0,6 e inaceitável para valores inferiores a 0,5. Assim, para a Análise Fatorial de cada macroconstruto foram verificados, para cada item do questionário o valor de seu MSA, as suas maiores cargas na matriz fatorial e a comunalidade com a solução final. Para que um item fosse considerado na análise, ambos o seu MSA e a sua comunalidade com a solução final deveriam possuir um valor mínimo de 0,5. A comunalidade de um item é definida como a parcela de variância que um item original compartilha com todos os demais incluídos na análise. Em outras palavras, a comunalidade de 89 um item é obtida através da soma dos quadrados das cargas fatoriais, o que representa a correlação do item com os fatores. Conforme sugere Hair et al. (1998), o número de fatores extraídos foi decidido pelo critério do autovalor maior do que 1. O autovalor (eigenvalue) é definido como a soma dos quadrados das cargas fatoriais dos itens de um fator. A lógica por trás desse critério é que qualquer fator individual deve conter a variância de pelo menos um único item do questionário para ser retido e interpretado. Como cada item contribui, inicialmente, com um valor de 1 para o autovalor total, somente fatores com autovalor maior do que um 1 foram considerados. Para a interpretação dos fatores, foi aplicado o critério de rotação VARIMAX, que se concentra na simplificação das colunas da matriz fatorial, tornando sua leitura mais clara para o pesquisador. Com base em tal interpretação, os fatores resultantes foram nomeados. Em seguida, foram realizadas Análises de Confiabilidade, tanto para os Macroconstrutos como para cada fator obtido no passo anterior, através do cálculo de seu coeficiente Alpha de Cronbach, que é uma estimativa da correlação entre os valores obtidos por novas aplicações do teste, com o mesmo número de itens do questionário (Carmines & Zeller apud Nogueira, 1999). Segundo Hair et al., são apropriados valores acima de 0,7, entretanto, para estudos exploratórios, valores acima de 0,6 são aceitáveis. Este procedimento foi operacionalizado através do emprego do procedimento RELIABILITY do pacote estatístico SPSS. O quarto passo constituiu-se na aplicação da técnica de Análise de Conglomerados (Cluster Analysis), a partir de um procedimento aglomerativo hierárquico, utilizando o método de Ward. O procedimento computacional utilizado foi o CLUSTER do pacote estatístico SPSS. Em seguida, foi operacionalizado o teste da Hipótese 1, através da realização de uma Análise de Variância Multivariada (MANOVA), tendo como variável independente, de nível de mensuração nominal, o conglomerado (cluster) e como variáveis dependentes os fatores obtidos nas diversas Análises Fatoriais realizadas para os Macroconstrutos da pesquisa. O procedimento permite o teste multivariado da diferença de médias para o conjunto de fatores nos clusters, realizados através dos testes de Pillais, Hottelings e Wilks, cujos valores são convertidos aproximadamente para a estatística F, com a imediata verificação de seu nível de significância. Hair et al. (1998) fornece uma explanação completa do procedimento. Nesta pesquisa, H0 foi rejeitada para p<0,05. Com o objetivo de verificar a significância da diferença da média de cada fator para os clusters extraídos na Análise de Conglomerados, 90 também foram realizados testes F univariados. Ambos os procedimentos foram operacionalizados através da utilização do procedimento MANOVA do pacote estatístico SPSS. Para testar a Hipótese 2, realizou-se uma Análise Discriminante Multivariada, conforme apresentada em Hair et al.(1998). Primeiramente, a técnica foi aplicada para a classificação dos casos nos clusters a partir dos fatores obtidos nas Análises Fatoriais. A rejeição de H0,2 se deu a partir do nível de significância obtido para o coeficiente Lambda de Wilks das funções discriminantes. Adicionalmente, observou-se o percentual de casos originais corretamente classificados pelas funções. O procedimento computacional utilizado para ambas as etapas, será o DISCRIMINANT do pacote SPSS. A seguir, de acordo com o proposto por Hair et al. (1998), utilizou-se a técnica de análise de correspondência, que reduz as dimensões em um gráfico bidimensional que permite verificar as características de cada conglomerado em relação aos fatores obtidos nas análises anteriores, a fim de analisar e interpretar as dimensões e características dos conglomerados. Isso permitiu verificar o perfil de cada conglomerado e nomeá-los em função das características das empresas que os compõem. O último passo consistiu nos testes das hipóteses 3 a 15 (H0,3 a H0,15) realizados através de Análises de Correlações de Pearson utilizando o procedimento CORRELATION do pacote estatístico SPSS. 91 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 ETAPA QUALITATIVA Embora muito venha se falando sobre o tema Inteligência Competitiva atualmente, poucos são aqueles que de fato conseguem materializar a discussão em como este processo tem sido empregado pelas organizações, ou até mesmo defini-la em termos práticos. Neste sentido, durante as entrevistas em profundidade realizadas, buscou-se contrastar as recomendações teóricas dos autores pesquisados com a opinião dos gerentes de Inteligência Competitiva e o que de fato as equipes de inteligência vêm fazendo no seu dia-a-dia de trabalho. 4.1.A. DESCRIÇÃO DA AMOSTRA Foram entrevistados os executivos responsáveis pelas áreas de Inteligência Competitiva de 14 empresas de atuação no país, a maioria delas considerada referência em IC. Naturalmente, os nomes dados às respectivas unidades variavam, mas todos atendiam à conceituação e escopo de um processo de inteligência competitiva, conforme apresentado na revisão bibliográfica. Os nomes mais comuns para as áreas abordadas eram: Inteligência Competitiva, Inteligência de Mercado e Inteligência Estratégica. Além das informações específicas obtidas acerca de cada uma das dez dimensões abordadas, a amostra foi caracterizada a seguir de acordo com algumas variáveis básicas que auxiliam a melhor descrevê-la. As empresas foram caracterizadas de acordo com seu porte, área de atuação, foco e objetivo da IC e tempo de existência da unidade de inteligência. Porte e áreas de atuação das empresas Em termos de faturamento, a amostra de empresas contemplou empresas de diferentes níveis, sendo que a maioria delas, cerca de 70% da amostra, ultrapassou a barreira de US$ 500 milhões de receita bruta. Além disso, analisando o número de funcionários, percebe-se que foram pesquisadas apenas empresas de grande porte, que possuíam mais de 500 funcionários. 92 Figura 4.1.1. Porte das Empresas Participantes Segundo Faturamento e Número de Funcionários (Fonte: Banco de Dados EXAME Maiores e Melhores) Empresa Setor de Atuação Número Aprox. de Empregados Não Divulgado (*) Petróleo e Derivados 1500 Vivo Telefonia 6000 TIM Telefonia 9000 Camargo Correa Conglomerado 32400 Unilever Bens de Consumo 13000 Klabin Produção de Papéis 7000 1300 (1) ComGás Distribuição de Gás 800 1300 (1) Alcoa Produção de Alumínio 4500 1200 Itaú Seguros Seguros 1500 1000 Bayer Farmacêutica 1500 600 Não Divulgado (*) Financeiro 2500 Não Divulgado (*) Accor/Ticket Serviços Diversos 600 150 (1) Red Bull Bebidas Premium 500 130 (3) Não Divulgado (*) Indústria de Saúde Animal 500 Faturamento Aprox. 2005 (US$ milhões) 7000 ( 1 ) 6500 4600 3700 2500 80 (1) (1) (2) (1) (1) (2) (1) (1) (3) (*) Divulgação não autorizada pelo entrevistado Fontes: (1) Exame Melhores e Maiores, (2) Relatório Anual da Empresa, (3) Estimativas realizadas com base em dados públicos disponíveis na Internet Foco e escopo da Inteligência Competitiva Durante o processo de pesquisa, percebeu-se que a atividade de Inteligência Competitiva pode ter diferentes tipos de foco. Na maior parte das empresas entrevistadas, a IC estava associada aos processos comerciais da organização, ou seja, possuía forte ligação com divisões de Marketing e Vendas, e buscava provê-los de informações úteis para processos decisórios de planejamento de vendas, lançamento de produtos, precificação, gestão de canais, dentre outros. Um outro grupo de entrevistados possuía unidades de inteligência competitiva destinados a atender a organização como um todo e, portanto, estas tinham um foco de atuação corporativo. Por fim, a atividade de inteligência competitiva de uma das empresas entrevistadas estava atrelada à sua área de suprimentos e buscava abastecê-la com informações estratégicas para subsidiar o processo de negociação e aquisição dos insumos mais relevantes. A figura 4.1.2. a seguir ilustra a distribuição da amostra de empresas de acordo com o foco de atuação de cada área de inteligência. 93 Figura 4.1.2. Distribuição da Amostra por Foco da Inteligência Competitiva (14 Respondentes) Suprimentos 1 Corporativo 5 Comercial 8 As empresas também foram segmentadas de acordo com o escopo das suas atividades. Enquanto algumas unidades apresentavam um escopo mais estratégico, com atividades atreladas aos ciclos de planejamento de longo prazo da organização, outras possuíam um enfoque mais tático, visando auxiliar planejamentos de áreas funcionais. As classificações utilizadas estão descritas a seguir: Escopo Tático: Atividade de inteligência voltada para informações de menor valor agregado, que auxiliam a empresa nos seus desafios de curto e médio prazo. É comumente conhecida como Inteligência de Mercado, ou Inteligência de Compras, e é utilizada como insumo para o planejamento de vendas, produto, suprimentos, operações, dentre outros planos funcionais, Escopo Estratégico: Atividade de inteligência relacionada com ciclos de planejamento da organização de médio para longo prazo. As atividades, em geral, compreendem análise de cenários, avaliação de empresas para aquisição, análise de oportunidades de novos negócios, e geração de relatórios variados que abastecerão os executivos que participam e aprovam o planejamento estratégico da empresa. Escopo Híbrido: Atividade de inteligência que mescla a utilização de informações táticas com processos de planejamento de longo prazo. Normalmente, estas informações táticas servem de insumo para decisões estratégicas e são parte importante de um processo de planejamento estruturado. 94 As figura 4.1.3. a seguir ilustra a distribuição das empresas entrevistadas segundo este critério. Figura 4.1.3. Distribuição da Amostra por Escopo da Inteligência Competitiva (14 Respondentes) Estratégico Híbrido 2 4 Tático 8 Tempo de existência da área de IC Naturalmente, todas as empresas abordadas já possuíam áreas de inteligência competitiva. Todas as unidades pesquisadas já existiam há pelo menos 2 anos. A figura 4.1.4 a seguir ilustra a distribuição da amostra por tempo de existência de uma área formal dedicada às atividades de inteligência. Figura 4.1.4. Distribuição da Amostra por Tempo de Existência da Unidade de IC (14 Respondentes) Entre 2 e 3 M ais de 5 anos 6 empresas anos 1 empresa Entre 3 e 5 anos 7 empresas 95 4.1.B. ANÁLISE DA AMOSTRA SEGUNDO AS DIMENSÕES DE SOFISTICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Durante cerca de 2 horas os executivos responsáveis pela IC das empresas estudadas foram entrevistados. O roteiro de entrevistas abordou aspectos como a história de como as áreas foram criadas e a forma como estes executivos endereçam cada uma das 10 dimensões-chave de sofisticação da IC, apresentadas anteriormente na revisão bibliográfica. Os executivos foram questionados sobre a forma como o processo de IC é planejado em suas empresas, sobre as iniciativas utilizadas para construção da rede de inteligência, os mecanismos adotados para avaliação do processo de IC, a utilização de sistemas de informação, dentre outros. Foi possível obter uma visão real e prática de como algumas das principais empresas neste assunto vêm adotando a Inteligência Competitiva. Percepção esta que, naturalmente, a revisão bibliográfica sozinha não poderia fornecer. Serão apresentadas a seguir, as principais constatações e conclusões obtidas em cada uma destas 10 dimensões. Buscou-se contrastar as práticas observadas nas empresas com as recomendações dos principais autores apresentadas na revisão bibliográfica. Atividades Primárias da Inteligência Competitiva (Dimensões 1 a 5) Dimensão 1: Planejamento de Inteligência O Planejamento da IC é responsável pelo direcionamento do processo de inteligência na organização. O ponto central desta dimensão recai sobre as necessidades de informação que serão atendidas (KAHANER, 1996; HERRING, 1999; LAACKMAN, SABAN E LANASA, 2000; PRESCOTT E MILLER, 2001 e GOMES E BRAGA, 2001). Empresas com processos de IC sofisticados possuem um entendimento claro de quem são seus usuários-chave dentro da organização, sabem quais são suas necessidades de informação, e empregam abordagens sistemáticas que garantem a atualidade e relevância destas. Com base nas recomendações propostas pela literatura, pudemos observamos que a maior parte das empresas entrevistadas já se encontrava bastante avançada no seu planejamento de inteligência, enquanto algumas ainda apresentavam um grande potencial para melhoria neste aspecto. 96 Todas as empresas abordadas afirmaram saber claramente quem são seus usuários-chave. Contudo, enquanto algumas empreendem esforços formais para mapeamento antecipado das necessidades de informação destes usuários-chave, outras ainda não adotam tal prática. Este segundo grupo opta por reconhecer as necessidades de informação no próprio dia-a-dia de trabalho, à medida que os usuários as manifestam. Como conseqüência, na maioria destes casos, a unidade de IC precisa destinar grande parte do seu tempo atendendo a solicitações pontuais dos usuários, mais conhecidas por “solicitações ad-hoc”. As empresas que se destacam neste aspecto não só realizam este mapeamento antecipado de necessidades, mas também o fazem utilizando alguma metodologia pré-estabelecida, exatamente conforme proposto por Rockart (1979); Herring (1999) e Bisp, Sorensen e Grunet (1998). Estas podem ser metodologias próprias da organização, ou outras mais conhecidas como, por exemplo, o método de Key Intelligence Topics, proposto por Jan P. Herring (1999). O gráfico abaixo aborda a utilização de metodologias no mapeamento antecipado de necessidades. Figura 4.1.5. Utiliza alguma metodologia para mapeamento das necessidades de informação? (14 Respondentes) Sim, metodologia KIT; 1 Nenhuma; 8 Sim, metodologia adaptada; 5 Quando questionado se não se preocupava em estar investindo uma grande parte do esforço da sua área atendendo a solicitações ad-hoc, um dos entrevistados reconheceu que, de fato, em um cenário ideal, gostaria de ter todas as suas demandas já previamente mapeadas. Assim, haveria mais tempo para propor novidades pro ativamente. Contudo, o entrevistado argumentou que atender a solicitações ad-hoc não é algo a ser totalmente evitado. Para ele, é necessário criar um equilíbrio entre demandas sistemáticas e pontuais. “Meus usuários-chave são os membros do conselho da empresa. Raramente receberei alguma solicitação que não seja de fato crítica para o futuro 97 negócio. Portanto, se minhas análises são feitas sob demanda, tenho a certeza de que serão utilizadas e consideradas na tomada de decisão. Se a unidade de IC fica inventando muito relatório sistemático para entregar, corre o risco de produzir papel que vai parar na gaveta, ou melhor, na caixa de e-mail dos decisores sem ser lido.” Uma outra empresa entrevistada empregou uma abordagem mais formal e apoiada por metodologia para mapeamento das necessidades de informação. Quando iniciou a área de IC na empresa, há 5 anos, o entrevistado disse ter conhecimento quase nulo sobre o assunto e precisou buscar capacitação em congressos, treinamentos e consultorias. Tomou conhecimento da metodologia de Key Intelligence Topics e adotou-a na organização realizando uma série de entrevistas bem estruturadas com todos os Vice Presidentes da empresa e com o middle management que atendia a estes VPs. “Tínhamos todo um roteiro de entrevistas. Mas o ponto mais importante não podia ser mais simples. Perguntávamos: Que informação você precisa? Escutávamos e em seguida questionávamos: Por que você precisa disso? Me descreva na prática como você utilizaria esta informação caso eu a entregasse? Com isso, eu cortava o trabalho desnecessário antes mesmo que este fosse criado e evitava mais ‘information overload’ para os decisores, o que, afinal, tinha sido o principal motivo para estruturarem a área de IC.” Além da utilização de metodologias, o relato acima corrobora com as recomendações de Kahaner (1996); Tyson (1998); Herring (1999), Prescott e Miller (2001) e Rockard (1979) de que a equipe de IC deve sempre questionar os usuários-chave quanto à real importância das informações demandadas, assegurando dessa forma que a IC só atenda a necessidades de informação de elevada relevância. Outro aspecto relevante para o planejamento da IC diz respeito ao grau de pro atividade apresentado pela equipe de inteligência na identificação de novas necessidades de informação (HERRING, 1999; LAACKMAN, SABAN E LANASA, 2000). Ou seja, antes mesmo que algum usuário-chave solicite, a equipe de IC deve ser capaz de propor pro ativamente novas necessidades de informação relevantes a partir do seu conhecimento da organização e do setor. 98 O relato de uma das empresas estudadas ilustra uma forma bastante particular de como esta pro atividade pode se manifestar na prática. Quando assumiu o cargo de gerente da área de inteligência, que acabara de ser criada, o executivo entrevistado iniciou um processo de mapeamento de necessidades de informação de uma maneira bem menos formal do que a adotada pela empresa citada anteriormente, mas não menos sistematizada e eficaz. “Quando entrei, a empresa mal tinha controle dos seus processos internos e resultados. Senti que os gerentes das outras áreas também estavam um tanto quanto perdidos. A empresa tinha passado por um período de crescimento agressivo e, com a chegada de uma série de concorrentes no mercado brasileiro, a situação tinha definitivamente saído da zona de conforto. Percebi que se eu tentasse marcar reuniões formais e perguntar a eles ‘Que informação você gostaria de ter?’ não voltaria com nada de útil. Provavelmente nem eles sabiam ao certo que informação precisavam. Parti para uma estratégia mais informal. Comecei a entrar no dia-a-dia do processo de cada um, entendendo os maiores problemas de cada área e me propondo a ajudar em tudo que eu pudesse. As pessoas perceberam que eu tinha vindo para ajudar e que podiam contar comigo. Depois, a aceitação do trabalho de inteligência foi unânime. Como resultado desse processo, não precisei perguntar quais eram as necessidades de informação, eu as reconheci e senti na pele tentando ajudar os outros gerentes e diretores nos seus trabalhos.” Dimensão 2: Coleta de Informações Secundárias Conforme proposto por Kahaner (1996), foi considerada como informação secundária toda aquela que sofreu algum tipo de tratamento a partir do seu formato original, ou seja, da forma como se encontrava quando foi extraída da fonte inicial. Utilizando este conceito, são exemplos de informações secundárias: notícias relatadas por jornais e revistas, relatórios e publicações especializadas do setor, bases de dados específicas, e, até mesmo, pesquisas de mercado, visto que os dados coletados junto aos entrevistados foram consolidados e tratados antes da sua utilização pela IC. A coleta de informações secundárias parece ser o primeiro passo adotado pelas empresas que pretendem desenvolver seus processos de IC. Mais especificamente, o uso de clippings de 99 notícias seria o ponto “básico” em um processo de inteligência (KAHANER, 1996; TYSON, 1998). Contudo, adicionalmente aos clippings, há uma série de fontes secundárias que podem ser de grande valia à Inteligência Competitiva. O que diferencia as empresas sofisticadas das iniciantes neste aspecto é o grau de abrangência das fontes utilizadas e o nível de sistematização e continuidade com que a coleta de informações secundárias é realizada. Empresas sofisticadas nesta dimensão não só examinam jornais e revistas diariamente à procura de informações relevantes, como também fazem uso intensivo e sistemático de todos os relatórios do setor, revistas especializadas e bases de dados disponíveis e que sejam de fato relevantes para as atividades da IC em questão (KAHANER, 1996; TYSON, 1998 e FULD, 2005). Observamos que a maioria absoluta das empresas estudadas demonstrou estar bem desenvolvida neste quesito. Esta parece ser uma dimensão que não envolve grande complexidade e já foi vencida por grande parte das empresas que possuem processos de IC desenvolvidos. A figura a seguir mostra os principais tipos de informação secundária consumidos pela amostra pesquisada. Figura 4.1.6. Utilização de informações secundárias por tipo (# de citações espontâneas) (14 Respondentes) 3 4 11 10 Clipping Relatórios de Mercado 2 Não Utiliza Utiliza 12 Base de Dados do Setor Embora praticamente todos os entrevistados reconheçam que as informações de maior valor para a IC não são as secundárias, mas sim as primárias obtidas junto à rede de inteligência, os executivos afirmaram que as informações secundárias também são relevantes e precisam ser monitoradas. Como um dos entrevistados disse: “Não é algo que vai diferenciar a sua IC dos outros, mas você precisa fazer. É apenas um direcionador. Você vê um indício de alguma coisa e então 100 direciona sua rede de inteligência para aprofundar o entendimento sobre este assunto.” Para a maioria das empresas, quando a informação sai na grande mídia, esta já está “velha” e todos os players mais competitivos do setor provavelmente já a detinham anteriormente. Embora quase todas empresas entrevistadas possuam soluções de clipping, o maior valor dentre as informações secundárias vem dos relatórios de mercado especializados e das bases de dados específicas às áreas de atuação das empresas. Estas informações são normalmente pagas e algumas vezes representam elevados custos para a área de inteligência. Uma das empresas estudadas, que demonstrou fazer uso intensivo de relatórios e bases de dados especializadas, possui sua IC focada no processo de suprimentos e disse investir uma quantidade significativa de recursos neste tipo de informação. “Ao contrário das áreas de vendas, as informações secundárias são muito importantes para nós, focados em suprimentos. Nosso mercado fornecedor é global e compramos de empresas de diversos lugares do mundo. Assinamos bases de notícias especializadas, cotações de commodities e perfil de empresas. Eu diria que as informações secundárias são tão importantes quanto as primárias. Para o comprador, que está no campo negociando, informação é a principal arma. Se ele não souber refutar uma informação citada terá que engolir o que o fornecedor está dizendo. Se um único comprador conseguir um desconto de 2% a 3% em uma simples transação significa que já pagamos com sobra todo o custo anual que temos com estes serviços de informação. Podemos hoje, por exemplo, buscar uma informação de que o fornecedor está sendo processado por multas ambientais. Estas são, sem dúvida, informações importantes na negociação e isso pode agregar valor.” Corroborando com a colocação de Wallee (1999), um outro item que pôde ser constatado nas entrevistas como sendo relevante e normalmente utilizado pelas áreas de inteligência é a contratação, ou condução interna, de pesquisas de mercado. Mais de 70% da amostra afirmou conduzir pesquisas frequentemente para responder a questões de negócio específicas que normalmente surgem. Como sinal da importância da pesquisa de mercado para a IC, observamos que em algumas empresas as áreas de inteligência e pesquisa eram anexas, 101 respondendo ao mesmo superior. Em outros casos, a unidade de pesquisa se encontrava subordinada à área de IC. Algumas áreas de inteligência foram inclusive originadas como uma extensão de escopo de áreas de pesquisa de mercado já existentes na empresa. O relato de uma das entrevistadas, cuja área hoje possui o nome de Gerência de Inteligência Competitiva e era inicialmente uma unidade de pesquisa de mercado, ilustra bem este ponto. “Quando cheguei na empresa, me chamaram para ser Gerente de Inteligência Competitiva mas a área era na verdade uma unidade de pesquisa de mercado. Não há dúvidas de que para o nosso negócio a condução de pesquisas de mercado é crucial. Fazemos pesquisa com uma enorme freqüência. Mas faltava uma cultura mais orientada para análise competitiva. Fomos agregando as atividades mais específicas de IC aos poucos. Desenvolvemos a IC, mas não perdemos a competência em pesquisa. Possuo uma equipe especializada em pesquisa, inclusive com estatísticos focados no assunto. Além disso, contratamos também alguns outros tipos de levantamento de informações pouco usuais, como o método de mystery shopper, no qual alguém assume papel de cliente, consumindo produtos ou serviços de um concorrente, para se obter informações.” Dimensão 3: Coleta com a Rede de Inteligência A Rede de Inteligência é composta pelo conjunto de pessoas que, por estar em contato freqüente com o ambiente competitivo da empresa, tem acesso a informações potencialmente úteis à IC (KAHANER, 1996; PRESCOOT E MILLER, 2OO1; GOMES E BRAGA, 2001). A rede pode ser composta por pessoas internas à empresa, de áreas como vendas, assistência técnica, compras, P&D, produtos, dentre outras, ou externas à empresa, como consultores, clientes, parceiros, fornecedores, etc. Por virem diretamente do campo, as informações obtidas com a rede de inteligência são consideradas primárias. Rumores sobre um novo produto a ser lançado pelo concorrente, uma nova política de preços, uma aquisição em progresso... Estes são alguns exemplos de informações que podem ser obtidos com a rede. Dependendo do foco dado à IC (suporte ao processo de vendas, de suprimentos, desenvolvimento de novos produtos, fusões & aquisições, etc), os funcionários que integram a 102 rede serão oriundos de diferentes áreas da empresa. Corroborando com Moss (1979), podemos constatar no gráfico abaixo que a equipe de vendas parece ser o principal grupo utilizado para a rede de inteligência. Figura 4.1.7. Pessoas mais utilizadas nas redes de inteligência (# de citações espontâneas) (14 Respondentes) Vendedores 9 Funcionários em geral 6 Compradores 2 Equipe de Distribuição de Amostras 1 Front-Desk 1 Equipe de Tecnologia 1 Externos: Analistas de Mercado 1 Externos: Consultores 1 Foi consenso entre os entrevistados que a informação primária coletada junto à rede de inteligência é a que tem maior importância para a IC. O relato de um dos entrevistados ilustra este ponto. “A informação secundária pública está disponível para todos. A mesma notícia, relatório de mercado, ou base dados que eu vejo, o meu concorrente vê também. Até a pesquisa de mercado que eu contrato, ele pode contratar e obter resultado semelhante. Mas a informação que eu obtenho diretamente com as pessoas do meu negócio, que estão no campo, esta sim pode me fornecer uma vantagem.” Empresas sofisticadas nesta dimensão possuem suas redes formalmente mapeadas (sabem que pessoas compõem a rede e quais são suas principais características), e a rede é atuante fornecendo informações à IC de forma ativa e constante (KAHANER, 1996; TYSON, 1998; PRESCOOT E MILLER, 2OO1 e GOMES E BRAGA, 2001). Além disso, possuem uma série de mecanismos bem formulados que viabilizam e estimulam a coleta de informações primárias, incluindo meios de comunicação com a rede e programas de capacitação e reconhecimento (KAHANER, 1996; LAACKMAN, SABAN E LANASA, 2000; GOMES E BRAGA, 2001 e PRESCOOT E MILLER, 2OO1) 103 Analisando nossa amostra, constatamos que esta foi uma das dimensões onde as empresas ainda apresentaram as maiores oportunidades de melhoria. Um pequeno grupo de empresas parece ser exceção e se encontra bem avançado no desenvolvimento das suas redes de inteligência. As demais ainda parecem ter um caminho significativo a percorrer neste aspecto específico. O gráfico a seguir ilustra a distribuição das empresas pesquisadas segundo o grau de desenvolvimento de suas redes de inteligência, de acordo com os seguintes critérios de classificação, propostos por Tyson (1998). Figura 4.1.8 Grau de desenvolvimento da rede de inteligência das empresas (14 Respondentes) Critérios: Incipiente; 5 Avançada; 3 Incipiente: Não há rede de inteligência formalmente mapeada e o nível de coleta de informações junto aos funcionários da empresa é pouco expressivo. Em Desenvolvimento: Há algum mapeamento das pessoas que poderiam contribuir com informações, mas a coleta ainda é feita de forma esporádica e pontual. Em Desenvolvimento; 6 Avançada: A rede está mapeada, é sistematicamente atuante, e existem programas de feedback, treinamento e incentivo à contribuição de informações. Esta parece ser uma das dimensões de maior dificuldade de desenvolvimento. Os entrevistados apontaram a dificuldade de estabelecer uma cultura propícia ao livre compartilhamento de informações como sendo o principal obstáculo. Por outro lado, parece que as empresas que criaram mecanismos que melhoram a comunicação com a rede e a capacitam a contribuir com informações têm obtido melhores resultados. Os principais mecanismos observados nas empresas que possuem redes em estágio avançado de desenvolvimento foram: • Canais de comunicação direta com a IC, como, por exemplo, e-mail da IC, linha direta da IC, formulários eletrônicos para coleta direcionada e PDAs (Personal Digital Assistant) para coleta diretamente no campo, corroborando com Kahaner (1996); Laackman, Saban e Lanasa (2000) e Gomes e Braga (2001); 104 • Treinamentos e práticas motivacionais junto à rede de inteligência, corroborando com Prescott e Miller (2OO1) e Laackman, Saban e Lanasa (2000); e • Feedback por meio do reconhecimento formal àqueles que mais contribuíram com informações relevantes, conforme propõem Kahaner (1996) e Gomes e Braga (2001). Para uma das entrevistadas, a rede de inteligência, que é composta por cerca de 100 representantes de venda, responde por 90% das informações coletadas pela área de IC. “Com a mudança dos nossos mercados, começamos a perceber que precisávamos ser mais pro ativos, com embasamento em fatos reais, ao invés de permanecer olhando pelo retrovisor. Percebemos que a informação desejada estava disponível dentro de casa com nossos 100 representantes comerciais. Logo de início, percebemos que não havia nenhuma propensão ao compartilhamento de informações e que teríamos problemas para construir nossa rede de inteligência. No início, os vendedores não nos viam como uma ajuda ao seu trabalho, mas sim como um empecilho. Desenhamos alguns formulários eletrônicos que deveriam ser preenchidos regularmente pela equipe de vendas mas, no início, precisamos do patrocínio direto do diretor da área comercial e do próprio presidente da empresa enfatizando que aquele trabalho era obrigatório e condição para permanência no emprego. Fizemos treinamentos contínuos com os vendedores mostrandolhes como utilizar o sistema para preenchimento dos formulários e ensinandolhes técnicas para coleta de informações. Com o passar do tempo, instituímos a figura dos ‘multiplicadores’, que são ex-vendedores que desempenharam um bom papel com a inteligência competitiva enquanto ainda estavam no campo e, agora, assumem o papel do coordenador de IC nas regionais. Uma outra iniciativa de engajamento que estamos utilizando atualmente é a de prestar reconhecimento formal pela contribuição da rede com menções no jornal interno da empresa e, às vezes, quando a informação tem um impacto muito relevante, com mensagens de agradecimento do próprio presidente.” Uma outra empresa que apresentou um bom trabalho no desenvolvimento da sua rede de inteligência ilustra a importância dos mecanismos de comunicação para coleta de informações. O gerente de inteligência percebeu que a área de sampling da empresa, ou seja, a 105 equipe que vai a campo divulgando o produto e oferecendo-o para experimentação, tinha uma abrangência maior nos pontos de venda até mesmo do que grandes institutos de pesquisa. Ao mesmo tempo, ele viu que estas pessoas faziam só o “feijão com arroz”, como mencionou o entrevistado, e raramente traziam informações relevantes do campo de batalha. Como passo inicial, o gerente de IC desenhou o processo de coleta e começou sua implementação. Dentre os mecanismos utilizados para facilitar e estimular a contribuição com informações, cada representante recebeu um PDA, sincronizado com os sistemas internos da empresa, com os formulários de coleta de informações que precisavam aplicar já instalados no dispositivo. “Percebi que podia coletar informações por um custo muito menor do que o que eu pagava pelos relatórios de grandes institutos de pesquisa de mercado. Aliás, eu poderia obter as informações que eu desejasse na hora que quisesse. Assim, estruturamos o processo de coleta e fiz questão de trazer para as reuniões de definição algumas das próprias pessoas que iriam atuar no campo coletando as informações para que elas se sentissem parte deste trabalho. Feito isso, precisei apenas providenciar a tecnologia necessária para que a coleta fosse viável. Além disso, temos também nosso jornalzinho interno que traz os agradecimentos para os representantes que mais contribuíram. Hoje, considero que todas as áreas da empresa são coletoras de informação. Do marketing à contabilidade.” A terceira empresa na qual observou-se um trabalho de desenvolvimento da rede de inteligência bastante avançado mostra a importância dos programas de treinamento e reconhecimento para alavancar o grau de contribuição da rede. “Há atualmente cerca de 140 pessoas que participam formalmente da rede de inteligência. Cem destas são da área comercial da empresa e 40 vem área de tecnologia. Aproveitamos grandes reuniões, realizadas semestralmente, quando toda a equipe comercial se encontra reunida, e aplicamos treinamentos e programas de reconhecimento. Os novos funcionários recebem treinamentos específicos sobre conceitos de IC e coleta de informações em salas menores e, nas plenárias, sempre falamos sobre algum tema de IC que achamos que irá agregar ao trabalho do pessoal. Sempre fazemos premiações 106 aos mais atuantes. Premiamos com livros, canetas, e, ao final, o presidente vai lá pessoalmente e agradece aos que se destacaram. Premiamos os que contribuem com uma quantidade maior de informações. Optamos por não premiar a qualidade da informação, pois achamos que assim iríamos cercear a vontade de contribuir das pessoas. Sempre dizemos: manda tudo que você tiver e a gente vê o que é importante e o que não é. Para você ter uma noção de como isso é valorizado aqui na empresa, o presidente inclusive aprovou que um pequeno percentual da remuneração do pessoal de vendas seja determinado pelo grau de contribuição de informações. Não faz grande diferença no pagamento do final do mês, mas já mostra pro funcionário o quanto levamos isso a sério. ” Dimensão 4: Análise de Informações Conforme proposto pela maior parte dos autores pesquisados, este seria o coração do processo de IC. É a análise das informações coletadas que daria sentido ao processo. Aqui, são derivadas conclusões, articulam-se implicações e são realizadas recomendações. Como um dos entrevistados disse: “Não há inteligência sem análise”. Processos de IC ainda pouco desenvolvidos se limitam a filtrar as informações obtidas e repassá-las aos decisores. Equipes que apenas agrupam, consolidam dados e os repassam para cima não estão fazendo inteligência. No extremo oposto, empresas sofisticadas em análise de IC sempre articulam implicações em seus relatórios (GIB E MARGULIES, 1991; PRESCOTT E MILLER, 2001 e GOSHAL E ELEANOR, 1991), fazem sistematicamente recomendações de ações (GIB E MARGULIES, 1991 e PRESCOTT E MILLER, 2001) e aplicam diversas técnicas e modelos que ajudam a sistematizar o processo analítico e a melhor embasar as conclusões obtidas pela IC (GILAD, 1989; PRESCOTT E MILLER, 2001 e FLEISHER E BENSOUSSAN, 2002). Foi possível observar que a maior parte das empresas analisadas apresenta um bom nível de sofisticação em suas atividades de análise. Mas, naturalmente, há algumas empresas que se destacam neste aspecto e outras que ainda apresentam um maior potencial para melhoria. O ponto essencial do processo analítico em Inteligência Competitiva parece estar sendo bem abordado pela empresas entrevistadas. Todos os entrevistados afirmaram sempre incluir 107 comentários sobre implicações de curto, médio e longo prazo em seus relatórios e também recomendações em termos de ações práticas que deveriam ser tomadas. Mesmo as áreas de inteligência que têm como parte de suas responsabilidades consolidar dados, como o marketshare da empresa, por exemplo, não se limitam a apenas reportá-los. As informações são analisadas, possíveis causas dos desvios são identificadas e implicações são articuladas. Contudo, no que tange as técnicas e modelos utilizados para se chegar a tais conclusões e recomendações, percebemos diferenças de comportamento na amostra. Algumas empresas empregam um amplo portfólio de técnicas e modelos, combinando modelos de análise qualitativa, técnicas quantitativas, modelos econômico-financeiros e metodologias de cenários prospectivos, enquanto outras decidiram focar em um número menor de técnicas analíticas. O primeiro grupo de técnicas abrange os modelos de análise qualitativa, como, por exemplo, matrizes de análise de portfólio (BCG, GE-McKinsey), SWOT, cinco forças, cadeia de valor, ciclo de vida de produtos e indústrias, matrizes de posicionamento, ou até mesmo modelos adaptados pela própria empresa. Conforme proposto por Gilad (1989); Prescott e Miller (2001) e Fleisher e Bensoussan (2002), o uso deste tipo de modelo ajuda a sistematizar e formalizar o processo analítico, trazendo ganho de produtividade aos analistas e evitando que certos aspectos relevantes sejam negligenciados. As empresas entrevistadas citaram utilizar largamente modelos analíticos. Conforme a figura a seguir mostra, 13 das 14 empresas entrevistadas mencionaram utilizar algum tipo de modelo de análise e 9 delas utilizam algum tipo de modelo já existente na literatura de negócios. Figura 4.1.9 Utilização de modelos de análise qualitativa (# citações espontâneas) (14 Respondentes) 1 5 Não Utiliza Utiliza 7 12 13 9 7 2 Qualquer Modelo Modelos Existentes Modelos Adaptados Modelos Próprios 108 A figura abaixo, ilustra os modelos clássicos de análise citados como sendo os mais utilizados pelas empresas. Os modelos SWOT e Cinco Forças foram os mais citados. Figura 4.1.10 Modelos de análise qualitativa mais utilizados (# citações espontâneas) (14 Respondentes) 5 5 5 Não Utiliza Utiliza 10 9 9 13 13 13 1 1 1 Make or Buy Cadeia de Valor Hipóteses Competitivas 9 4 Utiliza Modelos Existentes SWOT Cinco Forças BCG Modelos Utilizados Foi observado também que diversas empresas utilizam adaptações destes modelos tradicionais. O comentário a seguir ilustra bem a necessidade de adaptação dos modelos às particularidades de cada empresa. “Antigamente, a empresa não tinha cultura de usar modelos para estruturar e comunicar as análises. Em um certo momento, criou-se uma onda incrível de se utilizar modelos para analisar as mais variadas decisões. Bastava o departamento precisar comprar uma cafeteira que alguém vinha com uma análise de Porter da indústria de cafeteiras para justificar a compra marca X ao invés da Y. A situação saiu do controle. Hoje, os modelos já estão meio ‘gastos’ na empresa. Se você chegar com um gráfico de Porter em uma reunião o pessoal já comenta: ‘Lá vem aqueles caras da IC com aquelas figuras batidas’. Então, hoje evitamos utilizar os modelos mais clichês e adaptamos aqueles que de fato eram úteis à nossa realidade. Ou seja, estimulamos o uso dos conceitos mais importantes. Alguma parte destes modelos mais famosos até está lá por trás das análises, mas são apresentados de uma forma ‘disfarçada’.” Um segundo grupo de técnicas utilizado pelas empresas contempla a análise quantitativa de dados, como, por exemplo, métodos estatísticos, análise de risco, séries temporais e projeções, 109 análise multivariada, dentre outros. Alguns entrevistados, suportados por parte da literatura disponível sobre IC (TYSON, 1998 e KAHANER, 1996), sugerem que o trabalho do analista de inteligência competitiva envolve predominantemente o tratamento de informações de caráter mais qualitativo, e que técnicas mais sofisticadas de análise quantitativa não trazem muito valor à atividade de Inteligência Competitiva. Contudo, verificamos que, no final das contas, a missão da área de IC é abastecer a alta-direção com análises que melhorem o processo decisório e, portanto, na prática, esta diferenciação entre qualitativo e quantitativo não fica muito clara. Parte considerável dos entrevistados citou utilizar intensamente métodos quantitativos e alguns citaram inclusive possuir sistemas de Business Intelligence (BI), conhecidos por disponibilizar poderosas ferramentas para análise de grandes volumes de dados estruturados. Segundo os entrevistados, a utilização de tais métodos ajuda a melhor embasar as conclusões realizadas pela área, o que corrobora com a colocação de Prescott e Miller (2001) e Fleisher e Bensoussan (2002). Uma das empresas entrevistadas, embora faça pouco uso dos tradicionais modelos de análise qualitativa, utiliza intensamente técnicas quantitativas para suportar suas recomendações, fazendo uso inclusive de métodos mais sofisticados de análise multivariada. “Com base em uma série de variáveis que possuímos acerca dos clientes, utilizamos um modelo de data mining que estima a propensão de compra para cada região geográfica específica. Além disso, identificamos o perfil dos consumidores de cada região e sabemos como estes se dividem em grupos de consumidores de comportamento semelhante (clustering). Com isso, podemos definir estratégias de rentabilização e penetração específicas para cada região a ser prospectada pela empresa.” Por fim, conforme proposto por Goshal e Eleanor (1991); Porter (1992); Godet (1993); Alfredo e Costa (2001) e Fuld (2003), percebemos também a importância da utilização de metodologias de cenários prospectivos. A realização deste tipo de processo analítico permite às organizações identificar possíveis configurações para o futuro do ambiente, mapeando a situação da empresa em cada caso e identificando os sinais de mercado que devem ser monitorados. Como um dos entrevistados disse: “A utilização da técnica de cenários ajuda a trazer um comportamento mais pro ativo para a empresa com relação ao seu futuro. O sucesso da empresa 110 não pode depender do que irá acontecer no ambiente externo. É nossa função antecipar possíveis situações em nosso ambiente e tentar provocar internamente a mobilização necessária para que estejamos preparados para aproveitar possíveis oportunidades e evitar ameaças que possam se configurar.” Seis das empresas entrevistadas citaram utilizar metodologias de cenários em seu portfólio de análises. Contudo, pudemos perceber que, na verdade, a maioria aplica apenas simplificações deste tipo de metodologia. Estas simplificações normalmente não envolvem um processo sistemático para construção dos cenários e não levam em consideração a organização sob uma ótica mais ampla, mas apenas alguns dos seus aspectos específicos. Uma das empresas entrevistadas, que aplica cenários prospectivos já há vários anos de uma forma sistemática e abrangente, envolvendo diversos especialistas e a alta direção da empresa em seu processo, compartilhou com nossa equipe sua metodologia. “Eu diria que o método que nós mais utilizamos aqui é a nossa metodologia de análise de cenários. Tem funcionado muito bem e tem sido o tipo de análise que nossos executivos preferem. O primeiro passo do método consiste em definir o problema específico que queremos analisar. Junto com a definição do problema, definimos o horizonte de análise e, por meio de reuniões de brainstorming, são identificadas e priorizadas as variáveis mais importantes que podem explicar o desenvolvimento dos cenários. Em seguida, identificamos dentro da empresa quem são os especialistas em cada tema relevante e solicitamos que estas pessoas preparem um documento analisando o passado e a situação presente das variáveis de sua especialidade. Às vezes, chamamos consultorias ou especialistas externos para nos ajudar com certos assuntos que não dominamos. Recebidos todos os relatórios, a área de inteligência compila todos os dados, acrescenta informações adicionais e desenvolve os modelos que serão utilizados nos workshops. Neste workshops, os ‘conhecedores’ destas variáveis discutem e produzem os possíveis cenários de futuro. A unidade de IC consolida o relatório final e traça estratégias consistentes para cada cenário. À medida que as estratégias vão sendo executadas, monitoramos as variáveis de impacto, atualizamos os cenários periodicamente, e avaliamos se as estratégias traçadas precisam ser revistas.” 111 Por fim, quando questionadas qual era o coração do processo de inteligência competitiva, parece que a opinião das empresas convergiu: análise, análise, análise. E a busca pela melhoria contínua neste aspecto específico parece também ser unânime. Todas as empresas entrevistadas disseram estar insatisfeitas com seus níveis atuais de análise. Como melhorias, foram citados itens como: enriquecer o portfólio atual com novos tipos de análise, passar a utilizar a metodologia de cenários, passar a utilizar técnicas de text mining, melhorar análises de fusões e aquisições e cruzar os dados quantitativos do BI com dados qualitativos de notícias e relatos dos vendedores. Dimensão 5: Relatórios e Disseminação da Inteligência Este é o momento no qual os usuários-chave do processo de inteligência terão suas necessidades de informação atendidas. O trabalho da equipe de IC se “materializa” através de relatórios, apresentações, boletins, alertas, dentre outros tipos de produtos de inteligência. Não há equipe de inteligência que não tenha que lidar com solicitações pontuais de relatórios, as “solicitações ad-hoc”. Mas processos de IC sofisticados buscam controlar estas demandas criando um portfólio de relatórios sistemáticos, elaborados com periodicidades definidas, que visam endereçar as necessidades mais freqüentes dos usuários-chave. Estes relatórios devem estar formalizados, com sua estrutura, formato, periodicidade, responsáveis pela elaboração e usuários-chave também previamente definidos (PRESCOTT E MILLER, 2001 e GOMES E BRAGA; 2001). O formato destes relatórios deve ser adequado às características do público atendido. Por exemplo, a alta direção provavelmente preferirá relatórios sucintos, de uma página, se possível com gráficos que sumarizem os pontos abordados, enquanto outras áreas terão preferência por relatórios analíticos mais detalhados. Além disso, processos sofisticados buscam minimizar o tempo gasto localizando produtos que já estão prontos e os tornam facilmente disponíveis aos usuários-chave segundo uma abordagem “self-service” (GILAD, 1989 e KAHANER, 1996). O tempo economizado é utilizado em reuniões com os usuárioschave para melhor comunicar as conclusões e recomendações obtidas em relatórios mais relevantes. A utilização intensa de reuniões para comunicação dos relatórios mais estratégicos é também um sinal de sofisticação em IC, em contraposição ao simples envio de relatórios eletrônicos por e-mail (GILAD, 1989 e PRESCOTT E MILLER, 2001). 112 Algumas empresas demonstraram um elevando nível de sofisticação neste aspecto apresentando um grande grau de sistematização na sua disseminação de inteligência. Outras aparentam possuir muito o que melhorar, atuando ainda com pouca formalização na disseminação de seus produtos e sem um portfólio previamente mapeado. Segundo os autores citados anteriormente, possuir um portfólio de relatórios sistemáticos mapeado traz maior previsibilidade para a demanda que a equipe de IC enfrentará, possibilitando que o trabalho da área seja melhor planejado e organizado. Sendo assim, a equipe de IC pode pensar de forma antecipada sobre o melhor formato para cada produto de acordo com o perfil de cada público, definir estruturas padrão que poupem esforço de elaboração e definir responsáveis antecipadamente. Além disso, possuir um portfólio de relatórios sistemáticos permite também que a IC assuma um comportamento mais pro ativo em relação às demandas dos usuários. O relato a seguir ilustra este ponto: “Possuímos um portfólio de produtos que devem ser gerados sistematicamente pela IC. A maioria tem periodicidade pré-definida. Outros são alertas. Os alertas são gerados sistematicamente mas, obviamente, não têm datas marcadas. Por termos montado este portfólio, pudemos fazer uma boa adaptação de cada produto às preferências de cada tipo de cliente interno. Sei exatamente como cada um gosta de receber a informação, e os meus relatórios os atendem da melhor maneira possível.” Como benefício adicional, alguns entrevistados lembraram que os relatórios sistemáticos também ajudam à equipe de inteligência mostrar para a empresa que a IC existe e está trabalhando para gerar valor à organização. Um dos relatos obtidos ilustra este ponto: “Um dos nossos produtos sistemáticos é uma seleção de notícias sobre o nosso ambiente de negócios com comentários dos analistas sobre os impactos que as informações selecionadas têm sobre a empresa. Sem dúvida, não é um produto de valor estratégico. Mas, além de manter os funcionários da empresa um pouco mais ‘antenados’ no que está acontecendo lá fora, este produto também nos ajuda a mostrar que a IC está presente no dia-a-dia. É uma forma de tornar a área de inteligência mais conhecida internamente.” Pedimos às empresas que nos fornecessem uma estimativa do percentual de relatórios sistemáticos em relação ao total de relatórios entregues normalmente. A variância foi 113 significativa. Como o gráfico abaixo mostra, 4 empresas disseram possuir menos de 20% dos seus relatórios sistemáticos e, no outro extremo, 4 alegaram que este percentual seria superior a 60%. Figura 4.1.11 Percentual de relatórios sistemáticos (14 Respondentes) 4 4 Menos de 20% 3 3 Entre 20% e 40% Entre 40% e 60% Mais de 60% Qual o percentual de produtos sistemáticos? Uma prática adicional observada em algumas empresas que pode auxiliar as equipes de inteligência a economizarem o tempo gasto atendendo a solicitações e adotar uma postura mais pro ativa é criar mecanismos self-service para os produtos da IC, corroborando com a proposta de Gilad (1989) e Kahaner (1996). Assim, em alguns dos casos, os usuários podem encontrar sozinhos o que procuram sem precisar acionar a equipe de inteligência. “Muitas vezes o usuário interno não deseja ‘inteligência’ de fato, mas apenas alguns dados que a IC dispõe ou então os resultados de um relatório passado que não consegue localizar. Isso consome o tempo da minha equipe que poderia estar sendo utilizado para analisar informações. Estou implementando uma abordagem self-service. Quero disponibilizar os dados mais solicitados e todos os relatórios já produzidos pela IC de forma que estes possam ser facilmente consultados por quem possui permissão para tal. Espero poder minimizar o número de solicitações ad-hoc com esta iniciativa.” Por fim, conforme propõem Gilad (1989) e Prescott e Miller (2001), observou-se que as empresas mais sofisticadas na disseminação de informações costumam evitar o simples envio dos seus relatórios aos respectivos interessados. Os relatórios de teor mais relevante e estratégico são apresentados pessoalmente pela equipe de IC. Com isso, a equipe de inteligência pode comunicar mais efetivamente suas conclusões e recomendações. Além disso, estas apresentações acabam se tornando reuniões de trabalho, onde IC e usuários discutem impactos e ações necessárias a partir do que foi apresentado. A experiência de um dos entrevistados ilustra a necessidade do contato pessoal na apresentação dos produtos da IC. 114 “Antigamente recebíamos as demandas das áreas usuárias por e-mail e enviávamos os relatórios solicitados da mesma forma. Mas, da solicitação ao envio final, tínhamos todo um trabalho de estudo do problema, coleta e análise, que não sabíamos se tinha sido de fato útil. Em boa parte das vezes, não ouvíamos sobre o resultado deste esforço. Não sabíamos nem qual tinha sido a receptividade do usuário. Hoje, para toda demanda que gere algum trabalho significativo para a IC, marcamos uma apresentação formal com o solicitante. A interação com os usuários melhorou muito e aproveitamos estas apresentações já para discutir os desdobramentos daquilo que foi apresentado.” Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva (Dimensões 6 a 10) Dimensão 6: Estrutura Interna Conforme já abordado anteriormente, toda empresa pratica Inteligência Competitiva, mesmo que sequer conheça o termo. Algumas o fazem com maiores níveis de sofisticação enquanto outras a aplicam com menos sistematização e de maneira mais informal. Naturalmente, empresas que possuem esforços de IC ainda em níveis iniciais de desenvolvimento não precisarão de uma área específica em sua estrutura organizacional para cuidar do assunto. Contudo, conforme preconizam Herring (1988), Kahaner (1996) e Prescott e Miller (2001), organizações que aplicam o processo de inteligência com maior grau de sofisticação precisarão prover os recursos humanos e financeiros necessários para que a IC cumpra o papel que lhe foi destinado. Segundo os autores, a partir de um certo ponto de desenvolvimento do processo, parece ser necessário inclusive estabelecer uma estrutura administrativa dentro da empresa, com pessoal especializado, para que o trabalho possa ser melhor coordenado. Nesta dimensão, Estrutura Interna, empresas sofisticadas em IC normalmente já possuem uma unidade interna de inteligência estruturada, localizada próxima à sua principal área cliente (KAHANER, 1996 e GOMES E BRAGA, 2001), com um executivo responsável pelo processo: o coordenador de IC (LAACKMAN, SABAN E LANASA, 2000; PRESCOTT E MILLER, 2001 e GOMES E BRAGA, 2001) e pessoal em quantidade e qualidade adequados (KAHANER, 1996; HERRING, 1988; LAACKMAN, SABAN E LANASA, 2000; GOMES E BRAGA, 2001; PRESCOTT E MILLER, 2001). 115 Provavelmente, das 10 dimensões-chave da IC, a Estrutura Interna é a mais tangível e visível para quem está de fora da organização. Conversar em um congresso com um executivo que responde pelo cargo de “Gerente de Inteligência Competitiva” nos passa a impressão de que sua empresa já está avançada no desenvolvimento do seu processo de IC. Como as empresas convidadas a participar desta pesquisa já estão empreendendo esforços sistemáticos para o desenvolvimento dos seus processos de IC e já possuem estruturas dedicadas para o assunto, esta foi a dimensão na qual as empresas entrevistadas aparentam estar mais evoluídas. Todas as organizações estudadas possuem áreas montadas especificamente para as atividades de inteligência, sendo que 6 das entrevistadas possuem áreas criadas há mais de 5 anos. Naturalmente, em todas estas há claramente um executivo designado em tempo integral para coordenação do processo de inteligência. A localização da unidade de inteligência também se mostrou ser bastante relevante em processos sofisticados. Conforme proposto pelos autores citados acima, a unidade deve estar próxima à área usuária que lhe demanda mais tempo, de preferência, estando diretamente subordinada a esta para que o fluxo de informações seja contínuo e livre de burocracia. O gráfico a seguir mostra a localização organizacional das unidades estudadas. Figura 4.1.12 Localização das áreas de inteligência nas empresas pesquisadas (14 Respondentes) Ligada à área de Estratégia, Planejamento ou Novos Negócios 1 Ligada à área de Suprimentos 1 6 Ligada à área de Marketing Ligada à área Comercial 1 3 Ligada ao CEO de uma empresa ou Unidade de Negócios Na holding ou área corporativa de uma organização diversificada 1 (Base: 13 empresas. Uma das entrevistadas optou por não comentar sua estrutura.) O caso de uma das empresas entrevistadas ilustra a importância da posição da unidade na estrutura organizacional. À medida que a IC desta empresa foi ganhando importância e visibilidade dentro da organização, sua localização foi sendo alterada, e outras sub-áreas foram sendo incorporadas abaixo desta. 116 “Nossa área de inteligência foi criada dentro do Marketing. O foco inicial era bastante orientado a mercado. Depois de um tempo, vimos que tratava-se de algo muito mais amplo e então criamos uma “Gerência de Inteligência e Negócios”, ligada diretamente ao presidente. Abaixo desta gerência, montamos as unidades de Administração Estratégica, Novos Negócios, Pesquisa de Mercado e a Inteligência Competitiva, propriamente dita. Esse negócio deu tão certo aqui na empresa que, em um dado momento, o presidente achou que o departamento de TI tinha um papel mais estratégico a desempenhar e o trouxe para baixo desta gerência. Somos hoje 17 funcionários na área, sendo 10 destes da área de TI.” Conforme recomendado por Kahaner (1996); Herring (1988); Laackman, Saban e Lanasa (2000); Gomes e Braga (2001) e Prescott e Miller (2001), é importante também que a unidade de inteligência conte com um efetivo de recursos humanos alocados em tempo integral para a IC na quantidade adequada para que esta possa desempenhar seu papel adequadamente. Não há um número ideal de pessoas. A decisão da quantidade de recursos dependerá de diversos fatores. Trata-se de um equilíbrio entre o escopo desejado para a IC e a disponibilidade interna da empresa. A figura abaixo apresenta a distribuição das empresas entrevistadas de acordo com o número de funcionários alocados às atividades de IC em cada uma delas. Figura 4.1.13 Número de empresas de acordo com o tamanho da equipe de inteligência (14 Respondentes) 3 2 1 1 1 2 1 1 1 0 1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4 pessoas 5 pessoas 6 pessoas 7 pessoas 8 pessoas 9 pessoas # funcionários alocados à IC (Base: 13 empresas. Uma das entrevistadas optou por não comentar sua estrutura.) 10 pessoas 117 Na maioria das vezes, a unidade de inteligência sofre restrições no número de recursos disponível. Quando este é o caso, há iniciativas para se maximizar o escopo de atuação da unidade. Alguns dos mecanismos observados foram: • Utilização de Sistemas Inteligentes. Empresas que empregam sistemas de informação inteligentes, que automatizam certas tarefas como coleta de informações, pré-análise e disseminação, economizam tempo precioso dos seus recursos, que normalmente seria desperdiçado com atividades de baixo valor agregado. • Time Multi-Funcional Part-time. Observamos que as unidades de inteligência de algumas empresas trabalham sistematicamente de forma colaborativa com recursos de outros departamentos. Por exemplo, um relatório de monitoramento que visa identificar possíveis ameaças nas condições de infra-estrutura necessárias para o escoamento dos produtos, pode contar regularmente com a atuação em tempo parcial de certos analistas do departamento de logística. • Outsourcing. É possível contratar recursos especializados, externos à empresa, para atuar na realização de monitoramentos específicos e na elaboração de certas análises e relatórios. • Empréstimo de Recursos entre Áreas. Quando a unidade de IC recebe demandas adhoc para as quais não possui recursos suficientes, esta pode solicitar o empréstimo de pessoas à área solicitante, por um tempo pré-especificado. O relato de um dos entrevistados ilustra este último mecanismo: “Em virtude da fusão pela qual a empresa passou recentemente, há um bloqueio de recursos e ninguém pode ser contratado. Para não inviabilizarmos projetos importantes da área de inteligência temos convencido as áreas clientes a ceder recursos para atuarem nos próprios projetos que demandam. A aceitação tem sido muito boa. Além de ter mais gente para endereçar os projetos, tenho representantes do cliente interno na própria execução do trabalho, o que garante que este seja aderente às necessidades da área solicitante.” 118 A qualificação dos funcionários alocados às atividades de análise no processo de inteligência também se mostrou muito importante para as empresas mais sofisticadas. Para os entrevistados, o perfil ideal do profissional de IC deve aliar características como: (i) Excelente raciocínio analítico, (ii) Vasto conhecimento geral, (iii) Excelentes habilidades de comunicação, e em alguns casos, (iv) Grande experiência no setor. Um dos entrevistados falou da importância do perfil comunicativo do profissional de IC: “O profissional de IC não deve ser aquele cara que fica atrás da mesa fazendo planilhas e mais planilhas. Tem que obter a informação, analisar, gerar logo um alerta e passar pra frente. Tem que ser comunicativo e se dar bem com todo mundo. Ter passe-livre por toda a empresa.” Outro entrevistado menciona que é difícil obter profissionais que combinem todas as características necessárias ao trabalho de inteligência. “O perfil da pessoa de IC tem que ser híbrido. Tem que saber finanças, ter conhecimentos econômicos, de estatística, marketing, uma boa sacada de computação e criatividade (saber olhar fora da caixa). É difícil encontrar uma pessoa que tenha todas essas características, por isso, uma equipe multidisciplinar é normalmente necessária.” Observamos também que as estratégias adotadas para a escolha dos profissionais de IC são bastante variadas. Algumas empresas preferem alocar recursos internos. Nestes casos, é comum escolher profissionais da principal área cliente da IC, pois acredita-se que estes possuirão uma melhor compreensão das necessidades de informação a serem atendidas. Há outras empresas que optaram por formar suas equipes de analistas trazendo profissionais que já atuavam em inteligência em empresas concorrentes. Um último grupo, que possuía unidades de IC mais estratégicas, traz seus principais recursos de firmas de consultoria de alta gestão. Dimensão 7: Avaliação e Controle do Processo Conforme proposto por Gomes e Braga (2001), assim como qualquer processo organizacional, a Inteligência Competitiva deve ser constantemente avaliada. Este monitoramento e avaliação sistemática do processo de inteligência tem dois objetivos 119 principais. O primeiro é a busca de melhoria contínua, que deve ser um objetivo inerente a qualquer um dos processos da empresa. Não só a melhoria no atendimento das necessidades dos usuários, mas também na eficiência do próprio processo de IC. Sem medir, controlar e avaliar, torna-se mais difícil identificar pontos de melhoria. O segundo objetivo consiste em justificar a existência da IC para a alta direção. Conforme foi abordado na seção anterior, a IC traz custos, que podem ser maiores ou menores dependendo do escopo desejado para a atividade. Portanto, o coordenador de IC deve ser capaz de identificar e comunicar à alta direção como o processo de inteligência vem agregando valor à empresa. Nesse sentido, observamos que as empresas de referência nesta dimensão-chave da IC adotam algumas das seguintes diretrizes: • Realizam avaliações sistemáticas do grau de satisfação dos usuários-chave com relação aos relatórios da IC e ao processo de inteligência como um todo, corroborando com o proposto por Fleisher (1991) e Gomes e Braga (2001); • Medem regularmente o desempenho do processo de IC com indicadores operacionais bem definidos (Ex: % de relatórios no prazo, média de informações obtidas com a rede, etc), conforme sugerido por Fleisher (1991) e Tyson (1996); • Identificam e registram as decisões de negócio que foram tomadas em decorrência das suas análises e recomendações, corroborando com as propostas de Kahaner (1996) e Sawka (2000); e • Realizam avaliações econômicas dos resultados obtidos pela empresa em função das suas recomendações e as comunicam à alta direção, conforme recomendado por Sawka (2000) e Gomes e Braga (2001). Esta foi a dimensão na qual as empresas pesquisadas aparentaram possuir um menor nível de sofisticação. Ou seja, ainda são poucas as empresas que se preocupam em avaliar e controlar seus processos de IC de uma forma completa e sistemática. A figura a seguir apresenta as diversas iniciativas de avaliação e controle citadas pelas empresas entrevistadas. Pode-se observar que são poucas as empresas que empregam abordagens formais. Quando questionadas sobre as medidas utilizadas para avaliar o funcionamento da IC e suas contribuições para a empresa, a maioria dos entrevistados disse 120 não possuir mecanismos para tal, ou então alegou apenas fazer um acompanhamento esporádico informal com as áreas usuárias. Figura 4.1.14. Iniciativas para avaliação do processo de inteligência (# citações espontâneas) (14 Respondentes) Possui indicadores operacionais para o processo de inteligência 1 Concurso interno para registrar casos nos quais a IC auxiliou à equipe comercial 1 Entrevistas em profundidade formais com usuários-chave 1 Monitora visitação e padrões de uso do Portal da IC 1 Avalia impactos de negócio obtidos a partir dos produtos da IC 1 Faz acompanhamento formal das ações tomadas em decorrência dos produtos da IC 3 Faz pesquisa formal de satisfação/feedback com usuários-chave 3 Avalia as economias geradas nas compras da empresa (foco da IC, nesta empresa) 1 Mede o retorno das campanhas de mailing (um dos produtos da IC, nesta empresa) 1 Baixo grau de sistematização Faz acompanhamento informal com áreas usuárias 6 Embora ainda poucas empresas utilizem pesquisas de satisfação com os usuários-chave da IC, os entrevistados reconhecem que trata-se de um mecanismo cuja implantação depende exclusivamente da coordenação e comunicação entre as áreas envolvidas. Um desafio um pouco maior, mas de relevância igualmente mais significativa, é buscar identificar e registrar em quais decisões de negócio a equipe de inteligência acredita ter contribuído com suas conclusões e recomendações. Para autores como Sawka (2000), a melhor maneira de se mensurar o valor da IC é avaliar a contribuição que a IC trouxe para decisões ou ações específicas da empresa. Um passo seguinte em termos de sofisticação seria então mensurar os benefícios econômicos gerados por estas decisões. Uma das empresas entrevistadas possui uma dinâmica de trabalho bastante particular para execução dos projetos ad-hoc de inteligência. Tal dinâmica facilita a identificação das ações que foram tomadas em decorrência da IC. “Para os projetos ad-hoc, normalmente a área de Inteligência Competitiva está envolvida desde o primeiro momento, de definição das necessidades de 121 informação e dos objetivos do projeto, até a própria implementação das conclusões e recomendações realizadas. A área de inteligência está ‘ao lado’ durante todo o projeto. O grupo que entrega o trabalho em geral é o mesmo que o iniciou e precisa garantir que o trabalho de Inteligência Competitiva seja realmente utilizado. Com isso, naturalmente identificamos e registramos as ações tomadas em decorrência deste trabalho conjunto.” Uma das empresas entrevistadas claramente se destacou neste aspecto específico da IC. Esta empresa combina diversas iniciativas que visam avaliar o processo de inteligência de uma forma abrangente e sistemática. “Não há como ter um processo de inteligência relevante para a organização se você não o mede, se você não o avalia. Você pode até obter algum feedback no bate-papo de corredor que você tem com seus usuários ou, até mesmo, nas reuniões de trabalho. Mas não é o mesmo que utilizar alguma abordagem mais estruturada, mais formal. Te dá mais subsídio. Aqui na empresa, adotamos algumas práticas para isso. Acompanho diariamente como está sendo a visitação do meu portal de Inteligência Competitiva e vejo quais grupos de usuários estão acessando mais, quanto tempo estão permanecendo logados e que conteúdos eles estão consumindo. Complemento essa informação com pesquisas de satisfação estruturadas. Tenho um roteiro de entrevistas e, periodicamente, entrevisto uma amostra dos meus usuários-chave para obter seu grau de satisfação. Quero saber como ele está enxergando o processo de IC, como o meu trabalho tem sido relevante para ele, que melhorias ele pode sugerir. Além disso, fizemos uma iniciativa muito interessante recentemente. Montamos um evento interno chamado “Casos de Sucesso”. As pessoas da equipe de vendas, que estão no campo utilizando parte dos nossos produtos, nos enviaram os casos nos quais eles achavam que tinham tido sucesso por causa de um conceito de IC que aprenderam, ou por um produto de inteligência específico. Confesso que achei que não ia funcionar. Mas, até o evento, tínhamos recebido muito mais casos do que esperávamos. No evento, os casos pré-selecionados foram apresentados e eles mesmo votaram para premiar o 122 melhor. Demos uma máquina fotográfica digital para o primeiro lugar e dissemos: ‘Agora você pode mandar informações para a IC com foto’. A receptividade foi muito boa. Já tentei até medir quantitativamente o ROI (Return on Investment) da IC. Eu ficava vidrado nisso. Mas é difícil de obter um número. Depois de um tempo, o presidente mesmo chegou e disse: ‘Pára com isso. Eu já sei que a IC é importante e nunca vou mandar cancelar. Depois disso, desisti. Afinal, acho que não tem prova maior de que o trabalho da IC está dando retorno.” Dimensão 8: Integração entre a IC e o Processo Decisório Conforme preconizam Gib & Margulies (1991), todos os esforços de inteligência devem ser orientados à ação. A inteligência gerada pela IC deve ser “acionável”. Se os produtos da IC não se transformam em decisões de negócio e ações de mercado, o processo de inteligência não tem valor para a organização. Alguns coordenadores de IC podem pensar que uma vez entregue um bom relatório em resposta às solicitações da alta direção, os decisores saberão o que fazer com a inteligência gerada e tomarão as devidas decisões. Na prática, não é o que acontece. Se o coordenador da IC não se tornar um agente de mudanças na empresa, ou seja, alguém que assuma um papel de parceria junto à alta direção e estimule a tomada de decisão, o produto final da IC não será decisões, mas apenas tempo e dinheiro desperdiçados. Observamos que as empresas que possuem processos de inteligência sofisticados neste aspecto buscam institucionalizar um forte elo entre a IC e o processo decisório da empresa. Alguns dos entrevistados reconhecem que possuir um coordenador de IC com prestígio junto à alta direção contribui para que isso aconteça. Mas, segundo estes, esse não pode ser o único fator. O que acontecerá se o coordenador trocar de área? Ou, até mesmo, se sair da empresa? Neste sentido, devem ser criados mecanismos sistemáticos e legítimos na empresa, que façam com que as conclusões e recomendações da IC sejam transformadas em decisões práticas. Foi possível observar que, em geral, as empresas estudadas apresentam um bom nível de sofisticação na integração entre a IC e o processo decisório. Porém, novamente foram identificadas empresas ao longo de todo “espectro de sofisticação”. Algumas com bom nível de evolução, e outras ainda com algum caminho a percorrer, de acordo com as recomendações apresentadas pela literatura pesquisada. 123 Observou-se que as empresas de destaque neste aspecto adotavam alguns dos seguintes mecanismos que as auxiliavam a integrar os esforços de inteligência com o processo de tomada de decisões da organização. • Transformar parte dos relatórios da IC em insumos formais e absolutamente necessários para processos periódicos de planejamento da empresa, como, por exemplo, os processos de planejamento estratégico, ou planejamento de vendas. Este tipo de mecanismo coincide com os propostos por Prescoot e Miller (2001) e Fuld (2003). • Assegurar que o coordenador da Inteligência Competitiva tenha um assento formal e legítimo em reuniões regulares de tomada de decisão realizadas pela alta direção da empresa, corroborando com o recomendado por Kahaner (1996); Tyson (1998) e Prescott e Miller (2001). • Criar sistemáticas pelas quais, para cada relatório relevante entregue, a equipe de inteligência “conduza” os usuários-chave a tomarem decisões sobre os assuntos abordados. Kahaner (1996); Tyson (1998) e Fuld (2003) citam um tipo específico de sistemática a ser adotada. Os autores recomendam que a equipe de IC atue incisivamente junto aos usuários-chave para que suas recomendações sejam transformadas em decisões e ações práticas. • Realizar regularmente com a alta direção exercícios de simulação competitiva, do tipo War Games, que estimulem a tomada de decisões a partir de análises propiciadas pela IC, coincidindo com o proposto por Fuld (2003). É claro que não se pode afirmar, de uma forma dicotômica (sim ou não), que uma empresa emprega ou não emprega tais abordagens. Cada uma destas pode ser utilizada com diferentes graus de intensidade. Contudo, durante as entrevistas, questionamos os executivos sobre este assunto e registramos os casos nos quais cada uma destas iniciativas foi mencionada. Conforme o gráfico a seguir ilustra, o mecanismo mais utilizado parece ser a vinculação dos relatórios da IC a processos sistemáticos de planejamento das organizações. 124 Figura 4.1.15. Iniciativas de sistematização da integração entre a IC e o processo decisório (# citações espontâneas) (14 Respondentes) Utiliza Possui relatórios da IC como insumo formal em processos sistemáticos de planejamento 9 O coordenador da IC possui assento formal em reuniões formais de planejamento 5 6 Possui mecanismos que "conduzem" os usuários-chave à tomada de decisão após entregues os relatórios da IC Realiza regularmente exercícios de simulação competitiva (War Games) Não Utiliza 8 5 1 9 13 O relato de uma das empresas ilustra a maneira como a equipe de inteligência garante que suas recomendações se transformem em ações práticas. “Montamos uma metodologia para nossas reuniões de apresentação. Sempre que elaboramos um relatório um pouco mais relevante, marcamos uma apresentação com os usuários-chave e expomos o trabalho feito. Quando termina, viramos para os presentes e questionamos: está tudo muito bonito, mas e aí? O que vamos fazer com as informações que foram apresentadas? Assumimos como regra que não podemos encerrar estas reuniões sem uma lista de ações, responsáveis e prazos. As pessoas já comparecem sabendo que vão ter que pensar e trabalhar.” Uma outra empresa utiliza uma abordagem complementar, um pouco mais sofisticada, para estimular a alta direção a pensar estrategicamente e tomar decisões a partir dos produtos da IC. “Anualmente, o presidente da empresa, com apoio direto da nossa equipe, reúne os principais executivos da empresa e fazemos a dinâmica de War Games. Subsidiamos o exercício com nossas informações e análises e os executivos têm que pensar com a cabeça dos concorrentes e interagir entre si. É uma forma de fazer com que nossa alta direção se debruce sobre nossos produtos e se obriguem a tomar decisões de negócios. Já fizemos este evento nos últimos dois anos e parece que a prática vai continuar.” 125 Dimensão 9: Suporte da Tecnologia de Informação Para Fuld (2002), a Tecnologia da Informação (TI) pode auxiliar gestores de IC na condução diária dos seus processos trazendo ganhos de eficácia, e, principalmente, de produtividade dos recursos utilizados. Para um mesmo tamanho de equipe, a empresa que faz uso de soluções de TI que organizam e agilizam o trabalho, provavelmente, poderá dar conta de um escopo de atuação mais amplo. Ou seja, pode-se fazer mais com menos. Para Rangel (2004), há diferentes tipos de sistema que podem ser utilizados para suporte ao processo de inteligência. O autor propõe a matriz ilustrada na figura a seguir para classificar os diferentes tipos de solução tecnológica utilizados pelas empresas para IC. Dependendo do grau com que o sistema automatiza tarefas com técnicas inteligentes (Inteligência da Solução), e de quão abrangente é a solução em termos de funcionalidades necessárias ao trabalho da IC (Abrangência Funcional) pode-se identificar 4 tipos de sistemas: • Sistemas Paliativos. Sistemas já existentes na empresa para outras finalidades, que são utilizados pela IC de forma provisória. • Sistemas Internos. São sistemas encomendados pela IC para atender a 100% das suas necessidades e, portanto, tem uma alta abrangência funcional, mas não possuem inteligência agregada. • Sistemas Especialistas. Soluções que utilizam algoritmos inteligentes e automatizam ou agilizam certas tarefas, mas ajudam apenas em partes específicas do processo de IC. • Sistemas Integrados de IC. São soluções de TI que atendem a todas as necessidades funcionais da IC e também incluem tecnologias inteligentes para automatização de tarefas operacionais. 126 Figura 4.1.16. Tipologia para classificação de soluções de TI de suporte à IC Abrangência Funcional (Fonte: RANGEL et al. 2004) Abrangência Funcional Alta Sistemas Internos Customizados Sistemas Integrados de IC O software foi especificamente desenvolvido para suportar o processo de IC e o endereça por completo? Inteligência da Solução Baixa Sistemas ‘Paliativos’ Sistemas Especialistas Baixa Alta O software usa técnicas de inteligência artificial para automatizar tarefas de IC de baixo valor agregado? Inteligência da Solução Contudo, diversos autores, incluindo Fuld (2002), Gomes e Braga (2001) e Bouthillier & Shearer (2003), alertam que um sistema de informação não pode substituir a existência de um processo de IC sistematizado e bem estruturado. O sucesso de qualquer ferramenta tecnológica depende em primeiro lugar do grau de sofisticação do próprio processo de Inteligência Competitiva. Qualquer software deve ser utilizado para suportar um processo de negócios, e não o contrário. Embora praticamente todos possam extrair benefícios da utilização de sistemas, processos de IC ainda em estágio inicial de sofisticação não apresentarão os mesmos tipos de necessidades que outras empresas já um pouco mais desenvolvidas em termos de IC. As empresas pesquisadas apresentaram potencial de melhoria significativo nesta dimensão. Algumas poucas empresas da amostra pesquisada já apresentavam soluções de TI bastante interessantes e que agregavam valor às atividades de IC, enquanto outras ainda precisavam trabalhar utilizando pouco suporte de sistemas 127 A figura abaixo apresenta os tipos de sistemas utilizados pelas entrevistadas. Figura 4.1.17. Softwares utilizados pelas empresas (# citações espontâneas) (14 Respondentes) Software de Search customizado para a IC 1 Sistemas web desenvolvidos para a IC 4 Softwares de CRM 3 Softwares de BI 3 Sistemas desenvolvidos em Excel/Access/Notes 5 Conforme pode ser constatado no gráfico, a solução mais comum é o desenvolvimento de sistemas específicos totalmente baseados em ferramentas disponíveis na plataforma Lotus Notes, ou no pacote Microsoft Office, mais especificamente, nos softwares Access e Excel. Cinco empresas citaram ter desenvolvido pequenos sistemas deste tipo para suas IC’s. É uma maneira rápida de colocar alguma organização no trabalho que tem que ser realizado. Mas, dificilmente, uma solução como esta atenderá a todas as necessidades funcionais da equipe de IC e, com certeza, não agregará automatização e inteligência ao processo, conforme sugere Rangel (2004). Quatro empresas citaram ter encomendado sistemas em plataforma web para atender especificamente às suas necessidades de IC. Este tipo de solução pode variar desde um simples portal no qual a IC disponibiliza alguns dos seus relatórios, até sistemas completos que suportam quase que todas as suas atividades. Se bem especificados e desenvolvidos, sem dúvida trazem ganhos de eficiência ao processo e permitem realizar tarefas que antes seriam de difícil operacionalização. O único problema deste tipo de solução é que dificilmente consegue-se agregar componentes inteligentes para automatização de tarefas como classificação automática de informações e análise. Ou seja, os ganhos de produtividade para a equipe são limitados. Alguns dos executivos entrevistados alegaram também fazer uso de sistemas que possuem foco mais específico, como, por exemplo, sistemas de Customer Relantionship Management (CRM) e Business Intelligence (BI). Pôde-se perceber que estas são soluções que, dependendo do foco dado à IC, também podem agregar um grande valor ao trabalho do analista de 128 inteligência. Os sistemas de BI, por exemplo, permitem consolidar dados vindos dos sistemas transacionais das empresas e analisá-los sob diferentes perspectivas com tecnologias inteligentes. No entanto, estes não foram desenvolvidos especificamente para as atividades de IC e, geralmente, auxiliam a equipe de Inteligência Competitiva apenas em tarefas específicas, normalmente, no tratamento de dados estruturados e quantitativos. Uma das entrevistadas disse ter contratado um software especializado em busca e recuperação de informações não-estruturadas (software de search) para suporte ao seu processo de inteligência. Durante alguns meses, a plataforma foi completamente customizada para atender às necessidades da equipe de inteligência. Embora os custos de implantação desta solução tenham sido significativamente maiores do que os investimentos realizados pelas demais empresas, esta parece ter sido a solução que melhor conseguiu combinar mecanismos inteligentes, trazidos pelo software, com uma boa abrangência de funcionalidades, conseguidas graças às customizações encomendadas pela empresa. A figura a seguir, posiciona os softwares acima descritos de acordo com a tipologia de classificação de soluções de TI para suporte à IC apresentada anteriormente, proposta por Rangel (2004). Figura 4.1.18. Classificação dos softwares encontrados de acordo com a tipologia apresentada por RANGEL (2004) (14 Respondentes) Abrangência Funcional Sistemas Internos Customizados Sistemas Integrados de IC Sistemas web desenvolvidos para a IC Sistemas desenvolvidos em Excel / Access/ Notes Softwares Search Customizados para IC Softwares de BI Sistemas Paliativos Softwares de CRM Sistemas Especialistas Inteligência da Solução Embora, no momento da pesquisa, nenhuma das empresas pesquisadas possuísse uma solução completa para IC, esta se mostrou ser uma das áreas prioritárias nos planos de futuro das entrevistadas. Cinco das empresas disseram estar iniciando esforços para seleção de sistemas 129 específicos para as atividades de Inteligência Competitiva e outras disseram que pretendiam incluir investimentos em software de IC em seus orçamentos para o próximo ano. Dimensão 10: Adequação da Cultura Organizacional Prescott e Miller (2001) afirmam que a Inteligência Competitiva depende fortemente da cultura organizacional. A criação e o uso da inteligência nas empresas é um processo social e a adequação da cultura organizacional, portanto, é um dos maiores desafios enfrentados pelos gerentes de inteligência. Seu objetivo final deve ser integrar as atividades de IC às tarefas diárias de todos na empresa. Conforme propõem Gilad (1989) e Goshal e Eleanor (1991), uma cultura de livre compartilhamento de informações entre os funcionários é mais propícia ao desenvolvimento do processo de inteligência. No entanto, em muitos casos, percebemos que ainda há fortemente enraizada nas empresas a crença de que “informação é poder”. Os funcionários temem que se compartilharem informações perderão influência. Foi possível observar que as empresas pesquisadas ainda enfrentam problemas em termos de adequação da cultura às atividades de IC. Uma parte significativa dos entrevistados reconheceu que implementar mudanças culturais em uma empresa é, geralmente, um processo complexo e lento. Contudo, observamos que os processos de IC mais sofisticados nesta dimensão buscam contribuir, da maneira como podem, para que a cultura da organização seja a mais adequada possível para as atividades de inteligência. Algumas unidades de inteligência realizaram campanhas mais estruturadas de divulgação do papel da IC dentro da empresa, buscando levar a todos um melhor entendimento sobre a importância do processo de inteligência, conforme proposto por Kahaner (1996) e Prescott e Miller (2001). Outras preferiam o trabalho diário do coordenador de IC de circular pelas diversas áreas construindo uma relação de confiança mútua com todos. Mas todos concordam em um ponto: a equipe de inteligência deve desenvolver integração completa com os demais funcionários da empresa. O relato a seguir ilustra este ponto: “Não é muito difícil que o pessoal de IC comece a ser visto pelos demais funcionários da empresa como os ‘inteligentes’ (ou os que se acham assim), enquanto todos os demais seriam os ‘não-inteligentes’. Isso é fatal para o seu 130 processo. A equipe de IC deve estar totalmente enraizada nos relacionamentos cotidianos de trabalho com os funcionários em geral. Não pode deixar ninguém subir no salto alto. Quando isso acontece, eu baixo logo a bola do meu pessoal.” Contudo, uma das empresas entrevistadas lembrou que a unidade de IC tem pouca margem de manobra sobre a cultura da empresa e que, na verdade, uma boa gestão organizacional, que valorize seu capital humano, é chave para uma cultura propícia à livre troca de informações. “A chave para o sucesso do compartilhamento de informações está na gestão da empresa como um todo. Acredito que temos uma gestão de sucesso. Temos valores compartilhados que incentivam e valorizam as pessoas. Com uma boa gestão, as pessoas trabalham juntas e sabem que isso é importante para que a empresa alcance suas metas e todos cresçam. Para você ter uma idéia, não premiamos quem fornece informações. A cultura da empresa já é tão forte neste sentido que conseguimos uma boa quantidade de informações primárias sem qualquer incentivo específico. Todos estão habituados a trabalhar juntos, a colaborar. A IC é apenas um dos processos da empresa que se beneficia disto.” Considerações Gerais sobre a Etapa Qualitativa Constatou-se que mesmo entrevistando apenas aquelas empresas consideradas referências em Inteligência Competitiva foi possível identificar que, no mundo prático, as organizações não vêm fazendo em grande extensão o proposto pela literatura. Ainda há espaço significativo para desenvolvimento em quase todos os aspectos pesquisados. Naturalmente, algumas das empresas entrevistadas se destacaram com práticas de inteligência bastante sofisticadas. Mas, de uma forma geral, já é possível observar o estágio ainda inicial de adoção da prática pela organizações. Do ponto de vista acadêmico, pode-se concluir que este esforço de pesquisa qualitativo cumpriu seu propósito, fornecendo um melhor entendimento prático sobre o tema e permitindo verificar a aplicabilidade do construto desenvolvido a fim de concluir o instrumento de coleta de dados; o questionário estruturado utilizado na restante da pesquisa. 131 4.2 ETAPA QUANTITATIVA São apresentados a seguir os resultados obtidos a partir da compilação dos questionários considerados válidos, completados pelos executivos participantes deste levantamento. 4.2.A. ANÁLISE DOS MACROCONSTRUTOS Os resultados primários da pesquisa são apresentados de forma segmentada, para cada conjunto de itens do questionário que caracterizam os diferentes macroconstrutos definidos anteriormente. O detalhamento destes resultados compreende análises descritiva, fatorial e de confiabilidade, que estão sintetizadas em quadros contendo as seguintes informações: • Breve descrição de cada item do questionário; • A média aritmética do item, a partir de todas as respostas obtidas; • O desvio padrão do item, a partir de todas as respostas obtidas; • A carga fatorial do item em cada fator obtido; • A comunalidade do item. Nas linhas apresentadas na parte inferior dos quadros estão consolidadas informações derivadas das análises fatorial e de confiabilidade, que compreendem: • O autovalor de cada um dos fatores obtidos; • O percentual da variância total explicada pelo fator; • A confiabilidade para cada fator, através do seu coeficiente Alpha de Cronbach; • A confiabilidade para o Macroconstruto, através do seu coeficiente Alpha de Cronbach; • A significância estatística para o teste de esfericidade de Bartlett; • A medida de adequação da amostra (KMO) para o Macroconstruto; • O percentual da variância total, explicado pelo conjunto dos fatores obtidos para o Macroconstruto; 132 PROCESSO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE Quadro 4.2.1. Resumo dos resultados obtidos para o Processo de Planejamento Descrição Fatores Comunalidade Média d.p. Projetos de investimento são acompanhados formalmente 4,90 1,29 ,8505 ,796 Projetos de investimento avaliados pelo benefício econômico 4,52 1,19 ,8432 ,722 Projetos de investimento avaliados pela inovação proporcionada 4,09 1,37 ,8365 ,742 Projetos de investimento avaliados pelos benefícios aos clientes 4,51 1,45 ,8294 ,748 1 2 Projetos de investimento têm responsáveis claros 4,21 1,53 ,7306 Projetos de investimento são padronizados e comparáveis 4,43 1,31 ,6819 Estratégia e objetivos comunicados a todos 4,82 Missão e os objetivos bem formulados. 5,25 Objetivos equilibrados para stakeholders Ações para alcançar objetivos são claras ,555 ,4874 ,702 1,12 ,8889 ,833 1,06 ,8617 ,767 5,25 1,06 ,8488 ,745 4,70 1,18 ,8003 ,777 Autovalor 4,052 3,340 Variância Explicada por Fator 40,52% 33,39% Alpha de Cronbach por Fator ,909 ,901 Alpha para o Macroconstruto ,912 Bartlett – Sig. ,000 KMO ,872 Variância Explicada 73,92% Análise Descritiva A análise descritiva do construto Planejamento e Controle permite observar que as empresas respondentes apresentam índices de sofisticação relativamente altos ao longo de todas as variáveis. Como itens mais desenvolvidos pode-se destacar as atividades relacionadas ao processo de formulação estratégica das empresas, incluindo, mais especificamente, uma boa formulação da missão e objetivos, levando em consideração para tal os interesses dos diferentes stakeholders impactados pela organização. A transformação deste direcionamento estratégico em ações também se apresenta bem desenvolvida, porém em um menor grau. Isto pode ser observado visto que os executivos também responderam que as ações necessárias para que os objetivos estratégicos sejam alcançados são claras e estas são bem comunicadas a todos na organização. Contudo, parece que a execução e o controle destas ações, materializadas através de projetos, apresentam um menor nível de desenvolvimento quando comparados aos demais aspectos. Parece que os projetos de investimento não possuem responsáveis tão claros e, embora as empresas afirmem que acompanham formalmente todos os seus projetos de investimento, os 133 critérios adotados para tal parecem ainda se limitar ao tradicional enfoque econômico, com a análise de benefício ao cliente em um segundo plano. Critérios de mais longo prazo como o grau de inovação proporcionado parecem ser pouco utilizados. Análise Fatorial No quadro acima, estão resumidos os resultados da análise fatorial. A análise resultou em um KMO de 0,872 e uma significância de 0,000 no teste de esfericidade de Bartlett, indicando a adequação da análise. A variância total explicada pelos quatro fatores foi de 73,92%. A partir de suas correlações com os itens originais dos questionários os fatores foram nomeados, como descrito a seguir. FATOR 1: Formalização de Projetos. Está associado ao nível de formalização com que a empresa formula, executa e controla seus projetos de investimento. Não abrange a formulação da estratégia, mas apenas sua implantação de uma maneira sistemática e estruturada através de projetos de investimento. FATOR 2: Planejamento Estratégico. Incorpora as variáveis relacionadas ao processo de formulação da estratégia da organização, incluindo a definição de uma missão e visão, considerando os interesses das partes interessadas, definição dos objetivos e plano de ação para alcança-los e a comunicação desta estratégia para a organização. Análise de Confiabilidade O Alpha de Cronbach de 0,912, obtido a partir do procedimento RELIABILITY do SPSS, para o Macroconstruto indica que este possui confiabilidade adequada, assim como os fatores obtidos, com valores de 0,909 e 0,901respectivamente. 134 DIRECIONAMENTO PARA O FUTURO Quadro 4.2.2. Resumo dos resultados obtidos para o Direcionamento para o Futuro Descrição Fatores Comunalidade Média d.p. Executivos vêem 5 a 10 anos à frente 4,46 1,133 ,891 ,797 Executivos percebem o futuro radicalmente diferente 4,75 1,247 ,725 ,612 Conhece suas competências essenciais 4,73 1,067 ,719 ,647 Conhece parcerias necessárias nos próximos 5 anos 4,36 1,111 ,667 ,573 Conhece ameaças ao modelo de negócios atual 4,76 1,116 ,666 Visão de futuro refletida nas ações de curto prazo 4,28 1,300 ,583 Cria sempre novos mercados 4,33 Reconhecida como extremamente inovadora 4,15 Conhece produtos em que deve ser pioneira Visão de futuro inovadora e única 1 2 ,460 ,574 ,670 1,272 ,863 ,754 1,438 ,821 ,711 4,75 1,185 ,737 ,632 4,09 1,111 ,624 ,528 ,588 3,478 3,002 Variância Explicada por Fator 34,78% 30,02% Alpha de Cronbach por Fator ,862 ,8248 Autovalor Alpha para o Macroconstruto ,8942 Bartlett – Sig. ,000 KMO ,807 Variância Explicada 64,80% Análise Descritiva Uma análise geral sobre o construto Direcionamento para o Futuro permite observar que as empresas respondentes, embora também tenham mostrado maturidade neste aspecto, possuem um menor nível de sofisticação no que tange a atenção ao longo prazo e inovação do que sua capacidade de formalizar seu planejamento estratégico e controle de projetos, conforme retrato pelo construto anterior. Analisando as médias obtidas, parece que as empresas de fato dão importância para o longo prazo e têm consciência de que o futuro será diferente do que o presente. Os executivos afirmaram também conhecer bem as ameaças ao modelo de negócios atual, conhecerem suas competências essenciais e terem consciência dos produtos nos quais precisam ser pioneiras. Contudo, as organizações parecem encontrar dificuldades para que esta preocupação com o futuro se transforme de fato em uma postura de inovação. Quando comparado aos demais quesitos, a variável “visão de futuro única e inovadora” apresentou um menor índice e as empresas aparentam não estarem conseguindo ser reconhecidas como organizações realmente inovadoras. 135 Análise Fatorial A análise fatorial apresentada no quadro anterior resultou em um KMO de 0,807 e uma significância de 0,000 no teste de esfericidade de Bartlett, indicando a adequação da análise. A variância total explicada pelos quatro fatores foi de 64,80%. Com base nas cargas individuais das variáveis para os dois fatores identificados foi possível nomear os fatores conforme apresentado a seguir. FATOR 1: Visão de Longo Prazo. Está relacionada ao grau de atenção que a organização dá ao longo prazo, em especial, por parte dos seus executivos de topo. Envolve possuir uma visão de futuro para a empresa em um horizonte de 5 a 10 anos, compreendendo já a priori que o futuro será diferente do presente e possuindo conhecimento sobre as competências essenciais dominadas pela empresa, as parcerias que se farão necessárias e, naturalmente, as ameaças que poderão se apresentar anos a frente para o modelo de negócios atual. FATOR 2: Caráter Inovador. Enquanto o fator anterior abrange aspectos mais ligados à consciência dos executivos sobre o futuro, este fator reflete de fato o grau com que a empresa adota uma postura inovadora no mercado. Aqui, a busca pela inovação é explícita. Não basta possuir uma visão de futuro para a empresa, esta deve ser única e inovadora. A organização deve ser reconhecida como inovadora, ter um direcionamento claro daqueles produtos nos quais deve ser pioneira e estar sempre criando novos mercados para os produtos existentes. Análise de Confiabilidade O Alpha de Cronbach de 0,894, obtido a partir do procedimento RELIABILITY do SPSS, para o Macroconstruto indica que este possui confiabilidade adequada, assim como os fatores obtidos, com valores de 0,862 e 0,8248 respectivamente. 136 ATIVIDADES PRIMÁRIAS DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Quadro 4.2.3. Resumo dos resultados obtidos para as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva Descrição Fatores Média d.p. Realiza programas de capacitação com a rede de inteligência 2,76 1,436 ,826 Usa mecanismos facilitadores da coleta de informações com a rede 3,36 1,612 ,709 A rede de inteligência é fortemente atuante 3,45 1,540 ,691 1 Relatórios podem ser consultados por todos (Self-Service) 3,37 1,677 ,649 Membros potenciais da rede de inteligência estão mapeados 3,70 1,547 ,474 2 3 4 5 Comunalidade ,777 ,454 ,742 ,713 ,494 ,425 ,627 Questiona a real importância de novas demandas de informação 4,18 1,435 ,784 ,794 Maior parte dos relatórios da IC são sistemáticos 3,61 1,633 ,725 ,761 Relatórios da IC incluem sempre comentários sobre as implicações 3,46 1,223 ,557 Identificação pro ativa de novas necessidades de informação 3,90 1,269 ,542 Sempre embasa análises com modelos de análise qualitativa 3,75 1,521 ,694 Usa Cenários Prospectivos regularmente 3,55 1,530 ,679 Reconhecimento formal àqueles que contribuem com informações 2,69 1,530 ,542 ,687 ,610 ,721 ,408 ,757 ,635 ,718 ,592 ,731 ,496 ,675 Relatórios da IC incluem sempre recomendações práticas de ações 3,33 1,284 Sempre embasa análises com modelos de análise quantitativa 3,57 1,549 Acompanhamento diário e detalhado de notícias 4,36 1,367 ,804 ,774 Uso regular de pesquisas de mercado para questões relevantes 4,10 1,707 ,769 ,728 ,650 Uso intensivo de relatórios de mercado e bases de dados 4,01 1,451 Claro mapeamento de quem são os usuários-chave da IC 4,37 1,380 Necessidades de informação mapeadas e documentadas 3,37 1,455 Uso de reuniões presenciais para apresentar seus relatórios 3,81 1,459 ,585 ,549 ,416 ,500 ,497 ,699 ,814 ,765 ,594 ,752 ,559 ,653 Autovalor 3.617 3.021 2.723 2.678 2.137 Variância Explicada por Fator 18.1% 15.1% 13.6% 13.4% 10.7% Alpha de Cronbach por Fator ,847 ,829 ,845 Alpha para o Macroconstruto ,961 Bartlett - Sig. ,000 KMO Variância Explicada ,804 ,718 ,844 70,89% Análise Descritiva Quando comparado aos construtos anteriormente analisados, as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva apresentam médias significativamente inferiores. Diferentemente dos demais, pode-se observar aqui a presença de alguns escores na faixa dos 2 pontos e a grande maioria dos escores na casa dos 3 pontos. Os mais altos ultrapassam levemente os 4 pontos. Esta constatação corrobora com a percepção geral de que, embora este seja um tema de interesse crescente, trata-se ainda de um assunto em fase inicial de desenvolvimento 137 prático nas empresas atuantes no Brasil, conforme apresentado na seção introdutória desta pesquisa e identificado na etapa qualitativa. Dentre as diversas variáveis analisadas, observa-se que aquelas relativas à coleta de informações secundárias, como acompanhamento de notícias, uso de relatórios de mercado e utilização de pesquisas de mercado destacam-se com um maior nível de desenvolvimento nas empresas pesquisadas. Esta constatação também está bastante alinhada com os resultados encontrados durante a fase qualitativa desta pesquisa. Em um segundo nível de desenvolvimento aparecem as variáveis relacionadas tanto ao planejamento da Inteligência Competitiva quanto à análise das informações coletadas. No que tange o planejamento, as empresas disseram possuir um entendimento claro de quem são seus usuários-chave, mas não possuem um mapeamento tão claro de quais são suas necessidades de informação. Com relação aos quesitos de análise de informações, os respondentes apresentaram um nível intermediário de sofisticação. Dentre estes aspectos, a variável que recebeu o maior escore foi a utilização de modelos de análise qualitativa, provavelmente por serem estes largamente disseminados nos cursos em gestão oferecidos em abundância atualmente. Em um segundo nível, apareceram a utilização das técnicas de análise quantitativa e a adoção de métodos de análise de cenários prospectivos. O uso destes modelos parece estar auxiliando as empresas a incluírem em seus relatórios observações sobre as implicações de curto, médio e longo prazo para o negócio. Contudo, as organizações aparentam ainda não apresentar em grande extensão sugestões práticas de ações a serem tomadas em decorrência das análises realizadas. Por fim, as questões relacionadas à rede de inteligência indicam os menores escores, estando estes posicionados um pouco abaixo dos demais. Embora os respondentes tenham dito que os membros potenciais da rede estão mapeados, estes não são muito atuantes no fornecimento de informações e não há programas de capacitação da rede, nem reconhecimento formal àqueles que contribuem com informações. Estas constatações também corroboram com o observado na etapa qualitativa, onde a rede de inteligência aparentou ser um dos aspectos de maior potencial de melhoria. Análise Fatorial No quadro apresentado anteriormente, estão resumidos os resultados da análise fatorial. A análise resultou em um KMO de 0,844 e uma significância de 0,000 no teste de esfericidade 138 de Bartlett, indicando a adequação da análise. A variância total explicada pelos quatro fatores foi de 70,89%. A partir de suas correlações com os itens originais dos questionários os fatores foram nomeados, como descrito a seguir: FATOR 1: Rede de Inteligência. Compreende as variáveis que caracterizam a existência de uma rede de inteligência formalizada e atuante. Este contexto abrange também a disponibilidade de mecanismos de comunicação em uma via de duas mãos com a rede, incluindo tanto o recebimento de informações quanto o reconhecimento daqueles que mais contribuem. Complementa esta via livre de comunicação a adoção de mecanismos que permitam disponibilizar a inteligência gerada pela IC para todos autorizados na empresa segundo um modelo de self-service. Observações sobre o fator: Pode-se dizer que este fator comportou-se de forma bastante semelhante ao esperado inicialmente, com base na construção conceitual do modelo. Cabe destaque apenas a uma única variável, imaginada inicialmente pertencer a uma outra dimensão (“disseminação”), que traz um entendimento interessante sobre este aspecto. A disponibilização dos relatórios gerados pela inteligência em um modelo self-service apresentou uma forte associação ao fator em questão. E, de fato, esta variável pode ser interpretada como sendo algo relevante na livre comunicação com a rede de inteligência. Para que a rede seja atuante e contribua espontaneamente com informações, as pessoas que a compõe precisam receber como retorno de suas contribuições os “produtos acabados” da inteligência competitiva, ou seja, seus relatórios. Quando os membros da rede se tornam também usuários do processo de inteligência naturalmente adotarão uma postura mais atuante e participativa. FATOR 2: Planejamento e Pro atividade. Pode ser resumido na frase “estar sempre um passo à frente dos usuários-chave”. Abrange um grupo de variáveis que caracterizam uma postura na qual o grupo de IC não se limita a receber solicitações dos usuários e executa-las. A equipe de IC se antecipa a elas propondo pro ativamente novas áreas de análise. Quando solicitada a responder a alguma requisição de informação, a IC garante a relevância destas questionando os usuários solicitantes sobre sua real importância. Como resultado, consegue-se estruturar antecipadamente um portfólio sistemático de produtos de inteligência. Observações sobre o fator: Este fator apresentou dois refinamentos interessantes quando comparado à versão a priori da dimensão “planejamento”, identificada na 139 literatura. O primeiro consiste na forte associação da existência de um portfólio sistemático de produtos de inteligência (dimensão a priori “disseminação”), o que é bastante razoável visto que um bom planejamento e antecipação das necessidades de informação dos usuários permite a estruturação de um portfólio de relatórios sistemáticos. O segundo diz respeito ao desmembramento da dimensão “planejamento” em dois fatores distintos. A dimensão latente apresentada por este fator está mais relacionada com o caráter antecipativo da inteligência competitiva. Um segundo escopo, que imaginou-se pertencer a esta mesma dimensão, foi captado pelo último fator deste construto; “Clareza de Propósito”, que será apresentado posteriormente. FATOR 3: Análise. Consiste no emprego de uma abordagem sistemática para as análises realizadas através da utilização de técnicas analíticas, como cenários prospectivos e métodos qualitativos e quantitativos, e oferecendo consistentemente nos relatórios da Inteligência Competitiva comentários sobre recomendações de ações. Observações sobre o fator: Pode-se dizer que este fator comportou-se de forma bastante semelhante ao esperado inicialmente. FATOR 4: Coleta Secundária. Consiste na utilização de todos os meios disponíveis para coleta de informações secundárias sobre o negócio de atuação da empresa. Estão incluídos aqui, o monitoramento de notícias, uso de relatórios de mercado e bases de dados especializadas e, por fim, a contratação de pesquisas de mercado sempre que necessário para responder a questões relevantes. Observações sobre o fator: Este fator comportou-se exatamente como o esperado inicialmente. FATOR 5: Clareza de propósito. Compreende o claro entendimento de quem deve ser atendido pela Inteligência Competitiva e que informações e análises estes executivos necessitarão. Ou seja, consiste na perfeita compreensão do propósito central para qual o processo de inteligência foi estruturado. Abrange também a utilização de mecanismos de comunicação direta com os usuários-chave, como a utilização de reuniões para apresentação dos relatórios de inteligência mais relevantes, permitindo assim um constante alinhamento do papel da IC às necessidades de seu público. 140 Observações sobre o fator: Conforme abordado nos comentários sobre o fator 2, esta dimensão latente consiste em um segundo escopo que teria sido imaginado pertencer anteriormente à dimensão “planejamento”. Com isso, o Planejamento da Inteligência Competitiva, da forma como foi concebido anteriormente, abrange, na verdade, dois aspectos distintos. O claro entendimento do propósito do processo de IC e a postura antecipativa e pro ativa da equipe de inteligência na condução das suas atividades. Cabe destacar ainda que as questões pertencentes à dimensão “disseminação”, identificada na literatura, foram distribuídas ao longo dos fatores acima apresentados. Este pode ser um sinal interessante de que os diferentes mecanismos de entrega e comunicação da inteligência estão, na verdade, associados, ou até mesmo inclusos, nas demais atividades do processo de inteligência. A disseminação da inteligência seria assim uma conseqüência direta de um bom entendimento do propósito da IC, um planejamento pro ativo e uma comunicação de duas mãos com a rede de inteligência. Análise de Confiabilidade O Alpha de Cronbach de 0,961, obtido a partir do procedimento RELIABILITY do SPSS, para o Macroconstruto indica que este possui confiabilidade adequada, assim como os fatores obtidos, com valores de 0,847, 0,829, 0,845, 0,804, 0,718 respectivamente. Cabe ressaltar que os altos valores obtidos para os índices apresentados permitem considerar o construto como sendo de alta confiabilidade para mensurar a grandeza pretendida. 141 FATORES DE SUSTENTAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Quadro 4.2.3. Resumo dos resultados obtidos para os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva Descrição Fatores Comunalidade Média d.p. Possui portal na Intranet para disponibilizar inteligência gerada 2,99 1,942 ,836 ,786 Possui software para interação com a rede de inteligência 2,81 1,717 ,800 ,812 Possui software de armazenamento, classificação e busca 3,21 1,754 ,768 ,772 Possui software de coleta e monitoramento automático 3,22 1,873 ,744 ,771 Relatórios utilizados em processos sistemáticos de planejamento 4,13 1,585 ,741 Coordenador da IC possui assento nas reuniões de planejamento 3,97 1,696 ,657 1 2 Unidade de IC próxima à principal área usuária 3,90 1,698 ,656 Equipe da IC integrada aos demais funcionários 4,03 1,477 ,618 Equipe de analistas excepcionalmente qualificada 4,00 1,467 ,611 3 4 5 ,741 ,416 ,705 ,565 ,523 ,709 ,533 'Coordenador de IC' está alocado exclusivamente a esta função 3,24 1,947 ,892 ,835 'Unidade de IC' dedica-se exclusivamente às atividades de IC 3,31 1,940 ,876 ,880 ,825 Equipe de analistas de inteligência alocados em tempo integral 3,13 1,800 Avalia economicamente os benefícios proporcionados pela IC 2,78 1,555 ,829 Registro das decisões de negócio tomadas em função da IC 3,06 1,536 ,795 ,759 Possui indicadores operacionais de desempenho para IC 2,75 1,521 ,689 ,745 Insiste com usuários que recomendações virem decisões 3,58 1,539 Livre compartilhamento de informações é parte do dia-a-dia 3,63 1,465 Todos compreendem o papel da IC 3,42 1,448 Faz avaliações formais da satisfação dos usuários-chave 3,03 1,456 ,449 ,827 ,806 ,576 ,401 ,683 ,854 ,745 ,741 ,711 ,505 ,720 Autovalor 3.129 2.929 2.899 2.862 2.284 Variância Explicada por Fator 16.5% 15.4% 15.3% 15.1% 12.0% Alpha para o Macroconstruto ,901 ,920 Bartlett - Sig. ,000 Alpha de Cronbach por Fator KMO Variância Explicada ,880 ,822 ,843 ,749 ,809 74,23% Análise Descritiva As empresas respondentes apresentaram um nível geral de sofisticação nos Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva levemente inferior ao construto anterior; Atividades Primárias da Inteligência Competitiva. Tal constatação está alinhada ao entendimento de que as variáveis aqui descritas constituiriam aspectos complementares ao processo básico de inteligência que permitiriam às organizações extraírem maiores benefícios do processo e assim perpetuarem a atividade nas empresas. Ou seja, não há como empregar os mecanismos aqui descritos sem que antes os itens do construto anterior sejam endereçados. 142 Quando comparado aos demais itens, as empresas pesquisadas apresentaram bons níveis de integração entre as atividades de inteligência e o processo decisório da organização. Os relatórios de inteligência são utilizados como insumos formais em processos sistemáticos de planejamento e o coordenador de inteligência possui influência e assento formal nas reuniões de planejamento mais importantes da empresa. A estrutura de inteligência das empresas aparentou ter um nível intermediário de desenvolvimento. Na média, foram razoáveis os índices para a existência de um coordenador da IC em tempo integral, de uma equipe de analistas e da dedicação exclusiva de uma área na empresa para cuidar do assunto. Os aspectos culturais da Inteligência Competitiva também apresentaram níveis intermediários de sofisticação. Contrariando alguns autores que afirmam que um dos maiores problemas para a Inteligência Competitiva é a falta de uma cultura de livre troca de informações internamente na empresa, este aspecto também obteve um escore razoável quando comparado aos demais. As empresas apresentaram os menores graus de desenvolvimento em aspectos relacionados ao suporte da tecnologia da informação para a IC e à avaliação do processo de inteligência. As empresas parecem não dispor das soluções tecnológicas recomendadas pela literatura para agilizar e organizar o trabalho da equipe de inteligência. Por sua vez, no aspecto avaliação do processo de IC, os respondentes disseram não registrar que decisões foram tomadas em decorrência das análises da IC, por conseqüência, não avaliam os resultados econômicos obtidos com tais decisões, não possuem indicadores operacionais para controle do processo de inteligência e, por fim, não realizam pesquisas de satisfação formais com seus usuários-chave para identificar pontos de melhoria. Análise Fatorial A análise fatorial resultou em um KMO de 0,809 e uma significância de 0,000 no teste de esfericidade de Bartlett, indicando a adequação da análise. A variância total explicada pelos quatro fatores foi de 74,23%. A partir das cargas de cada questão nos fatores identificados, estes foram nomeados, como descrito a seguir. FATOR 1: Suporte de TI. Consiste no uso de todo o suporte tecnológico disponível para ganho de produtividade no processo. Envolve a utilização de soluções de coleta automática de 143 informações, interação com a rede, armazenamento, classificação e busca, e disponibilização da inteligência gerada na intranet. Observações sobre o fator: Este fator comportou-se exatamente como o esperado inicialmente. FATOR 2: IC e Processo Decisório. Consiste na capacidade da empresa em transformar recomendações em decisões e, consequentemente, em ações. Abrange a utilização de mecanismos como a utilização de relatórios da IC em processos sistemáticos de planejamento e a disponibilização de um assento formal ao coordenador de IC nas reuniões de decisão da empresa. Está associada também a aspectos que aumentam as chances de que as recomendações da equipe de inteligência se transformarão em decisões, como uma grande proximidade da unidade de IC com a principal área usuária da empresa, uma excelente qualificação da equipe de inteligência, que a confere prestígio e respeito internamente, e uma perfeita integração entre a equipe de IC e as demais pessoas de empresa. Observações sobre o fator: Este fator comportou-se em grande parte conforme previsto inicialmente. As principais variáveis da dimensão concebida a priori “integração entre IC e o processo decisório” se mantiveram como previsto. Contudo, pode-se perceber que algumas variáveis de outras dimensões apresentaram forte associação com este mesmo aspecto. São estas: (i) qualificação da equipe, que dá prestígio ao time e aumenta as chances de que a IC seja ouvida internamente; (ii) integração diária da equipe de IC com todos na empresa, que também contribui para que a equipe de IC seja considerada na tomada de decisões; e (iii) uma grande proximidade da IC com a principal área usuária fazendo com que não haja ruídos e brigas políticas no caminho para a tomada de decisão. FATOR 3: Estrutura Dedicada. Compreende a existência de uma estrutura formalizada e dedicada integralmente às atividades de IC. Mais especificamente, esta estrutura abrange uma área na empresa focada em Inteligência Competitiva, um executivo dedicado em tempo integral para coordenar o processo e uma equipe de analistas também em tempo integral. Observações sobre o fator: Pode-se dizer que este fator comportou-se de forma bastante semelhante ao esperado inicialmente. 144 FATOR 4: Avaliação e Orientação a Resultados. Envolve não somente o controle do processo de inteligência mas também a preocupação com os resultados gerados pelas atividades de IC. Busca-se constantemente fazer com que as recomendações virem decisões, registra-se as decisões que foram tomadas em decorrência da IC e deseja-se saber sobre os resultados obtidos no mercado como conseqüência destas decisões. Observações sobre o fator: Este fator comportou-se de forma bastante semelhante ao esperado inicialmente. Cabe destaque apenas a variável “insistência para que recomendações virem decisões”, que embora não pertencesse inicialmente a esta dimensão latente, apareceu razoavelmente relacionada com este. A constatação faz sentido, visto que uma atuação mais enfática da equipe junto aos usuários para que estes transformem as recomendações da IC em ações estaria, na verdade, relacionada com uma orientação mais forte em busca da geração de resultados tangíveis. FATOR 5: Adequação da Cultura. Abrange o grau com que a cultura da organização está adequada para as atividades de IC. As pessoas se sentem à vontade para trocar informações e compreendem a importância da IC. Para buscar um melhor entendimento sobre a forma como é vista pelas pessoas e assim poder atuar no eixo cultural da empresa, a equipe de inteligência pode recorrer a pesquisas internas de satisfação. Observações sobre o fator: Pode-se dizer que este fator comportou-se de forma bastante semelhante ao esperado inicialmente. Análise de Confiabilidade O Alpha de Cronbach de 0,920, obtido a partir do procedimento RELIABILITY do SPSS, para o Macroconstruto indica que este possui confiabilidade adequada, assim como os fatores obtidos, com valores de 0,880, 0,822, 0,901, 0,843, 0,749 respectivamente. Assim como no construto anterior, os altos valores obtidos para os índices apresentados permitem considerar o construto como sendo de alta confiabilidade para mensurar a grandeza pretendida. 145 PERFORMANCE ORGANIZACIONAL Quadro 4.2.4. Resumo dos resultados obtidos para Performance Organizacional Descrição Fatores Comunalidade Média d.p. Maiores índices de fidelização do que concorrentes 4,34 1,109 ,846 ,761 Melhor na entrada junto à novos públicos do que concorrentes 4,36 1,190 ,833 ,707 Melhor na entrada em novos negócios do que concorrentes 3,84 1,399 ,745 ,596 Lançou mais novos produtos bem sucedidos do que concorrentes 4,00 1,267 ,718 ,541 1 2 Superou concorrentes no uso de novas tecnologias 4,22 1,289 ,651 ,552 Superou concorrentes no cumprimento da regulação 4,45 1,063 ,562 ,415 Retorno sobre o PL superior aos concorrentes 4,22 1,346 ,911 ,849 Margem EBTIDA superior aos concorrentes 4,21 1,388 ,910 ,855 Faturamento cresceu acima dos concorrentes 4,43 1,317 Conquistou mais novos clientes do que concorrentes 4,46 1,259 ,749 ,653 ,453 ,667 ,650 3,562 3,018 Variância Explicada por Fator 35,61% 30,18% Alpha de Cronbach por Fator ,857 ,880 Autovalor Alpha para o Macroconstruto ,890 Bartlett – Sig. ,000 KMO Variância Explicada ,785 65,80% Análise Descritiva As empresas respondentes apresentaram um nível geral de performance organizacional relativamente alto, quando comparado com os construtos de Inteligência Competitiva, porém levemente inferior aos obtidos nos construtos Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro. Não houve variáveis nas quais as empresas se destacaram significativamente e, da mesma, forma nenhum item apresentou resultados substancialmente inferiores. Análise Fatorial A análise fatorial resultou em um KMO de 0,785 e uma significância de 0,000 no teste de esfericidade de Bartlett, indicando a adequação da análise. A variância total explicada pelos quatro fatores foi de 65,80%. A partir das cargas de cada questão nos fatores identificados, estes foram nomeados, como descrito a seguir. FATOR 1: Performance Leading Indicators. Conforme proposto por Kaplan & Norton (1992), este fator abrange performance medida de acordo com uma série de quesitos não- 146 financeiros, mais estruturais, que seriam, na verdade, segundo os autores, promessa de resultado financeiro futuro. Compreende aspectos como a superação dos concorrentes diretos no que tange a fidelização de clientes, entrada em novos negócios, atendimento de novos públicos, lançamento de novos produtos, aproveitamento de novas tecnologias, dentre outros. FATOR 2: Performance Lagging Indicators. Complementarmente ao fator anterior, abrange performance sob uma ótica econômica mais tradicional. Trata dos resultados passados. Envolve basicamente a superação dos concorrentes diretos no tocante ao crescimento do faturamento, margem e retorno sobre o capital empregado. Adicionalmente a estes resultados financeiros, compreende também resultados em termos de número de clientes conquistados pelo processo de vendas, por ter este um caráter bastante quantificável e ser altamente relacionado com performance econômica. Análise de Confiabilidade O Alpha de Cronbach de 0,890, obtido a partir do procedimento RELIABILITY do SPSS, para o Macroconstruto indica que este possui confiabilidade adequada, assim como os fatores obtidos, com valores de 0,857 e 0,880 respectivamente. RESUMO No quadro a seguir estão resumidos os resultados que permitiram reduzir os cerca de 70 itens da pesquisa a 16 fatores. Todos os Macroconstrutos apresentaram adequada confiabilidade, com valores para o coeficiente Alpha de Cronbach superiores a 0,890, com os novos construtos, desenvolvidos para mensurar Inteligência Competitiva, apresentando os mais altos escores, de 0,961 e 0,920. Quadro 4.2.5. Resumo dos testes de confiabilidade para cada Macroconstruto Macroconstruto Itens Fatores KMO Bartlett Alpha Planejamento e Controle 10 2 0,872 0,000 0,912 Direcionamento para o Futuro 10 2 0,807 0,000 0,894 Atividades Primárias da IC 20 5 0,844 0,000 0,961 Fatores de Sustentação da IC 19 5 0,809 0,000 0,920 Performance Organizacional 10 2 0,785 0,000 0,890 147 4.2.B. DADOS DEMOGRÁFICOS DAS EMPRESAS RESPONDENTES Os quadros e figuras que se seguem representam o perfil demográfico das empresas participantes da pesquisa, cujos questionários foram considerados válidos para análise. Não foi possível comparar a distribuição das empresas da amostra com todo o universo de acordo com o seu perfil demográfico. Conforme abordado anteriormente, por se tratar de um tema bastante recente e de pouca utilização prática nas empresas de atuação no país, não foi definido nenhum segmento de empresas como público-alvo da pesquisa. Assim, foram considerados respondentes de quaisquer setores, portes e estruturas societárias. E, neste contexto, uma comparação com o universo total de empresas de atuação no país também não faria grande sentido tendo em vista a predominância absoluta de micros e pequenas empresas neste universo, entidades estas para as quais os conceitos desenvolvidos neste trabalho não possuem grande aplicabilidade, mais especificamente no que diz respeito à forma como Inteligência Competitiva foi operacionalizada no instrumento de coleta de dados. As empresas que gentilmente se dispuseram a participar desta pesquisa estão listadas no quadro a seguir. Quadro 4.2.6. Relação das empresas participantes da pesquisa Banco do Brasil SGS do Brasil Visa Vale Contax Bayer Moore Stephens Consultores Petrobras Itaú Seguros CAP Consulting Camargo Corrêa Telemig Celular ECT (Correios) Companhia Vale do Rio Doce Cultura Inglesa HiTech Santander Banespa BHP Billiton DM Serviços em Inteligência Klabin Senac Rio UNIMAG Unilever Brasil Rede Pitágoras FUCAPI SERPRO CTBC TELECOM Fast Search and Transfer TIM Celular COMGÁS Predicta Grupo Telemar Vallée Fundação MURAKI Souza Cruz Accor - Ticket Transroll Navegação Brasil Telecom Grupo Unibeb Star Company do Brasil VIVO Dânica Termoindustria CM Consultoria Whirlpool SA - Embraco Brasilprev Seguros e Previdência BWP Projetos e Participações Avon Cosméticos Ipiranga Petroquímica Brainox Tecnologia Sebrae Nacional WEG Indústrias Ultramidia Des. Empresarial SS FIRJAN Riopol - Rio Polímeros PARTNER Consultores SENAI / SC Brasilcap DGF Gestão de Fundos 148 * Informações Financeiras Deten Quimica ILLIX Tecnologia e Inteligência Ericsson Empresa de Navegação Elcano www.equipecomunicacao.com.br Universidade Católica de Brasília Sebrae Paraná Alcoa Alumínio Red Bull do Brasil * A empresa solicitou explicitamente para que seu nome não fosse divulgado. Foi informado apenas o setor de atuação desta. A caracterização das empresas respondentes se deu em três aspectos. No primeiro, abordou-se as características gerais das organizações estudadas, incluindo aspectos como porte e setor de atuação. O segundo caracterizou as empresas participantes de acordo com a forma como a Inteligência Competitiva se encontra configurada nestas organizações. Neste aspecto, dentre outros itens, são apresentados os focos dados às atividades de inteligência e a existência de uma unidade de IC na estrutura da empresa. Por fim, foram apresentadas algumas características gerais dos executivos que responderam à pesquisa. Perfil das Empresas As empresas que participaram deste levantamento possuem uma grande variedade de perfis. A amostra possui organizações de diferentes portes, oriundas de diferentes setores de atuação e com distintos formatos societários e origem do capital. Os gráficos a seguir apresentam o perfil das empresas analisadas sob uma perspectiva integrada. Figura 4.2.1. Faturamento da unidade Brasil da empresa em 2005 (n=67) Até 10 US$ Mais de US$ 5 milhões 25.4% bilhões Entre US$ 11 e 10.4% 100 milhões 19.4% Entre US$ 1 e 5 bilhões 20.9% Entre US$ 101 e Entre US$ 501 500 milhões milhões e US$ 1 11.9% bilhão 11.9% 149 Figura 4.2.2. Origem predominante no capital das empresas pesquisadas (n=67) Estrangeiro Nacional 26.9% 73.1% Figura 4.2.3. Setor de atuação das empresas segundo classificação EXAME Melhores e Maiores (n=67) 26.9% Serviços Diversos Telecomunicações 10.4% Tecnologia e Computação 10.4% 9.0% Diversos 7.5% Química e Petroquímica 6.0% Farmacêutico, Higiene e Cosméticos Serviços de Transporte 4.5% Seguradoras 4.5% Siderurgia e Metalurgia 3.0% Mineração 3.0% Bancos 3.0% Alimentos, Bebidas e Fumo 3.0% Serviços Públicos 1.5% Plásticos e Borracha 1.5% Papel e Celulose 1.5% Mecânica 1.5% Comunicações 1.5% Atacado e Comércio Exterior 1.5% 150 Figura 4.2.4. Formato societário das empresas (n=67) Limitada Outro Empresa 26.9% 7.5% Pública 3.0% Sociedade SA Capital Civil Fechado 6.0% 26.9% SA Capital Aberto 29.9% Figura 4.2.5. Número de funcionários na amostra estudada (n=67) 26.9% % 20.9% 100.0% Cumulativo 79.1% 20.9% 46.3% 13.4% 11.9% 58.2% 19.4% 6.0% 6.0% Até 10 De 11 a 50 De 51 a 500 De 501 a 1000 De 1001 a 5000 Acima de 5.000 # Funcionários Características em Inteligência Competitiva Conforme já foi abordado anteriormente, o processo de inteligência pode ter diferentes focos. Embora o nome mais comumente usado, Inteligência Competitiva, traga implícita a idéia de monitoramento dos competidores, há uma série de outros aspectos que podem consistir no propósito central dos esforços de inteligência competitiva de uma empresa. O gráfico a seguir ilustra a distribuição das empresas de acordo com seu foco principal, conforme descrito no quadro abaixo. 151 Quadro 4.2.7. Focos da Inteligência Competitiva nas organizações (conforme perguntado no questionário) Competidores: Monitorar e antecipar movimentos dos competidores. Vendas: Melhorar o desempenho do processo comercial. Produtos: Melhorar o desempenho do processo de concepção e desenvolvimento de produtos. Novos Negócios: Identificar e avaliar oportunidades para entrada em novos negócios. Fusões e Aquisições: Avaliar alvos para aquisição e/ou monitorar movimentos de compra e venda de empresas no mercado. Fornecedores: Melhorar o desempenho do processo de compras. Tecnologia: Monitorar e antecipar mudanças tecnológicas que impactem a empresa. Regulação: Monitorar e antecipar mudanças regulatórias que impactem a empresa. Macroeconomia: Monitorar e antecipar mudanças macroeconômicas que impactem a empresa. Figura 4.2.6. Foco da Inteligência Competitiva na Organização (n=67) (Opção de resposta múltipla escolha) 81% Competidores 60% Novos Negócios 51% Produtos 45% Vendas 30% Tecnologia 24% Macroeconomia 19% Regulação Fornecedores 7% Fusões e Aquisições 7% Algumas das empresas respondentes já contavam com unidades em suas estruturas organizacionais especificamente destinadas às atividades de Inteligência Competitiva. Conforme o gráfico a seguir ilustra, na amostra pesquisada são 37 as empresas que já possuem unidades de IC em suas estruturas. Cabe ressaltar que não é possível extrapolar este resultado para qualquer universo de empresas além da amostra de empresas pesquisadas. É 152 possível que aquelas organizações que já contem com unidades de inteligência possuam naturalmente um maior interesse pelo assunto e, portanto, tenham participado em uma maior proporção. Figura 4.2.7. Existência de uma unidade de Inteligência Competitiva na estrutura organizacional da empresa (n=67) Sim 52.2% Não 44.8% Figura 4.2.8. Tempo de existência da unidade de Inteligência Competitiva (n=37) 19% 5 ou mais anos 43% Entre 2 e 5 anos 38% Até 2 anos Figura 4.2.9. Localização da unidade de Inteligência Competitiva na estrutura organizacional da empresa (n=37) 43% 3% Ligada à área de Marketing Ligada à área de Estratégia, Planejamento ou Novos Negócios 5% Diretamente ligada ao CEO de uma empresa ou UN 5% Ligada à área Comercial 5% Na holding ou área corporativa de uma organização diversificada Ligada à área de Tecnologia 8% 8% 22% Outra Ligada à área de Suprimentos 153 Figura 4.2.10. Tamanho da equipe dedicada em tempo integral às atividades de IC (n=37) 5 ou mais pessoas em tempo integral Até 2 pessoas em tempo integral 41% 35% 3 ou 4 pessoas em tempo integral 24% Figura 4.2.11. Tamanho da equipe dedicada em tempo parcial às atividades de IC (n=37) 5 ou mais pessoas em tempo parcial 3% 3 ou 4 pessoas em tempo parcial 24% Até 2 pessoas em tempo parcial 74% Concluída a análise dos macroconstrutos apresentada na seção anterior, os construtos isolados Atividades Primárias da Inteligência Competitiva e Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva foram combinados para formar um construto único que permitisse obter um escore de sofisticação para o processo de inteligência como um todo. Este foi obtido pela combinação linear dos 2 construtos acima mencionados aplicando-se pesos iguais. As figuras a seguir ilustram como os índices obtidos para a sofisticação da Inteligência Competitiva diferem entre as empresas que possuem e as que não possuem unidades de IC. Em seguida, para as empresas que possuem unidades de IC, o nível de sofisticação do processo de inteligência é apresentado de acordo com o tempo de existência da unidade de IC. 154 Figura 4.2.12. Nível de sofisticação da Inteligência Competitiva de acordo com: 40 Inteligência Competitiva Inteligência Competitiva (a) a existência de uma unidade de IC e (b) o tempo de existência desta unidade 30 20 10 0 40 30 20 10 0 -10 -10 -20 -20 -30 -30 -40 N= 37 30 Sim Não N= 14 16 Até 2 anos 7 5 ou mais anos Entre 2 e 5 anos Há uma unidade específica para IC? (n=67) Tempo da Unidade de IC (n=37) Perfil dos Executivos Respondentes Os gráficos a seguir buscam caracterizar os executivos que responderam à pesquisa. Os respondentes eram predominantemente do sexo masculino, respondiam por cargos de nomenclaturas variadas e assumiam posições nas organizações pesquisadas em sua maioria de média ou alta gerência. Figura 4.2.13. Sexo do executivo respondente (n=67) Feminino 28.40% Masculino 71.60% 155 Quadro 4.2.8. Alguns dos cargos dos respondentes, segundo nomenclatura própria de cada empresa Gerente de Analise de Mercado Analista Comercial Gerente de Análises Estratégicas Analista de Informação Gerente de Business Intelligence Analista de Marketing Gerente de Competitor Intelligence Gerente de Estratégia e Marketing Analista de Prospecção e Informações de Mercado Gerente de Insights e Marketing Intelligence Brasil Bibliotecário Pleno Gerente de Inteligência Competitiva Chefe de Marketing Gerente de Inteligência de Marketing Consultor Interno Gerente de Inteligência de Mercado Especialista em Inteligência Competitiva Gerente de Inteligência e Negócios Especialista em Negócios Gerente de Inteligência Estratégica Chief Information Officer Gerente de Marketing Diretor Comercial Gerente de Planejamento de Mercado Diretor de Operações Gerente de Planejamento Financeiro Diretor Executivo Gerente de Projetos Diretor Geral Gerente Geral Planejamento Estratégico Vice Presidente Investment Officer Presidente Market Intelligence Global Officer Sócio Coordenador de Inteligência Competitiva Coordenador de Inteligência de Marketing Coordenador do Núcleo de Inteligência Competitiva Figura 4.2.14. Posição hierárquica dos executivos respondentes (n=67) 16.4% Analista 9.0% Coordenação 23.9% Média Gerência 28.4% Alta Gerência 13.4% Direção 9.0% Presidência Figura 4.2.15. Faixa etária dos respondentes (n=67) 14.9% 51 ou mais 19.4% Entre 41 e 50 43.3% Entre 31 e 40 17.9% Entre 26 e 30 25 ou menos 4.5% 156 Figura 4.2.16. Tempo de trabalho na empresa pesquisada (n=67) Mais de 10 anos Entre 6 e 10 anos Entre 3 e 5 anos 2 anos ou menos 11.9% 28.4% 32.8% 26.9% 4.2.C. TESTES DAS HIPÓTESES TESTE DA HIPÓTESE 1 H0,1 – Não existem segmentos estatisticamente diferenciados quanto aos escores fatoriais do Processo de Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro ANÁLISE HIERÁRQUICA DE CONGLOMERADOS Os casos foram agrupados utilizando a análise hierárquica de conglomerados (através do procedimento hierarchical cluster do pacote estatístico SPSS) utilizando o método de Ward, conforme descrito por Hair et al. (1998). O procedimento de aglomeração foi realizado em relação aos fatores extraídos dos itens do questionário pertencentes aos Macroconstrutos da pesquisa como detalhado anteriormente. Os fatores resultantes foram normalizados através da conversão para valores-padrão Z scores, evitando pesos excessivos para fatores com maior dispersão. A medida utilizada para verificar a proximidade entre os casos foi a medida de distância quadrática euclidiana. Como resultado foram selecionados quatro conglomerados homogêneos (clusters). No dendograma da figura a seguir são destacados os agrupamentos de número 1 (contendo 23 empresas), 2 (12 empresas), 3 (9 empresas) e 4 (23 empresas) obtidos através da aglomeração dos casos. 157 Figura 4.2.17. Dendograma gerado segundo método de Ward (n=67) C A S E 0 Label Num 5 10 15 +---------+---------+---------+---------+----- 09 ØÞ 52 42 ØÚØØØÞ ØÝ ß ØØØØØÞ 43 45 Ø8ØØØÝ ØÝ 23 39 ØØØØØ8ØØØØØÝ ØØØØØÝ Ù Ù 07 56 Ø8ØØØØØØØÞ ØÝ Ù Ù ß ØØØÞ 19 28 Ø8ØÞ ß ØØØÞ Ù ØÝ ß ØØØÞ Ù ÙÙ Ù Ù 37 64 ØØØÝ ß ØÝ ØØØØØØØÝ ÙÙ ÙÙ Ù Ù 59 62 Ø8ØÞ ØÝ ß ØØØÞ ÙÙ ß ØÝ Ù Ù 31 33 ØÞ Ù ØÚØÝ Ù ß ØÞ Ù Ù Ù Ù 40 13 ØÝ Ø8ØÞ ÙÙ ÙÙ Ù Ù Ù ß ØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØÞ 58 01 ØÝ ß ØØØÝ ß ØØØÝ ØØØà Ù Ù Ù Ù Ù 49 41 ØØØÝ Ù ØØØØØØØØØÝ Ù Ù Ù Ù 04 17 Ø8ØÞ ØÝ ß ØØØØØÞ Ù Ù Ù Ù 14 55 Ø8Øà ØÝ Ù Ù Ù Ù Ù Ù Ù 06 21 ØØØÝ ØØØ8ØÞ Ù Ù ß ØØØØØØØØØÝ 38 27 ØØØÝ ß ØØØà ØØØØØÝ Ù Ù Ù 15 02 ØØØØØØØØØÝ ØÞ Ù Ù 53 20 ØÚØÞ ØÝ Ù Ù Ù 35 67 ØÞ ß ØØØÞ ØÚØà Ù Ù Ù 60 12 ØÝ Ù ØØØÝ Ù ß ØØØØØØØØØÞ 10 47 Ø8ØÞ ØÝ Ù Ù Ù 03 48 ß ØØØÞ Ù Ù 1 3 2 Ù Ù Ù Ù Ù Ù Ù Ù ØØØÚØØØÝ ØØØà Ù Ù Ù Ù 54 57 ØØØÝ Ø8ØÞ Ù Ù Ù Ù 61 44 ØÝ ß ØÞ ØØØÝ ß ØØØÞ Ù Ù Ù Ù 63 16 ØØØØØÝ ØÞ ß ØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØØÝ Ù 30 65 ØÚØÞ Ù Ù ØÝ ß ØØØÞ ß ØØØØØÞ Ù 32 66 ØÞ Ù ØÚØÝ ÙÙ ÙÙ ÙÙ ÙÙ 08 34 ØÝ ØÞ ÙÙ ß ØÝ ÙÙ ÙÙ 51 22 Øà Ù ØÚØØØÞ Ù ÙÙ ß ØÝ 05 46 Øà ØÝ Ù Ù 29 36 Ø8ØÞ Ù ØÝ ß ØÝ Ù Ù 18 25 ØØØÝ ØØØØØ8ØØØØØÞ Ù Ù 50 11 ØØØØØÝ ØØØ8ØÞ 24 26 ØØØÝ ß ØØØØØÝ ØØØØØÝ Ù Ù ÙÙ ß ØÝ ß ØØØÝ Ù 20 4 158 VERIFICAÇÃO DA DIFERENÇA DAS MÉDIAS DOS FATORES NOS CONGLOMERADOS Com o objetivo de verificar a significância estatística da diferença das médias dos escores fatoriais obtidos ao longo dos diferentes clusters identificados, foram aplicados os testes de Pillais, Hottelings e Wilks através da utilização do procedimento de análise de variância multivariada – MANOVA do SPSS, de acordo com o indicado por Hair et al. (1998). Para todos os testes multivariados de significância realizados, foi identificada a diferença da média dos fatores nos conglomerados obtidos na análise hierárquica de conglomerados, rejeitando, portanto, H0. Quadro 4.2.9. Testes multivariados de significância Teste Valor F g.l. Hip g.l. Erro Sig. Pillais 2,06464 6,89788 48,00 150,00 0,000 Hotellings 8,46354 8,22844 48,00 140,00 0,000 Wilks ,02313 7,62099 48,00 143,56 0,000 Visando complementar os testes multivariados descritos anteriormente, foi realizada também a análise de variância para cada fator, através da aplicação de testes F univariados utilizando o procedimento ANOVA do SPSS. Verificou-se que 11 dos 16 fatores apresentaram médias significativamente diferentes entre os agrupamentos. Quadro 4.2.10. Testes multivariados de significância Macroconstruto Fator F Sig. 0.000 PLAN Formalização de Projetos 10.52 PLAN Planejamento Estratégico 13.17 0.000 FUT Visão Longo Prazo 9.43 0.000 FUT Caráter Inovador 9.19 0.000 IC 1 Rede de Inteligência 3.40 0.023 IC 1 Planejamento e Pro atividade 0.94 0.428 IC 1 Análise 8.59 0.000 IC 1 Coleta Secundária 7.28 0.000 IC 1 Clareza de propósito 1.96 0.130 IC 2 Suporte de TI 2.16 0.101 IC 2 IC e Processo Decisório 13.65 0.000 IC 2 Estrutura Dedicada 0.62 0.604 IC 2 Avaliação e Orientação a Resultados 24.36 0.000 IC 2 Adequação da Cultura 1.76 0.163 PER Leading Indicators 10.92 0.000 PER Lagging Indicators 3.84 0.014 159 TESTE DA HIPÓTESE 2 H0,2 – Não existem funções de classificação estatisticamente significantes que discriminem as empresas entrevistadas em categorias, de acordo com os fatores definidos ANÁLISE DISCRIMINANTE MULTIVARIADA Para testar a segunda hipótese foi utilizada a técnica de análise discriminante multivariada, como sugerido por Hair et al. (1998). O teste foi realizado através do procedimento DISCRIMINANT do SPSS e consiste na verificação da significância estatística do Lambda de Wilks para as funções discriminantes derivadas a partir do procedimento. Através deste procedimento foi possível também verificar o percentual de casos corretamente classificados pela aplicação das funções discriminantes. O resumo da análise discriminante é apresentado nos quadros a seguir. No quadro 4.2.11 são apresentadas as médias dos fatores obtidas para cada conglomerado. Foram marcados em verde os escores que obtiveram os maiores valores em relação à média do cluster. Utilizando a mesma lógica, os escores em vermelho tiveram os menores valores dentro de cada cluster. Quadro 4.2.11 Média dos fatores nos conglomerados Custers Fatores 1 2 3 4 PLAN: Formalização de Projetos -0.76 PLAN: Planejamento Estratégico 0.19 0.56 0.01 0.47 0.45 -1.54 0.18 FUT: Visão Longo Prazo FUT: Caráter Inovador -0.32 0.35 -1.04 0.55 -0.73 0.65 0.22 0.31 IC 1: Rede de Inteligência -0.39 0.68 -0.05 0.05 IC 1: Planejamento e Pro atividade -0.21 0.24 0.34 -0.05 IC 1: Análise -0.60 0.94 0.06 0.09 IC 1: Coleta Secundária -0.12 -0.03 -1.05 0.54 IC 1: Clareza de propósito -0.33 0.10 -0.16 0.34 0.13 0.49 -0.45 -0.21 -0.66 0.02 -0.39 0.80 0.05 0.16 -0.41 0.02 IC 2: Suporte de TI IC 2: IC e Processo Decisório IC 2: Estrutura Dedicada IC 2: Avaliação e Orientação a Resultados -0.67 1.38 0.39 -0.20 IC 2: Adequação da Cultura -0.25 0.22 -0.37 0.28 PER: Leading Indicators -0.45 0.53 -0.93 0.54 PER: Lagging Indicators -0.37 -0.33 0.12 0.49 Média no Cluster -0.34 0.40 -0.33 0.26 0.30 0.41 0.56 0.29 Desvio-Padrão 160 Quadro 4.2.12. Funções discriminantes e teste da segunda hipótese % % Acum. Var. Correl. Canon. Lambda Wilks Chisquare g.I. Sig. 55,5 0,908 0,023 210,933 48 0,000 32,3 87,8 0,856 0,132 113,496 30 0,000 12,2 100,0 ,713 0,492 39,717 14 0,000 Função Autovalor 1 4,697 55,5 2 2,734 3 1,032 A hipótese nula H0,2 foi então rejeitada pois as três funções apresentaram significância a p<0,01. No quadro a seguir é explicitada a composição do escore padronizado das funções discriminantes, através de uma matriz de estrutura onde é possível se observar a carga de cada fator em cada uma das duas funções resultantes da análise. Quadro 4.2.13. Matrizes de Estrutura Macroconstruto Função Fator 1 2 3 Formalização de Projetos ,316 ,101 -,060 FUT Caráter Inovador ,305 ,010 -,026 IC 1 Análise ,279 -,037 ,194 IC 1 Rede de Inteligência ,170 -,010 ,160 IC 1 Clareza de propósito ,111 ,106 -,067 IC 1 Coleta Secundária ,049 ,349 ,055 FUT Visão Longo Prazo ,150 ,341 ,157 IC 2 IC e Processo Decisório ,253 ,322 -,254 PER Leading Indicators ,213 ,316 ,180 IC 2 Adequação da Cultura ,095 ,121 ,038 IC 1 Planejamento e Pro atividade ,076 -,079 -,010 Planejamento Estratégico -,020 ,353 ,526 IC 2 Avaliação e Orientação a Resultados ,412 -,254 ,427 IC 2 Suporte de TI -,004 ,003 ,316 PLAN PLAN PER Lagging Indicators ,095 ,120 -,312 IC 2 Estrutura Dedicada -,003 ,067 ,130 161 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DAS FUNÇÕES DISCRIMINANTES No quadro a seguir, verifica-se que todas as 67 empresas (100%) foram classificadas corretamente pelas funções descriminantes. Este resultado confirma a viabilidade e a adequação da utilização dos fatores que compõem os Macroconstrutos propostos na pesquisa com o objetivo de classificar as empresas respondentes. Quadro 4.2.14. Resultados da classificação Classification Resultsa Original Count % Cluster (4 grupos) 1 2 3 4 1 2 3 4 Predicted Group Membership 2 3 23 0 0 0 12 0 0 0 9 0 0 0 100,0 ,0 ,0 ,0 100,0 ,0 ,0 ,0 100,0 ,0 ,0 ,0 1 4 0 0 0 23 ,0 ,0 ,0 100,0 Total 23 12 9 23 100,0 100,0 100,0 100,0 a. 100,0% of original grouped cases correctly classified. A figura a seguir ilustra uma representação gráfica da dispersão dos casos aplicadas as funções discriminantes obtidas 1 e 2. Os diferentes clusters obtidos estão destacados em cores distintas. Figura 4.2.18. Representação gráfica dos clusters 162 ANÁLISE DE CORRESPONDÊNCIA ENTRE FATORES E CONGLOMERADOS A técnica de análise de correspondência, conforme descrita por Hair et al. (1998), foi utilizada para construir um mapa perceptual representando a correspondência entre os fatores que compõem os Macroconstrutos da pesquisa e os conglomerados obtidos. Com base nesta representação gráfica é possível observar as características predominantes de cada conglomerado, permitindo assim traçar seus perfis. Figura 4.2.19. Mapa perceptual da análise de correspondência entre fatores e conglomerados 0,6 IC 2: Avaliação e Resultados 0,4 IC 2: Suporte de TI IC 1: Planejamento e Pro atividade 2 0,2 IC 1: Análise 3 0,0 1 IC 2: Estrutura Dedicada IC 1: Rede de Inteligência IC 2: Adequação da Cultura IC 1: Clareza de propósito FUT: Caráter Inovador -0,2 -0,4 PER: Lagging Indicators 4 PLAN: Formalização de Projetos -0,6 PLAN: Planejamento Estratégico FUT: Visão Longo Prazo IC 1: Coleta Secundária PER: Leading Indicators IC 2: IC e Processo Decisório -0,8 -1,0 -0,5 0,0 0,5 Complementando o mapa perceptual acima para caracterização dos conglomerados, o gráfico a seguir tem por objetivo fornecer uma visão consolidada dos níveis gerais de sofisticação dos grupos identificados ao longo dos macroconstrutos investigados. Figura 4.2.20. Dispersão dos índices obtidos para os macroconstrutos pesquisados Legenda: Planejamento e Controle Direcionamento para o Futuro Inteligência Competitiva Performance Organizacional Cluster 163 Analisando os gráficos apresentados pode-se identificar as principais características presentes em cada conglomerado de empresas no que tange seus comportamentos em relação aos fatores obtidos para os construtos Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro, Inteligência Competitiva e Performance Organizacional. Cluster 1. “Estrelas Cadentes”. Contém empresas que possuem os piores níveis de performance, segundo a percepção dos executivos entrevistados. Tanto os direcionadores de performance de curto prazo, de caráter mais econômico e imediatista, quanto os de longo prazo apresentam baixos níveis. Estas empresas possuem baixos traços de sofisticação em sua gestão, mas especificamente nos quesitos avaliados nesta pesquisa; Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro e Inteligência Competitiva. São empresas pouco inovadoras e também pouco orientadas para o longo prazo. Apresentam algum nível de sofisticação em termos de planejamento estratégico mas não conseguem operacionaliza-lo devido à um baixo nível de formalização e controle de seus projetos de investimento. Em termos de Inteligência Competitiva, chegam a apresentar algum desenvolvimento um pouco mais expressivo em aspectos como estrutura dedicada para a IC e suporte de tecnologia da informação. Mas não possuem desempenhos muito expressivos nas atividades primárias da Inteligência Competitiva, como coleta e análise, que de fato produzirão o conteúdo que irá subsidiar a tomada de decisões, e seus processos de inteligência como um todo não podem ser considerados sofisticados. Cluster 2: “Desafiantes”. Compreende as empresas que possuem as práticas de gestão avaliadas mais sofisticadas entre as empresas pesquisadas. Possuem boas práticas de planejamento estratégico e formalização e controle de projetos, preocupam-se ativamente com o longo prazo e possuem caráter inovador. No que tange a Inteligência Competitiva, apresentam os melhores níveis de sofisticação da amostra com uma significativa distância do segundo grupo. Dentre os diversos fatores que compõem a IC, destacam-se naqueles mais orientados às atividades primárias da inteligência, que de fato entregarão subsídios úteis para a alta direção. Mais especificamente, possuem clareza no propósito do processo de IC, se antecipam e planejam pro ativamente as atividades de inteligência, possuem excelentes práticas de análise de informações e, por fim, destacam-se com os maiores níveis de sofisticação no que tange a rede de inteligência para coleta de informações primárias. Contudo, embora sua performance de longo prazo, caracterizados pelos leading indicators, apresente um dos melhores níveis dentre os grupos identificados, esta ainda não se 164 concretizou em performance econômica de curto prazo. Este grupo de empresas apresentou nos últimos 2 anos resultados econômicos inferiores aos seus concorrentes diretos. A sofisticação da sua gestão aliada com o bom desempenho nos indicadores de performance de longo prazo levam a crer que estas organizações poderão vir a se tornar as líderes em resultados no futuro. Cluster 3. “Passivas”. Consistem em empresas de pouca orientação para o futuro e baixa sofisticação nos aspectos de gestão pesquisados mas que, no entanto, vêm conseguindo apresentar uma performance de curto prazo em níveis medianos. Estas empresas conseguem inovar ocasionalmente. Mas isso não é realizado de uma forma pro ativa, planejada e consistente. Este grupo de empresas não possui práticas sofisticadas de planejamento estratégico, também não conseguem formalizar e controlar seus projetos muito bem e não possuem disciplina para pensar sobre o que o cenário de futuro guarda para elas. Da mesma forma, a Inteligência Competitiva nestas organizações é pouco sofisticada, sendo esta bastante informal e sem quase nenhuma estrutura permanente para tal. Cluster 4. “Líderes de Alto Desempenho”. Este grupo de empresas caracteriza-se por conseguir resultados excepcionais. Tanto em termos de sua performance de longo prazo quanto de curto prazo, estas empresas apresentam os melhores índices. Aliado a esta performance diferenciada, possuem também altos níveis de sofisticação em quase todos os aspectos de gestão pesquisados. Destacam-se pela visão de longo prazo da organização e pela forma como os projetos de investimentos são implementados e controlados. De uma forma geral, seus processos de IC podem ser considerados bem desenvolvidos. Estas empresas possuem seus propósitos da IC bem formalizados, trabalham bem com informações secundárias e conseguem integrar o trabalho de inteligência com a tomada de decisões. Pelo menos possuem mecanismos bastante sistematizados para tal. Contudo, não possuem características de um processo de inteligência flexível, ágil e pro ativo. Quando comparadas às empresas do grupo “desafiantes”, que possuem as práticas mais sofisticadas de inteligência, apresentam menores escores em quesitos importantes para garantir ganhos tanto de agilidade quanto efetividade ao processo. Suas redes de inteligência não são tão desenvolvidas, as abordagens utilizadas para análise de informações também são um pouco inferiores às utilizadas pelas “desafiantes” e também não possuem sistemas computacionais para suporte ao processo de inteligência tão sofisticados. Estas organizações 165 possuem sólidas estruturas de inteligência e provavelmente precisam apenas de um ajuste fino para dinamizar seus processos de IC. ANÁLISE DE CORRESPONDÊNCIA CARACTERÍSTICAS ENTRE DAS EMPRESAS E CONGLOMERADOS Para melhor caracterizar as empresas pertencentes aos conglomerados obtidos, foi realizada uma nova análise de correspondência, agora buscando representar os perfis dos conglomerados de acordo com as características demográficas das empresas que os constituem, entre elas, o seu porte, formato societário e origem do capital. Foram consideradas também características relacionadas à forma como a Inteligência Competitiva se encontra estruturada nas empresas, incluindo o tempo de existência da unidade de IC, o tamanho da equipe dedicada para tal atividade e a localização da unidade de IC na estrutura organizacional da empresa. Estas características foram contabilizadas para os grupos analisados através do procedimento CATEGORIZE VARIABLES, conforme descrito no quadro a seguir, em que também é apresentada quantidade de empresas para cada conglomerado de acordo com a característica peculiar das empresas que o constituem para cada variável descrita. Quadro 4.2.15. Perfis dos conglomerados Cluster (frequência) Variável Porte Faturamento Valor Formato Societário Origem do Capital Tempo de Existência da Unidade de IC 1 2 3 4 4 4 6 3 17% 33% 67% 13% 25% M: De US$ 11 Milhões a US$ 500 Milhões 8 5 1 7 35% 42% 11% 30% 31% 4 Total 11 3 2 13 48% 25% 22% 57% 43% 1 4 6 7 4% 33% 67% 30% 27% SA Capital Fechado 3 6 2 7 13% 50% 22% 30% 27% 10 1 0 9 43% 8% 0% 39% 30% Sociedade Civil 4 0 0 0 17% 0% 0% 0% 6% Empresa Pública 2 0 0 0 9% 0% 0% 0% 3% Outros 3 1 1 0 13% 8% 11% 0% 7% 73% SA Capital Aberto Nacional 16 11 8 14 70% 92% 89% 61% Estrangeiro 7 1 1 9 30% 8% 11% 39% 27% Não possui 10 5 9 6 43% 42% 100% 26% 45% Até 2 anos 5 4 0 5 22% 33% 0% 22% 21% Entre 2 e 5 anos 7 2 0 7 30% 17% 0% 30% 24% 5 ou mais anos 1 1 0 5 4% 8% 0% 22% 10% 10 5 9 6 43% 42% 100% 26% 45% P: Até 2 pessoas em tempo integral 4 5 0 6 17% 42% 0% 26% 22% M: 3 ou 4 pessoas em tempo integral 1 1 0 7 4% 8% 0% 30% 13% G: 5 ou mais pessoas em tempo integral Não possui Localização da Unidade de IC 3 Limitada Não possui Tamanho da Equipe de IC 2 Cluster (percentual no cluster) P: Até 10 US$ Milhões G: Acima de US$ 500 Milhões 1 8 1 0 4 35% 8% 0% 17% 19% 10 5 9 6 43% 42% 100% 26% 45% Ligada ao Marketing 5 2 0 9 22% 17% 0% 39% 24% Ligada à Estratégia 4 1 0 3 17% 8% 0% 13% 12% Ligada ao CEO ou na Holding 0 2 0 3 0% 17% 0% 13% 7% Outros: Inclui as áreas Comercial, Suprimentos 4 2 0 2 17% 17% 0% 9% 12% 166 Figura 4.2.21. Mapa perceptual da análise de correspondência entre as características gerais das empresas e conglomerados. 1,0 Legenda: 4 0,5 SA Capital Fechado Origem Capital G Limitada 0,0 Setor de Atuação Estrangeira SA Capital Aberto M 2 Nacional -0,5 1 3 Faturamento P -1,0 Outros Sociedade Civil -1,5 Empresa Pública -2,0 -1 0 1 2 Figura 4.2.22. Mapa perceptual da análise de correspondência entre características de IC das empresas e conglomerados. 1,5 Legenda: Ligada ao CEO ou na Holding 1,0 Localização da Unidade de IC 3-4 pessoas ≥5 anos 0,5 3 4 Ligada ao Marketing 0,0 2 ∃ ≤ 2 pessoas ∃ ∃ ≤ 2 anos Tempo da Unidade de IC 3-4 anos Tamanho da Equipe de IC -0,5 Ligada à Estratégia 1 Outros -1,0 ≥5 pessoas -1,5 -1 0 1 2 167 Cluster 1. “Estrelas Cadentes”. Contém empresas de maior porte, de capital predominantemente nacional e aberto. Com relação à forma como a Inteligência Competitiva se encontra estruturada nestas empresas, pode-se destacar que estas não apresentam diferenças significativas em relação às características gerais da amostra. Ou seja, tal como na amostra completa, um pouco mais da metade das empresas possui unidades de inteligência, sendo que, na maioria dos casos, estas foram estruturadas há até no máximo 5 anos. Uma diferença interessante reside no tamanho das equipe de IC. Nas empresas deste cluster que possuem unidades de inteligência, as equipes dedicadas são significativamente maiores do que nos demais casos, com 5 ou mais pessoas em tempo integral. Cluster 2. “Desafiantes”. Abrange empresas predominantemente de médio porte (nesta análise, de US$ 11 Milhões a US$ 500 Milhões), incluindo também algumas empresas de destaque de pequeno porte. Há poucas empresas de capital aberto neste grupo e a quase totalidade delas é de capital nacional. No que tange à IC, uma parcela significativa destas já estruturou suas unidades de inteligência e estas, em sua maioria, são relativamente novas, tendo aproximadamente 2 anos ou menos de existência. As equipe alocadas para estas unidades também são enxutas, na maior parte dos casos, com até 2 pessoas. Assim como na amostra completa, uma parte significativa das unidades de IC se encontra localizada no departamento de marketing, mas nota-se neste grupo um percentual significativamente superior de unidades localizadas diretamente abaixo do CEO da organização. Cluster 3. “Passivas”. São empresas em sua maioria absoluta de pequeno porte, limitadas e de capital nacional. Em termos de IC, nenhuma das empresas deste grupo possui uma unidade em sua estrutura especificamente destinada às atividades de inteligência. Cluster 4. “Líderes de Alto Desempenho”. Este conglomerado compreende empresas em sua maioria de grande porte, de capital estrangeiro, podendo ter tanto capital aberto quanto fechado, porém, na maioria dos casos, são constituídas como sociedades anônimas. São o grupo de empresas que mais possuem unidades específicas para IC estruturadas em suas organizações. Na maioria dos casos, estas unidades foram estruturadas há cerca de 3 ou 4 anos e uma grande parte delas possui equipes de 3 ou 4 pessoas alocadas em tempo integral para tal. A grande maioria está localizada dentro dos departamentos de marketing das organizações. 168 O quadro a seguir resume as características dos conglomerados de acordo com as variáveis caracterizadoras e segmentadoras. Quadro 4.2.16. Resumo das características dos conglomerados obtidos. Conglomerados 1. Estrelas Cadentes 2. Desafiantes 3. Passivas 4. Líderes de Alto Desempenho Variáveis caracterizadoras • Predominantemente grande ou médio porte • Capital nacional • Capital aberto • Pode possuir unidades de IC ou não • As que possuem unidades de IC, contam com grandes equipes • Predominantemente médio porte, com algumas de pequeno porte • Capital nacional • Capital fechado • Possuem unidades dedicadas à IC • Unidades estruturadas há no máximo 2 anos • Equipes enxutas, com no máximo 2 pessoas • Boa parte das unidades reporta-se ao CEO • Piores níveis de performance de curto e longo prazo • Pouco inovadoras • Pouco orientadas para o longo prazo • Planejamento estratégico intermediário • Fraca formalização e controle de projetos • Em IC, possuem níveis iniciais em estrutura dedicada e suporte de TI • Possuem desenvolvimento baixo em quase todas as atividades primárias da IC • No geral, sua IC não pode ser considerada sofisticada • Embora grandes, parecem vir perdendo posição no mercado • Excelentes práticas de planejamento estratégico e formalização de projetos • Orientadas ao longo prazo e à inovação • Possuem processos de IC completos e bastante sofisticados • Sua IC se destaca em aspectos primários e importantes como rede de inteligência e análise de informações • Possui boa performance de longo prazo • A performance de curto prazo, econômica, ainda não se materializou • Promessa de se tornar uma líder no futuro • Maioria absoluta de pequeno porte • Capital nacional • Limitadas • Nenhuma delas possui unidade de IC • Predominantemente grande porte • Sociedades anônimas de capital aberto ou fechado • Capital estrangeiro • Possuem unidades dedicadas à IC • Unidades estruturadas há cerca de 3 ou 4 anos • Equipes de 3 ou 4 pessoas • Boa parte das unidades encontra-se no marketing Variáveis segmentadoras • Pouco orientadas para o longo prazo • Planejamento estratégico e formalização de projetos fracos • Inovadora ocasional, sem orientação para tal • Processo de IC bastante informal e com baixo nível de sofisticação • Performance de curto prazo em níveis medianos • Baixo nível de performance de longo prazo, podendo indicar problemas futuros • Excelentes níveis de performance, tanto de curto quanto longo prazo • Excelente orientação ao longo prazo • Excelente formalização de projetos • Bons níveis de planejamento estratégico e inovação • De uma forma geral, possui IC bem desenvolvida • Processo de IC tem um perfil menos pro ativo do que as “desafiantes” • Dominam a coleta secundária e sistematizam a integração entre IC e tomada de decisão • Possuem sólidas estruturas de IC • Podem precisar de um ajuste fino para dinamizar sua IC 169 4.2.C. TESTE DAS HIPÓTESES 3 A 15 H0,3 – O Planejamento e Controle não está relacionado com o Direcionamento para o Futuro nas empresas pesquisadas H0,4 – O Planejamento e Controle não está relacionado com as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva H0,5 – O Planejamento e Controle não está relacionado com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva H0,6 – O Planejamento e Controle não está relacionado com a Performance Organizacional H0,7 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva H0,8 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva H0,9 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com a Performance Organizacional; H0,10 – As Atividades Primárias da Inteligência Competitiva não estão relacionadas com os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva H0,11 – As Atividades Primárias da Inteligência Competitiva não estão relacionadas com a Performance Organizacional H0,12 – Os Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva não estão relacionados com a Performance Organizacional H0,13 – O Planejamento e Controle não está relacionado com a Inteligência Competitiva (como um construto único) H0,14 – O Direcionamento para o Futuro não está relacionado com a Inteligência Competitiva (como um construto único) H0,15 – A Inteligência Competitiva (como um construto único) não está relacionada com Performance Organizacional 170 Através da análise fatorial, os cerca de 70 itens originais do questionário foram reduzidos a 16 fatores. Os fatores foram então agregados em seus respectivos macroconstrutos através de sua soma ponderada pelos autovalores correspondentes. Conforme já foi explanado anteriormente, os construtos Atividades Primárias da Inteligência Competitiva e Fatores de Sustentação da Inteligência Competitiva foram somados para que um macroconstruto único de Inteligência Competitiva pudesse ser analisado. O quadro abaixo apresenta a análise de correlação de Pearson entre os diversos macroconstrutos avaliados na pesquisa. A partir da análise deste quadro, o quadro seguinte foi compilado com o resumo dos testes para a rejeição das hipóteses nulas. Quadro 4.2.17. Correlação entre os macroconstrutos da pesquisa Construtos Analisados Planejamento e Controle r Sig Direcionamento para o Futuro r Sig IC 1: Atividades Primárias da IC r Sig IC 2: Fatores de Sustentação da IC r Sig Inteligência Competitiva r Sig Direcion. para o Futuro IC 1: Atividades Primárias IC 2: Fatores de Sustentação Inteligência Competitiva Performance ,678 ,000 ,474 ,000 ,482 ,000 ,499 ,000 ,420 ,000 ,526 ,000 ,442 ,000 ,506 ,000 ,639 ,000 ,833 ,000 ,958 ,000 ,216 ,079 ,957 ,000 ,156 ,209 ,194 ,115 Quadro 4.2.18. Rejeição das hipóteses 3 a 15. Hipótese H0 rejeitada Sig. H0,3 H0,4 H0,5 H0,6 H0,7 H0,8 H0,9 H0,10 H0,11 H0,12 H0,13 H0,14 H0,15 S S S S S S S S N N S S N ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,000 ,079 ,209 ,000 ,000 ,115 171 A análise das correlações apresentadas nos quadros acima permite fazer algumas observações interessantes. Inicialmente, percebe-se associação significativa entre Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro, conforme já se havia identificado na linha de pesquisa iniciada em bancos por Nogueira (1999), Soares (2000) e Taublib (2001), depois seguida em empresas químicas por Augusto (2001), no setor público por Bahiense (2002), em seguradoras por Augustinis (2002) e Terra (2003), em empresas de petróleo e gás por Deccax (2004) e em companhias abertas por Fontes (2004). Uma outra constatação refere-se à alta associação também verificada entre estes dois construtos e Inteligência Competitiva, sendo esta representada tanto pelos seus construtos individuais, Atividades Primárias da IC e Fatores de Sustentação da IC, quanto pela consolidação destes. O coeficiente de correlação obtido entre Planejamento e Controle e Direcionamento para o futuro foi de 0,678. Por sua vez, a associação destes dois construtos com Inteligência Competitiva foi de 0,499 e 0,506, respectivamente. Este resultado parece indicar que estes 3 aspectos são, na verdade, diferentes formas de sofisticação na gestão das empresas que se encontram bastante relacionadas. Ou seja, provavelmente, empresas que possuem processos sistemáticos de planejamento e controle e possuem grande preocupação com o futuro e inovação também adotarão processos de inteligência mais desenvolvidos. Abordando mais especificamente a relação entre os dois construtos utilizados para representar o conceito geral de Inteligência Competitiva, pode-se perceber que estes parecem estar bastante relacionados entre si. O coeficiente de correlação obtido entre Atividades Primárias da IC e Fatores de Sustentação da IC foi de 0,833. Tal resultado indica que estes conceitos são significativamente complementares e precisam ser considerados de forma integrada quando as organizações forem desenvolver seus processos de inteligência. Este é mais um indicativo de que o instrumento de medição de Inteligência Competitiva desenvolvido nesta pesquisa parece ser consistente e confiável para a mensuração no nível de sofisticação desta prática de gestão nas organizações. Por fim, cabe destacar as constatações obtidas com relação às associações entre os macroconstrutos e performance organizacional. Tanto Planejamento e Controle quanto Direcionamento para o Futuro mostraram associações significativas com a performance das empresas, sendo esta medida pela percepção dos executivos no que diz respeito a indicadores financeiros e não-financeiros. Os coeficientes obtidos foram 0,420 e 0,639, respectivamente. Por outro lado, Inteligência Competitiva não parece estar diretamente associada à 172 performance das organizações. Quando considerados em separado os construtos que compõem o conceito de IC, pode-se perceber que as Atividades Primárias da Inteligência Competitiva possuem uma maior associação com performance, de 0,216. Contudo, com os dados coletados, a hipótese nula para esta associação só poderia ser rejeitada a uma significância de 0,079, que é ligeiramente superior aos 0,050 normalmente praticados. Neste contexto, visto que a Inteligência Competitiva possui uma alta correlação com as outras práticas de gestão avaliadas, sendo estas mais associadas ao conceito de formulação e implementação da estratégia, mas, no entanto, não possui relação significativa com performance organizacional, pode-se supor que a IC não atua diretamente na performance das empresas, mas sim como um importante mecanismo de suporte aos processos estratégicos das organizações. Ou seja, a performance é influenciada por sofisticadas práticas de planejamento, controle e atitudes organizacionais orientadas para o longo prazo e para a inovação, e a Inteligência Competitiva é um mecanismo que as empresas sofisticadas utilizarão para melhorar a eficácia destes processos. Pela mesma lógica, faz sentido pensar que não haverá grandes ganhos em se estruturar um processo sofisticado de inteligência se as práticas de formulação e implementação estratégica da organização ainda forem pouco desenvolvidas. A figura abaixo apresenta as relações que puderam ser verificadas nesta pesquisa. Figura 4.2.23. Relações verificadas na pesquisa Planejamento Planejamento ee Controle Controle H3 Direcionamento Direcionamento para para oo Futuro Futuro H7 H4 H 14 H8 Atividades Atividades Primárias Primárias da da Inteligência Inteligência Competitiva Competitiva (IC1) (IC1) H 13 H 10 H5 Legenda: Relações não verificadas na pesquisa Relações verificadas na pesquisa H 11 Fatores Fatores de de Sustentação Sustentação da da Inteligência Inteligência Competitiva Competitiva (IC2) (IC2) H 12 H9 H6 Inteligência Competitiva Performance Performance Organizacional Organizacional H 15 173 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1 IMPLICAÇÕES ACADÊMICAS Esta pesquisa verificou que há segmentos diferenciados entre as empresas pesquisadas, com relação ao Processo de Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro, Inteligência Competitiva e Performance Organizacional. As análises realizadas permitiram discriminar as empresas estudadas com base nos níveis de sofisticação encontrados para cada um destes construtos. Este trabalho verificou também as relações entre estes conceitos nas empresas estudadas e permitiu verificar a existência de associações significativas entre estes. De uma forma geral, as empresas estudadas demonstraram possuir seus processos de Planejamento e Controle maduros e desenvolvidos, conforme sugerido por diversos autores da literatura pesquisada. Alinhadas com as principais idéias propostas por Quinn apud Mintzberg & Quinn (1991), Andrews apud Mintzberg & Quinn (1991), Ansoff & McDonnel (1990) e Doyle (1994), estas organizações apresentam suas missões e objetivos bem formulados, levando em consideração os interesses dos stakeholders, sendo estes comunicados de forma clara a toda a organização e desdobrados em ações detalhadas. Contudo, pode-se considerar que os aspectos relacionados à formalização e controle dos projetos, conforme proposto por Ackoff (1983) e por Kaplan & Norton (1992), ainda possuem um maior potencial de melhoria quando comparados aos quesitos acima mencionados. Dentre estes, na avaliação e controle de seus projetos, as empresas demonstraram se limitar aos tradicionais critérios econômicos, deixando de lado importantes perspectivas como a dos benefícios proporcionados aos clientes e o grau de inovação trazido à empresa pelos projetos. No que tange o Direcionamento para o Futuro, embora em uma menor extensão do que no processo de Planejamento e Controle, as empresas analisadas mostraram possuir também um bom nível de maturidade, conforme proposto pelos autores pesquisados, dentre estes Prahalad & Hamel (1994), Hamel (1996), Davis & Meyer (1999), Christensen (2002) e Day & Schoemaker (2004). As organizações demonstraram dar importância para o longo prazo e possuem consciência de que o futuro ambiente de negócios será diferente. Os executivos afirmaram também conhecer bem as ameaças ao modelo de negócios atual, conhecerem suas competências essenciais e terem consciência dos produtos nos quais precisam ser pioneiras. 174 Contudo, um tanto desalinhadas com outras proposições de Prahalad & Hamel (1994), Davis & Meyer (1999) e Christensen (2002), mais orientadas à inovação, as organizações parecem encontrar dificuldades para que esta preocupação com o futuro se transforme de fato em uma postura de inovação no ambiente de negócios no qual estão inseridas. Com relação à Inteligência Competitiva, uma primeira conclusão refere-se ao instrumento construído para avaliação do nível de sofisticação do processo de inteligência nas organizações. Este incorpora uma série de recomendações dos autores pesquisados e, segundo os dados coletados indicam, parece estar adequado para aplicação prática em trabalhos de campo que visem mensurar a forma como este aspecto da gestão se manifesta nas organizações. A percepção de Gomes & Braga (2001) de que a adoção da prática nas empresas brasileiras ainda é algo incipiente se confirma nesta pesquisa. Quando comparadas às suas práticas de Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro, as empresas não apresentaram os mesmos níveis de sofisticação em Inteligência Competitiva, no que diz respeito às recomendações da literatura avaliada, que incluiu autores como Kahaner (1996), Herring (1999), Prescott & Miller (2001), Rockart (1979), Tyson (1998), Gilad (1989) e Fuld (2003). As organizações obtiveram níveis de maturidade levemente superiores nas Atividades Primárias da Inteligência Competitiva do que nos Fatores de Sustentação da IC, o que parece indicar que as variáveis cobertas pelo segundo construto compreenderiam aspectos complementares ao processo básico de inteligência que permitiriam às organizações extraírem maiores benefícios do processo e assim perpetuarem a atividade nas empresas. Não haveria como empregar estes mecanismos sem que antes os itens do construto anterior, de atividades primárias, fossem endereçados. 5.2 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS A pesquisa revelou quatro agrupamentos entre as empresas estudadas, que se diferenciam de acordo com os diversos aspectos de sua gestão. Estas organizações, dependendo do grupo no qual foram classificadas, apresentam diferentes características demográficas e de estruturação da Inteligência Competitiva. 175 Os grupos identificados foram: • “Estrelas Cadentes”, representando 34,3% da amostra de empresas pesquisada; • “Desafiantes” , representando 17,9% da amostra de empresas pesquisada; • “Passivas”, representando 13,4% da amostra de empresas pesquisada; • “Líderes de Alto Desempenho”, representando 34,3% da amostra de empresas pesquisada. Com relação ao grupo de empresas aqui denominado “Estrelas Cadentes”, pode-se destacar as seguintes características. São predominantemente empresas de grande porte, em sua maioria de capital nacional e aberto. As empresas deste grupo podem ou não possuir unidades dedicadas à Inteligência Competitiva. As equipes destinadas à IC naquelas empresas que possuem estas unidades são significativamente maiores do que nos demais casos, com 5 ou mais pessoas. Este grupo contém empresas que possuem os piores níveis de performance, tanto de curto quanto de longo prazo. Estas empresas possuem baixos traços de sofisticação em sua gestão no que diz respeito ao Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro e Inteligência Competitiva. Em termos de Inteligência Competitiva, mais especificamente, possuem algum desenvolvimento inicial em aspectos como estrutura dedicada para a IC e suporte de tecnologia da informação. Mas não possuem desempenhos expressivos nas atividades primárias da Inteligência Competitiva. São grandes empresas que vêm encontrando tempos difíceis no mercado quando comparadas aos seus competidores diretos. Como será abordado a seguir, a sofisticação dos aspectos de gestão avaliados nesta pesquisa parecem estar relacionados com a performance obtida, e, portanto, recomenda-se a estas empresas que foquem seus esforços no aprimoramento de seu Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro e Inteligência Competitiva, como forma de buscar melhoraria de performance. Em planejamento, o foco deve recair sobre os mecanismos utilizados para formular e controlar os projetos de investimento. Parece ser de pouca utilidade empregar um processo mais sofisticado de planejamento estratégico se este não é posto em prática por meio de projetos bem estruturados e controlados. Com relação ao futuro, os executivos destas organizações devem buscar se tornar mais atentos ao longo prazo. Devem perceber que, independente do setor no qual atuam, o ambiente de negócios futuro 176 será significativamente diferente do atual e o modelo de negócios de hoje pode se tornar inviável amanhã. Para recuperar seu posto de liderança, estas empresas precisam buscar mecanismos que as tornem mais inovadoras, estendendo seus produtos atuais para novos mercados e lançando novos produtos naquelas áreas nas quais precisam ser inovadoras. Recomenda-se também que a Inteligência Competitiva seja revista nestas empresas. O pouco desenvolvimento que há nesta área não deve ser centrado em aspectos como estrutura e sistemas de informação, mas sim em atividades mais básicas do processo, que de fato serão as primeiras a gerarem valor ao negócio, como, por exemplo, coleta de informações, rede de inteligência e análise. O segundo grupo, intitulado “Desafiantes”, é composto por empresas em sua maioria de médio porte (de US$ 11 Milhões a US$ 500 Milhões). Predominantemente as empresas deste grupo possuem capital fechado e são quase todas de capital nacional. A maioria possui unidades dedicadas para a IC, estruturadas há no máximo 2 anos, e são compostas por equipes enxutas de no máximo 2 pessoas. Compreende as empresas que possuem as práticas de gestão avaliadas mais sofisticadas entre as empresas pesquisadas. Possuem boas práticas de planejamento estratégico e formalização e controle de projetos, preocupam-se ativamente com o longo prazo e possuem caráter inovador. No que tange a Inteligência Competitiva, apresentam os melhores níveis de sofisticação da amostra, com uma significativa distância do segundo grupo. Possuem bons indicadores de performance de longo prazo mas estes ainda não têm se refletido em performance de curto prazo. As empresas deste grupo vêm apresentando performance econômica inferior aos seus concorrentes diretos. Pelas informações obtidas na pesquisa, não há subsídios específicos que permitam fazer recomendações de melhoria para estas organizações. Aparentemente, estas estão desempenhando um bom papel no mercado, com práticas de gestão sofisticadas, e possuem chances reais de se tornarem as líderes do futuro. Cabe a elas viabilizarem os recursos necessários para tal ou buscarem associação com organizações de maior porte em seus setores que as permitam alcançar os resultados econômicos desejados. O conglomerado de empresas “Passivas” é composto por empresas em sua maioria absoluta de pequeno porte, de formato societário limitada e de capital nacional. Em termos de IC, 177 nenhuma das empresas deste grupo possui uma unidade em sua estrutura especificamente destinada às atividades de inteligência. Possuem pouca orientação para o futuro e baixa sofisticação nos aspectos de gestão pesquisados. Estas empresas conseguem inovar ocasionalmente, sem que isso seja realizado de forma pro ativa, planejada e consistente. Vêm apresentando performance de curto prazo em níveis medianos e seus indicadores de performance de longo prazo indicam problemas a frente. Suas práticas de planejamento estratégico e formalização de projetos não são sofisticadas e não possuem disciplina para pensar sobre o que o cenário de futuro guarda para elas. Da mesma forma, a Inteligência Competitiva é pouco sofisticada, sendo esta bastante informal e sem quase nenhuma estrutura permanente para tal. Pode-se imaginar que algumas das empresas pertencentes a este grupo sejam organizações de pequeno porte focadas em pequenos nichos de mercado específicos e, portanto, encontrem-se em situação de acomodação. Mesmo para estas, recomenda-se uma maior atenção ao ambiente de negócios futuro que pode trazer surpresas desagradáveis. Com a saturação dos grandes mercados e a aplicação crescente da customização em massa para diferentes tipos de produtos e serviços, é cada vez maior o número de organizações ágeis, de médio ou grande porte, que conseguem atender às necessidades de nichos específicos muitas vezes tirando do negócio as pequenas que ocupavam este espaço. Para aquelas que ainda possuem um porte reduzido mas abraçaram o crescimento como mantra de suas organizações, recomenda-se a busca imediata por uma melhoria na sofisticação das práticas de gestão avaliadas nesta pesquisa. A adoção de melhores práticas de planejamento estratégico, controle de projetos e uma postura mais pro ativa com relação à inovação poderia colocar tais empresas no caminho do crescimento. Neste contexto, seus processos de inteligência podem auxiliar nesta trajetória. Este pode ser enxuto, sem que necessariamente uma unidade de IC seja montada, e, para isso, deve possuir um foco maior nas atividades primárias da Inteligência Competitiva. Estas podem trazer ganhos mais rápidos e não possuem grande complexidade para implantação, como, por exemplo, a coleta de informações secundárias e análise. O último grupo de empresas, as “Líderes de Alto Desempenho”, compreende empresas em sua maioria de grande porte, de capital estrangeiro, podendo ter tanto capital aberto quanto 178 fechado. É o grupo que mais tem unidades de IC e estas já foram estruturadas há mais tempo, há cerca de 3 ou 4 anos. Estas empresas caracterizam-se principalmente pelos seus resultados, que são os melhores dentre os grupos. Tanto em termos de sua performance de longo prazo quanto de curto prazo, estas empresas apresentam os melhores índices. Aliado a esta performance diferenciada, possuem também altos níveis de sofisticação em quase todos os aspectos de gestão pesquisados. De uma forma geral, seus processos de IC podem ser considerados desenvolvidos. Estas organizações possuem sólidas estruturas de inteligência, trabalham bem com informações secundárias e possuem mecanismos formais para integrar o trabalho de inteligência com a tomada de decisões. Porém, seus processos de inteligência não parecem ser flexíveis e ágeis. Suas redes de inteligência não são tão desenvolvidas, as abordagens utilizadas para análise de informações também são um pouco inferiores às utilizadas pelas “desafiantes” e também não possuem sistemas computacionais para suporte ao processo de inteligência tão sofisticados. São de empresas de referência, que possuem sofisticadas práticas de gestão e adotam a IC há mais tempo. Contudo, seus processos de inteligência não parecem estar mais em dia com as melhores práticas do mercado. Recomenda-se a estas empresas um esforço localizado em suas atividades de IC buscando uma maior dinamicidade. Exemplos de áreas nas quais pode-se obter melhorias são: rede de inteligência, planejamento e pro atividade da IC, e sistemáticas de análise mais efetivas. Por fim, cabe comentar as implicações gerenciais relacionadas às constatações obtidas para as associações entre Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro, Inteligência Competitiva e Performance. Embora Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro tenham mostrado associações significativas com a performance das empresas, a Inteligência Competitiva não parece estar diretamente associada a esta. Por outro lado, Inteligência Competitiva, Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro apresentaram um alto grau de associação entre si. Pode-se supor então que a Inteligência Competitiva não atue diretamente na performance das empresas, mas sim como um mecanismo de suporte aos demais processos e atitudes estratégicas das organizações avaliados nesta pesquisa e que, estes sim, contribuam para performances superiores. 179 Neste sentido, uma importante recomendação para as empresas que desejam desenvolver suas práticas de IC é que a façam de forma intimamente alinhada com os seus demais processos estratégicos. O processo de inteligência deve ser concebido e implementado visando o apoio e melhoria das práticas das empresas em planejamento estratégico, formalização e controle de projetos, inovação e visão de longo prazo. 5.3 LIMITAÇÕES DO MÉTODO A utilização de uma amostra não probabilística por acessibilidade, impede que os resultados e as conclusões obtidas com a presente pesquisa sejam generalizados para toda a população de empresas operando no Brasil. Uma outra questão importante está relacionada ao número de questionários efetivamente respondidos. De acordo Hair et al. (1998), é muito importante para a realização de análises que utilizam ferramentas estatísticas multivariadas, a existência de um grande número de casos observados. Segundo os autores, como regra geral, o número de mais casos observados deve ser equivalente a cinco vezes do que o número de variáveis (itens do questionário) a serem analisadas. Idealmente deve-se utilizar uma relação superior a dez para um. Com baixa relação entre o número de casos e as variáveis estudadas, categoria na qual se enquadra a presente pesquisa, os resultados obtidos devem ser analisados com cuidado, pois podem apresentar instabilidade. É importante salientar que a pesquisa se baseia nas percepções de um único indivíduo de cada empresa, no caso, do executivo responsável pelo processo de inteligência nas organizações pesquisadas. Adicionalmente, a maioria dos itens do questionário exige julgamento pessoal por parte dos respondentes, incluindo subjetividade. As respostas estão sujeitas a fatores como o tamanho do questionário, a ordenação dos seus itens e o tempo para responder todas as questões, que podem resultar em vieses no momento do preenchimento. Por esses motivos, recomenda-se cautela na interpretação dos resultados apresentados. 180 5.4 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Esta pesquisa teve quatro objetivos principais. O primeiro foi o de desenvolver um instrumento que permitisse avaliar de uma forma quantificável o grau de sofisticação do processo de Inteligência Competitiva nas empresas pesquisadas. O segundo consistiu em descrever o estágio atual de desenvolvimento da prática de inteligência na amostra de empresas abordadas. Em seguida, desejava-se avaliar as relações entre Inteligência Competitiva e Estratégia, esta última tangibilizada pelos construtos Planejamento e Controle e Direcionamento para o Futuro. Por fim, desejava-se investigar como estes diferentes aspectos da gestão interagem entre si para a obtenção de uma performance superior. Pode-se considerar que todos os objetivos da pesquisa foram atendidos. Contudo, alguns destes aspectos possuem desdobramentos interessantes e poderiam ser desenvolvidos em pesquisas futuras. Primeiro, devido ao caráter pouco representativo da amostra, o panorama obtido para a prática da Inteligência Competitiva não pode ser extrapolado para qualquer universo de empresas que não apenas as empresas pertencentes a amostra obtida. Neste sentido, um esforço mais prolongado e incisivo de coleta de dados, que tivesse por premissa obter uma amostra estatisticamente representativa de algum universo específico de empresas, seria de grande valia para as comunidades acadêmica e de negócios interessadas no tema. Um universo interessante seria o de empresas pertencentes ao ranking Exame Melhores e Maiores. Estas podem ser consideradas as empresas mais representativas de atuação do país e seus dados de contato e de performance econômica estão disponíveis no portal da revista na Internet. Dado o bom resultado obtido em termos de consistência, o construto desenvolvido aqui para a mensuração da IC poderia ser aplicado neste esforço adicional de pesquisa. Foi possível observar nesta pesquisa um forte relacionamento entre Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro e Inteligência Competitiva. Estes aspectos da gestão mostraram estar significativamente correlacionados de forma positiva. Contudo, quando se deseja avaliar o impacto destes aspectos na performance das empresas, especialmente quando refere-se à performance econômica, os resultados perdem um pouco sua expressividade. Os coeficientes de correlação obtidos entre Planejamento e Controle, Direcionamento para o Futuro e Inteligência Competitiva associados à Performance Organizacional foram de, 181 respectivamente, 0.420, 0.639, 0.194. Quando considera-se apenas performance econômica, os índices caem para 0.235, 0.317 e 0.045. Naturalmente, há uma série de fatores que afetam performance econômica. Isolar as variáveis que a impactam é uma tarefa bastante difícil. Além disso, uma dificuldade adicional encontrada por esta pesquisa foi a de avaliar performance econômica segundo a percepção dos executivos respondentes. De fato, um dos respondentes chegou a escrever no campo destinado a comentários no questionário: “Como avalio minha margem em relação aos meus competidores se não possuo tal informação sobre o negócio deles?”. Assim, uma outra sugestão para pesquisas futuras seria definir como universo amostral algum grupo de empresas para o qual suas informações de resultados econômicos seja pública. Com isso, a relação entre os conceitos aqui avaliados e performance poderia ser investigada segundo uma nova ótica, alinhada com a realidade e não apenas com a percepção dos respondentes. Para tal, sugere-se as empresas de capital aberto ou então as organizações que constituem o próprio ranking Exame Melhores e Maiores. Abordando a relação específica entre Inteligência Competitiva e performance, uma terceira sugestão de pesquisa seria investigar de forma qualitativa, com um pequeno grupo de empresas que já possuam processos de IC maduros há alguns anos, como esta relação se dá em casos reais específicos. Identificando alguns eventos ocorridos com estas empresas nos quais a atuação da IC tenha sido determinante para uma importante decisão de negócios, o pesquisador poderia realizar uma série de entrevistas em profundidade com diferentes executivos da empresa envolvidos no caso e, assim, obter uma boa percepção sobre os mecanismos através dos quais a Inteligência Competitiva se transforma em resultados econômicos práticos. 182 6. REFERÊNCIAS AAKER, D. A.; KUMAR, V.; DAY. G. S.. Pesquisa de marketing. Editora Atlas, 1983. ABRAIC, 2004. Evolução histórica da atividade de Inteligência Competitiva no Brasil. Disponível em http://www.abraic.org.br/destaque2004_historico.asp. ABELL, D. F.; HAMMOND, J. S. Defining business and making the bridge to other strategic decisions. In: Strategic market planning: problems and analytical approaches. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979. ABELSON, R. P.; TUCKEY, J. W. Efficient conversion of non-metric information into metric information. In: TAFTE, E. 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O tempo médio de resposta observado até o momento tem sido de 20 minutos. Lembramos que este questionário deve ser respondido pelo executivo responsável pela área da sua empresa que faz regularmente o monitoramento e análise do ambiente competitivo (competidores, mercados, etc). BLOCO A: DADOS GERAIS DO RESPONDENTE Por favor, informe a seguir alguns dados gerais sobre você (o respondente) e sobre a sua empresa. A.1. Um pouco sobre você... 1) Nome do respondente: 2) Dados de contato do respondente: 3) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 4) Cargo Ocupado (Nomenclatura na Empresa): 5) Posição Hierárquica do Respondente: ( ) Presidência; ( ) Direção; ( ) Alta Gerência; ( ) Média Gerência; ( ) Coordenação de Pequenos Times; ( ) Analista 6) Idade do Respondente (anos): 7) Há quanto tempo você trabalha nesta empresa? (anos) A.2. Um pouco sobre a sua empresa... 8) Nome da Empresa: 9) Setor de Atuação da Empresa. Por favor, marque a categoria que melhor se aplica: (Classificação Exame Melhores e Maiores) ( ) Alimentos, Bebidas e Fumo ( ) Material de Transporte ( ) Atacado e Comércio Exterior ( ) Mecânica 189 ( ) Automotivo ( ) Mineração ( ) Bancos ( ) Papel e Celulose ( ) Clubes e Confederações ( ) Plásticos e Borracha ( ) Comunicações ( ) Química e Petroquímica ( ) Comércio Varejista ( ) Seguradoras ( ) Confecções e Têxteis ( ) Serviços de Transporte ( ) Construção ( ) Serviços Diversos ( ) Diversos ( ) Serviços Públicos ( ) Eletroeletrônico ( ) Siderurgia e Metalurgia ( ) Farmacêutico, Higiene e Cosméticos ( ) Tecnologia e Computação ( ) Limpeza ( ) Telecomunicações ( ) Material de Construção 10) Formato Societário: ( ) Limitada; ( ) SA Capital Fechado; ( ) SA Capital Aberto ; ( ) Sociedade Civil; ( ) Empresa Pública; ( ) Outro 11) Origem do Capital (participação predominante no controle acionário): ( ) Nacional; ( ) Estrangeiro 12) Número TOTAL de funcionários na unidade BRASIL da empresa: 13) Faturamento Anual (2005): (Em caso de multinacional estrangeira, informar faturamento da SUBSIDIÁRIA BRASILEIRA) ( ) Até 10 US$ milhões; ( ) Entre US$ 11 e 100 milhões; ( ) Entre US$ 101 e 500 milhões; ( ) Entre US$ 501 milhões e US$ 1 bilhão; ( ) Entre US$ 1 e 5 bilhões; ( ) Mais de US$ 5 bilhões 14) < FIM DO BLOCO A > Restam mais 3 blocos para encerrar a pesquisa. BLOCO B: PROCESSO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA (Os Blocos C e D possuem menos de 20 questões cada) Considerando a situação atual da sua empresa, decida primeiramente se você concorda ou discorda de cada afirmação. Em seguida, decida quão intensamente você concorda ou discorda e marque a alternativa mais apropriada. Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo Marque um “X” na opção que melhor se aplique Discordo por Completo Por favor, não se atenha ao termo ''Inteligência Competitiva'', mas sim às atividades que sua empresa realiza para monitorar seu ambiente competitivo. (1) (2) (3) (4) (5) (6) () () () () () () B.1. Sobre o Planejamento da Inteligência Competitiva... 15) Há um mapeamento claro de quem são os usuários-chave da Inteligência Competitiva dentro da organização. (Obs: Usuários-chave são os executivos cujas necessidades de informação a IC Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo 190 (1) (2) (3) (4) (5) (6) 16) As necessidades de informação de cada usuário-chave são regularmente mapeadas e documentadas pela IC. Ou seja, a IC tem registrado por escrito quais usuários precisam de quais informações. () () () () () () 17) Todo o trabalho de mapeamento destas necessidades de informação é realizado utilizando alguma metodologia pré-estabelecida para tal (como, por exemplo, o método de Key Intelligence Topics). () () () () () () 18) A equipe de IC sempre identifica novas necessidades de informação que deveriam ser atendidas, antes mesmo que algum usuário-chave às solicite. () () () () () () 19) Quando a IC é demandada por novas informações, a equipe de IC sempre questiona os usuários-chave quanto à real importância das informações solicitadas. () () () () () () 20) Todos os dias, os principais jornais e revistas são examinados detalhadamente para identificar notícias que possam impactar o negócio no qual a empresa está inserida. () () () () () () 21) A equipe de IC faz uso contínuo e intensivo de todos os relatórios de mercado, revistas especializadas e bases de dados pagas disponíveis sobre o setor de atividade no qual a empresa está inserida. () () () () () () 22) É uma prática regular da equipe IC encomendar pesquisas de mercado quantitativas e/ou qualitativas para responder a questões relevantes para o negócio. () () () () () () () () () () () () () () () () () () 25) A equipe de IC utiliza diversos mecanismos para que a coleta de informações junto à rede de inteligência aconteça de forma simples e organizada. (Ex: E-mail ( ) dedicado da IC, Fórum da IC, Formulários da IC, etc.) () () () () () 26) São realizados com elevada freqüência programas de orientação com a rede de inteligência para capacitar os funcionários a capturar informações relevantes e repassa-las à IC. () () () () () () 27) A equipe de IC presta reconhecimento formal àqueles que se destacam na contribuição com informações, oferecendo agradecimentos formais da alta direção, prêmios de incentivo, ou recompensa financeira. () () () () () () 28) Absolutamente todos os relatórios preparados pela IC incluem comentários sobre as implicações de curto, médio e longo prazo para a empresa. () () () () () () 29) Absolutamente todos os relatórios preparados pela IC incluem recomendações práticas de ações a serem tomadas pela empresa, sugerindo responsáveis e prazos. () () () () () () 30) As conclusões apresentadas pela IC são frequentemente embasadas por modelos de análise qualitativa pré-definidos. (Ex: Matriz BCG, SWOT, Cinco Forças, Cadeia de Valor, Matrizes de posicionamento, Ciclo de vida de Produto, () () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique se propõe a atender) B.2. Sobre Coleta de Informações... B.3. Sobre a Rede de Inteligência... 23) A equipe de IC possui formalizada a relação de todas as pessoas que, por estarem em contato sistemático com o ambiente externo, possuem informações potencialmente úteis a IC (REDE DE INTELIGÊNCIA). (Exemplo de membros da rede: equipe de vendas, suprimentos, assistência técnica, P&D, ou consultores externos, analistas de mercado, etc) 24) A rede de inteligência é fortemente atuante. Sempre que têm acesso a informações de mercado, as pessoas espontaneamente informam à equipe de IC. B.4. Sobre a Análise das Informações... Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo 191 (1) (2) (3) (4) (5) (6) 31) As conclusões apresentadas pela IC são frequentemente embasadas por técnicas de análise quantitativa. (Ex: Estatística, Análise de risco, Séries temporais e projeções, Análise multivariada, etc.) () () () () () () 32) São regularmente utilizadas metodologias de Cenários Prospectivos, identificando possíveis configurações para o futuro do ambiente, mapeando a situação da empresa em cada caso e identificando sinais a monitorar. () () () () () () (Obs: Entende-se por ''relatórios'' o conjunto de todos os produtos gerados pela equipe de Inteligência Competitiva.) () () () () () () 34) Todos os relatórios já preparados pela IC podem ser facilmente consultados por todos aqueles da organização que precisarem e possuírem autorização para tal, sem que a equipe de IC precise ser acionada. (Self-Service) () () () () () () 35) A equipe de IC utiliza extensivamente reuniões presenciais com seus usuários-chave para apresentar seus relatórios de maior complexidade e relevância estratégica. () () () () () () 36) O executivo responsável pelo processo de IC (denominado aqui ''Coordenador de IC'') está alocado exclusivamente a esta função. () () () () () () 37) Há uma equipe de analistas de inteligência alocados em tempo integral para a IC na quantidade adequada para que esta possa desempenhar seu papel com excelência. () () () () () () 38) Todos os membros da equipe de IC são profissionais excepcionalmente qualificados () () () () () () 39) A área da empresa que realiza o monitoramento do ambiente competitivo (denominada aqui ''Unidade de IC'') dedica-se exclusivamente às atividades de Inteligência Competitiva. () () () () () () 40) Na estrutura organizacional da empresa, a Unidade de IC localiza-se muito próxima à área usuária que lhe demanda mais tempo, de preferência, estando diretamente subordinada a esta. () () () () () () 41) São frequentemente realizadas avaliações formais do grau de satisfação dos usuários-chave com relação à IC, identificando seus pontos fortes e pontos de melhoria. () () () () () () 42) O próprio processo de IC possui indicadores operacionais de desempenho bem definidos que são medidos e acompanhados regularmente. (Ex: % de relatórios no prazo, média de informações obtidas com a rede, etc.) () () () () () () 43) A equipe de IC sempre identifica e registra as decisões de negócio que foram () tomadas em decorrência das suas análises e recomendações. () () () () () 44) A equipe de IC sempre realiza avaliações econômicas dos resultados obtidos pela empresa em função das suas recomendações. () () () () () () 45) Todos os relatórios da IC são formalmente utilizados em processos sistemáticos de planejamento. (Ex: relatórios que são insumos formais para as reuniões de planejamento estratégico, de vendas, etc.) () () () () () () 46) O Coordenador da IC possui assento formal nas reuniões periódicas de planejamento e tomada de decisão mais importantes da empresa. () () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique ou modelos adaptados pela empresa) B.5. Sobre os Relatórios e a Disseminação da Inteligência... 33) Grande parte dos relatórios de IC são elaborados sistematicamente com periodicidade pré-definida. B.6. Sobre a Estrutura Interna dedicada à IC.... B.7. Sobre o Acompanhamento do Processo de IC.... B.8. Sobre a Integração entre IC e o Processo Decisório.... Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo 192 (1) (2) (3) (4) (5) (6) 47) Para cada relatório entregue, a equipe de IC atua insistentemente junto aos seus usuários-chave para que suas análises se transformem em decisões e ações ( ) práticas. () () () () () 48) A equipe de IC realiza regularmente com a alta direção exercícios de simulação competitiva, do tipo War Games. () () () () () () () () () () () () 50) A IC possui uma solução tecnológica que: realiza coleta e monitoramento automático de notícias, newsletters, websites e dados de mercado. () () () () () () 51) A IC possui uma solução tecnológica que: provê mecanismos de interação com a rede de inteligência, através de fóruns de discussão e formulários eletrônicos para coleta de informações. () () () () () () 52) A IC possui um portal que disponibiliza interativamente na Intranet da empresa seus principais relatórios e análises realizadas. () () () () () () 53) O livre compartilhamento de informações entre os funcionários da empresa faz parte do dia-a-dia de trabalho de todos. () () () () () () 54) Todos na empresa compreendem o papel da equipe de IC e a julgam como sendo de extrema importância para a organização. () () () () () () 55) Os membros da equipe da IC estão completamente integrados aos demais funcionários da empresa. () () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique B.9. Sobre o suporte da Tecnologia da Informação à IC.... 49) A IC possui uma solução tecnológica que: permite armazenar informações de diversos formatos, disponibilizando mecanismos para classificação automática e rápida pesquisa nos textos dos documentos. B.10. Sobre a Adequação da Cultura da Empresa à IC.... B.11. Mais Algumas Informações Gerais sobre a IC na sua Organização... 56) Qual o foco da IC da sua organização atualmente? (Marque as 3 opções que melhor se apliquem) ( ) Competidores: Monitorar e antecipar movimentos dos competidores. ( ) Vendas: Melhorar o desempenho do processo comercial. ( ) Produtos: Melhorar o desempenho do processo de concepção e desenvolvimento de produtos. ( ) Novos Negócios: Identificar e avaliar oportunidades para entrada em novos negócios. ( ) Fusões e Aquisições: Avaliar alvos para aquisição e/ou monitorar movimentos de compra e venda de empresas no mercado. ( ) Fornecedores: Melhorar o desempenho do processo de compras. ( )Tecnologia: Monitorar e antecipar mudanças tecnológicas que impactem a empresa. ( ) Regulação: Monitorar e antecipar mudanças regulatórias que impactem a empresa. ( )Macroeconomia: Monitorar e antecipar mudanças macroeconômicas que impactem a empresa. 57) A sua equipe de IC possui sistemas de informação especificamente concebidos para as atividades de inteligência (desenvolvidos internamente ou comprados)? ( ) Sim, possuímos sistemas comprados ( ) Sim, possuímos sistemas desenvolvidos internamente ( ) não possuímos sistemas especificamente concebidos para a IC 58) Caso a resposta anterior tenha sido ''Sim, possuímos sistemas comprados'', por favor informe abaixo o nome do fabricante e do produto adquirido. 193 59) Quais são os próximos investimentos planejados para IC? ( ) Não há investimentos planejados ( ) Consultoria para estruturação ou melhoria do processo de IC ( ) Capacitação da equipe de IC ( ) Compra de Software 60) Há uma unidade especificamente destinada à Inteligência Competitiva na estrutura organizacional da empresa? ( ) Sim; ( ) Não > Redirecionamento automático para o bloco C 61) Há quantos anos a unidade de IC foi estruturada? (anos) 62) Onde está localizada a unidade de IC na estrutura organizacional da empresa? ( ) Na holding ou área corporativa de uma organização diversificada ( ) Ligada à área de Suprimentos ( ) Diretamente ligada ao CEO de uma empresa ou Unidade de Negócios (UN) ( ) ligada à área de Estratégia, Planejamento ou Novos Negócios ( ) Ligada à área Comercial Ligada à área de Tecnologia ( ) Ligada à área de Marketing ( ) Outra 63) Quantas pessoas em tempo integral há na área de IC atualmente? 64) Quantas pessoas em tempo parcial há na área de IC atualmente? 65) < FIM DO BLOCO B > Restam mais 2 blocos para encerrar a pesquisa. ESTE FOI O BLOCO MAIS EXTENSO. OS PRÓXIMOS 2 POSSUEM MENOS DE 20 QUESTÕES CADA UM. BLOCO C: PROCESSOS ESTRATÉGICOS Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo As perguntas a seguir são mais abrangentes do que as do bloco anterior. Dizem respeito à sua organização como um todo. (1) (2) (3) (4) (5) (6) 66) A missão e os objetivos da empresa estão claramente formulados. () () () () () () 67) Os objetivos da empresa refletem um perfeito equilíbrio entre os interesses de todos os grupos envolvidos (sócios, administradores, empregados, clientes, credores, governo, fornecedores, comunidade etc.). () () () () () () 68) Os objetivos e a estratégia são claramente comunicados a toda a organização. () () () () () () 69) Todas as ações a serem executadas para que a empresa alcance os objetivos () formulados estão claramente detalhadas, visando à sua implementação. () () () () () 70) Todos os projetos de investimento são descritos de forma padronizada, de maneira a facilitar a comparação perfeita entre eles e assim, o processo de () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique C.1. Sobre a Formalização do Planejamento e Controle da sua Empresa.... () Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo 194 (1) (2) (3) (4) (5) (6) 71) Todo o projeto de investimento tem um responsável que defende e lidera a sua realização. () () () () () () 72) Avaliações formais do andamento de todos os projetos de investimento são realizadas com elevada freqüência. () () () () () () 73) Todos os projetos de investimento são avaliados sistematicamente de acordo () com o seu retorno financeiro, que deve superar o custo de oportunidade de capital da empresa. () () () () () 74) Todos os projetos de investimento são avaliados sistematicamente de acordo () com o aumento dos benefícios percebidos pelos clientes. () () () () () 75) Todos os projetos de investimento são avaliados sistematicamente de acordo () com o grau de aprendizado e inovação que geram para a organização. () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique priorização e escolha. C.2. Sobre o grau com que a empresa está Direcionada para o Futuro.... 76) Os principais executivos da empresa têm uma clara compreensão de que o ambiente de negócios futuro será radicalmente diferente do presente. () () () () () () 77) Os principais executivos da empresa possuem uma clara visão de como deve ser o negócio no horizonte de 5 a 10 anos. () () () () () () 78) Esta visão é inovadora e única no setor de atuação da empresa. () () () () () () 79) Esta visão está claramente refletida nas ações de curto prazo da empresa. () () () () () () 80) A empresa é amplamente conhecida por ser extremamente inovadora. () () () () () () 81) A empresa está frequentemente criando novos mercados (novos tipos de clientes para seus produtos e serviços). () () () () () () 82) A empresa conhece exatamente em que categorias de produtos e serviços precisa ser pioneira. () () () () () () 83) A empresa sabe claramente quais são as ameaças ao seu modelo de negócios atual. () () () () () () 84) A empresa conhece claramente que parcerias estratégicas devem ser realizadas nos próximos 5 anos. () () () () () () 85) A organização sabe claramente quais são todas as suas competências essenciais. (Obs: Competências Essenciais são as habilidades da empresa que, juntas, geram valor relevante para os clientes, diferenciam a empresa dos demais competidores e podem ser utilizadas em diversos novos produtos e serviços). () () () () () () 86) < FIM DO BLOCO C > Resta apenas mais 1 bloco para encerrar a pesquisa. BLOCO D: PERFORMANCE DA ORGANIZAÇÃO Este é o último bloco de questões. As perguntas a seguir dizem respeito aos resultados que sua empresa tem obtido no mercado. Considerando a situação da sua organização, indique a seguir o quanto você concorda ou discorda de cada uma das afirmações apresentadas. Considerando os últimos 2 anos de operação da empresa... você diria que: Discordo por Completo Discordo em grande parte Discordo moderadamente Concordo moderadamente Concordo em grande parte Concordo por completo 195 (1) (2) (3) (4) (5) (6) 87) O faturamento da empresa cresceu consistentemente acima da média do faturamento dos concorrentes diretos. () () () () () () 88) A empresa obteve margem EBITDA* (EBITDA/Faturamento) significativamente superior à dos concorrentes diretos. (*Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) () () () () () () 89) A empresa obteve Retorno sobre o Patrimônio Líquido (Lucro/PL) significativamente superior à dos concorrentes diretos. () () () () () () 90) No processo de vendas, a empresa foi significativamente superior aos concorrentes diretos conquistando um número maior de novos clientes. () () () () () () 91) A empresa obteve índices de fidelização e retenção de clientes muito mais altos do que os concorrentes diretos. () () () () () () 92) A empresa aumentou a presença junto a públicos anteriormente não atendidos com resultados significativamente melhores do que os concorrentes diretos. () () () () () () 93) A empresa lançou uma quantidade de novos produtos bem sucedidos no mercado muito superior à dos concorrentes diretos. () () () () () () 94) A empresa entrou com sucesso em novos negócios (organicamente ou por aquisições) de forma muito mais significativa do que os concorrentes diretos. () () () () () () 95) A empresa desenvolveu, ou tirou proveito, de novas tecnologias de forma muito superior aos concorrentes diretos. () () () () () () 96) A empresa conseguiu superar em muito os concorrentes diretos no tocante ao cumprimento de obrigações ligadas a códigos, padrões e regulamentos. () () () () () () Marque um “X” na opção que melhor se aplique D.1. Sua Percepção sobre a Performance da Empresa... D.2. Sobre os Dados Reais de Performance... |ATENÇÃO| Caso os dados da sua empresa NÃO estejam disponíveis no RANKING EXAME MELHORES E MAIORES, lhe pedimos a gentileza de nos informar alguns dados sobre a performance econômica da UNIDADE BRASIL da empresa nos últimos 2 anos de operação. Sem eles, não poderemos investigar a relação entre Inteligência Competitiva, Estratégia e Performance. Sob hipótese alguma estes dados serão divulgados. 97) Faturamento (Vendas) em 2005: (Favor indicar a moeda) 98) Faturamento (Vendas) em 2004: (Favor indicar a moeda) 99) Lucro Líquido em 2005: (Favor indicar a moeda) 100) Lucro Líquido em 2004: (Favor indicar a moeda) 101) EBITDA em 2005 (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização): (Favor indicar a moeda) 196 102) EBITDA em 2004 (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização): (Favor indicar a moeda) 103) Patrimônio Líquido (PL) ao final de 2005: (Favor indicar a moeda) 104) Patrimônio Líquido (PL) ao final de 2004: (Favor indicar a moeda) | MUITO OBRIGADO PELA SUA PARTICIPAÇÃO! | 105) Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre esta pesquisa? 106) Por favor, informe abaixo o e-mail para o qual você deseja que enviemos os estudos: ''O que as melhores em Inteligência Competitiva têm para nos contar?'' e ''A relação entre Inteligência Competitiva, Estratégia e Performance Corporativa''. 197 ANEXO B. E-MAIL CONVITE Prezado Senhor, A avaliação dos impactos da adoção da Inteligência Competitiva (IC) na performance das empresas tem recebido atenção crescente pela comunidade de negócios. Contudo, praticamente ainda não existem estudos empíricos disponíveis sobre o tema. Dessa forma, o Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está realizando a pesquisa “A Relação entre Inteligência Competitiva, Estratégia e Performance Corporativa”, e gostaríamos que sua organização participasse deste levantamento. Por que participar? Além de contribuir com a produção de conhecimento nacional, as empresas que responderem ao questionário receberão imediatamente o estudo “O que as Melhores em Inteligência Competitiva têm para nos Contar: aprendendo a evoluir processos de inteligência com 14 empresas de referência nacional”. Este estudo, pioneiro no país, contou com a colaboração de gestores de inteligência de empresas de referência em IC e fornece subsídios importantes para quem deseja implementar ou evoluir processos de inteligência em suas organizações. Além disso, após concluídas as análises da pesquisa em questão, os participantes também receberão seu relatório. Quem deve responder? O único integrante da sua organização que precisa responder à pesquisa é o executivo responsável pela área de Inteligência Competitiva, Inteligência de Mercado ou Inteligência Estratégica. Solicito que este e-mail seja encaminhado a esta pessoa. Caso sua organização ainda não conte com uma área de IC, por favor encaminhe este questionário ao executivo responsável pela área da empresa que faz regularmente o monitoramento e análise do ambiente competitivo (competidores, mercados, etc). Este papel pode estar sendo realizado por áreas como Marketing, Planejamento, Novos Negócios, etc. Confidencialidade absoluta Todos os dados obtidos serão agrupados e tratados estatisticamente, garantindo a confidencialidade absoluta quanto às respostas fornecidas por cada organização. Em caso de dúvidas, favor contactar o pesquisador Leonardo Costa Rangel no telefone (21) 9497-8135, ou enviar uma mensagem para o endereço de e-mail: [email protected]. Certo de contarmos com a sua colaboração, agradeço antecipadamente. Cordialmente, Leonardo Costa Rangel Pesquisador do Instituto COPPEAD de Administração - UFRJ http://www.coppead.ufrj.br/ 198 ANEXO C. DIVULGAÇÃO DA PESQUISA C.1. HOME-PAGE DA ABRAIC (Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva) C.2. ENTREVISTA ABRAIC 199 HOME-PAGE DA SBGC (Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento) CONVITE PARA A PESQUISA NA SBGC 200 ANEXO D. FERRAMENTA DE COLETA NA INTERNET TELA DE ENTRADA PARA PARTICIPAÇÃO NÀ PESQUISA QUESTIONÁRIO ON-LINE